Matador de Goblins

Matador de Goblins – Vol. 02 – Cap. 05.1 – Avance Até a Morte

 

 

— Então, qual é a dessa coisa, afinal?

No dia seguinte, de volta nos esgotos mais uma vez, a elfa estava olhando para Matador de Goblins com uma mão na cintura. Ele tinha uma nova espada no cinto, com um tamanho naturalmente curioso, e uma gaiola pequena pendurada ao lado de sua bainha.

Dentro dela, um pássaro pequeno com penas verde-claro cantava animadamente. O som não parecia apropriado nos esgotos poluído.

Matador de Goblins lhe deu um olhar intrigado.

— Não conhece esse pássaro?

— Claro que sim.

— É um canário.

— Eu disse que sei qual é — respondeu Alta-Elfa Arqueira, com as orelhas para trás.

Ao lado dela, Anão Xamã tentou conter uma risada.

— Você esteve perturbada com isso desde ontem à noite, não é? — disse o anão.

— Não te incomoda? É um passarinho! Um canário pequeno!

Eles prosseguiam devagar e calmamente nos esgotos, através da escuridão, mas sua raiva não seria legal. Suas orelhas longas, perfeitas para exploração, balançavam impacientemente para cima e para baixo. Por um segundo, seus olhos em forma de amêndoa se fixaram rapidamente em Matador de Goblins atrás dela.

— Bem, isso não irá nos destruir se tocarmos, certo? Como o seu pergaminho?

— Acredita que canários são mortais às pessoas?

As orelhas de Alta-Elfa Arqueira se ergueram com vigor, e Anão Xamã deixou escapar uma risada baixa.

— M-Matador de Goblins, senhor, não acho que é isso que ela quis dizer… — interrompeu Sacerdotisa, incapaz de deixar isso passar.

Ela caminhava no meio da fila, segurando seu cajado com as duas mãos.

— O que?

Matador de Goblins olhou para trás, ela se viu olhando para seu capacete de metal. Ela ficou subitamente sem palavras.

Tinha passado uma noite desde o banho. Ela não tinha dormido nada essa noite, mas quando teve de acordar de manhã… nada. Talvez todo o seu nervosismo tivesse simplesmente lhe dado um arranjo estranho de imaginação.

Donzela da Espada tinha aparecido no café da manhã, e disse uma palavra de agradecimento ao grupo quando ela passou por eles. Todos os indícios da indecência da noite anterior tinham desaparecido de sua aura, como se nunca tivesse estado lá.

Sim… não deve ser nada. Nunca foi.

Apenas um erro de sua parte. Claro que era. Tinha de ser…

— Qual é o problema?

— Ah, nada…

Sacerdotisa ficou rígida com a questão breve e silenciosa de Matador de Goblins. Ela expirou suavemente.

— Digo, o que quero dizer é, por que você trouxe um canário com a gente?

Ela olhou para a gaiola. A criatura cor de grama estava saltando alegremente para cima e para baixo em um galho.

— Quero dizer, ele é bonitinho, mas…

O homem na frente dela era Matador de Goblins. Ele não era um ser frívolo ou irracional quando se tratava de matar goblins.

— Canários fazem barulho quando sentem gás tóxico.

— Gás tóxico…?

Matador de Goblins assentiu, explicando com seu típico tom desapaixonado:

— Os goblins nesse ninho são instruídos. Não me surpreenderia se tivessem colocado armadilhas tais como encontrei em antigas ruínas.

— Agora que falou nisso, os mineiros humanos não usam aves para detectar ar ruim subterrâneo? — Anão Xamã deu um aceno em conhecimento, segurando seu saco de catalisadores. — Em geral, os anões são menos preocupados com gás tóxico do que sobre dragões vindo atrás de nossos tesouros.

— Ah, sério? — Alta-Elfa Arqueira sorriu enquanto espreitava ao redor de uma esquina, depois fez sinal para os outros a seguir.

Matador de Goblins seguiu atrás dela, dando passos lentos e cuidadosos. Ele tinha uma mão em sua espada. A outra segurava uma tocha e seu escudo estava fixado no braço. Como sempre.

— Uma vez ouvi de um reino anão que foi destruído quando eles escavaram sobre alguns demônios subterrâneos — disse Matador de Goblins.

