Primeiro, devemos elucidar o erro que cometeram.
Eles tinham todo o equipamento. O grupo estava bem equilibrado.
Estavam vigilantes e decididos, e não permitiram que nada atrapalhasse a formação.
Entretanto, foram destruídos. Por quê?
O deus Verdade, sentado lá no alto, sem dúvidas sorriria e diria:
“Só porque hoje eu estava decidido a causar a queda de um grupo.”
A missão que haviam assumido era de eliminar os monstros ao redor da área central de onde o campo de treinamento seria construído.
A batalha com os que Não Rezam era interminável, remontando à Era dos Deuses. A maioria das fortalezas e castelos construídos naquela época eram agora nada mais do que ruínas.
Os cinco tinham desafiado um desses lugares antigos.
Eram uma mistura de Obsidianas de nona classificação e Porcelanas de décima, mas eram todos aventureiros novatos. Tiveram sucesso em uma série de aventuras e se aproximaram dessas ruínas enquanto realizavam outras missões.
E atacaram os goblins que faziam seus ninhos por ali.
Formando suas linhas de batalha, prepararam seus feitiços e irromperam pela porta. Suas espadas brilharam, raios e bolas de fogo voaram, cadáveres foram pisoteados e baús de tesouro foram abertos.
Uma verdadeira demonstração didática do corta e massacra.
— Heh! Eu falei, os goblins são simplesmente insuficientes — disse um homem-lagarto, embainhando sua espada serrilhada dente de tubarão e soltando um suspiro. Seus tão zelados músculos incharam sob suas escamas, o corpo de um verdadeiro guerreiro. — Contanto que os mantenha na sua frente, não tem como perder.
— Eh? — riu uma jovem garota humana. — Eu realmente me diverti. — Ela parecia saudável e elegante, mas bastante feminina; estava vestida com uma armadura que dificilmente poderia ser considerada outra coisa senão uma roupa íntima. O enorme machado de batalha a seus pés indicava que era mais do que aparentava. Uma sacerdotisa guerreira e serva das Valquírias, parecia estar exibindo seu corpo em triunfo.
Outra pessoa do grupo olhou para ela e suspirou. Era um mago humano de meia-idade. Ele levou a mão ao que lhe restava de cabelo e focalizou os olhos cansados e enrugados diretamente na jovem mulher.
— Estou feliz que você esteja se divertindo, mas, por favor, não pule no meio dos inimigos desse jeito. Isso torna impossível mirar os meus feitiços.
— Ah, nosso querido geral está chateado? — A Sacerdotisa Guerreira parecia impassível ao olhar de reprovação do mago; seu sorriso não mudou nadinha. — Qual é o problema? Você pode guardar os seus feitiços e eu fazer o que faço de melhor.
— Não é isso… bem, tanto faz. Vou deixar o sermão para depois. Mais importante, qual é a nossa condição?
— Espera.
Quem deu a resposta não foi a Sacertotisa Guerreira, mas sim um homem usando uma roupa preta, que se agachou diante de uma arca do tesouro que os goblins haviam deixado para trás, e ele falou em um tom baixo e sombrio:
— As criaturinhas atrevidas nos deixaram uma armadilha — disse. Ele estava coberto da cabeça aos pés e, dada a habilidade com que trabalhava na fechadura do baú, seria fácil dizer que se tratava de um ladrão.
Sua habilidade era sobre-humana – não, ele na verdade nem era humano. Orelhas pretas escapavam por sua bandana. Ele era um elfo negro que se tornou um dos Que Rezam.
— Você pode abrir isso? — perguntou o líder.
— Não me trate com condescendência — bufou o elfo negro. — Comparado com o trabalho dos meus colegas, isso é brincadeira de criança.
— Bem, espero que contenha mais do que os tesouros de uma criança.
Houve um clique suave e o baú foi aberto. Uma clériga bem dotada se inclinou para dar uma olhada.
Pendurada em seu pescoço estava uma corrente com uma roda de ouro, o símbolo do Deus Comerciante, que protegia viajantes e mercadores.
A acólita franziu a testa, triste, e levou a mão à bochecha, sua expressão de desânimo.
Todo o conteúdo do baú consistia em moedas antigas. Tirá-las dali seria uma tarefa árdua.
— Se vocês não tivessem tantas armas, itens e provisões, esse dinheiro não seria problema algum — disse ela.
