Matador de Goblins

Matador de Goblins – Vol. 05 – Cap. 05.1 – Raide de Masmorra

 

 

Não concordo com isso!

— Ah… Ah-ha-ha-ha-ha…

Na manhã seguinte, Alta-Elfa Arqueira estava viajando pelo caminho na montanha… trancada em uma jaula. Sacerdotisa estava junta, sorrindo desajeitadamente. Ambas estavam vestidas em trapos.

As orelhas longas da elfa se contorciam furiosamente; ela agarrou as barras da jaula e sacudiu.

A vara que passava por cima da jaula para que pudesse ser carregada era, tal como suas roupas, parte integrante de fazer as “prisioneiras” pareceram realistas.

— Por que temos que ser os espólios de batalha?!

— Porque eu e os outros não serviriam.

Com os homens como prisioneiros, o ato deixaria de ser convincente. Matador de Goblins não tinham um plano melhor.

Ele pintara de preto da cabeça aos pés sua armadura sempre suja; era uma visão muito estranha. Ele poderia se passar pelo espírito de algum soldado morto que acabou de sair do túmulo.

— Ho! Oh! A tola senhora aventureira começa a protestar outra vez! — disse um anão de aparência maligna que carregava a jaula pela frente. — Mestre Monge, talvez devêssemos lhes dar uma lição…

— Heh-heh-heh! Elas darão uma bela oferenda à deidade do conhecimento externo. Vou deixá-lo fazer o que deseja com elas. — A resposta veio de um monge lagarto negro que andavam em frente, sorrindo maliciosamente. Ele estava bastante entusiasmado desde que seu disfarce foi preparado e ele pintara seu rosto e escamas, utilizando pigmentos para se cobrir com padrões estranhos.

Alta-Elfa Arqueira mordeu os lábios com um grunhido e mudou de alvos.

— Ei, sabiam que está tudo bem ficar um pouco mais zangadas!?

— Ah, acho… que já estou acostumada com esse tipo de coisa… — Sacerdotisa, sentada em um canto da jaula abraçando os joelhos, sorriu em derrota. A expressão, combinada com seu corpo esbelto e beleza frágil, a fazia parecer o retrato de uma prisioneira. Uma ótima performance. Claro, o verdadeiro problema era que não era mesmo uma performance.

— …

A jaula possuía uma outra figura, alguém que não disse uma palavra. Era Esgrimista Nobre.

Ela, também, se sentava em um canto da jaula com as pernas dobradas até o peito; de onde ela olhava fixamente para o espaço e não movia um músculo.

Sua pele clara, contudo, perdera o brilho; seus lábios cor-de-rosa se tornaram azuis.

Sacerdotisa foi até ela lentamente, se movendo de quatro.

— Hum, não está com frio…?

— ……Estou bem — disse Esgrimista Nobre, simplesmente.

Normalmente, isso seria o suficiente para dissuadir Sacerdotisa, mas dessa vez ela apenas riu um pouco.

Foi uma resposta melhor do que Claro, Entendi, É mesmo? ou Tudo bem então.

Ela lembrou de como ele era quando se conheceram; ele não teria dito nada mais do que um desses.

— Eu, estou com frio… Então vou ficar perto de você, está bem?

— ……Faça o que quiser.

Esgrimista Nobre desviou o olhar significativamente. Sacerdotisa assentiu, embora a lutadora não pudesse vê-la, então dobrou os joelhos como a outra garota.

O caminho nevado parecia muito longo. A jaula balançava para lá e para cá na nevasca.

Eles estavam marchando em direção a fortaleza que se destacava sobre a Montanha Nevada. Não era algo que seria fácil ou agradável para as mulheres chegarem a pé.

Então… eles estavam tentando ser gentis nos fazendo agir como prisioneiras?

 

 

 

Havia insensibilidade, e depois havia falta de sensibilidade, pensou Sacerdotisa, segurando gentilmente os ombros de Esgrimista Nobre.

Atchim! — Alguém espirrou delicadamente de frio.

Ela tentou cobrir o rosto vermelho com a boca, mas era tarde demais. As orelhas apuradas da elfa captaram a direção do som, na qual ela agora olhava com um sorriso largo. Esgrimista Nobre estava encarando Sacerdotisa de uma forma não muito elegante.

— Não… não pude evitar. Está frio.

— ……Sim. Está — murmurou Esgrimista Nobre, mas havia uma sugestão de sorriso nos cantos de seus lábios. Sacerdotisa tinha certeza disso.

Ohhh…

Parte dela ficou orgulhosa por evocar essa reação; mas ela estava um pouco envergonhada para considerar isso um golpe de sorte.

— Tem razão, apesar — disse Alta-Elfa Arqueira, com a cor do rosto não inspirador. — É realmente frio aqui, especialmente com essa roupa. — Suas orelhas balançaram impacientemente. — Acho que minhas orelhas vão cair congeladas.

— Eles não a chamam de Montanha Nevada à toa — disse Matador de Goblins de fora da jaula. Ele sinalizou para Anão Xamã parar. Então ele pôs a mão na bolsa de itens e pegou um cobertor, embora a serventia contra o frio fosse mínima.

— É um vento implacável — disse Anão Xamã. — O que me diz, Escamoso… er, Monge?

— Eu mesmo devo me agasalhar para que não fique imóvel. — O homem-lagarto usava seu traje normal, ampliado com uma capa bem pesada. Ele entrecerrou os olhos ligeiramente. — Alguns dizem que os Temíveis Nagas foram aniquilados pelo frio.

