Matador de Goblins

Matador de Goblins – Vol. 03 – Cap. 05.1 – Um Cenário Anulado

 

 

— Uoo, o que há com ele?

— Alguém já viu um aventureiro tão sujo?

— Ei, aquele não é Matador de Goblins?

— Matador de Goblins?

— Dizem que ele é especialista em matar goblins.

— Então essa roupa é parte de sua estratégia de matar goblins?

— Eu acho. Ele é Matador de Goblins.

— Matador de Goblins… hum.

— Eeeeiii! Cuidado com goblins!

Matador de Goblins corria obstinadamente por entre a multidão, ziguezagueando entre os cidadãos ainda sob os efeitos do festival.

Ele usava sua armadura de couro imunda e capacete de aparência barata, carregando a espada de comprimento estranho e tinha seu escudo redondo atado ao braço.

Até mesmo um aventureiro novo em folha teria equipamento melhor, mas sua forma desapareceu rapidamente na turba.

Ele recebeu alguns olhares estranhos, mas não desconhecidos.

A Guilda ficava na entrada da cidade, bem ao lado do portão da cidade. Tendo deixado Garota da Guilda para trás, ele fez um caminho mais curto para aquele portão e além…

— Matador de Goblins, senhor! — Ele ouviu uma voz atrás dele como o tilintar de um sino.

Ele não precisou se virar. Ele já reconhecia sua dona.

— Você veio.

— Sim, senhor! Eu recebi uma ajuda… um oráculo!

Era Sacerdotisa, agarrando seu cajado — não, seu mangual — com ambas as mãos.

Ela ainda estava vestida com seu traje de ritual quando se apressou, sua respiração vinha em fôlegos laboriosos.

Então era ela e não Matador de Goblins que atraia os olhares.

Ela colocou uma expressão séria mesmo enquanto corava de vergonha.

— Me disse para te encontrar… Hum, o quê…?

— Goblins, tenho certeza.

Quando os dois passaram pelo portão da cidade, uma sombra se aproximou deles silenciosamente pelo lado.

Aquela voz clara. Aquela figura esbelta. As orelhas de Alta-Elfa Arqueira balançavam e seus olhos se estreitaram como um gato.

— Se Orcbolg está correndo, que mais poderia ser?

— Sem dúvida, sem dúvida.

— Corta-barba aqui não é exatamente difícil de se compreender.

Mais duas sombras a seguiram.

O imponente Lagarto Sacerdote juntou suas mãos em um gesto estranho, enquanto Anão Xamã acariciou a barba alegremente.

Cada um deles já estava preparado com todos equipamentos que eles pensavam ser melhores para a batalha.

— …Hum.

Matador de Goblins grunhiu e ficou quieto.

Ele olhou para cada um deles. Eles não podiam ver sua expressão atrás do capacete.

— Você quer saber por que estamos aqui, mesmo não nos chamando. — Seus pensamentos estavam escondidos, mas não difíceis de adivinhar. Alta-Elfa Arqueira explicou: — Não subestime as orelhas de um elfo. — Ela deu às suas orelhas um balançar congratulatório. — Acha que não consigo ouvir alguns caras sussurrando em uma taverna? Ou contando a notícia? — Ela esticou seu dedo indicador delicado, fazendo um círculo no ar. — Uma aventura! Comigo, com todo mundo. Esse é o nosso preço por te ajudar.

— …Entendi.

Matador de Goblins assentiu bruscamente e as orelhas de Alta-Elfa Arqueira sacudiram.

— Ei, isso é… isso é tudo?! Não vai nos agradecer, elogiar ou algo assim?

— Não… — Ele teve um momento de hesitação. Como se até ele não estivesse a certeza do que fazer.

Matador de Goblins pensou por palavras, então disse sem emoção, mas inequivocamente:

— …Obrigado. Por ajudar.

— Sem problema — disse Sacerdotisa com um pequeno riso que não pôde conter. Ainda agarrando seu mangual, seu olhar subiu pelo seu corpo. — Somos seus amigos, não somos?

— Entendi. — O Matador de Goblins assentiu. — …Sim, vocês são.

Com isso, os quatro aventureiros trocaram olhares e sorriram largamente. O que quer que eles estivessem prestes a se meter, eles estavam despreocupados. Afinal de tudo, o dia especial tinha acabado. Esse seria apenas mais um dia normal. Para um aventureiro, cada dia que passava significava uma nova aventura.