— Ei, só um tolo zomba de provisões. — Uma mão grande e escamosa pousou em seu ombro. — Como podemos lutar de estômago vazio?
— Sim, sei muito bem disso — disse ela, colocando a mão sobre a do homem-lagarto e revelando um sorriso íntimo. — É exatamente por isso que precisamos ganhar mais do que ganhamos.
— Poxa, esses dois pombinhos… — A Sacerdotisa Guerreira fez uma cara de nojo proposital e disse: — Vamos, vamos para a próxima. Ainda tem mais três portas nesta câmara mortuária.
— Então vamos — disse o mago. — Vamos lá, verifique as portas. Comece pelo lado norte.
— Sem armadilhas — respondeu o elfo negro, rapidamente pressionando o ouvido contra a porta e apalpando-a com os dedos. Ele não precisava prestar muita atenção para ouvir a respiração áspera do outro lado. — Nossa próxima presa está bem aqui.
Todos os olhos do grupo brilharam diante disso.
Batalha, monstros, tesouro, vitória. Era tudo o que queriam de uma aventura. Não havia melhor trabalho no mundo.
Eles tomaram as suas familiares posições de batalha. Homem-Lagarto e Sacerdotisa Guerreira estavam na dianteira, General e Acólita no meio, e o Ladrão na parte de trás, com uma adaga em punho, esperando por ataques furtivos.
— Vamos lá! — Com um grito alto, Homem-Lagarto irrompeu pela porta velha e apodrecida. Ele a quebrou para o lado de dentro e o grupo amontoou-se na sala.
Uma enorme sombra apareceu bem no meio da câmara mortuária escura.
Algum monstro não identificado.
Enquanto ele se sentava sem pressa, porém, com clava em mão, o General percebeu o que era, então arregalou os olhos, e o homem geralmente tão reservado gritou um aviso a plenos pulmões:
— Troooooooooll!
Um troll. O monstro era um troll. Estúpido, mas forte. Lento, mas incrivelmente poderoso. Não tinha escamas, nem pele pontuda. Mas quaisquer feridas que sofresse, exceto aquelas infligidas por fogo, não demoravam a sarar.
Como pode haver um troll aqui…?!
Por um instante, o General não conseguiu pensar direito. Passou por sua cabeça que os goblins às vezes contratavam guarda-costas. Era isso um desses?
Podemos vencê-lo?
Um troll não era nada comparado a um ogro, que podia usar magia, mas também não era uma ameaça insignificante.
Não; podemos vencer. Vamos ganhar!
O General forçou o medo e o espanto que o assaltaram para longe e começou a dar ordens como se fosse qualquer outra batalha.
— Vanguarda, interceptem-no. Acólita, empodere eles. Ladrão, use uma emboscada. Vou deixar o fogo preparado.
— Então eu não preciso proteger a retaguarda?
— Se não nos prepararmos com tudo o que temos, vamos pagar caro por isso!
— Entendido. — O ladrão se mesclou com as sombras da câmara mortuária, enquanto a Sacerdotisa Guerreira exclamou:
— Estou indoooooo! — e a batalha começou.
— Traga-nos a vitória!
— OLRLLLLRT?!
O golpe do machado de batalha, impulsionado pelo Golpe Sagrado, atingiu a canela do monstro, e o troll cambaleou como uma árvore em um furacão.
— Heh! Não gosta disso, não é?
— Yaaaaaah…!! — Homem-Lagarto não perdeu a oportunidade de levar a sua lâmina à luta. Esculpida das presas de um monstro marinho, literalmente abocanhou a pele cinza do troll. Mas então… — H-hein?! Essa coisa é dura! — O entorpecimento subiu por seu braço, era a mesma sensação que sentia quando batia com uma espada de madeira em uma pedra.
— Por que você sempre está à minha frente? — reclamou a Acólita.
— A culpa é sua por ser tão lenta — gritou o Homem-Lagarto enquanto caía para trás, a clava do troll estava quebrando o chão onde estivera há apenas um momento.
— TOOOORLLL!!
A câmara mortuária, que durou cerca de mil anos, se encontrava sob pressão; a sala tremeu e pedras caíram do teto.
— Hrh… Essa coisa é toda musculosa! — disse a Acólita. Com uma mistura de desapontamento e desgosto, ela juntou as mãos e fechou os olhos. Rezar assim rasgava uma certa parte da alma de uma pessoa, mas permitia que implorasse por um milagre direto dos deuses no céu.