— Fraqueza racial, não é? Não ajuda então. E se acendêssemos uma fogueira para aquecer nossos ossos?

Anão Xamã enfiou a mão em sua bolsa de catalisadores à procura de pederneira, juntamente com uma ou duas pedras grandes.

— Chama dançante, fama da salamandra. Conceda-nos uma parte da mesma chama.

Nem bem acabara de entoar as palavras e as pedras em sua mão começaram a brilhar suavemente por dentro. A conjuração de Acender consumiu uma de suas magias; mas nenhum deles consideraram um desperdício.

— As pedras não queimam, só esquentam, então… nossa! Quente, quente! É um bom risco.

— Tenho algumas memórias muito ruins dessa magia — disse Alta-Elfa Arqueira, cobrindo reflexivamente a perna. Anão Xamã bufou.

— Se não gosta, não tenho que te dar uma.

Pouco depois, as pedras estavam bem aquecidas; Anão Xamã as envolveu com um pano com mãos ágeis e pôs na jaula. Mesmo Alta-Elfa Arqueira, que não parecia nada contente momentos antes, aceitou uma pedra, pestanejando.

— Er, obrigada. Você é muito considerado, para um anão.

— O-obrigada…! — disse Sacerdotisa.

— …

Cada uma das três teve sua própria reação. Anão Xamã apenas bateu na barriga com um De boa!, fazendo Alta-Elfa Arqueira suspirar.

— Você poderia ser um pouco mais aberta sobre seus sentimentos — disse o anão. — Mesmo assim. Corta-barba, tem alguma coisa para nós?

— Hmm. Eu pretendia esperar até chegarmos ao castelo, mas… — Ele pegou um punhado de coisas de sua bolsa de itens e tirou com facilidade. Ele jogou na jaula, onde Sacerdotisa pegou.

Em sua mão havia vários anéis pequenos, cada um fixado com uma gema azul.

— Esses anéis possuem a magia Respirar selada dentro — disse Matador de Goblins calmamente. Essa era uma magia que permitia a pessoa respirar livremente.

Sobre o único conjurador que Sacerdotisa conseguia pensar que poderia ser capaz de fazer tais truques como esse era Bruxa. Ainda que o pensamento da mágica robusta fizesse Sacerdotisa perfeitamente consciente de seu próprio corpo muito magro.

Ela pôs isso de lado e disse: — Matador de Goblins, senhor, se está nos dando anéis para respirar debaixo d’água, quer dizer que…?

Lembrando em sua mente, Sacerdotisa imaginou aquelas ruínas que visitaram, aquela que era governada por um ogro. Matador de Goblins usara um pergaminho inscrito com a magia Portal para lançar um jato d’água em alta pressão levado do fundo do mar em direção ao monstro.

— É claro que possui isso — disse Sacerdotisa.

— Os anéis não irão durar muito — disse secamente Matador de Goblins. — Mas eles ajudarão a aliviar o frio, mesmo aqui na neve.

— Fantástico! Por que não disse isso antes, Orcbolg?!

Alta-Elfa Arqueira bateu as mãos, sacudiu as orelhas, e com uma grande demonstração de alegria, ela colocou o anel no dedo.

— Os anéis não irão durar muito — disse secamente Matador de Goblins. — Mas eles ajudarão a aliviar o frio, mesmo aqui na neve.

— Fantástico! Por que não disse isso antes, Orcbolg?!

Alta-Elfa Arqueira bateu as mãos, sacudiu as orelhas, e com uma grande demonstração de alegria, ela colocou o anel no dedo.

— Hmmm! — disse ela. Para todos os efeitos, era verdade que o anel ajudava com o frio. Talvez fizesse sentido, de certa forma: neve era apenas água congelada, afinal.

— O anel não serve muito sozinho, mas combinado com a pedra do anão, estou bem aquecida — disse a elfa.

— Ah, hum… Me deixe testar… — Com uma boa dose de relutância, Sacerdotisa pôs o anel. No momento em que o fez, o frio amenizou ao redor de seu corpo, como se tivesse se coberto com um cobertor.

— Oh! — exclamou ela involuntariamente. — Isso é incrível!

— Não é? — disse Alta-Elfa Arqueira, fechando os olhos bem orgulhosa, como se ela mesma tivesse surgido com os anéis.

Anão Xamã, ouvindo isso, soltou uma risada.

— Ei, o que foi? — resmungou Alta-Elfa Arqueira, fazendo birra.

— Céus… — suspirou Sacerdotisa e olhou para Esgrimista Nobre bem ao seu lado. Ela foi recebida por um olhar contundente e olhos gélidos. — Ei, por que não testa também um anel?

— ………Não preciso — respondeu Esgrimista Nobre, balançando a cabeça com tanta força que seus cabelos dourados agitaram violentamente. — ………Não estou com frio.

— Vamos, como pode dizer isso…?

De repente, Sacerdotisa se lembrou das garotas mais novas no templo. Era o tipo de coisa que elas diriam enfaticamente (quaisquer que fossem suas razões) quando saíam no inverno só com as vestimentas bem finas, mesmo quando seus narizes escorriam.

Gentilmente, Sacerdotisa pegou a mão de Esgrimista Nobre. Como esperado, estava muito fria.

— Aqui, eu ajudo a colocar.

— ……Já lhe disse, não estou… atchim! — Ela espirrou, depois desviou os olhos rapidamente de Sacerdotisa que se surpreendeu. — ……Não estou com frio.