— Você pode dizer para não ligarmos, garota, mas não é fácil ignorar essa sua fantasia — provocou Anão Xamã, alisando a barba e sorrindo.

— Velho tarado — queixou-se Alta-Elfa Arqueira. Sacerdotisa balançou suas mãos freneticamente.

— Ahn! Oh! Uh! Eu! É por causa do ritual… não tive tempo de trocar…!

— Acho que fica bem em você. — Lagarto Sacerdote revirou os olhos e riu com as mandíbulas abertas. — O que você acha, meu senhor Matador de Goblins?

A resposta de Matador de Goblins foi desapegada:

— Nada mal.

— Gwaaah?!

Sacerdotisa não foi a única que ficou surpresa. Ela ficou parada corando furiosamente, Lagarto Sacerdote colocou a língua para fora, como se não tivesse certeza de como lidar com a resposta à sua própria pergunta. Alta-Elfa Arqueira começou a se preocupar seriamente com a saúde de Matador de Goblins, e até mesmo Anão Xamã congelou.

Matador de Goblins contemplou o grupo, então esclareceu:

— Me refiro as nossas circunstâncias.

Todo mundo suspirou. Sacerdotisa estufou as bochechas e não disse nada.

— …Parece que vem aí uma tempestade.

Matador de Goblins assentiu com o sussurro de Alta-Elfa Arqueira, depois começou uma explicação:

— Da torre de vigia da Guilda eu vi sombras em todas as direções. Muito provavelmente goblins estão chegando.

— O quê?! — Os olhos de Anão Xamã se arregalaram. Ele quase cuspiu seu gole de vinho, então o engoliu apressadamente. — Isso é preocupante, de fato. Aquela última horda foi um pouco mais que complicado.

— Hm. Não poderíamos então solicitar a ajuda de outros aventureiros como fizemos? — perguntou Lagarto Sacerdote.

— Não… — Matador de Goblins se cortou, então olhou para a cidade atrás.

A celebração, o festival, tinham acabado atualmente. As pessoas estavam voltando às suas casas. Alguns ainda estavam cambaleando de bêbados, relutantes em deixar a diversão terminar.

Pessoas de todas as raças e empregos viviam aqui, e da mesma forma aventureiros diversificados.

Matador de Goblins pensou.

Ele pensou em Guerreiro de Armadura Pesada. Em Cavaleira.

Ele pensou em Garoto Batedor e Druidesa, em Guerreiro Novato e Sacerdotisa Aprendiz.

E finalmente, ele pensou em Lanceiro e Bruxa.

— …Dessa vez…

Após essa reflexão calma, Matador de Goblins balançou a cabeça lentamente.

Ele agora sabia quanta coragem que precisava só para falar.

Existia algo mais assustador em todo o mundo do que confiar tudo na sorte?

Ele considerou Sacerdotisa por trás do seu visor. Ela estava visivelmente assustada, mas virada para a frente.

Ela tinha dito antes que sorte não tinha nada a ver com nada.

Matador de Goblins formou um punho.

— …Creio que nossa força será suficiente.

— Mas Corta-barba — disse Anão Xamã, checando os catalisadores em sua bolsa — se eles são muitos… Bem, havia muitos deles da outra vez. Não teríamos conseguido sozinhos.

— Claro que não — disse calmamente Matador de Goblins. — Nenhuma pessoa pode encarar um exército goblin em campo aberto.

— Então acha que dessa vez vai ser diferente?

— Nosso inimigo está dividido. Há apenas alguns em cada unidade e eles não são bem coordenados. E eu já fiz algumas preparações.

Alta-Elfa Arqueira olhou para ele, surpresa por ele estar tão calmo.

— Preparações? Como você sabia exatamente que esses goblins viriam, Orcbolg?

— Porque se eu soubesse que um ninho de goblins estivessem bêbados de comemorar, eu atacaria.

— …Hmph. Entendi.

Sua resposta não podia ter sido mais direta.

— Depressa. Vou explicar o resto enquanto andamos.

Matador de Goblins partiu mesmo enquanto falava e os outros se juntaram a ele.

Eles deixaram a estrada principal, passando entra as árvores e vegetações ao longo dos caminhos da floresta.

Cada um deles o seguia de perto enquanto ele mantinha um ritmo digno de Patrulheiro.

Afinal de contas, se um aventureiro não conseguisse seguir um batedor por um labirinto de ruínas, esse seria o fim.

