Matador de Goblins

Matador de Goblins – Vol. 06 – Cap. 03.3 – Recursos Mágicos

O mausoléu estava enterrado entre algumas colinas pequenas, era como uma boca escancarada. Acima da entrada havia uma colina onde crescia grama e árvores; se a colina fora construída sobre a entrada ou se a entrada fora escavada na colina, era impossível de dizer. O lugar havia resistido por muitos anos e meses.

Já passava do meio-dia quando os aventureiros chegaram. Já estavam perdendo a luz da primavera, o sol havia passado do zênite, seus raios agora inclinados sobre a terra. O crepúsculo em breve chegaria, e então seria tudo engolido pela escuridão.

O momento perfeito.

— Agora entendi — disse a Alta Elfa Arqueira ao Matador de Goblins, rindo, suas orelhas se contraindo com distinto interesse. — Este é definitivamente o tipo de lugar em que as crianças iriam brincar.

— Sim. É por isso que me disseram para não fazer isso.

— Mas suponho que fez — disse o Anão Xamã com um sorriso malicioso, como se esperasse alguma história sobre uma travessura juvenil, e então cutucou o Matador de Goblins com o cotovelo, para dar ênfase.

Matador de Goblins vasculhou suas memórias nebulosas, tentando se lembrar de algum dia distante. Já fazia mais de dez anos – não, exatamente dez anos, e ele era uma pessoa diferente.

— …

Tinha entrado lá? Não conseguia se lembrar.

Entretanto, duvidava. Fazer isso teria lhe rendido uma severa repreensão da sua irmã. Ele sabia que causar problemas para ela era errado. Portanto, não chegaria perto do mausoléu. Provavelmente.

— Não importa — disse o Matador de Goblins com um leve aceno de cabeça.

— Tudo bem — disse logo o Anão Xamã. — Então não há nada que possa nos dizer sobre o interior?

— Disseram que foi construídos com corredores e salas mortuárias. — Sim. Matador de Goblins balançou a cabeça. Ele então se lembrou. — Isso foi o que a minha irmã disse.

Ela disse isso porque ele queria saber o que havia ali dentro. Sua irmã tinha pesquisado de quem era o túmulo e então lhe contou.

Foi por isso que ele não entrou nem chegou perto do lugar.

Desejava muito poder se lembrar. De tudo. Não queria esquecer.

Mas suas memórias eram agora como roupas comidas por traças. Os detalhes mais sutis já haviam sido apagados e ficara tudo ambíguo.

Dez anos – dez anos inteiros. E pensar que uma vez houve ali uma aldeia.

— Seja lá qual for o caso, foi há muito tempo — disse Matador de Goblins, e então forçou uma mudança de assunto. — Então, o que acha?

— Hmm… Bem, não há nenhum totem, e também nenhum guarda — respondeu Sacerdotisa. Ela bateu um dedo contra os lábios, avaliando as ruínas logo adiante.

Perto da entrada, viu as pilhas de lixo que eram características de buracos de goblins. Mas era só isso. Não viu nenhum dos símbolos animalescos infantis dos quais eles gostavam.

Pelo menos podemos ter certeza de que não há xamãs…

— Vamos lá, vamos logo! Eles estão com aquelas outras aventureiras presas, não estão?!

Diante da exclamação apaixonada do garoto, Sacerdotisa sentiu uma pontada no coração.

Ele é do mesmo jeito que eu era há um ano.

Ela estava tão pronta para ir e ajudar quando o garoto, a monja e a maga disseram “Vamos nos apressar e ajudar aquelas pessoas!”

Ainda se lembrava muito bem de como aquilo tinha acabado. Mesmo não querendo. Isso assombrava os seus sonhos.

E quem era ela agora? Ainda estava ansiosa, acovardada e assustada, mas…

— Bem, espere aí. — Foi a grande mão do Lagarto Sacerdote que apareceu ao socorro de Sacerdotisa enquanto ela estava lá, presa no turbilhão dos seus próprios pensamentos. A mão escamosa e com garras descansou em seu ombro. — Há muito tempo se diz que a pressa é inimiga da perfeição.

— Certo… — Sacerdotisa acenou com a cabeça. Calma. Você pode usar o tempo necessário. Seja precisa.

Primeiro, precisavam… fazer uma verificação final do equipamento.

— Pessoal, o equipamento está todo em ordem? — perguntou ela, checando o próprio equipamento enquanto falava.