— …Bem, isso está destinado acontecer uma vez ou outra — disse Anão Xamã melancolicamente e ficou calado. Parecia que Matador de Goblins tinha atingido um ponto fraco.

Sempre tem sido o destino dos países ruírem, prosperarem, guerrearem e ruírem outra vez por todos os tipos de razões. Nesse mundo o que jamais faltara eram terras ricas e arruinadas.

— Entendo — disse Lagarto Sacerdote, sua cauda balançava por trás dele. — E se me permite perguntar, meu senhor Matador de Goblins, onde você obteve tais conhecimentos?

— De um mineiro de carvão — disse ele, como se fosse óbvio. — Há vários nesse mundo que sabem muito sobre o que eu não sei.

Depois de alguns minutos andando, eles chegaram a um caminho sem saída, embora não fosse um natural. O caminho estava bloqueado por um canal tão amplo quanto um riacho, e alguma coisa tinha destruído ou arrancado a ponte de pedra que tinha uma vez o cruzado.

Alta-Elfa Arqueira levantou o polegar e esticou o braço, olhando a distância.

— Talvez sejamos capazes de saltar, se precisarmos.

— Algum outro caminho? — perguntou Matador de Goblins.

— Vejamos… — Houve um farfalhar quando Lagarto Sacerdote desdobrou o mapa velho. Os desenhos antigos estavam cobertos de uma série de marcas novas, refletindo as descobertas dos aventureiros. Ele traçou os trechos e cursos de água com sua garra, depois balançou lentamente sua cabeça.

— Esse canal largo parece dividir tudo. Apesar de existir a possibilidade de uma das outras pontes estar intacta.

— Uma pequena esperança. — Com alguma surpresa, Anão Xamã se inclinou sobre a água e tocou a pedra quebrada.

— Uou, não caia — disse Alta-Elfa Arqueira, agarrando ele pelo cinto.

— Desculpa… Hum. Isso é obra de uma inundação ao longo de muitos anos. Ela não a levou ontem mesmo. — Murmurando, Anão Xamã voltou para o corredor. Ele mostrou a todos um pouco dos destroços que ele tinha coletado, então esmagou eles com a mão.

— Meu palpite é que as outras pontes estão mais ou menos na mesma condição.

— Então, pulemos — disse Matador de Goblins, sem hesitação. — O primeiro a subir carrega uma corda. Uma corda salva-vidas.

— Eu… Eu tenho uma corda — disse corajosamente Sacerdotisa, e pegou um rolo de corda completo com gancho de sua bolsa.

Era exatamente como a sua que deveria ser enrolada cuidadosamente. E isso foi um testemunho da sua verdadeira força que parecia nunca ter sido utilizada.

— Oh, o Conjunto de Ferramentas de Aventureiro — disse Alta-Elfa Arqueira com entusiasmo enquanto entrecerrava os olhos e espreitava a bolsa de Sacerdotisa.

Tinha um bocado de equipamentos destinados aos aventureiros novatos, contendo tudo o que deveriam precisar em seu trabalho. Corda com gancho, vários pedaços de correntes e um martelo. Caixa de fogo. Mochila e odre. Utensílios para comer, giz, uma adaga, etc.

— Ficariam surpreendidos com o quão inútil são a maioria dessas coisas. Exceto o gancho.

— Mas, quando você vai se aventurar, não deveria ir sem eles.

— Hum — suspirou Alta-Elfa Arqueira, depois agarrou no fim da corda que não tinha o gancho. Ela deu um ou dois passos para trás, então correu mais rápido que uma corça.

— Então, Orcbolg.

Ela saltou e caiu do outro lado sem fazer barulho, depois amarrou a corda em uma de suas flechas e a disparou entre os ladrilhos.

— E quanto aquele pergaminho Portal? Aprendeu de alguém também?

— Uma vez ouvi sobre alguém que tentou utilizar Portal para ir a uma ruína submersa, e a água o matou.

Aquela mulher — ou seja, Bruxa lá da Guilda dos Aventureiros — deve ter lhe contado a história.

Com um sinal para Alta-Elfa Arqueira, Matador de Goblins agarrou a corda e saltou para o outro lado. Ele fez um grande som abafado quando aterrissou, como era de esperar de uma pessoa com armadura completa.

— Impressionante — disse ele quando entregou a corda de volta a Alta-Elfa Arqueira, que a lançou de volta ao outro lado.