— Sabiam que não tem havido muitas missões de goblincídio ultimamente?

— Acho que não. Mas e daí? — Alta-Elfa Arqueira corria ao lado levemente, com suas orelhas saltando. Ela caminhava devagar o suficiente para que os outros pudessem acompanhar. Sacerdotisa nunca fora muito atlética, e homens-lagarto e anões não eram conhecidos pela velocidade.

— Eles são parasitas. Não conseguem sobreviver sem roubar dos outros.

— Tem certeza… huff, huff… de que já não matou todos eles antes?

Matador de Goblins olhou para Anão Xamã, movendo seus braços e pernas atarracadas o máximo que podia e moderou seu ritmo.

— Não é possível.

— E por que isso?

— Porque eles não têm tocado nas mulheres que sequestram. Se seus números estivessem caindo, eles iriam priorizar a reprodução.

Goblins que ignoravam as mulheres que raptam era tão bizarro quanto dragões que não acumulavam ouro ou necromantes sem interesse em cadáveres.

— Hmmm — grunhiu Lagarto Sacerdote, mantendo a cabeça baixa para que conseguisse falar enquanto corriam e equilibrando com a cauda. — Significando… que há algo ou alguém mais lhes proporcionando seus recursos e fazendo eles fugir com essas mulheres.

— Ei, sabe… — Sacerdotisa parecia como se estivesse se lembrando subitamente de algo.

Lagarto Sacerdote, por sua vez, indicou com a cauda o mangual que ela estava segurando e perguntou se queria que o carregasse. Ela sorriu e recusou, então falou:

— …Aqueles goblins que encontramos estavam bem equipados, não estavam? Armadura, armas e tudo mais…

— Se presumirmos que aqueles itens não foram simplesmente surrupiados, significaria que outra entidade forneceu eles aos goblins.

— Sim. — Matador de Goblins assentiu.

Como aquele seja-lá-como-se-chama, o monstro gigante que eles tinham encontrado nas ruínas anteriormente.

Ou a criatura ocular sem nome que tinham encontrado no esgoto debaixo da cidade da água.

Goblins eram efetivamente os soldados do caos, que significa que seu líder poderia não ser um goblin.

— Não sei quem é e não me importo. Mas… — Ele considerou a questão trivial, não merecendo sua atenção. — …Eu coloquei armadilhas nas estradas que preferem usar em todas as direções. Vamos cuidar do resto nós mesmos.

Os inimigos eram goblins. Nada mais.

Ele apenas continuou correndo, com seus amigos trocando sorrisos exaustos atrás dele.

Além do mais, se se aventurar era um dia de trabalho para um aventureiro…

— Os números dos goblins são a sua única força. Só um líder amador os dividiria.

…então matar goblins era um dia de trabalho para Matador de Goblins.

— E vamos lhes ensinar isso em primeira mão.

Ao longe, trovões começaram a rolar.

 

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Assim os goblins chegaram à cidade fronteiriça.

Ao norte da cidade, os quinze goblins no primeiro dos bandos ao redor da cidade estavam entusiasmados com a oportunidade de marchar ao “meio-dia”.

Durante muitos meses, seu “comandante” insistiu que eles contivessem seus desejos.

E não importa a garantia de que iriam ser autorizados a fazer o que quisessem, goblins odiavam ser pacientes.

Goblins acreditavam em nunca deixar para amanhã o que se poderia fazer hoje, ao menos quando se tratava em se satisfazerem. Por que esperar para jantar quando se pode almoçar?

Isso não era por serem estúpidos demais para pensar no futuro, mas porque eles viam isso como a única maneira de sobreviver.

De qualquer forma, os goblins estavam morrendo de fome.

Eles estavam passando fome, entediados e fartos de esperarem, e mais que tudo, queriam um pouco de prazer para se distraírem.

Atacar uma cidade cheia de pessoas dormindo com a festança de um festival parecia o ideal, e sua moral estava elevada.

Eles usavam um conjunto variado de equipamentos e seus passos eram leves enquanto andavam em formação.

A noite tinha acabado de cair. Para eles era o amanhecer, então eles ainda estavam um pouco cansados, mas logo seu momento chegaria.

O que tinham a temer? Que razão tinham para hesitar?

— GROOBR…?

— GROOB! GOROOBBR!

E ainda assim, eles pararam de se mover.