— …Claro, claro. — Sacerdotisa se esforçou para conter uma risada. — Vou falar com o pessoal. Mas ainda vou colocar esse anel em você.

— …………Hum.

E assim, já não aceitando um não como resposta, Sacerdotisa deslizou o anel no dedo da lutadora.

As pedras azuis brilhavam nas mãos das garotas.

— Heh! Acho que não posso mais fugir agora que estou usando isso. — Até mesmo Alta-Elfa Arqueira parecia estar se divertindo, rindo enquanto falava.

— ……

Esgrimista Nobre permaneceu silenciosa e mal-humorada, não ligando para os outros, mas as três ficaram próximas das pedras quentes. O efeito de aquecimento concedido pelos anéis com as lindas pedras azuis poderia não durar muito tempo; mas os anéis em si sobrariam.

— Atenção, garotas, já chega de papo furado. De volta com o olhar assustado. — Anão Xamã tentou parecer o mais ameaçador que podia na esperança de as incentivar em suas atuações.

— Qual é, anão, você não tem que estragar o momento!

— Momento? Fale por você, Orelhuda. Que tipo de escravos parecem rir e fofocar?

Quando ele colocou dessa forma, ela não pôde argumentar. Alta-Elfa Arqueira contraiu os lábios de desagrado, mas ficou quieta.

— Assuma a liderança — disse Matador de Goblins. — Minha visão noturna é ruim demais.

De fato, seria bastante incomum como agente do caos carregar uma tocha. Matador de Goblins colocou a vara da jaula em seu ombro, agora seguindo Lagarto Sacerdote.

— Deixa comigo. Melhor acompanhar atentamente, meu Cavaleiro Errante. — Com uma gargalhada sibilante e gutural, Lagarto Sacerdote moveu em frente com passos sombrios.

O grande portão negro da fortaleza estava quase diante deles, impossível de perder face a montanha esbranquiçada de neve.

 

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— Solicitamos acesso!

A voz estrondosa de Lagarto Sacerdote pôde ser ouvida mesmo entre o uivo da nevasca. Um rugido de dragão, de fato. Era impossível para os habitantes da fortaleza não o ouvisse.

— Seu visitante é um servo da divindade do conhecimento externo, um sacerdote do olho da lua verde! Irmãos, não vão abrir esse portão para mim?!

Lagarto Sacerdote era (de fato) um clérigo, e um que se aplicara diligentemente e por tempo suficiente para se elevar ao ranque prata. Ele possuía a conduta para posar como um membro elevado de qualquer religião.

Quando o último eco da sua voz desapareceu na tempestade, Anão Xamã cutucou Matador de Goblins com o cotovelo.

— Difícil de acreditar que ele só está fingindo, hein? Não acho que a garotinha daria conta do recado.

— Verdade.

— No entanto, tendo em conta com o quão pouca roupa as donzelas de santuário dos deuses do mal tendem a ter, poderia ter sido interessante.

— É mesmo?

— O que é? Pensei que tivesse gostado da exibição dela no festival. Não gostaria de vesti-la?

— Não estou interessado.

Os dois falaram rápido e discretamente, virados para a frente, assim parecendo ainda ser discípulos fieis de Lagarto Sacerdote.

Depois de um momento, Anão Xamã disse: — Gostaria de saber se esse goblin paladino ou o que seja é forte. O que acha, Corta-barba?

— Não sei — murmurou ele. — Mas devemos operar no pressuposto de que ele é mais forte do que nós.

— Quer dizer que, independentemente de como a realidade seja, estaremos preparados?

— Sim.

— Acho que se pensássemos que ele é um tolo e nos apanhe, isso só iria demonstrar que éramos tolos.

Goblins eram estúpidos, mas não eram tolos. Esse sempre foi um dos princípios mais importantes de Matador de Goblins. ele assentiu sem falar com Anão Xamã.

— Hmmm. — Não houve resposta a convocação de Lagarto Sacerdote. O portão permaneceu bem fechado, a única resposta era o uivo do vento.

Muito bem, então. Lagarto Sacerdote ergueu a manga de seu robe colorido ostentosamente e retirou algo dela: um olho esculpido em madeira, o trabalho de Anão Xamã, feita imitando a marca que encontraram. Ele a ergueu.

— O olho azul da deidade do conhecimento externo olha sobre vós! Irmãos, aqueles que compartilham em conhecer, abram agora esse portão!

Por fim, algo aconteceu.

A menor das lacunas apareceu no portão. Seguiu-se um ruído de polias e engrenagens giradas por correntes, e com um chiado poderoso a porta começou a abrir.

Matador de Goblins observou o portão com concentração total. Quantos goblins ele encontraria operando? Qualquer que seja a quantidade, seu inimigo possuía uma força de combate enorme. Agora as coisas estavam ficando interessante.

— Hum… Vai dar tudo certo no fim… não é?

Com a voz suave, mas inesperada atrás de si, Matador de Goblins moveu apenas os seus olhos por detrás do capacete. Do outro lado das barras, Sacerdotisa olhava para ele com um traço de nervosismo.

— Acho que vão… nos jogar direto em uma masmorra ou… ou algo assim?

— Muito provavelmente — assentiu Matador de Goblins, mas só bem pouquinho; os goblins poderiam vê-lo. — É melhor do que ser feita de sacrifício.

— É… né?

— Sim.

— Mas… você vai nos resgatar, não é?

— Essa é a minha intenção.

Sacerdotisa abriu a boca para dizer mais alguma coisa, depois fechou rapidamente de novo. Sua expressão se suavizou como se tivesse desistido.

— Bem… Está bem então.

