Matador de Goblins

Matador de Goblins – Vol. 03 – Cap. 04.1 – É o Seu Sorriso que Importa

 

 

Meio-dia em um dia de festival se vivenciaria a praça cheia de gente, dando a aparência de um mosaico vivo.

O pilar que estava no meio da praça no lugar de uma torre de relógio fazia um ponto de encontro natural.

Ela parecia um pouco simples em meio aos homens e mulheres vestidos espalhafatosamente circulando à volta.

Ela usava uma blusa branca e bela, mas pouco notável. Ela tinha vestido uma saia-calça que era feita para facilitar o movimento acima de tudo, e meia-calça simples. Seu cabelo estava estilizado como de costume. Mas ela havia conseguido uma fita nova para segurar a trança atrás.

Simples roupas pessoais, isso era tudo o que tinha de usar na cidade no seu dia de folga.

Afinal…

— Ah.

…Entende?

Foi então que ele chegou, caminhando ousadamente no meio da multidão como se não estivesse ali.

Não havia como confundir ele e muito menos perdê-lo no mar de corpos. Ele estava com sua armadura de couro manchada e capacete de aço. Sua espada e escudo.

Ele estava tão completamente no seu eu habitual que foi o suficiente para fazê-la rir.

Assim, ela invocou um sorriso igual ao que sempre tinha. Apenas a sua roupa era diferente hoje.

— Aproveitou a sua manhã?

— Sim — disse desapaixonadamente Matador de Goblins, parando na frente dela e dando um dos seus acenos de costume. — Desculpe por te fazer esperar.

— Está tudo bem. Também acabei de chegar.

Uma pequena mentira da parte dela.

Ela não mencionaria que estivera tão animada que havia chegado antes do meio-dia.

Ela tossiu um pouco para disfarçar sua mentira e continuou:

— …Hee-hee. No entanto você está um pouco atrasado, Sr. Matador de Goblins.

— Desculpe.

— Nada, não faz mal. Afinal, eu…

…gosto de esperar.

Então, Garota da Guilda sorriu malevolamente, se virou e começou a levá-lo para longe.

Sua trança, vívida com sua nova fita, balançava como uma cauda.

— Bem, então vamos!

Ela sabia. Mesmo que tivesse se arrumado não teria conseguido chamar a atenção dele.

Ao contrário, ela queria que ele visse o seu eu real, não o rosto que ela mostrava no trabalho todos os dias.

Não Garota da Guilda. Apenas Garota normal. O jeito que ela era normalmente.

Parte da razão pela qual tinha se vestido simplesmente era para declarar: Essa sou eu!

— Você já almoçou?

— Não. — Matador de Goblins balançou a cabeça lentamente. — Ainda não.

— Está bem, então…

Vuup, vuup. Ela virou a cabeça tão rápido que poderia praticamente se ouvir.

Ela considerou um plano após outro, os comparou, dispensou alguns e finalmente escolheu um.

Ela sabia que guisado era uma de suas comidas favoritas, do jeito que eles faziam em sua aldeia, é claro.

Ela não podia competir nessa área. Mas ela poderia tirar vantagem do dia do festival.

— Que tal caminharmos enquanto comemos? — disse ela, sorrindo timidamente. — Sei que é pouco educado, mas hoje é especial…

— Não me importo.

— Sabia que não. Muito bem então, vamos comprar algo e depois dar uma olhada por aí…

Ela olhou para cima, espiando seu rosto por baixo. O capacete sujo. O mesmo rosto que via todos os dias.

— Mas me pergunto aonde…

— Hmm.

— Podemos ir a um lugar que goste, sabe?

— Hm.

Matador de Goblins grunhiu depois. Garota da Guilda sorriu para ele.

Esperando não incomodar ele. Não enquanto a outra pessoa estivesse tentando responder a ela, de qualquer forma.

Dos cinco anos de conhecimento, ela entendia o que ele estava pensando cuidadosamente.

Então, depois de um momento, Matador de Goblins assentiu e respondeu:

— Vamos começar por aqui então.

— Claro!

Ele partiu com seu passo ousado e ela o seguiu como uma cachorrinha animada.

Ela poderia ser capaz de se safar segurando sua mão para não se separarem.

Mas ela sabia que nunca iria perder de vista essa pessoa singular e inesquecível.

Garota da Guilda estava determinada a acompanhá-lo pela tarde. Ela seguiu atrás dele, com seu sorriso crescendo cada vez mais.

 

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Os dois compraram maçãs caramelizadas de uma barraca de doces.