Na luz das luas que se filtrava através das nuvens, eles podiam ver uma corda retenida atravessando a trilha na frente deles.

Os goblins riram uns aos outros. Que tolos são esses humanos.

Um deles cortou a corda com a ponta de uma lança rustica e um chacoalhar pôde ser ouvido nos arbustos.

Eles seguiram o som e encontraram um dispositivo simples de tábuas de madeira amarradas junto a corda.

Até mesmo goblins reconheciam um alarme quando viam.

O que os humanos esperavam ganhar com isso? Eles lhe deram um pontapé para longe.

— GROROBR!!

— GOBRR!

O avanço foi retomado.

Seu capitão balançou a mão e os goblins partiram, sorrindo uns para os outros.

O local do festival não estava muito longe. As pessoas tiveram suas celebrações. Agora era vez dos goblins. Eles seguiram em frente, cantando uma marcha fúnebre terrível com suas vozes uivantes.

Tudo sem perceber que aventureiros estavam os observando dos arbustos.

— M-Matador de Goblins, senhor, eles desarmaram sua armadilha…!

— Está tudo bem.

— Hã? — A apavorada Sacerdotisa ficou francamente surpreendida quando olhou para Matador de Goblins sobre os ombros.

— Essa não era a armadilha. Apenas uma isca.

— …Qu? O-o que fazemos? Nesse ritmo…

— Só observe. Você vai ver.

Mal tinha acabado de falar e houve um som baixo e agudo.

Os goblins notaram?

Foi o som de uma corda apertada sendo subitamente solta.

No instante seguinte, algo voou dos arbustos e atacou o grupo de goblins. Estacas afiadas ou lanças, não, eram flechas gigantes.

Pedaços grossos, afiados e longos de madeira que tinham sido afiados o máximo possível.

Impulsionados por galhos que agiram como arcos enormes, os projéteis voaram diretamente nos goblins.

— GROOROB?!

— GOBR?!

Gritos e lamentos. O som horrível da morte daqueles que assumiram seus fins em uma onda de agonia.

Afortunados foram os goblins que morreram imediatamente nos espetos. Outros, atingidos no estômago, não conseguiram extrair as estacas e só podiam esperar pela morte.

Mas essa única saraivada dificilmente poderia acabar com os goblins, obviamente.

— GOORB! GOBRR!!

As flechas tinham errado completamente alguns. Os sobreviventes deram gritos de fúria e ódio, depois ergueram suas armas e começaram a correr.

Eles nunca se decidiram completamente se estavam fugindo ou avançando, porque Matador de Goblins e Lagarto Sacerdote saltaram dos arbustos e caíram sobre os goblins com suas espadas.

— A armadilha parece ter se beneficiado de meu teste de disparo.

— Com certeza! E agora, contemplem! Se orgulhem de meus atos, Ó meus ancestrais!

Os goblins gritaram quando seus corações foram trespassados, as gargantas arrancadas, os crânios esmagados e suas entranhas espalhadas.

 

 

 

Em meio aos gritos podia ser ouvido a oração única e estridente de Lagarto Sacerdote ecoando na noite. A destruição da heresia era a sua alegria tanto quanto sua missão.

Isso era dizer que suas motivações eram diferentes das de Matador de Goblins, mas seus objetivos eram os mesmos.

Comparado ao calmo e metódico Matador de Goblins, o estilo de luta de Lagarto Sacerdote era repleto de exaltação.

— Treze… hum-hum, ou melhor, catorze.

— Não. Quinze.

A luta durou apenas alguns momentos, com os goblins acabando como cadáveres cruelmente expostos.

Talvez não seja necessário dizer que nenhum goblin teve mais sorte do que aqueles que morreram instantaneamente na primeira saraivada de flechas gigantes.

— Hrg… Oh… — Alta-Elfa Arqueira empalideceu um pouco com a visão de onde ela empoleirava nas árvores, com suas flechas ponta-broto de prontidão.

Ela deveria ter disparado em quaisquer goblins que tentasse fugir, mas no fim não tinha sido necessário.

E mesmo assim, bem, isso…

— Já perdi a conta do número de vezes que me perguntei o que você estava pensando, Orcbolg…

— Isso é o que estou pensando.

— …Me poupe…

Alta-Elfa Arqueira desceu do seu galho, não fazendo som algum, nem dobrando folha ou grama.

Ela realmente mal conseguia suportar isso, no entanto. Em qualquer outra aventura, isso teria sido além dos limites.