— Você realmente fará qualquer coisa para matar goblins, não é?

“Claro” foi tudo o que ele disse.

Ele deve ter concluído que o interrogatório tinha acabado, pois ele ficou em silêncio e começou a olhar em volta por todo o lugar.

— Você pode saltar, moça? Eu serei ajudado por Escamoso…

— Ah, certo. Bem, hum, sou a próxima, eu acho.

Com o pedido de Anão Xamã, Sacerdotisa que, de certa forma, estava olhando vagamente ao redor, pegou apressadamente a corda. Ela recuou para começar a correr, depois saltou com um pequeno grito, com sua expressão se distorcendo só um pouco.

Ele colocou armadilhas e matou crianças sem hesitação; ele era preparado e implacável. Para ela, ele parecia muito como um goblin. Talvez ele soubesse isso melhor que ninguém.

Sem dúvida, ele um dia, também desaparecerá.

A voz densa e doce veio espontaneamente, atravessando como um rio antes de desaparecer lentamente.

 

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A investigação dos esgotos foi mais suave que a do dia anterior. Isso foi em parte, devido terem uma melhor compreensão dos caminhos, mas, mais do que isso, eles tinham mudado sua filosofia.

Matador de Goblins estava determinado a evitar completamente qualquer encontro com os goblins. Ele andava com o seu passo despreocupado, segurando a tocha e se esgueirando como um gato. Alta-Elfa Arqueira parecia estar seguindo atrás dele; seus passos eram tão leves quanto uma pena. Às vezes passavam despercebidos por patrulhas de goblins; outras vezes, eles escolhiam rotas sem goblins.

Sacerdotisa, Anão Xamã e Lagarto Sacerdote seguiam atrás deles através dos corredores.

— Nunca pensei que alguma vez o veria deixar um goblin ir, Orcbolg — sussurrou Alta-Elfa Arqueira.

— Não vou deixar eles irem — respondeu ele, se pressionando contra a parede e espiando uma esquina. — Primeiro, cortemos o cabeça. Abatemos o resto depois.

— Me pergunto se é outro senhor goblin ou ogro — murmurou Sacerdotisa ansiosamente, mas Matador de Goblins apenas balançou a cabeça e disse: — Não sei.

Goblins estavam no fundo da hierarquia dos monstros. Quase todos os tipos de criaturas poderia estar os liderando. Um elfo escuro, algum tipo de demônio, mesmo um dragão…

— Suponho que não servirá de nada ficar pensando sobre isso. — Lagarto Sacerdote pegou o mapa dobrado de sua bolsa e o abriu agilmente com suas garras. Graças a sua excelente visão noturna, que herdou de seus antepassados, ele podia ler mesmo na ausência de uma luz.

— Acho que não vislumbramos ainda sequer a sombra da cauda daquele que está por trás disso.

— O que quer dizer — disse Anão Xamã — é que temos de continuar indo mais para dentro.

— Mais rio acima, para ser preciso. — Matador de Goblins tinha parado e estava segurando a tocha sobre o mapa para ler. Ele traçou um caminho com o dedo enluvado. Seguiu o canal adiante, passando o local do seu combate aleatório do dia anterior.

— Seus barcos vieram bem mais além do rio de esgoto. É seguro presumir que eles têm uma base em algum lugar nessa direção.

— Se continuarmos rio adiante… quer dizer que vamos sair desse mapa, certo? — O dedo branco de Sacerdotisa seguiu ao longo do papel de Matador de Goblins.

O mapa que Donzela da Espada tinha lhes dado era só do esgoto da cidade, afinal. Ele mostrava apenas uma fração das ruínas imensas que se espalhavam por debaixo da cidade da água.

— Vamos ficar bem?

— Não faremos nada estúpido.

Sacerdotisa ajustou seu cajado nas mãos, incapaz de se acalmar, mas Matador de Goblins estava firme.

Não era claro se isso estava fora da consideração por ela. Mas, na visão do seu semblante imutável, as bochechas tensas de Sacerdotisa relaxaram e ela sorriu.

— É verdade, está correto. Não vamos fazer nenhuma loucura ou bobagem.

Ela segurou seu cajado firmemente, forçou seus joelhos a não tremer e olhou em frente.

— Rio acima, né? Vai ser por aqui. — Alta-Elfa Arqueira continuou, com as orelhas saltitando, sem um momento de relutância, e o resto do grupo a seguiu.