Ela estava com seu cajado e usando a sua cota de malha. Em sua bolsa estavam suas poções, assim como seu Kit de Ferramentas do Aventureiro. Não devia esquecer disso.

Havia, na verdade, toda uma variedade de coisas. Cunhas e cordas, pregos e um martelo, cal e velas, além de muito mais.

Não posso deixar nada para trás.

Era assim que sempre começavam, mas, ainda assim, estava feliz em ver que ninguém questionava sua liderança temporária.

Armadura de couro suja, um capacete de aço de aparência barata, uma espada de comprimento estranho e um escudo redondo pequeno, junto com uma bolsa cheia de uma variedade de coisas.

Enquanto Matador de Goblins inventariava seu equipamento, Alta Elfa Arqueira recolocou a corda de seda de aranha em seu arco. Anão Xamã verificou sua bolsa de catalisadores, e Lagarto Sacerdote contou quantas presas de dragão possuía.

Apenas o garoto fez menos: olhou para o cajado e depois para o robe, e só.

— E o que quer que façamos a seguir, milady líder?

— Ah, pare com isso. Você está gostando disso, tenho certeza. — A Sacerdotisa estufou as bochechas.

— Ha! Ha! Ha! Ha! Ha! — Lagarto Sacerdote riu, sua enorme mandíbula aberta.

Tenha piedade — murmurou Sacerdotisa, mas era verdade que o entrosamento estava bom. Teriam que decidir a respeito da formação. — Podemos ter que modificar isso com base na largura das passagens — disse —, mas como desta vez estamos em seis, acho que duas fileiras de três, ou três de dois, seria o melhor.

Parece bom. Alta Elfa Arqueira balançou a cabeça. Então apontou para a entrada, avaliando o tamanho.

— Meu palpite, supondo que os caminhos tenham a mesma largura que a entrada, é que filas de três serviriam.

— Hmm. Certo, então três filas de dois — disse Sacerdotisa, então bateu palmas. Se as passagens fossem um pouco mais largas, seria mais fácil. — Se houver espaço suficiente para que três andem lado a lado, caso necessário, podemos mudar a nossa formação.

— Perfeito — respondeu Alta Elfa Arqueira. — Não podemos discutir com a nossa líder, podemos? — Ela piscou e riu.

— Ah, para… — Sacerdotisa deixou um outro suspiro escapar. — Quanto a como vamos nos alinhar…

Ela refletiu um pouco, mas, no final, continuou com a formação de sempre. Matador de Goblins e Alta Elfa Arqueira estariam na frente de combate. A própria Sacerdotisa e o garoto feiticeiro ruivo estariam no meio, e o Lagarto Sacerdote e Anão Xamã cuidariam da retaguarda. Se encontrassem inimigos à frente, Alta Elfa Arqueira e Lagarto Sacerdote trocariam de lugar. Se houvesse algum ataque pela retaguarda, Anão Xamã e Matador de Goblins fariam isso.

Isso deve funcionar… Tenho certeza…

— Você não vai colocar os usuários de magia na retaguarda?!

— Os inimigos não atacam só pela frente, sabe — disse a Sacerdotisa, sorrindo de forma ambígua e balançando a cabeça. Ela, de todas as pessoas, não poderia dar a retaguarda como garantida. — Ah, e… — acrescentou.

— O quê…?

— Temos que nos certificar de esconder o nosso cheiro.

Ela voltou a bater palmas. A Alta Elfa Arqueira franziu a testa. O garoto fez um som de incompreensão.

Tinham três pessoas vestindo roupas limpas. Em contraste, tinham apenas duas bolsas de perfume.

E as jovens não estavam com humor para desistir delas.

— GROB?!

— GROOROB!!

Os aventureiros se amontoaram feito uma avalanche no mausoléu. Este complexo, o local de descanso de heróis, agora não era nada além de um esconderijo para goblins. Os caixões foram derrubados, as oferendas roubadas e todos os tipos de lixo e sujeira espalhados pelo chão de mármore.

O guerreiro estava na frente. Armadura de couro suja, um capacete de aparência barata, uma espada de comprimento estranho e um escudo redondo pequeno, segurando uma tocha.

— Goblins — disse Matador de Goblins. — Cinco deles.

Ele mal tinha terminado de falar quando a sua espada saiu voando. Seu objetivo era certo; perfurou a garganta de um dos goblins.

— GORB?!