— Essa armadilha é proibida para nada além de extermínio de goblins!

— Hrg…

— Bem, tudo tem seu tempo e lugar — propôs Anão Xamã, que tinha ficado esperando em silêncio na retaguarda com Sacerdotisa, em prol de conservar suas magias. Ele acariciou a barba com um murmuro pensativo, inspecionando a engenhoca que acabara de semear tal destruição.

A corda que parecia ser um alarme tinha sido conectada a um galho grosso nas proximidades. O galho tinha sido dobrado em um arco com as estacas afiadas no cume como javelinas. Quando a corda foi cortada, as estacas vieram voando.

— Uma armadilha simples. Mas, sobretudo, eficaz por tudo isso.

— Inicialmente era para jogo de caça.

A espada de Matador de Goblins agora tinha suportado tanto essa batalha quando a da Guilda, e ele a jogou fora sem hesitar.

— Onde aprendeu isso?

— Com minha irmã mais velha — disse ele brevemente, vasculhando pelos corpos. — Meu pai era um caçador. Ela aprendeu dele.

Ele pegou a melhor lâmina que encontrou, verificou o fio e então a embainhou.

— Requer um certo jeito. Os goblins nunca vão descobrir na primeira vez que verem.

— Embora precise de um bom local e tempo para preparar suas falhas. Então, meu senhor Matador de Goblins, o que faremos agora? — Lagarto Sacerdote sacudiu o sangue de sua lâmina presa, tocando a ponta do nariz com a língua.

— Tive uma ideia. — Matador de Goblins inclinou seu capacete um pouco. — …Já terminou?

— Ah, uh, sim! — assentiu Sacerdotisa, se levantando de onde estava rezando pelas almas dos mortos.

Haveria muitas mais mortes por vir. Não havia tempo para enterrar os corpos aqui e agora.

Mas Matador de Goblins, pelo menos, nunca interferiu com suas orações.

— O poder da Mãe Terra continua forte. Duvido que eles se tornem mortos-vivos nessa noite.

— Entendo… Ainda tem aquela ajuda ou seja lá o que você chama?

— Não — disse Sacerdotisa, balançando a cabeça. — Acho que deve ter sido apenas naquele momento.

— Entendi — murmurou Matador de Goblins e assentiu.

Ele aceitou tudo isso sem uma palavra de queixa.

Onde ela tinha se levantado, ele agora tinha se ajoelhado ao lado de um cadáver, pegando uma adaga goblin para seu próprio cinto. Ele procurou pela criatura por algo mais que pudesse ser usado, então olhou para Alta-Elfa Arqueira.

— O que foi?

— Vejamos… Me dê um minuto.

Ela fechou os olhos, com suas orelhas tremulando bem levemente.

Até mesmo Anão Xamã manteve a boca fechada, restando apenas o silêncio, ou melhor, o assobio do vento.

Então, houve o farfalhar da grama, a respiração dos animais. Insetos zumbindo e trovões estrondando. E…

— …O oeste. Está mais barulhento lá, então provavelmente é o próximo. O leste também.

— Entendi. E quanto aos outros?

— Estou um pouco preocupada com a colina ao sul, mesmo sendo distante… — Suas orelhas vibraram confiantemente. Ela cheirou, apanhando o odor no ar. — A chuva está chegando. Os trovões estão ficando mais alto.

— Hm — grunhiu Matador de Goblins, depois se virou para Lagarto Sacerdote e disse: — O que acha?

— …O tempo está do lado dos nossos inimigos essa noite. A chuva seria perfeita para se camuflarem. — Lagarto Sacerdote tocou seu nariz com a língua e soltou um silvo. — Temos de matar todos eles. Se mesmo um ou dois chegarem a cidade, a vitória é deles.

— Então devemos nos apressar — disse sem rodeios Matador de Goblins.

— Aquelas nuvens de tempestade… Estou com mau pressentimento — disse Sacerdotisa. Não foi o frio que fez seus ombros tremerem. — Elas têm a sensação de… Eu não sei. Caos. Algo anormal.

— Hmm…

A elfa do grupo, que estava em sintonia com todas as coisas naturais, e sua sacerdotisa, que servia a deusa da terra, estavam ansiosas.

Talvez devessem presumir que isso era uma magia lançada por um goblin xamã, ou por aquele por trás dos ataques goblins.