— Ó meu deus do vento que vai e que vem, que a sorte sorria em nosso caminho!
Houve um whoosh quando o vento sagrado da Bênção milagrosa soprou através da câmara. A lâmina do homem-lagarto foi afiada por sua brisa pura e o poder dos deuses.
— Agora, é assim que eu gosto! Ó meu antepassado Yinlong, veja minhas ações em batalha!
— Se você vai chamar por alguém, deve ser pelo Deus Comerciante!
Um único golpe dos músculos reforçados do Homem-Lagarto acertou a clava do troll.
— OLLLT?!
— Isso aí, caralho!
As duas armas se encontraram com um crack, mas o ímpeto fez com que se afastassem uma da outra. No instante em que o troll tropeçou, uma explosão de luz acertou seus tornozelos: um ataque furtivo do elfo negro.
Houve um estalo desagradável quando o golpe cortou os seus ligamentos. Em qualquer outro caso, isso teria encerrado a luta.
— TOORRRRROO!!
— Eita! Cuidado, cuidado, cuidado! Acho que o irritamos!
Eles, no entanto, estavam lidando com um troll.
Sacerdotisa Guerreira caiu e rolou gritando, esquivando-se por pouco da clava balançada.
A pele do monstro borbulhou, as feridas se fechando. Foi uma visão aterrorizante para a guerreira. Quanto dano seus ataques realmente causaram? E foi então que receberam um milagre sagrado do seu lado – um milagre que não duraria para sempre.
— Onde está a magia?! — exigiu a Acólita, suor escorrendo pela testa.
— Estou trabalhando nisso! — gritou de volta o General, em seguida, procurou em sua própria consciência, então puxou as palavras de verdadeiro poder gravadas em sua mente, e as usou para substituir e reconfigurar o mundo em si.
— Carbunculus… Crescunt… Iacta!!
Assim, ele foi o primeiro a morrer.
A Bola de Fogo que lançara voou em uma direção aleatória, queimando pedras e desaparecendo em uma chuva de faíscas. Acha que o General reconheceu, no momento de sua morte, a origem do som contundente que acompanhou o golpe em sua nuca?
O machado de pedra do goblin espalhou aquele cérebro brilhante por todo o chão da câmara mortuária.
— GROORB!!
— GORR!
— Um ataque pela retaguarda?!
Quem foi que gritou?
Por fim viram os goblins entrando pela porta de trás. Era tarde demais para amaldiçoar os deuses. Fechar a porta seria o mesmo que cortar a rota de fuga. Que outro resultado, então, poderia haver?
— GORBBBO!!
— OOOTLLTL!!
Homem-Lagarto, vendo a rapidez com que a situação do campo de batalha mudava, afastou a clava do troll e gritou:
— Nós dois cuidamos disso. Para trás!
Em vez de uma resposta, ele viu uma forma escura deslizando ao redor da câmara mortuária. O elfo negro ficou atrás do troll e deu uma cambalhota, aparentemente em uma tentativa de proteger a Acólita.
— Você, para trás também! Com essa armadura, só está pedindo para morrer!
— Sem chances! Não posso, não posso, não posso! — gritou a Sacerdotisa Guerreira. Ela estava trabalhando o máximo que podia com a sua arma, mas a situação não parecia boa.
O grupo de três que estava lutando contra o monstro contava agora com apenas dois. E tudo isso enquanto ainda cuidavam da retaguarda.
Os goblins deixaram o troll distrair os aventureiros e então saíram das outras câmaras mortuárias para uma emboscada. Que inteligente e cruel.
Às vezes é um crítico, às vezes algo normal.
— Hng…
Acólita desesperadamente desviou o olhar do General, seu cérebro ainda vazando em direção ao chão; ela mordeu o lábio com força o suficiente para sair sangue. Naquele momento, a verdadeira tragédia era a perda dos recursos mágicos. Ela tinha que pensar no campo de batalha em que estava. Se quisesse sobreviver, se quisesse reivindicar a vitória, então tinha que, neste momento, afastar a morte de seu camarada da mente.
Ela repetiu essas coisas várias vezes para si mesma enquanto juntava as mãos e começava a tentar rezar de novo.
— GRORORB…!
Afinal, ela mesma ainda não estava fora de perigo. Havia um monte de goblins chegando por trás – na verdade, quase uma dúzia. E os goblins não eram famosos pela misericórdia que demonstravam por prisioneiros.