— Mas… você vai nos resgatar, não é?

— Essa é a minha intenção.

Sacerdotisa abriu a boca para dizer mais alguma coisa, depois fechou rapidamente de novo. Sua expressão se suavizou como se tivesse desistido.

— Bem… Está bem então.

Com isso, ela exalou suavemente. Mesmo com os vários aquecedores mágicos, o ar esfumaçou assim que deixou sua boca.

Ele poderia ter dito Vai ficar tudo bem, Confie em mim, ou Não vou deixar os goblins encostarem um dedo em vocês; qualquer coisa para dar algum conforto às garotas. Mas ele não fez. Nunca fez.

É claro, se ele fosse todo afetuoso e carinhoso, ela poderia suspeitar de que alguém roubara sua armadura. Mas, ainda assim…

Ele realmente não tem jeito, pensou ela. Ela não sabia porque a fez sentir vontade de sorrir, mas reprimiu o impulso. Ela podia sentir Esgrimista Nobre ao seu lado, com o corpo rígido; se era de nervosismo ou de medo, Sacerdotisa não sabia.

— Está tudo bem — disse Sacerdotisa. — Matador de Goblins está aqui. Todos estão aqui.

— Eles estão vindo — disse Alta-Elfa Arqueira abruptamente, erguendo as orelhas.

— GROOOBR!

A criatura que apareceu era pequena ao lado do portão do qual surgiu, e seu grito era mínimo comparado ao de Lagarto Sacerdote.

Era um único goblin, vestido com vestes esfarrapadas de sacerdote. Ele estava, sem dúvida, tentando parecer tão intimidador quanto possível, mas seus passos pequenos e instáveis pareciam bastante cômicos. Mesmo assim, de alguma forma a característica tola, como se ele fosse uma caricatura de um sumo sacerdote orgulhoso, também o fazia estranho.

— GORARO! GORBB!!

O goblin parou na frente de Lagarto Sacerdote e gesticulou imperiosamente, acenando a mão e gritando alguma coisa. Lagarto Sacerdote, ainda mantendo o sinal sagrado, assentia seriamente ao mesmo tempo. Matador de Goblins e Anão Xamã mantinham suas cabeças baixas como bons discípulos, silenciosos e calados.

— O que ele está dizendo? — sussurrou Alta-Elfa Arqueira para Sacerdotisa.

— Não faço ideia — murmurou ela de volta, balançando a cabeça. Como ela compreenderia a língua dos goblins? — Acha que esse é o goblin paladino?

— Ele meio que parece mais com um sumo sacerdote para mim.

— ……Estão erradas. — A voz de Esgrimista Nobre interrompeu seus sussurros. — ………Esse… não é ele.

A chama do ódio ardia em seus olhos; Sacerdotisa não pôde deixar de reparar.

Oh…

Um pequeno pensamento deixou muito claro onde o goblin conseguiu suas vestes sacerdotais.

— Está bem… — disse ela, abraçando Esgrimista Nobre. Ela não tinha certeza se seus sentimentos foram transmitidos, mas esperava que sim.

Agora…

— Nesse caso, podemos pedir uma audiência com o governante dessa fortaleza? O paladino em pessoa?

— GORA! GORARARU!

— Ah, esses? Esses são os meus dois servos fiéis. E essas outras, meu… presente. — Lagarto Sacerdote fez um gesto que englobava a jaula; ele parecia realmente senhorial. — Conseguimos capturar algumas aventureiras patéticas. Uma das quais, devo acrescentar, já carrega a marca de uma oferenda.

— ORRRG! GAROOM!

— Ah, muito mesmo, entendo. Nos leve até a prisão. Precisamos cortar seus membros para que não escapem.

O sacerdote goblin assentiu e, com um gesto que era uma imitação cômica do próprio Lagarto Sacerdote, fez sinal para o grupo entrar.

Naturalmente, Lagarto Sacerdote não entendia a fala dos goblins mais do que os outros. Mas a língua deles soava muitas vezes como uma criança fazendo birra, e o significado era geralmente o mesmo:

Quero isso. Me dê. Foi ele. É culpa dele.

Então, o que fazer? A língua ágil silvou uma oração:

— Ó Mapusaurus, governante da terra. Permita-me que se junte à sua manada, ainda que breve.

Esse era o milagre Comunicar, uma obra de telepatia. Pegando emprestado um pouco do poder de seus antepassados, que caçavam em manada, Lagarto Sacerdote foi capaz de entender e se fazer entender.

“Nada pode avançar se os dois lados não se entendem. Geralmente essa magia é utilizada para pregação, mas…”

Isso foi o que lhes dissera ao redor da mesa na pousada na noite anterior, sentado ao lado de Anão Xamã, que se ocupava incansavelmente na costura.

“Acho que será necessário para nós em algum momento aprender algumas palavras da língua dos goblins.”

Essa fora a resposta muito séria de Matador de Goblins. E agora…

— Ufa! De alguma forma, parece que funcionou — disse Anão Xamã.

— Ainda estamos só passando pelo portão. Não baixe sua guarda.

— Não precisa repetir isso.

O anão soltou um leve suspiro. Matador de Goblins lhe lançou um olhar, depois observou seu arredor.

Goblins.

Eles estavam no pátio de um castelo antigo. Em tempos, uma nascente entregara água à área, e banquetes talvez fossem realizados nessa praça de mármore. Mas agora, a nascente estava seca; o lugar estava coberto de neve, todos os sinais de gramas e árvores desapareceram do jardim, qualquer visão de cavaleiros ou nobres já se foi. Agora era a alçada dos goblins, e como tal, se tornara um aterro coberto de sangue e sujeira.