Não servia exatamente como uma refeição completa, mas alguém dificilmente poderia se queixar sobre a comida do festival.

Isso era o que ela pensava, de qualquer forma, e ela não conseguia imaginá-lo ficando insatisfeito com qualquer comida.

Falando de coisas que não posso imaginar…

Ele comeu facilmente o doce sem remover o capacete, um feito que ela teria — senão — considerado impossível.

— …Hee-hee.

— O quê? — O elmo dele se inclinou de uma forma curiosa quando ele quebrou em dois o já terminado palito.

— Nada — disse Garota da Guilda, balançando a cabeça e não tentando esconder seu sorriso. — Estava só pensando se havia alguma coisa que você não comesse.

Para essa pergunta, Matador de Goblins murmurou hmm e mergulhou no pensamento.

Garota da Guilda o observava de soslaio enquanto lambia a maça. Hm. Doce.

— Acho que eu comeria se fosse preciso — murmurou ele, e ela seguiu com um suave “É?”.

— Mas prefiro evitar peixe.

— Peixe?

— São fáceis o bastante para se conseguir se houver um rio próximo, mas rios também podem implicar em parasitas e a possibilidade de intoxicação alimentar. — Houve uma pausa e então ele acrescentou: — E eles fedem.

— Isso é verdade — concordou ela com uma risada. Mesmo o peixe defumado, seco ou salgado tinha um odor muito distinto. — Compreendo. Já vi aventureiros discutindo sobre isso.

— Oh?

— Alguém comprou peixe em conserva para provisão e tivera uma grande briga sobre se o odor era terrível ou não.

Ela estava exagerando um pouco, mas ele assentiu e disse “Entendi”.

Então, que grupo poderia ter sido?

Ela se lembrava do incidente, mas não o suficiente para recordar seus rostos.

Aventureiros eram fundamentalmente salafrários e sem rumo.

Alguns poderiam parecer se estabelecer, mas se de repente eles tivessem problemas um dia, ninguém pensaria duas vezes. Ele, ela ou eles, simplesmente iriam para uma nova cidade agradável e se sairiam bem por si mesmos.

Era normal, depois de tudo.

Um novo começo oferecia um alívio muito maior do que encarar o fato de que todos de seu grupo morreram devido ao seu próprio fracasso fazendo o trabalho. Encontrando regularmente todos os outros aventureiros dia sim e dia não, como poderiam evitar pensar nisso?

Não importa pensar muito nisso…

Essa pessoa que não tinha visto recentemente, ela estava morta?

A pessoa que você acabou de falar antes de ela sair em uma aventura, a veria novamente?

Esperar só era fácil quando você tinha certeza de que a outra pessoa voltaria.

Mas se não tivesse…

— Contudo, é eficaz em esvaziar um ninho.

Ele estava falando de um assunto sério — ele sempre estava sério — alheio aos pensamentos dela.

Garota da Guilda sabia que ele não estava brincando, mas ela sorriu.

Desde que eles partiram essa tarde, ele — ou melhor, eles — tinham sido assim.

Cada vez que havia uma escolha de caminho ele iria examinar da direita para a esquerda. Quando eles passavam por um bueiro, ele pisaria nele com um tum.

Matador de Goblins e Garota da Guilda chegaram ao fim da rua principal e caminharam pela margem do rio, onde ela olhou rio cima e rio abaixo.

Os borbulho do rio, o splash de peixe saltando, os barcos circundando pela água, nada disso parecia chamar a atenção dele.

— Hmm, isso não é adorável?

Garota da Guilda fechou os olhos enquanto a brisa fria do outono beijava suas bochechas.

Então ela se segurou no parapeito da ponte e se inclinou sobre a água tanto quanto podia.

— Você vai cair. — Para ela, o comentário brusco era uma simples evidência de que ele estava prestando atenção nela.

— Estou bem — disse ela, se virando de volta.

Com as mãos se apoiando no parapeito, ela arqueou as costas e voltou para a ponte.

Seu cabelo trançado dançou quando o vento o apanhou.

— Esse rio deve ir até o mar.

— Sim — disse ele. — Começa nas montanhas.

— Mas não é como a cidade da água. O que você achou daquele lugar?

— As ruas eram confusas — disse sem emoção Matador de Goblins. — Bom para defesa, mas problemático para se ir algum lugar.

— Você também quer dizer que é melhor ter cuidado com goblins não entrarem nessa cidade.

— Sim. — Matador de Goblins assentiu. — Exatamente.

Então…

— Oh.