Matador de Goblins, por sua vez, nunca tinha visto um goblin com tal poder. Mas isso não era garantia de que um não existisse.

Eles teriam que levantar hipótese, planejar e teriam que vencer.

Seus pensamentos foram interrompidos quando uma mão aberta o atingiu com força nas costas.

— E agora o que, não precisa ser tão sério, Corta-barba! — Foi Anão Xamã. A baixa estatura dos anões desmentia sua força física, e esse deu a Matador de Goblins outra palmada nas costas. — Não estamos jogando o mesmo jogo que eles! Só faça o que sempre faz.

Matador de Goblins assentiu.

— …Certo.

A verdade era que não havia muito tempo para pensar, de qualquer forma.

Eles eram poucos e seus inimigos uma legião.

Eles teriam de ser rápidos, sutis e precisos se quisessem ter alguma hipótese de vitória.

Era apenas a presença dos membros de seu grupo que o impediu de admitir derrota. Isso era algo que ele não tinha ideia de como retribuir.

Ele não fazia ideia, mas se eles solicitassem uma aventura, então ele iria em uma aventura.

Mesmo que eles o proibissem de usar suas armadilhas por algum motivo, bem, ele tinha muitas outras táticas.

— Do leste e o oeste, não é? Eles estão tentando um ataque em pinça. — Matador de Goblins se levantou. — Nós vamos detê-los.

 

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Correndo o risco de entregar o resto da história, é exatamente isso que eles fizeram.

O trovão soou de cima e os insetos exclamaram de seus lugares escondidos na grama.

Os goblins se aproximando pela floresta do oeste pararam quando viram as luzes da cidade.

Eles podiam ver formas humanoides.

Algo estava pressionado contra as árvores ao longo da estrada, como se tivesse pensando que estava escondido.

Mas o capacete era óbvio demais. Não havia como confundir. Isso era algum tipo de aventureiro.

O goblin os liderando — não por qualquer desejo pessoal ou ambição — fez um sinal de “espere”.

Ele apontou para um subordinado, depois colocou a lança que segurava nas mãos da criatura. Vá golpear aquela sombra.

— GRBB.

— GOOB!

O subordinado balançou a cabeça ferozmente; seu líder o respondeu com um tapa na cara e um pontapé no traseiro.

O goblin agora segurando a arma, se aproximou lentamente e pavorosamente.

Não houve movimento. O goblin engoliu em seco.

Ele ergueu a lança rustica e apunhalou o melhor que pôde.

Foi um bom golpe, nos padrões goblin. Certamente o suficiente para tirar uma vida.

A lâmina acertou alguma coisa com um baque.

Ao mesmo tempo, a silhueta se inclinou e depois caiu sem fazer barulho.

Os goblins eram criaturas simples. Satisfeitos com os resultados, eles partiram de novo.

Então eles não notaram até que fosse tarde demais.

Os goblins não repararam no capacete velho e enferrujado rolar no chão, revelando o rosto que estivera o usando.

Não era uma pessoa?

No instante seguinte, uma roldana pesada entrou em ação e a morte caiu sobre a cabeça dos goblins.

— ………!

— ………?!

A morte chegou sob a forma de estacas afiadas agrupadas em bolas.

As bolas estavam ligadas à roldana por uma corda, e a força da roldana as arremessou impiedosamente sob suas vítimas.

Aventureiros se referiam a essas desagradáveis bolas espinhadas como Guten Tag, popularmente entendido como “Bom dia, agora morra!”.

Depois que elas tinham dado sua primeira passada pelos goblins, as bolas espinhadas voltaram pelo seu próprio peso e velocidade, balançando como pêndulos.

Por mais que quisessem, os goblins se viram incapazes de gritar e falharam em dar o alerta.

De fato, não houve barulho algum.

— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, nos conceda paz para aceitar todas as coisas…

Foi, se você preferir, um milagre.

O vento desarrumava as vestes de Sacerdotisa enquanto ela erguia o mangual de uma maneira impressionante durante o encantamento da magia.

Silêncio. Prova de que os deuses responderam ao seu coração fiel.

Sacerdotisa foi protegida dos goblins em sua frente pela bênção da Mãe Terra.

Mas os goblins, cujas fileiras tinham sido abatidas pela armadilha, não ficaram apenas assustados.

Eles acreditavam que alguém além de si mesmos deveriam ser prejudicados, e eles arderam de raiva com seus companheiros caídos.