Eles dividiam o mundo em três categorias: brinquedos pessoais, coisas para saquear e inimigos. Assim como os aventureiros matariam quaisquer goblins que encontrassem, eles com certeza não deixariam aventureiros vivos para trás.
— Ah… Ahh! — Acólita tropeçou para a frente enquanto se esquivava de uma adaga enferrujada.
— Continue dando suporte! — disse o elfo negro ao aparecer para cobri-la. Ele defletiu a arma do goblin com uma saraivada de faíscas, em seguida, administrou um segundo golpe que cortou a garganta do monstro. Houve um som de chiado e um jato de sangue; Ladrão deu um chute implacável na criatura. — Assim não vamos durar muito!
— Certo! Milagre, chegando…! — Acólita agarrou a marca sagrada que havia caído entre seus seios saltitantes, o suor escorria por suas bochechas privadas de sangue enquanto entoava mais um milagre. — Ó meu deus do vento que vai e que vem, que a sorte sorria em nosso caminho!
O dinheiro faz o mundo girar, assim como os viajantes. O Deus Comerciante supervisiona ambos, e enviou um vento fresco para soprar pela câmara mortuária, afastando o fedor de mofo que prevalecia na sala.
— H-hrraaahhh! Graaahhh! — berrou o Homem-Lagarto.
— TOOTLOR!!
O troll ergueu o seu porrete. Os dois bateram de frente.
Sacerdotisa Guerreira, com o cabelo em completa desordem, se preparou para balançar seu machado de batalha em direção ao pé do troll.
— T-toma isso! Agora os dois juntos!
— Vamos fazer isso!
O machado sagrado e a lâmina serrilhada Abençoada rasgaram sem piedade através da carne e dos músculos.
— TOORL?!
Houve um jato de sangue e um grito ensurdecedor do troll, e os gritos dos dois guerreiros ecoaram pro toda a câmara.
Nada disso mudou o fato de que a situação era muito, muito terrível.
Todos os ferimentos que infligiram ao troll foram relativamente pequenos. E uma luta de três contra um foi reduzida a uma de dois contra um – ou talvez, mais precisamente, cinco contra um virou quatro contra onze.
Sem um mago, o grupo não tinha mais como desferir um golpe decisivo. Entretanto, ao mesmo tempo, a rota de fuga foi cortada e não podiam recuar. Poderiam esperar fazer algo que pudesse reverter a situação?
— Droga… Droga! Saco!!
Enormes lágrimas se formaram nos olhos da Sacerdotisa Guerreira e começaram a escorrer pelo seu rosto. Ela e o Homem-Lagarto lutaram como leões, mas eventualmente alcançaram o seu limite.
Não havia medo. Apenas arrependimento.
Se tivessem seu batedor, o elfo negro, vigiando a retaguarda, talvez não tivessem sido pegos desprevenidos. E, mesmo assim, se tivessem feito isso, não teriam uma boa forma de atacar o troll. O resultado, suspeitou ela, seria o mesmo.
A Sacerdotisa Guerreira entendia bem que não existia nenhum se em uma batalha. Mas isso, de alguma forma, só fez o arrependimento doer ainda mais. Onde foi que errei? Por que acabou assim? Ela odiava todas as perguntas que não conseguia responder.
— Grr…!
O segundo a cair em batalha naquele dia foi o ladrão elfo negro. Ele parou um goblin, matou outro, finalizou um terceiro – mas então uma adaga de goblin roçou a sua bochecha. O fato de que reconheceu o líquido aparentemente não identificável na lâmina como veneno era talvez uma prova de que era um elfo negro.
Com a mão livre, ele se esticou para pegar um frasco no cinto. Um antídoto.
— GRORB!
— GROB! GRRRORB!!
Os goblins, naturalmente, não estavam dispostos a lhe dar tempo para tomar aquilo. Confiando em seus números, se atiraram nele sem dó nem piedade. Os movimentos do elfo negro começaram a ficar visivelmente mais lentos, e então…
— Grgh… hagh!
Ele foi subjugado, arrastado para o chão, e lá, os goblins o fatiaram até que não possuísse mais vida restante.
— Ahhh! — Homem-Lagarto ouviu o grito involuntário da Acólita com clareza.
Infelizmente.
— Ei, está tudo bem?!
Foi um lapso de descuido. Bem, quem poderia culpá-lo? A paixão pela batalha do homem-lagarto era alimentada por aquela bela acólita.
No instante seguinte, ele notou a clava subindo e descendo, e não havia como evitá-la.