A criatura deixou a boca bem aberta, prestes a chamar por seus companheiros, mas, em vez de um grito, só saiu uma espuma ensanguentada pela sua boca. Ele soltou um grito sufocado enquanto se afogava em seu próprio sangue, fazendo gotas escuras voarem.

A velocidade, acima de tudo, era a chave para o corta e esmaga.

— Um.

Claro, os outros quatro goblins não estavam dispostos a continuar em silêncio diante do assassinato de um camarada.

— GROOR!!

— GROB! GOORB!!

Estavam chamando por reforços? Não, isso era pura loucura. Vingança. Queriam pular sobre os aventureiros, derrotá-los, fazer o que bem entendessem com eles. As cabecinhas dos goblins ficaram repletas de ódio e, com adaga, lança e clava em mãos, avançaram contra os invasores…

— Com esse, dois! — Assim que a voz clara soou, uma das criaturas caiu contra a parede, parecia não estar mais do que cansada. Seu crânio foi perfurado por uma flecha ponta-broto; com o disparo alojado em seu cérebro, tremeu uma vez e morreu.

Nem é necessário mencionar que foi Alta Elfa Arqueira quem disparou. Ela deu um gracioso salto para trás enquanto preparava a sua próxima flecha.

— GORO?!

— Hrmph.

Matador de Goblins ergueu o escudo para cobrir a sua retirada, usando-o para afastar um dos goblins que avançou. Ao mesmo tempo, pegou a clava que um monstro deixou cair e bateu no crânio da infeliz criatura.

— Três.

O goblin morreu sem soltar sequer um grito. Matador de Goblins deu uma sacudida na arma para limpar os miolos.

Três goblins mortos no tempo de uma piscada. Tinham tirado o melhor da oportunidade.

— Filhos da puta! — Um membro do grupo, com sua capa nova coberta de resíduos que são melhores enquanto não descritos, parecia pensar que seria um bom momento para se juntar a eles. Então teatralmente ergueu o seu cajado. — Carbunculus… Crescunt…

— Não use os seus feitiços ainda! — disse Sacerdotisa com firmeza.

— O qu…?! — exclamou o garoto, mas não era hora de discutir. Conservar as suas magias era o mais básico dos fundamentos. Sacerdotisa estava pensando rápido, suor escorria por sua testa.

Com este grupo, mais do que com qualquer outro, ela não esperava ter que dar instruções detalhadas no meio da batalha.

Leve a situação em conta. Mesmo que o campo de batalha fosse caótico, era muito melhor fazer algo logo do que pensar nisso mais tarde.

A imaginação também é uma arma… como diz ele.

Todo o conhecimento que ela adquirira até então, as muitas experiências que acumulou, borbulharam em sua mente. Havia mais dois goblins, ambos aproximando-se com suas armas grosseiras em mãos. Sem contar pela qual entraram, a câmara mortuária contava com três portas, uma em cada direção.

— As portas!

— Certo! — disse Alta Elfa Arqueira. Quando passou por Sacerdotisa em seu caminho para trás, a líder entregou o Kit de Ferramentas do Aventureiro. Enfiariam as cunhas sob as portas para mantê-las fechadas. Era algo que apenas a elfa, com toda a sua agilidade, poderia fazer. — Com apenas dois deles, acho que por enquanto vamos ficar bem — disse. Afinal, o Anão Xamã ainda tinha seus quatro feitiços. Precisariam que ele mantivesse alguns disponíveis, só por garantia.

Assim como o garoto ouvira, às vezes o melhor que um lançador de feitiços poderia fazer era nada.

— Pois bem, espero ter uma chance de me juntar à luta — disse o Lagarto Sacerdote, balançando o rabo.

— O inimigo ainda é numeroso — respondeu Matador de Goblins.

Era neste momento que precisavam da força de luta de seus guerreiros.

Matador de Goblins estava em uma posição baixa, seu escudo em punho; ele segurava uma clava na mão direita. À sua maneira, era uma figura cômica.

Considerando que estavam lutando contra goblins, entretanto, ninguém presente ousou rir.

— Nesse caso, dificilmente podemos desperdiçar o nosso tempo aqui — disse o Lagarto Sacerdote, e estava o mais certo possível. Ele abriu os braços, e então com garras, presas e cauda, destroçou os dois goblins restantes, rasgando-os membro a membro.

Mas isso não merece qualquer menção especial.

Ainda havia goblins por chegar.

 


 

Tradução: Taipan

 

Revisão: Shibitow

 


 

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