Isso era apenas sua natureza.

— …!!!

Com um grito de guerra mudo, os goblins ergueram suas armas primitivas e tentaram ir para cima de Sacerdotisa.

Em momentos, a donzela seria certamente atacada, pisada pelos goblins.

Eles deviam ter percebido.

Nenhum papel de apoio enfrentaria uma horda de goblins sozinho.

— …?!

Um dos monstros repentinamente tombou espetacularmente no chão.

O que foi isso? Todos eles pararam para ver. Uma flecha protuberava da testa da criatura caída.

De repente uma flecha ponta-broto floresceu da garganta de outro monstro, tendo perfurado até o fim da boca.

Isso trouxe à mente o dizer que uma habilidade suficientemente avançada era indistinguível de magia.

Nada exemplificava essa máxima melhor que Alta-Elfa Arqueira operando sua pontaria élfica. Às vezes, os grandes poetas entendem ainda mais que antigos elfos.

As flechas não faziam nenhum som enquanto voavam, ceifando por entre a multidão de inimigos.

Um após outro era derrubado, semeando uma poderosa confusão, e os goblins não podiam suportar o caos ou emboscada por muito tempo.

Mesmo assim, o último deles se aproximou à passos de Sacerdotisa…

— Tome… isso!

Ela pareceu quase que aliviada quando bateu bem no agressor com seu mangual. Quando ele cambaleou com o golpe, dois, então três flechas o encontraram… E tudo ficou quieto.

— Huff… Huff…

— Bom trabalho. Eu diria que foi muito bem. — Alta-Elfa Arqueira deu uns tapinhas no ombro de Sacerdotisa. A garota ainda estava ofegante, enquanto os restos do seu inimigo desabaram poucos metros de distância.

— Obr-obrigada. — D-de alguma forma, eu…

Suor escorria pelo seu rosto, ainda assim ela sorria bravamente. Ela se esforçava para permanecer de pé.

— Céus. — Alta-Elfa Arqueira riu, acariciando a cabeça de Sacerdotisa.

— Hã?

— Quando alguém diz que seja uma isca, não faz mal ficar um pouco chateada.

— Bem, quero dizer… acho… — Mas, pestanejando, Sacerdotisa concluiu: — Foi só meu papel no plano.

— Você não se importa com Orcbolg, não é? Ele poderia te dar um murro na cara que você o perdoaria.

— Ah… Ah, ha-ha-ha…

Alta-Elfa Arqueira fez um som de nojo e lhe lembrou que os tinha instruído a contar os corpos.

Sacerdotisa não disse nada e pegou o capacete do chão com uma expressão tensa.

Bem usado e coberto de manchas horripilantes, era o mesmo que o capacete de Matador de Goblins. Provavelmente era um dos seus velhos que tinha guardado para uma situação exatamente como essa.

Ela bateu de leve no visor. Céus. Sério. Ela sorriu e murmurou:

— Bem, ele não tem jeito.

E o que essa pessoa “que não tem jeito” estava fazendo nesse momento?

Ele estava matando goblins, é claro.

 

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— Hmph.

Uma pedra silvou através do ar, quebrando um crânio goblin.

A criatura cambaleou e caiu para trás antes de desaparecer na escuridão.

— GOROOG?!

Talvez desaparecer fosse a palavra errada, ou melhor, só uma perspectiva humana. A visão noturna superior dos goblins foi perfeitamente capaz de perceber o que tinha acontecido com seu companheiro.

Ele estava no fundo de uma fenda no solo, um buraco cheio de estacas afiadas.

— GRRROROR!

— GORRRB!

O fosso era apenas um buraco. Mas ainda era um fosso.

Os goblins não sabiam que tais armadilhas tinham reivindicado a vida de muitos aventureiros em vários labirintos.

Mas eles sabiam mais do que avançar aleatoriamente.

Quando o primeiro caiu no buraco da trilha, o bando de guerra parou.

Pedras coloridas se espalhavam pela estrada na frente deles.

Ah, marcações!

O líder do grupo de goblins, satisfeito com sua própria perspicácia, ordenou suas tropas evitarem as pedras.

O primeiro passo que eles deram foi muito bom. Depois o segundo, o terceiro, o quarto. No quinto passo…

Outra criatura foi engolida por uma boca repentinamente escancarada.

— GOROOB?!

— GROOROB! GOROBOB!!