Só por um segundo, Garota da Guilda encontrou os olhos de um turista em um barco passando debaixo da ponte.

Uma garota adorável com lindos cabelos dourados e bochechas pálidas tingida de vermelho-claro.

Ela não estava usando sua armadura dourada habitual. Hoje ela estava ostentando um vestido azul-marinho.

Ao lado dela estava um homem grande com uma expressão severa e um tanto confusa em seu rosto. A mulher deveria ser Cavaleira.

— …Hee-hee.

A cavaleira colocou o dedo em frente à boca e olhou para Garota da Guilda como se exigindo que isso permanecesse em segredo. Garota da Guilda não pôde deixar de rir ao ver a aventureira se comportar como qualquer outra garota jovem de sua idade.

Sim. Sim, é claro. Nosso segredo.

Ela pensava que todos já estavam bem cientes da situação, mas seus lábios ficaram selados.

Parecia estar indo bem com os dois. Isso é o que importa. Bem, me pergunto o que todos pensam de nós.

— Diga, Sr. Matador de Goblins. — Ela se afastou do corrimão e puxou seu braço. — Para onde vamos agora?

— Hmm…

Com um som gutural curto, ele partiu com seu modo de andar habitual, com Garota da Guilda atrás dele com o peito estufado orgulhosamente.

Aqui e ali, ele mudou as direções aparentemente por capricho, mas ele andava com tanta confiança que ela presumia que ele tinha algo em mente.

Ela estava apreciando o mero mistério de onde estavam indo, o que fariam lá.

Ele parou mais tarde em várias curvas na estrada, onde eles foram para uma rua movimentada.

— Ah, é aqui que estão todos os artistas, não é?

Artistas de todos os tipos com todas as fantasias que se possa imaginar proclamavam sua arte para todos ouvirem.

Os transeuntes sorriam, desfrutavam dos shows, aplaudiam e deixavam uma gorjeta, ou ignoravam todo espetáculo e continuavam caminhando.

Um músico rhea persuadia miados de um gato em seus braços, mesmo enquanto fazia malabarismos com um punhado de bolas. Uma entusiasmada canção sem sentido saia de sua boca.

A vida é uma jogada de dado

Jogue-os dias após dia

E sempre é um e um

Alguém disse       sorte é justa

Nada muda até o dia da sua morte

Rir ou chorar, é tudo a mesma coisa

Um e um aparece hoje de novo

Oh       um e um       um e um!

Mostre-me seis e seis amanhã!

Garota da Guilda ouvia a canção enquanto eles passavam, então observou seu companheiro.

— Qual é a sua jogada hoje, Sr. Matador de Goblins?

— Não sei — disse ele. — Ainda não.

— Hm… — Garota da Guilda tocou o dedo refletidamente contra seus lábios. An-ham. Certo.

— Você teve um encontro com uma garota de manhã e outra de tarde. — Ela franziu os lábios com o som ligeiramente rude disso. — Acho que a sua sorte é muito boa, não?

— É?

— Hu-hum.

— É mesmo?

— Com certeza.

A garganta de Matador de Goblins vibrou com um hmm evasivo. Não ficou claro se ele entendeu o ponto ou não.

Céus…

Qualquer um que agisse assim pareceriam irritantemente indeciso.

Mas esse não era o tipo de pessoa que ele era.

Se ele fosse algum aventureiro farrista, ela nunca teria o convidado dessa forma.

— Céus…

Ela repetiu deliberadamente seu aborrecimento em voz alta, mas no furor da multidão não chegou a ele.

Matador de Goblins, por sua vez, vistoriava a rua dos artistas.

Ele olhou para um ato onde um incompetente estava lançando faca e supostamente provocava risos. Mas ele perdeu o interesse imediatamente e passou para a próxima coisa.

A próxima coisa era um homem com um sobretudo.

Seu corpo inteiro estava coberto de roupa e ele fazia movimentos estranhos e amplos com seus braços…

— Ah…!

No instante seguinte, um dragão minúsculo apareceu em sua palma.

Nem tinha Garota da Guilda acabado de fazer um som de surpresa e o dragão foi coberto por um ovo. O homem cobriu o ovo com as duas mãos e ele cresceu se tornando uma pomba. O pássaro voou das mãos dele, mas seus dedos brilharam e o pássaro se transformou em uma nuvem de fumaça azul.

O homem puxou a fumaça como se fosse uma corda, transformando isso agilmente em uma espada longa. Ele segurou a arma com sucesso antes de colocá-la em sua boca.

Garota da Guilda ficou mais do que feliz em aplaudir seu ilusionismo.

