— Eu não sei. Realmente acho que é demais para uma só pessoa…
— Ah, é? Eu conheço as histórias. De como o Segundo Herói lutou contra o Lorde Demônio sozinho naqueles anos passados!
— Verdade, mas eles eram classificados como Platina. Acho que seria melhor começar um grupo ou procurar alguém para se juntar.
— Nenhum aventureiro vivo pode ganhar a minha confiança.
— Hmmm…, esta é uma pergunta difícil, muito bem.
A Garota da Guilda estava sentada atrás da mesa da recepção do agora vazio prédio da Guilda, girando preguiçosamente as suas tranças.
O sol já havia se posto e não havia aventureiros à vista. Qualquer um que não tivesse se aventurado estava dormindo ou se divertindo. Ela era a única restante da equipe que ainda estava lá.
Em circunstâncias normais, poderia – e provavelmente deveria – apenas afugentar o garoto aventureiro que estava ali procurando uma missão com o seu olhar implacável.
— Acho que não há mais nada a fazer… — disse ela.
Por que sou assim?
A Garota da Guilda se levantou com um suspiro profundo.
— Vou preparar um pouco de chá. — Ela piscou para ele e se virou para o almoxarifado aos fundos. — Afinal, eu também estou esperando.
A noite já havia caído quando o Matador de Goblins e os outros voltaram pelo portão da cidade fronteiriça.
A luz havia desaparecido da rua agora vazia; as luas e estrelas no céu produziam a única iluminação.
— Oh, uh, ah, e-estamos aqui…?
— Estamos aqui, Orelhas Compridas, estamos aqui.
— Senhora Clériga, parece que estamos perdendo o juízo.
— Hnn… Ughhh…
Todos estavam profundamente cansados. As orelhas da Alta Elfa Arqueira estavam caídas; foi tudo o que ela pôde fazer para evitar que suas pálpebras pesadas se fechassem.
Quanto à Sacerdotisa, praticamente cochilou durante o passeio nas costas do Lagarto Sacerdote.
Os três homens, cobertos de sangue, suor e lama dos dias de batalha, se entreolharam e assentiram.
— Será que posso confiá-la a você, milorde Matador de Goblins?
— Sim. E ela a você?
— Estou trabalhando nisso. Vamos lá, Orelhas Compridas, controle-se já.
— Mmph… Tantoooo sono… Só vou… tirar uma soneca…
— Primeiro espere até te levarmos de volta ao seu quarto. O meio da rua não foi feito para dormir.
O Anão Xanã colocou todo o seu pequeno corpo para apoiar a elfa relaxada.
Estavam indo para o segundo andar do Salão da Guilda, que também funcionava como uma pousada. Raro era o aventureiro com um lugar para chamar de sua casa. A maioria deles ficava em uma pousada ou alugava um quarto da Guilda.
— Então amanhã te vejo — disse o Lagarto Sacerdote com seus estranhos gestos de juntar as mãos.
— Certo. — Matador de Goblins balançou a cabeça.
O lagarto gigante saiu arrastando os pés atrás de seus companheiros, a pequena garota ainda agarrada às suas costas.
— Ah… Boa… boa… noi… te — disse ela bem fraquinho, quase em um sussurro. O Matador de Goblins colocou o seu capacete.
— Hrm.
Companheiros.
A palavra veio repentina e naturalmente à sua mente. Ele não desgostou do som disso.
Essas eram pessoas que não conhecia há um ano. Pessoas que mal podia acreditar que conhecia há um ano.
O que o velho teria feito em uma situação parecida?
E quanto ao seu equipamento? Suas estratégias? Seu tempo? Seus recursos? Como estariam se os quatro não estivessem presentes?
Sem eles – com aquela coisinha sendo diferente – a gama de opções do Matador de Goblins seria severamente limitada. Assustadoramente limitadas.
E pensar que seria tão diferente.
Foi com esses pensamentos passando por sua cabeça que ele abriu a porta da Guilda.
— Erk…
Algo não parecia certo neste lugar.
Luz.
Todos os funcionários já deveriam ter ido embora, mas tinha chegado para fazer o seu relatório.
Goblins?
Meio reflexivamente, a mão do Matador de Goblins foi até a machadinha que enfiara na bainha. Assumiu uma postura baixa e entrou no prédio quase silenciosamente. A porta se fechou atrás dele.
Isso era quase cômico, mas ele não via dessa forma. Quem disse que os goblins não podem aparecer na cidade?