— Essa é uma fortaleza de anões da Era dos Deuses? Olhe o que aconteceu com ela…

Para alguém que amava aventura e o desconhecido tanto quanto Alta-Elfa Arqueira, esse sussurro aflito era compreensível.

— Eles não possuem ideia do quão valioso é…

— Mas, olhe para todos eles — disse Sacerdotisa, mordendo os lábios na tentativa de suprimir o tremor em sua voz. — Temos que fazer algo sobre isso…

Foi uma baita sorte os goblins as verem apenas como oferendas lamentáveis. Os monstrinhos sabiam quão facilmente tais prisioneiras poderiam ser colocadas para chorar e choramingar, não importando o quão orgulhosas parecessem.

A horda de goblins ultrapassava em muito as dezenas.

Os capangas goblins estavam por toda parte: o jardim, sobre os muros, a torre de vigia e as ameias. Cada um deles tinha equipamentos ruins — ainda que provavelmente pareciam do mais elevado aos olhos dos goblins — e cada um estava observando atentamente os recém-chegados.

Seus olhares possuíam lampejos de curiosidade e luxúria, mas a maioria deles estavam cheios de forme aterradora. Os olhos de um animal, de uma besta sem cérebro, teriam sido melhores. Ao menos criaturas selvagens não olhavam com tanta malícia e ganância.

— ……

Sacerdotisa se esqueceu dos esforços para proteger Esgrimista Nobre de seus olhos; ela abraçou a outra garota com mais força. Ela sabia por experiência que só iria encorajar os goblins, mas fez mesmo assim.

— ……

Nesse meio tempo, Matador de Goblins estava observando cuidadosamente o ambiente por debaixo do capacete. A geografia, a arquitetura: se ele não tomasse nota de tudo, então ele estava quase certo de que morreria em o que quer que poderia tentar.

A morte quase não o preocupava; mas o que ele não suportava era pensar que esses goblins ainda continuariam a trabalhar o seu mal.

— GORARA.

— Hum. Vamos. Ele disse para segui-lo — disse o lagarto, indo atrás do goblin.

— Claro, mestre sacerdote. Vamos, homem de lata.

Eles deixaram o pátio cheio de goblins, descendo uma escada que estava repleta de resíduos podres de lixo escoando. Seus passos ecoavam estranhamente no subsolo de pedra. Era escuro e sombrio, e um fedor indescritível surgia de algum lugar. Eles duvidavam que era um armazém. Por que manter comida em jaulas?

Eles estavam na masmorra.

As barras e fechaduras foram feitas por anões, robustas, porém lindas. As correntes interiores eram igualmente de tirar o fôlego. Talvez elas fossem usadas, em algum passado muito remoto, para prender agentes do caos, ou os malfeitores que teriam ameaçado essa fortaleza.

Agora, contudo, esse lugar estava sob controle dos goblins, e esses cômodos eram a última residência de jovens infelizes. Imagine tais pobres almas acorrentadas aqui embaixo, tentando conter seu nariz face ao cheiro inconfundível de cadáveres…

— …

Sacerdotisa ouviu um som. Foi Esgrimista Nobre, que cerrara os dentes e soltou um grunhido baixo. Seu corpo estava rígido nos braços de Sacerdotisa.

— ORAGARR.

O goblin mexeu na fechadura enferrujada, e a porta da cela se abriu.

O chão estava escorregadio devido algum líquido não identificável. As correntes estavam quase vermelhas de ferrugem.

Sendo o subsolo, o ar trazia uma friagem, apesar de ser melhor do que o lado de fora. O fedor podre flutuava juntamente com o frio.

Só havia um buraco para alguém fazer suas necessidades, e já estava cheio de resíduos. Como se isso não bastasse, um braço humano também fora jogado descuidadamente no fosso.

Alta-Elfa Arqueira fez um gorgolejo estrangulado que ecoou alto. Pouco precisamos mencionar os sentidos superiores dos elfos…

Embora os olhos humanos não conseguissem ver tão bem quanto os dos elfos, o cheiro e a sensação do lugar retomavam as experiências formadoras de Sacerdotisa. Ela deu um trago arranhado de ar, sibilando. Ela estava acostumada com esse tipo de coisa — talvez, provavelmente, assim ela gostava pensar — mesmo assim…

— …Eugh…

Ainda assim, ela não pôde deixar de pensar naquela primeira aventura. O jovem guerreiro caminhando diante dela, depois convulsionando com veneno aos seus olhos. A bruxa que ele ajudou matar. E a lutadora, enxameada de goblins, violada da pior forma possível.

Todos em vez dela. Eles morreram enquanto ela sobrevivera. Enquanto ela estava viva agora. Mas, a vez dela não viria um dia?

Está tudo bem. Está tudo bem. Está… tudo bem.

Ela recitou o nome da Mãe Terra em voz baixa para impedir que seus dentes rangessem. Ela olhou para ele.

Ou pelo menos, ela tentou.

— GAROU!

— Ha… ahh!

Ela sentiu algo agarrar sua cabeça; ela gritou. O goblin sacerdote havia esticado a mão na jaula e pegado ela pelos cabelos com violência pouco hospitaleira.

— ORAGARAO!

Abra a jaula e ponha essa garota na cela!

Qualquer que fosse a deidade para qual faziam sacrifícios, parecia que começaria com ela.

Anão Xamã e Matador de Goblins trocaram uma olhadela e assentiram, depois abaixaram a jaula.