— Isso é incrível, não é? Não sabia que alguém era tão bom nisso.

— Entendi — disse Matador de Goblins, com seus olhos não deixando o mágico.

Garota da Guilda ficou um pouco confusa, tendo em conta que ele não parecia nem um pouco surpreso com qualquer um dos truques.

Bem, não era exatamente confusão, isso chamou sua atenção de certa forma, despertando sua curiosidade.

No trabalho, ela não poderia perguntar muito sobre isso.

Mas felizmente, esse era um momento a sós entre eles. Ela aproveitou a chance.

— Você gosta de espetáculos assim?

— Sim. — Matador de Goblins assentiu e apontou para o homem, cujo dedos ainda estavam esfumaçando um pouco. — Ele nos distrai com seus gestos, depois executa seus truques.

— Eles dizem que isso é o básico em ilusionismo.

— Sim. E quando o público percebe que os gestos são apenas para exibição, então você faz desses movimentos a chave do seu próximo truque — disse Matador de Goblins. — É uma boa tática psicológica e bom treinamento.

Então ele balançou seu capacete e olhou para ela. Seu tom foi direto como sempre. Mas…

— …Fui enganado.

Caramba, esse cara…

Garota da Guilda deu um pequeno suspiro.

Ele era sério, teimoso, estranho e socialmente desajeitado.

Ela havia entendido tudo isso sobre ele desde que se conheceram.

Quer dizer, há cinco anos, desde que ela veio a essa cidade como uma empregada recém-formada com dezoito.

Mas Garota da Guilda só conhecia ele como um aventureiro.

Ela não conhecia o que estava sob — ou atrás — dessa personalidade, seu eu verdadeiro.

Mas o mesmo era para ele.

Ela sempre agiu como uma recepcionista adequada com ele.

— Humm, então agora…

Uma tática psicológica. Isso é o que ele havia dito. Está bem, então. Vou lhe mostrar um pouco de minha própria tática.

— …Há um lugar onde eu gostaria de ir. Tudo bem?

 

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Era como o olho de um furacão.

Por mais agitada que a cidade estivesse, esse edifício por si só estava coberto de silêncio.

A Guilda dos Aventureiros.

Em um dia tão brilhante e festivo, não havia ninguém aqui para apresentar uma missão, tão pouco algum aventureiro para pegá-la.

Garota da Guilda destrancou a porta da frente, levando Matador de Goblins para dentro.

— Pode ficar à vontade. Já venho em um segundo.

— Entendi.

Suas vozes ecoaram em um lugar normalmente tão barulhento que era difícil de se ouvir.

Era impressionante quão solitário o edifício parecia sem ninguém.

Matador de Goblins estivera em inúmeras ruínas abandonadas, mas ele nunca havia sentido isso antes. É claro, ruínas raramente ficavam silenciosas por muito tempo depois de ele aparecer.

— Hmm…

A silhueta de um banco se estendia no interior escuro e a sua própria sombra dançava pelas paredes enquanto caminhava.

Apanhado entre o silêncio e as sombras, ele se sentia um fantasma.

Matador de Goblins fez o que sempre fazia, foi até o quadro verificar.

Todas as missões urgentes tinham sido retiradas em antecipação ao festival. Os pedaços de papel sobrando eram todos de aventuras não-críticas.

Remover ratos do esgoto. Coletar ervas. Livrar-se de um Miconide nas montanhas.

Recolher itens antigos para um colecionador de raridades. Patrulhar as estradas. Confirmar a linhagem do filho ilegítimo de uma casa nobre.

Explorar ruínas inexploradas. Escoltar uma caravana mercante…

— Hmm.

Matador de Goblins folheou tudo de novo, só para ter certeza.

Mas, não. Nenhuma missão de goblincídio.

— …

— Uhhh, ah, aí está você. Já estou pronta.

Ele se virou para ela, ainda com seu raciocínio.

Garota da Guilda estava acenando para ele da área de recepção, ela parecia segurar uma chave.

— Venha para cá! Está bem, vamos!

E então ela se abaixou atrás do balcão da recepção, deixando Matador de Goblins onde estava.

Com um último olhar para o quadro, ele finalmente a seguiu.

Ele havia se filiado a essa Guilda há cinco anos, mas nunca estivera na área das empregadas.

— Isso é permitido? — perguntou ele, à qual Garota da Guilda respondeu com ligeireza “Não” quando espiou de volta para ele.

— Por isso ficará só entre nós. Não diga a ninguém, está bem?