O olhar do Matador de Goblins por acaso caiu no banco da sala de espera, atraído para lá porque pensou ter visto o movimento de uma silhueta enrolada no assento.
Não – Não era sua imaginação.
Algo estava se contorcendo ali; parecia quase com um humano coberto por um cobertor.
Matador de Goblins deu um passo à frente, fazendo o chão guinchar.
— Hr… Hrn?
Em seguida, o cobertor foi colocado de lado e a silhueta lentamente sentou-se.
Esfregou os olhos e soltou um pequeno bocejo. Era um garoto de cabelo ruivo.
Ao se sentar, derrubou o seu cajado, que estava encostado no banco; aquilo caiu no chão.
— E-ei, senhora… Só mais cinco… Hein?
Ele afastou o sono de seus olhos e viu a figura diante dele. Seus olhos ficaram então bem abertos; podia ver o Matador de Goblins parado, ali, no escuro.
O que ele viu foi um homem coberto de lama e sangue, usando um capacete de aparência barata e uma armadura suja como o mal tempo, com uma machadinha enferrujada na mão.
— Ah. — A boca do garoto se contraiu, depois se torceu e então ele gritou: — Eeeeeyaahhh!
— Hrm…
Huh. Então não era um goblin.
Esse foi o único pensamento que o grito ecoante esclareceu ao Matador de Goblins.
— Eek?! — Ao mesmo tempo, Garota da Guilda soltou um gritinho fofo, e houve o som de uma cadeira caindo. Matador de Goblins ergueu os olhos para vê-la entrar voando na sala. — Oh, uh, ah! Ma-Matador de Goblins, senhor?! Eu não estava dormindo, eu juro, eu não estava dormindo!
Ela ajeitou o cabelo com pressa, alisou os vincos do vestido e corou furiosamente antes de tossir. Seu sorriso, no entanto, não era a expressão artificial que costumava usar, mas um sorriso genuíno e espontâneo.
— Ahem. Bom trabalho hoje.
Matador de Goblins relaxou os dedos um por um e finalmente largou a machadinha.
Sem um som sequer, pegou a xícara de chá oferecida e bebeu tudo em um único gole.
Provavelmente não conseguia nem sentir o gosto, bebendo daquele jeito – mas a Garota da Guilda sorriu.
Ela seguiu a rotina familiar: prepare um pouco de papel, raspe a ponta de uma caneta de pena, abra um pote de tinta, prepare-se para registrar.
— Então, como foi? Desta vez também havia muitos deles?
— Sim — disse o Matador de Goblins com um aceno firme. — Havia goblins lá.
— Quantos? — perguntou a Garota da Guilda, sua caneta correndo pelo papel. — Ah, e divida-os por missão, por favor.
— Trinta e quatro na primeira missão. Ele de repente ficou em silêncio. A Garota da Guilda parou de escrever e olhou para cima, e o Matador de Goblins acrescentou baixinho: — E sumiram uns dez.
— Sumiram?
— Entramos, resgatamos a refém e inundamos o ninho. Confirmei trinta e quatro corpos. Não pode haver mais de dez restantes.
— Ah…
A Garota da Guilda riu, suas bochechas suavizando em um sorriso. Não era resignação, exatamente – isso era apenas algo que não poderia ser evitado. Na verdade, ela estava secretamente satisfeita em ver que ele estava como sempre.
— E quanto à segunda missão?
— Havia goblins lá — relatou ele. — Vinte e três deles…
E assim seguiu a indiferente conversa sobre goblincídio. Inundá-los, queimá-los, enterrá-los ou simplesmente atacá-los e matá-los. Armas lançadas e empurradas, roubadas, trocadas; forçados a trabalhar com qualquer equipamento que tivessem preparado de antemão.
— …
O jovem estava de costas para eles, mas parecia estar atento a cada palavra.
Ele devia ter cerca de quinze anos. Tinha o cabelo tão ruivo que parecia estar em chamas – mas estava bem aparado e sua capa também parecia nova em folha. Seu cajado não possuía nenhuma joia indicando graduação, então, presumivelmente, era um daqueles magos que havia deixado a Academia antes de terminar os seus estudos.
Afastando o desinteresse, ele vasculhou seus pertences como se tivesse acabado de pensar em algo. Sua busca rendeu um caderninho e um lápis de carvão. Iria fazer anotações? Que excelente aluno ele deve ter sido.