Lagarto Sacerdote disse seriamente: — Isso é muito bom e tal. Contudo, se fala em… desfrutar dessas oferendas, primeiro devo me encontrar com o paladino, e…

— Hrrraaaaahhhhhh!

Quando a porta da jaula foi aberta, Esgrimista Nobre fez algo totalmente inesperado: ela forçou sua saída da jaula, alcançando o goblin que estava se divertindo com Sacerdotisa e envolveu suas mãos ao redor do pescoço dele.

— OGA…?!

— Hraah! Haaaaahhhh! — Berrando como um animal selvagem, Esgrimista Nobre se aproveitou do tamanho superior do próprio corpo para bater no monstro.

— GORARA…?!

— Ah! — gritou Sacerdotisa. O goblin sacerdote meio enlouquecido sacara uma faca de pedra do cinto e a raspou com ela. Uma fina linha vermelha de sangue apareceu em sua bochecha, e ela retrocedeu. Ainda voltando para trás, Esgrimista Nobre derrubou a faca da mão da criatura.

— ORAGAGAGA?!?!

— Goblin… Goblin! Goblin!!

Ela montou em cima dele, atacando com seus punhos. Cada vez que ele gritava e revidava, hematomas novos apareciam na pele pálida de Esgrimista Nobre, mas ela não lhe deram atenção.

— Aaaagh! Morra! Morra, seu pedaço de merda!

Um nariz quebrado; órbitas oculares destruídas. Dentes entortados. Queixo esmagado.

— GARAO?!

Nem mesmo os goblins eram aptos a não perceber uma confusão dessa magnitude. A outra criatura no cômodo do subsolo, que estava esperando antecipadamente ter sua diversão com as prisioneiras, deu um grito.

Assim, o guarda goblin fez uma coisa bem goblinsesca: em vez de encarar seu atacante, ele subiu correndo as escadas para chamar seus companheiros.

— Tsc — estalou a língua Matador de Goblins. Seus movimentos foram rápidos e precisos.

Largando a jaula no chão — e ignorando as objeções indignadas de Alta-Elfa Arqueira — ele sacou a espada do quadril e a lançou.

A lâmina cortou o ar silenciosamente antes de perfurar a cabeça do goblin na escada.

— ORAG?!

A criatura veio rolando de costas pela escada, convulsionando, sem compreender o que lhe acontecera. Matador de Goblins correu até ele de imediato.

— Hmph. — Ele torceu a espada, rompendo a espinha dorsal, e quando esse golpe definitivamente final foi executado, arrancou a espada e chutou o corpo para longe. O corpo desceu o resto da escada, caindo na piscina de resíduos e afundando nela. Isso iria esconder o corpo.

No entanto, Matador de Goblins, que nunca baixava a guarda, manteve um olhar atento na parte superior da escada, sua conexão com a superfície.

— GORA?

Tal como suspeitava. Um goblin patrulhando captara o tumulto nas escadas e veio investigar.

Matador de Goblins ajustou rapidamente sua mão na espada e falou com seus companheiros: — Fomos detectados. Mais um chegando.

— Aaaaaghhh! Aaahhhhhhhh!

Esgrimista Nobre ainda estava batendo às cegas no goblin sacerdote morto. Os dentes horrorosos e desiguais da criatura cortavam a pele em seus punhos, mas ela praticamente não reparava. Em poucos segundos, ambas as mãos estavam cobertas de sangue.

— P-pare! Por favor, pare! — implorou Sacerdotisa, se aproximando da jovem. — Não é hora de… Ouch! — Um dos braços se movendo a empurrou para trás e ela caiu de bunda.

A bofetada na pedra fria com seu traseiro delicado foi bastante dolorosa, mas ela colocou a sensação de lado e disse: — Ér, ah, devo usar Silêncio…?

— Nem, moça, sem som algum iria atrair tanta atenção quanto o som em si — disse Anão Xamã. — Nesse caso, aham…

Ele começou a vasculhar sua bolsa, resmungando enquanto passava pelos objetos um depois outro.

— Parece que não temos escolha — murmurou Matador de Goblins, segurando mais forte a espada. Se ele lidasse com o goblin que vinha na direção deles agora, iria agravar inevitavelmente a situação. Ele simplesmente deveria enfrentar os goblins agora? Não… as probabilidades eram demais contra eles.

Enquanto estava fazendo esses cálculos rápidos, Lagarto Sacerdote, que esteve calado até aquele momento, falou: — Senhora Patrulheira, dê um grito!

— Quê? Ér, quem, e-eu?

Alta-Elfa Arqueira, que tentava parar Esgrimista Nobre, foi pega desprevenida por essa convocação súbita, com as orelhas balançando de surpresa.

Enquanto Matador de Goblins estava fazendo cálculos rápidos, Lagarto Sacerdote, que esteve calado até aquele momento, falou: — Senhora Patrulheira, dê um grito!

— Quê? Ér, quem, e-eu?

Alta-Elfa Arqueira, que tentava parar Esgrimista Nobre, foi pega desprevenida por essa convocação súbita, com as orelhas balançando de surpresa.

Lagarto Sacerdote esbofeteou irritado o chão com a cauda. Havia um pouco de raiva em sua voz enquanto dizia: — Faça o que estou pedindo e grite! Não temos mais tempo!

— S-sim, claro, tudo bem. Um grito… um grito…

Ela respirou fundo com seus lábios bem formados, abriu a boca, e…

— N-nããããããão! Parem! Paaaaaaaaareeeem!