Ela mostrou a língua provocantemente e Matador de Goblins assentiu.

— Está bem.

— Sério? Ficarei triste se estiver mentindo.

— Sim, sério.

— Então acredito em você.

Ela se virou de novo, com sua trança saltando no ar. Matador de Goblins seguiu mais para dentro.

Ele ouvia um som estranho, Garota da Guilda cantarolando. Ele não reconhecia essa canção.

Por fim, ainda muito alegre, ela ficou diante de uma porta velha, girando a chave ruidosamente na fechadura.

Para além dela, havia uma escada em espiral desgastada.

— É aqui em cima. Vamos!

— Entendi.

A escada não rangeu quando Garota da Guilda pisou, mas sim quando Matador de Goblins começou a subir. Apenas pelos rangidos de passos, alguém presumiria que só havia uma única pessoa.

— Oh, graças aos céus! — disse Garota da Guilda, pondo a mão no peito e se endireitando. — Se tivesse rangido sob o meu peso, eu não conseguiria ficar de pé devido ao choque!

— É mesmo?

— Claro. Garotas são muito preocupadas com essas coisas.

— É mesmo?

An-ham, assentiu ela.

Ela olhou para trás sobre o ombro e provocou: — Teria sido melhor se eu estivesse usando uma saia, Sr. Matador de Goblins?

Ele balançou a cabeça e disse: — Mantenha seus olhos à frente. Não iria querer tropeçar e cair.

— Ahh, mas você está aqui para me pegar.

— Mesmo assim.

— Está bem…

Ela parecia bastante animada, embora ele não tivesse certeza do que ela estava se divertindo tanto.

Logo eles chegaram o nível máximo do espiral. Lá eles encontraram outra porta velha.

— Espere um momento — disse Garota da Guilda, usando uma chave enferrujada para abrir. — Esse é o lugar que queria te trazer.

— …Eu?

— Sim… Vá em frente.

Ela abriu a porta.

Assim que ela o fez, uma corrente de ar se precipitou e sua visão ficou repleta de dourado.

Montanhas de tesouros e joias, o suficiente para confundir os sentidos… não.

Era o próprio mundo, refletindo a luz profunda do sol.

Montanhas, rios, colinas cheias de margaridas, florestas e fazendas. A cidade, o templo, a praça. Tudo.

Essa era a torre de vigia da Guilda, e a partir dela uma pessoa poderia ver tudo em qualquer direção.

Por mais alto, por mais distante, era visível dali.

Multidões agitada, músicos tocando. Risos. Uma canção. Tudo alcançava a torre.

Se a Guilda era o olho da tempestade, esse era o lugar para visualizar a tempestade em si.

Viva e alegre, um dia bonito o suficiente para se celebrar.

E Matador de Goblins estava em seu âmago.

— …Que tal? Surpreso?

Garota da Guilda estava no corrimão, passando as mãos por ele. Ela espiou o capacete, mas não conseguia ver nada.

Mas — ela acreditava — que não havia ninguém mais fácil de se compreender do que ele.

Não exigiu muita atenção para entender o seu objetivo quando ele deu voltas na cidade.

— Estava patrulhando, não estava?

Pelas ruas, verificando os esgotos, observando os rios por algum sinal qualquer de goblins.

Isso era quem essa pessoa era.

Então certamente, se ele visse tudo da torre de guarda, ele poderia…

— …Relaxou um pouco?

— Não… — Matador de Goblins balançou a cabeça lentamente com a pergunta de Garota da Guilda. — Acho.

Ele soltou um suspiro suave.

— Isso está certo? — murmurou ela, se apoiando no corrimão.

Sua trança dançava ao vento. Ela não olhou para ele.

— Mesmo que você já tenha trabalhado tão tanto para matar todos os goblins?

— Mais uma razão.

A luz ficou fraca. O sol estava se pondo, afundando no horizonte. Mesmo os dias mais belos tinha que acabar.

— …

— …

No seu lugar, luas gêmeas se erguiam juntamente com uma fina névoa roxa. O céu estava cheio de estrelas, nítidos pontinhos frios de luz.

A cidade estava coberta de preto, tão quieta que parecia que todos estavam prendendo a respiração.

O vento se cortava nos dois na torre de guarda com um som triste.

Outono, afinal, era o prelúdio do inverno.

Eles já podiam ver suas respirações enevoando.

E de repente, ela sussurrou:

— Olhe, está começando!

O dourado desapareceu e o par mergulhou nas sombras.

Então, uma luz.

 


 

Tradução: Kakasplat

Revisão: JZanin

 

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