Mas o Matador de Goblins, aparentemente sem nem mesmo olhar para o garoto, ordenou:
— Não.
— ?!
O Garoto Feiticeiro quase saltou da cadeira. Ele não estava muito intimidado; lançou um olhar petulante para o Matador de Goblins e resmungou:
— Aw, o quê? Sei que todos pensam que os goblins não são grande coisa, mas tomar algumas notas não vai machucar, vai…?
— Pode ser. — O Matador de Goblins respondeu ao lamento quase canino do garoto com uma resposta fria, baixa e silenciosa. — E se suas notas caíssem nas mãos de goblins?
A têmpora do garoto latejava e sua carranca era evidente mesmo à luz fraca da lamparina.
— Você está sugerindo que eu posso perder para alguns goblins?!
— Há uma possibilidade distinta.
— Como você ousa…?!
O garoto saltou de onde estava sem pensar duas vezes. Matador de Goblins se virou para ele com uma palpável exasperação.
Será que é a hora certa?
A Garota da Guilda deu um sorriso forçado e indicou a xícara do jovem.
— Você precisa de mais um pouco de chá?
— Oh, uh, não, eu… — Pego no auge da sua raiva, o garoto coçou a bochecha com culpa. — Acho que eu… Preciso.
— Então aqui está. — Ouviu-se o som de um líquido fluindo enquanto a Garota da Guilda servia mais chá fumegante na xícara do garoto. O jovem feiticeiro observou atentamente. Sim, ela agora podia ver: ele parecia ter uns quinze anos, e parecia estar nessa idade.
Bem, acho que ele está se tornando um aventureiro.
Eram sonhos ou esperanças? Dinheiro ou fama? Algumas dessas razões eram adequadas, outras gananciosas e pretensiosas.
A Garota da Guilda derramou mais chá na xícara vazia do Matador de Goblins.
— Obrigado.
— De nada!♪ Não precisa me agradecer.
O Garoto Feiticeiro piscou ao ver a sua expressão radiante. Era a mesma aparência que ela tinha usado antes, quando cumprimentou este estranho aventureiro de armadura. Ele não conseguia expressar, mas era obviamente diferente do sorriso que ela lhe deu quando estava fazendo o seu registro.
O garoto engoliu em seco, então, hesitante, abriu a boca.
— Então você é… aquele que chamam de… Matador de Goblins?
— Alguns me chamam assim. — Ele assentiu. Garoto Feiticeiro se inclinou para um pouco mais perto. Atrás dos óculos, seus olhos verdes brilhavam, cada vez maiores, refletindo o rosto do Matador de Goblins.
Nervosismo, tensão, excitação, antecipação e ansiedade estavam todos evidentes no seu rosto e em sua voz quando disse:
— Então me ensine como matar goblins!
— Não — respondeu categoricamente o Matador de Goblins.
— Por que não?!
— Se você não planeja fazer nada antes de ser ensinado, meus ensinos não te servirão para nada.
— Huh?!
Com isso, o Matador de Goblins pegou a xícara de chá fresco, engolindo-o em um só gole. Gulp.
Ele colocou a xícara na mesa com um clink e se voltou para a Garota da Guilda. Nem mesmo olhou para o jovem perplexo enquanto pegava os papéis que a Garota da Guilda lhe entregava. Os relatórios estavam todos prontos; o Matador de Goblins só precisava assiná-los.
Ele pegou uma pena e escreveu o nome. Então lançou um olhar perplexo para a Garota da Guilda. Por que, mesmo tão tarde, ela ali estava? Ele levou dois ou três segundos para descobrir a resposta.
— Desculpe. Obrigado pela ajuda.
— Não há de quê. Você sempre trabalha muito para nós. Ah, a sua recompensa…
— Divida igualmente. Entregue-me apenas a minha parte.
— Claro!
A Garota da Guilda se virou com um movimento tão animado que não parecia nem com sono ou cansada. Ela abriu o cofre, pegou um saco cheio de moedas e as avaliou em uma balança. Matador de Goblins observou as tranças balançarem contra as costas dela e murmurou:
— Ah. Sobre aquele grupo que foi recentemente registrado. — Ele pensou por um momento e acrescentou: — Havia uma garota rhea nele.
— Ah, eles? — Uma pequena risada escapou de seus lábios. Ela estava feliz por ele não poder ver o seu rosto. — Estão bem. Bem, sofreram uma ou duas mordidas de ratos gigantes. Mas tinham antídotos.