Sua voz foi tão clara e penetrante que poderia perfurar os tímpanos.

A voz da elfa foi muito forte. Seu grito ecoou pelo porão, subiu as escadas, e alcançou a superfície, ao menos.

— GORARA.

O goblin perto do topo da escada pareceu entender o que estava acontecendo. Ele parou, imaginando a mulher brutalizada. Ele fez um gesto vulgar e olhou para Matador de Goblins de onde estava na escada.

— GORARURU?

Matador de Goblins deu de ombros, e o goblin deu um riso feio e acenou desdenhosamente com a mão.

— Você virá mais tarde, isso?

Matador de Goblins ficou olhando a criatura enquanto ela partia, com o sorriso asqueroso ainda no rosto.

Eles conseguiram obter de volta uma pequena parte do tempo que desperdiçaram. Ele não desperdiçaria outra vez.

O plano original era levar os “sacrifícios” para o mestre da fortaleza para inspeção. Se houvesse a chance de eliminar o goblin paladino — se é que tal coisa existia! — seria muito provavelmente dessa forma.

Mas o plano estava em pedaços agora.

— Bem, eu esperava isso — murmurou Matador de Goblins friamente enquanto fechava a porta, colocava as tábuas, e depois desceu as escadas.

O corpo do guarda flutuara de volta para a superfície da piscina de resíduos; sem hesitar, ele chutou outra vez.

Ele olhou para onde Esgrimista Nobre ainda estava batendo no cadáver do goblin sacerdote. — Tragam esse goblin para cá também. Não é grande coisa, mas vamos escondê-lo. — O som forte de carne espancada se transformara em um splorch úmido.

— Qual… é… Pare com isso! — disse Alta-Elfa Arqueira, arrancando Esgrimista Nobre do cadáver. Ela agarrou a garota pelos ombros e puxou, pondo seu peso corporal junto. Ela poderia parecer delicada, mas tal era a diferença de força entre um ranque prata e um porcelana que ela conseguiu retirar a guerreira.

— Com licença, mas o que acha que está fazendo? — demandou Alta-Elfa Arqueira. — Acho que tínhamos explicado como isso iria funcionar!

Esgrimista Nobre, agora estendida no chão sujo, observou a arqueira com olhos sombrios. — ……Tenho que matar os goblins.

— Ahh, cara…!

Não adiantava tentar convencê-la do contrário. Alta-Elfa Arqueira contraiu os lábios, tornando seu descontentamento claro. Suas orelhas se ergueram de aborrecimento em meio ao cabelo desgrenhado. Essa imprevisibilidade era o que ela mais gostava nos humanos. Ela tinha que admitir que até mesmo gostava de reclamar sobre todas as decisões estranhas de Orcbolg. Ao menos às vezes. Só um pouco…!

A aventureira que se sentou diante dela — ambas as mãos cobertas de sangue, mas ainda assim com uma expressão serena no rosto — era diferente. Como ela era diferente, Alta-Elfa Arqueira não poderia dizer exatamente, mas ela achava inconfundível.

— É por isso que fui contra…!

— Estou feliz por termos saído dessa sem ter gastado repentinamente uma magia… Acho — disse Anão Xamã, suspirando e agitando o frasco de vinho no quadril. Ouvindo um barulho de dentro, ele abriu a tampa e tomou um longo gole. Depois ele limpou as gotículas de sua barba e arrotou. O álcool do vinho era ideal para um perigo evitado por um triz.

— Isso não é o que planejamos, mas temos que jogar com as cartas que nos deram.

— Sim, acho que não há mais nada quanto a isso. É melhor a ter conosco do que deixá-la sozinha para causar problemas aleatórios. — Lagarto Sacerdote soou muito calmo.

Alta-Elfa Arqueira ergueu uma das sobrancelhas. — E se ela nos colocar em mais alguma situação, algo ainda pior? — Ela pôs as mãos nos quadris e olhou feio para Esgrimista Nobre. Sua raiva para com a jovem, que estava ali com as mãos ainda cobertas de sangue como se nada disso a preocupasse, parecia estar jorrando de novo.

Sacerdotisa, sensível ao que estava acontecendo, tentou acalmar as coisas. — S-se acalme, por favor, fique calma! Esse não é o momento de ficar com raiva…!

— Você deveria ser a mais furiosa de todos!

— Quê?!

Alta-Elfa Arqueira esticou a mão subitamente e a passou na bochecha de Sacerdotisa. A garota recuou involuntariamente com a dor ardente. As armas dos goblins poderiam ser rudimentares, mas uma lâmina era uma lâmina.

A linha vermelha ao longo de sua bochecha ainda escorria sangue.

Ela decidiu lançar um ataque surpresa, e foi você quem pagou por ele!

Os olhos de Sacerdotisa vacilaram. Ela pressionou a mão pequena na bochecha.

— Estou bem — insistiu ela. Depois de um pouco de consideração, a expressão que ela pôs foi um sorriso, um que dizia que ela poderia lidar com um pequeno arranhão. Seu rosto valente só pareceu enfurecer Alta-Elfa Arqueira ainda mais.

— Você não está bem, está ferida…!

Pelo menos… sim, no mínimo, essa aventureira poderia pedir desculpas para Sacerdotisa.

Alta-Elfa Arqueira estendeu a mão como que para agarrar Esgrimista Nobre, que permanecia olhando para o nada…

— Se acalme.

— Orcbolg…!

…e encontrou uma luva suja a impedindo.