Um troll nasce com força suficiente para envergar uma árvore; e seus poderes regenerativos também são naturais. No que diz respeito às armas, a clava é bastante grosseira – mas muito poderosa.
A criatura era forte, um inimigo a ser temido. Isso não era suficiente? Tinham sido bons companheiros e este era um bom inimigo. Foi uma vida boa.
O troll lhe faria o desfavor de comer o seu coração?
Essa era a sua única decepção. Mas, mesmo se não o fizesse, seus restos mortais apodreceriam e retornariam ao grande ciclo.
O que mais poderia dizer, então, no final?
— Brilhante…!
O crânio do guerreiro homem-lagarto acabou dentro da armadura em seu peito, e ele morreu. Parecia quase que seu corpo havia sido decapitado, mas desabou sem qualquer espirro de sangue. Sua arma caiu da mão e foi ao chão.
— N… — Acólita viu tudo. Ela ficou muda e com olhos arregalados, e então, contra todos os esforços da sua vontade, deixou um grito estrangulado sair: — Nãoooooo! Isso não é real! Não pode ser…! — Estava prestes a correr para onde jazia o seu companheiro caído.
— Não faça isso, idiota! Já é tarde demais!
Bem, ela estava prestes a correr em direção ao troll.
O grito foi mais do que o suficiente para a chamar a atenção tanto do monstro quanto dos goblins. Os horríveis sorrisos em seus rostos deixavam claro o que estava em suas cabecinhas sujas.
— S-seus filhos de umas…! — A Sacerdotisa Guerreira gaguejou um pouco antes de avançar para o meio deles.
Se tivesse pensado em fugir, talvez conseguisse. Se estivesse disposta a abandonar a Acólita, poderia ter voltado viva para casa.
Em vez disso, iria jogar tudo no lixo: tudo, desde o momento em que nascera até o atual. Todo o treinamento. Todos os amigos. Seus sonhos. Seu futuro.
Ela sabia muito bem disso. E, ainda, em sua mente, a escolha de não fazer nada era inexistente.
— Sai da frente!
— Ah!
Ela empurrou a Acólita para o lado. A última expressão que a jovem mulher viu no rosto da Sacerdotisa Guerreira foi a de uma garota já sem forças.
Então, com um som esmagador, ela desapareceu, o que restou de seu corpo respingou nas bochechas de Acólita. Debaixo da clava que agora repousava com firmeza no chão, apenas alguns fios de cabelo e um único membro se contorcendo podiam ser vistos.
A clava foi erguida, puxando alguns fios de sangue, e tudo que restou foi um monte de carne trêmulo.
— Ah… ahh… ahh… ah…
As pernas da Acólita tremeram e sua força a abandonou. Ela mal conseguia se levantar. Sentia como se houvesse algo quente escorrendo por suas pernas.
— GRRROR…!
— GROB! GROB!
Um por um, passo a passo, os goblins se aproximaram com uma lentidão agonizante. Seus olhos amarelos e sujos ardiam com um desejo cruel; seus olhares nojentos percorreram o corpo da Acólita de cima a baixo. Tudo que conseguia fazer, após cair de bunda, era balançar as duas mãos na direção dos monstros que se aproximavam.
— N-nãão! Parem… parem com isso, por favor…!
Ela resistiu e lutou.
Um dos goblins deu um aceno irritado para o guarda-costas, o troll.
— GROB!
— TOOOORLL!
Whooosh. Um único golpe da clava. Foi tão fácil quanto quebrar uma vareta.
Soou um estalo seco e a perna da Acólita quebrou, virada em uma direção nada natural.
— Eeeyyaaaarrrrrghhh?!?!! — Seu grito lamentável ecoou por toda a câmara mortuária.
Passaram-se apenas alguns instantes antes que Acólita desaparecesse atrás de uma parede de goblins.
Triste de dizer, mas para ela e seus amigos, sua aventura acabava aí.
Repetimo-nos, mas vale a pena reiterar. Devemos elucidar o erro que cometeram.
Eles tinham todo o seu equipamento. O grupo estava bem equilibrado.
Estavam vigilantes e decididos, não permitiram que nada atrapalhasse a formação.
Entretanto, foram destruídos. Por quê?
O deus Verdade, sentado lá no alto, sem dúvidas sorriria e diria:
“Só porque hoje eu estava decidido a causar a queda de um grupo.”
Tradução: Taipan
Revisão: Shibitow
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