Os goblins entraram em pânico. Não havia pedras coloridas aqui.

Aquelas pedras não tinham marcado coisa alguma. Tinham sido apenas uma distração.

Os goblins estavam caindo agora continuamente em fossos. Eles não conseguiam avançar e nem podiam recuar.

Aqueles primeiros passos fora apenas sorte. Não havia garantia de que o chão ainda estaria seguro se passassem de volta por cima.

— GROB! GOROROB!

— GOOROBOG!!

Logo eles estavam discutindo entre si.

Foi uma briga feia. Os lacaios culpavam o líder que lhes tinham dito para seguir em frente, enquanto o líder tentava impingir a culpa nos seguidores.

Envolvidos em suas suspeitas e raiva mútuas, nenhum deles percebeu que esse era precisamente o ponto.

Esse foi o motivo de que algumas pedras coloridas tinham, de fato, marcado um buraco.

E Matador de Goblins não era alguém que perderia a vantagem da surpresa.

Mais pedras sibilando açoitaram pelo ar, aniquilando um goblin atrás de outro.

Os monstros gritando e remexendo jogaram sua lanças e atiraram pedras, cientes de que estavam lutando por suas vidas.

Mas todos os seus projéteis eram repelidos pela parede defensiva que ele tinha preparado previamente.

— Puxa. Nossas vidas não teriam sido mais fáceis se tivéssemos mantido Orelhuda conosco? — grunhiu Anão Xamã, usando a funda com seus dedos grossos para lançar pedras. Ele sempre carregava a arma, mas a magia era o seu forte.

— Impossível. — Matador de Goblins disparou calmamente uma pedra, murmurando “Dezenove”. Então ele explicou: — Ela tem menos resistência. Em uma luta por trás de fortificações, seria perigoso se algum acontecimento inesperado visse a ocorrer.

— Acontecimento inesperado… Está falando de um xamã, por acaso? — Lagarto Sacerdote estava recolhendo pedras para os dois, colocando aos seus pés. Ele espreitou a cabeça por trás da ameia.

Dois na direita, vários à esquerda. Ele indicou os números com seus dedos para Matador de Goblins, que confirmou.

— Correto. — Matador de Goblins assentiu, provocando um resmungo do anão.

— Bem. Ela pode ter uma tábua como peito, mas acho que ela está mais à vontade saltando pelas árvores do que agachada atrás de um monte de terra.

— Confesso, isso me incomoda — disse Matador de Goblins.

— O fato de ela não ter sequer peito suficiente para balançar?

— Não. — Quando ele deu essa resposta categórica, ele espiou os goblins por uma abertura na ameia, que estavam à beira da derrota. — Quatro bandos de quinze dá um total de sessenta… Vocês já viram alguma cria superior?

— Todos eles parecem muito comuns, até onde posso dizer.

— Escamoso tem razão. Embora Orelhuda poderia ser capaz de obter informações.

— Nenhum conjurador, campeão, senhor ou escudos de carne. E todos atacando precisamente ao mesmo tempo…? — murmurou Matador de Goblins. — Só consigo pensar que eles estão brincando conosco.

Anão Xamã assentiu. Não inteiramente sem leviandade, mas ele estava mais sério do que antes.

— Não podemos apenas considerar isso como uma idiotice goblin, não é?

— Eles são estúpidos, mas não são tolos.

— Ou seja — disse Lagarto Sacerdote balançando a cauda — seu comandante misterioso acredita ter uma chance de vitória.

— Devemos presumir que sim.

O último. Matador de Goblins dividiu seu crânio, contando “Trinta”.

Depois de ter certeza de que o cadáver tinha caído no fosso, ele se levantou de trás da parede.

— Devemos nos unir com os outros, então ir reforçar a rota sul.

— O sul… é onde está sua fazenda, não é? — perguntou Anão Xamã.

— Sim.

A próxima pergunta veio de Lagarto Sacerdote:

— Você colocou armadilha perto da fazenda?

— Não.

— Mas é lá onde você quer ter o confronto final? — Anão Xamã parecia duvidar da solidez desse plano.

— É onde eles esperam lançar o ataque — disse ele. — Eles estão errados.

Em outras palavras:

— Iremos abater todos os goblins.

Foi quando a primeira gota desceu dos céus e passou pelo visor de Matador de Goblins.

Seria uma batalha molhada.

 


 

Tradução: Kakasplat

Revisão: JZanin

 

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