A menor das lágrimas escorreu pelas beiradas dos olhos de Alta-Elfa Arqueira. As emoções agitadas da guerreira que foram culpadas. Ela não podia se acalmar só porque eles lhe diziam.

— Mas… mas ela disse que ia vir conosco, e agora veja…! — disse Alta-Elfa Arqueira petulantemente, apontando para Esgrimista Nobre. Ela só queria se fazer entender.

Mas Matador de Goblins balançou a cabeça. — Estou te dizendo para se acalmar.

Ele pegou o goblin morto e arrastou, com túnica e tudo mais, até a piscina de resíduos. Com um som nojento, esse corpo, também, mergulhou na porcaria.

Matador de Goblins deixou de olhar para Alta-Elfa Arqueira, cujos ombros arqueavam com sua respiração furiosa.

— Ei.

— Oh, s-sim! — disse Sacerdotisa, se endireitando rapidamente.

— Comece por tratar a si mesma, depois, dê os primeiros socorros. Essa mão vai apodrecer.

Houve um momento de silêncio, seguido por um grunhido. Matador de Goblins parecia estar pensando se continuaria.

Então: — Vai haver uma cicatriz também.

— …Claro. Devo usar uma poção…?

— Comece com ervas.

Sacerdotisa assentiu com um “Sim, senhor”, depois correu para Esgrimista Nobre. Ervas anticépticas e analgésicas não teriam os efeitos dramáticos de uma poção, mas ainda eram testadas e comprovadas. Matador de Goblins se certificou de Sacerdotisa ter aplicado a pomada corretamente em sua bochecha, depois assentiu.

— Desculpe pelo incômodo, mas, verifique por favor se existem sobreviventes entre as prisioneiras.

— Está bem. — Anão Xamã deu outro gole no vinho quando respondeu. Ele sempre era rápido para responder um pedido. — Venha comigo, Escamoso. Vou precisar de ajuda se tiver que retirar alguém das celas.

— Ha-ha-ha-ha-ha! Sim, o senso comum afirma que conjuradores são fisicamente fracos, não é? — disse Lagarto Sacerdote. Só uma piada: uma forma de lutar contra a atmosfera opressiva da prisão.

Tocando a ponta do nariz com a língua comprida, Lagarto Sacerdote disse a Matador de Goblins: — Presumo que não se importa se cuidássemos dos machucados de qualquer ferido que encontrarmos, certo?

— Guarde seus milagres — respondeu Matador de Goblins. — Não importa o que faça, não vai haver nenhuma prisioneira com condição boa o bastante para se juntar à batalha.

— De fato, é um bom ponto — disse o lagarto, fazendo aquele gesto estranho com as mãos.

Quando partiu, ele sussurrou: — Compreendo como se sente, mas talvez dessa vez a emoção deva ser deixada para depois.

As orelhas da elfa captaram o murmúrio.

Tocando a ponta do nariz com a língua comprida, Lagarto Sacerdote disse a Matador de Goblins: — Presumo que não se importa se cuidássemos dos machucados de qualquer ferido que encontrarmos, certo?

— Guarde seus milagres — respondeu Matador de Goblins. — Não importa o que faça, não vai haver nenhuma prisioneira com condição boa o bastante para se juntar à batalha.

— De fato, é um bom ponto — disse o lagarto, fazendo aquele gesto estranho com as mãos.

Quando partiu, ele sussurrou: — Compreendo como se sente, mas talvez dessa vez a emoção deva ser deixada para depois.

As orelhas da elfa captaram o murmúrio.

— Não acho que seja suficiente apenas dizer que não temos outra escolha e deixar isso passar — disse ela depois de uma pausa, com o rosto amuado. Matador de Goblins ficou diante dela silenciosamente, com os braços cruzados.

Matador de Goblins sentia que algo estava errado — em parte devido ao “goblin sacerdote”, uma coisa horrível e aparentemente contraditória, se é que alguma vez houve um — mas as prisioneiras eram mais preocupantes. Supostamente, nenhuma garota fora raptada da aldeia. O que significava que elas muito provavelmente foram trazidas aqui de outra aldeia que os goblins invadiram.

— …

Então, os goblins haviam forçado as prisioneiras a andar por toda aquela estrada nevada? Isso era possível?

Quão grande era a área em que os goblins operavam? E era esse “goblin paladino” que os liderava?

— Não gosto disso — disse Matador de Goblins.

Ele falou consigo mesmo, mas Alta-Elfa Arqueira respondeu mal-humorada: — Você é quem está dizendo. — Então, sem fazer qualquer esforço para esconder suas orelhas se contraindo descontentes, ela olhou para sua máscara e disse: — Por que trouxe essa garota junto?

O capacete deixava sua expressão ilegível como sempre, mas ele respondeu calmamente: — Porque precisamos dela.

— Oh, precisamos, é mesmo? — disse a patrulheira, cuspindo uma pequena risada zombeteira. — Bem, talvez devêssemos lhe dar uma surra então?

— Em todo o caso, se não sairmos daqui, não poderemos voltar para casa. E — acrescentou ele, calmamente como sempre — há goblins para matar. Nós assumimos o desafio. Vamos ter ou não sucesso.

— Não… não é hora de ficar falando assim…!

— …Eu sei.

Mas.

— Acho… que entendi isso.

Sua voz parecia estranhamente cansada. Alta-Elfa Arqueira de repente acabou não conseguindo falar.

— ……

Orcbolg?, sussurrou ela silenciosamente para ele.

 


 

Tradução: Kakasplat (3 Lobos)

Revisão: JZanin (3 Lobos)

 

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