— Entendo.
— Você está aliviado?
— Sim.
A Garota da Guilda se virou com um olhar feliz em seu rosto e colocou uma pequena bandeja com uma bolsa de couro cheia de moedas na frente do Matador de Goblins. Ele a pegou sem se preocupar em conferir o conteúdo. A bolsa fez um barulho pesado com as moedas de ouro lá dentro.
Goblincídio não pagava bem; ainda menos quando a recompensa era dividida em cinco partes. Mas e se esse dinheiro fosse multiplicado por dez? Seria o suficiente para igualar a recompensa total por duas missões de goblincídio. O dobro do dinheiro que os membros de qualquer aldeia da fronteira conseguiriam economizar com todo o seu suor e cuidado.
Enquanto colocava a bolsa entre seus outros itens, Matador de Goblins gesticulou com o queixo.
— Quem é ele?
— Ele acabou de se registrar como um aventureiro.
— Por que ele está aqui?
— Bem, ele… — A Garota da Guilda olhou em volta e se esticou sobre o balcão, inclinando-se perto do capacete de aço como se fosse compartilhar um segredo. O tecido de seu uniforme se esticou, distorcendo levemente a área ao redor de seu peito. — Ele diz que quer matar goblins e nada mais…
— Ele está em um grupo?
As tranças balançaram de um lado para o outro enquanto a Garota da Guilda balançava a cabeça.
— Parece que não.
— Tolice.
A Garota da Guilda olhou para ele como se não tivesse certeza do que dizer. Você, entre todas as pessoas, está em posição de dizer isso?, parecia perguntar. Ela esfregou as têmporas.
— Então o que vamos fazer, Sr. Matador de Goblins?
— Hrm…
O olhar suplicante, a voz implorante.
O Salão da Guilda estava em silêncio. Havia apenas o som suave de respiração e o arranhar ocasional da armadura. O pavio do lampião queimava assiduamente. De cima chegava o som fraco de tábuas do assoalho que rangia. Será que o grito anterior acordou alguém, ou alguém estava simplesmente vigiando? Seja qual for o caso, qualquer coisa que pudesse interferir no tempo de descanso de um aventureiro tinha que ser muito urgente ou muito estúpida.
— Você. — O jovem, que estava fixado no chão, olhou para cima com um susto quando o Matador de Goblins falou com ele. — Você tem um quarto?
— Er, uh… — Ele não parecia saber como responder. Abriu e fechou a boca, uma e outra vez, e empurrou os óculos no nariz.
Matador de Goblins esperou por uma resposta.
— Não vejo o que isso tem a ver com nada… — disse, por fim, o garoto.
— Entendo.
Essa foi toda a sua resposta ao pronunciamento azedo do garoto, após o que ele se voltou para a Garota da Guilda. Ela cruzou os dedos indicadores para formar um X e balançou a cabeça. Estava claro o que ela queria dizer.
— Sem quartos disponíveis?
— …
— É primavera. Ele não vai pegar um resfriado lá fora, mas…
Matador de Goblins se levantou. O garoto se viu observando o aventureiro enquanto ele partia em seu ritmo ousado. O Matador de Goblins, no entanto, não deu ao jovem mago qualquer olhar enquanto abria a porta de vaivém.
— Venha comigo.
Um comando curto. Com isso, o aventureiro partiu para a cidade escura, deixando o jovem para trás.
Ele olhou apressadamente da porta para a Garota da Guilda, então correu para a saída.
— E-ei, espere por mim! O que ele pensa que está fazendo, me arrastando assim…?!
Ele de repente parou. Se virou e deu um breve aceno para a Garota da Guilda.
— Obrigado… Pelo chá.
Então saiu correndo. A porta estalou ao abrir, deixando entrar a brisa fresca.
— Uff… — A Garota da Guilda suspirou mais uma vez e se levantou. Ela recolheu a papelada e certificou-se de que o cofre estava bem fechado e trancado. Sim, o pessoal do bar do primeiro andar estava presente, e também a dona dos quartos acima, mas ela era a última funcionária da recepção.
Isso deu um novo significado às palavras horas extras, mas ela não sentiu nenhum impulso para reclamar. Pegou o sobretudo (leve que trouxera, pois já era primavera) e guardou os pertences na bolsa.
— Acho que você realmente me anima.
Ela riu e apagou o lampião quase como se estivesse dando um beijo nele.
Tradução: Taipan
Revisão: Rlc
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