Pouco tempo depois, assim que eles chegaram bem no limite do mapa, a atmosfera mudou visivelmente. O corredor simples de pedra se mostrou uma galeria coberta de pinturas na parede. O pavimento coberto de musgo se tornou de mármore rachado. Até a água passou de poluída para limpa. Isso obviamente não era mais um esgoto.

— Há vestígios de fuligem aqui.

Matador de Goblins, estudando atentamente as pinturas na parede, segurou a tocha no alto e apontou para uma mancha perto do teto.

Alta-Elfa Arqueira ficou na ponta dos pés para ver.

— Quer dizer que costumava ter luzes?

— Há muito tempo. — Matador de Goblins assentiu, limpando um pouco da fuligem de seu dedo. — Goblins têm visão noturna excelente. Eles não usam luzes.

— Hmm…

Lagarto Sacerdote se inclinou em direção a parede, e deu a uma das pinturas, um arranhão atencioso com sua garra. Humanos, elfos, anões, rheas, homens-lagarto, homens-fera; todas as raças que possuíam palavras estavam representadas em equipamentos completos, velhos e jovens, homens e mulheres.

— Guerreiros ou soldados… não.

Suas roupas não eram homogêneas o suficiente para ser de soldados. Mercenários, talvez, ou…

— Aventureiros.

— Já tinha ouvido que costumava ser bastante animado por essas bandas — disse Anão Xamã, de pé ao lado dele e seguindo as pinceladas atentamente com os olhos. A pintura, que resistiu ao longo de muitos anos, descascava ao menor dos toques. — Esse estilo de pintura não tem estado presente atualmente há quatrocentos, quinhentos anos.

— Oh — disse Sacerdotisa, olhando ao redor — isso poderia ser…

A galeria cuidadosamente construída. As figuras pintadas. A água limpa. Se parecia muito como um lugar que ela conhecia muito bem. Tranquilo, silencioso, não transgredido. Não um templo…

— …um cemitério, talvez?

Catacumbas.

Era isso; ela estava convencida. Ela esfregou as pinturas — as pessoas — com sua mão delicada. Eram aqueles que tinham lutado ao lado da ordem na Era dos Deuses, esse era o lugar de descanso deles. Ela caiu de joelhos em luto por todos os que tinham vindo antes e se agarrou ao cajado.

Alta-Elfa Arqueira ficou próxima de Sacerdotisa enquanto ela rezava pelo descanso dessas almas, como se a protegendo. Seus ombros encolheram.

— Isso é um ninho de goblins agora.

Suas palavras evocavam uma pitada de tristeza quando ecoaram por um momento e depois se dissiparam. Para os elfos, que viviam milhares de anos, mesmo a Era dos Deuses não parecia ter sido há tanto tempo. Ou talvez, ela estava comovida por estar de pé entre os túmulos dos guerreiros que sua mãe e seu pai lhe tinham contado em histórias.

— “Mesmo os bravos são finalmente trazidos abaixo”, hã…?

— Isso não importa agora.

Matador de Goblins interrompeu as ruminações sombrias das meninas. Ele sondou rapidamente a área, e quando ele estava satisfeito que não havia ameaça iminente dos goblins, ele começou uma caminhada vigorosa.

A reação foi realmente muito parecida com ele. Alta-Elfa Arqueira e Sacerdotisa olharam uma para a outra.

— O que acha disso?

— Eu acho… que ele ainda é o nosso Matador de Goblins.

A resposta de Sacerdotisa foi uma mistura de resignação e afeto.

Alta-Elfa Arqueira se pôs de pé graciosamente e caminhou atrás do guerreiro; Sacerdotisa por trás de ambos.

— Hmm. Nunca ninguém acusou Corta-barba de paciência excessiva. — Anão Xamã seguiu depois dando um bufo. — Você vai provavelmente assustar aqueles pequenos demônios só por aparecer.

— Isso seria um problema — disse Matador de Goblins calmamente. — Odeio quando eles correm.

O grupo deu um sorriso cansado com sua resposta extremamente séria, e então voltou a caminhar, para as catacumbas.

Tudo acerca da arquitetura era diferente dos esgotos. O caminho retorcia confusamente, virando de volta a si mesmo, se ramificando, como um labirinto. De cima, as catacumbas poderiam parecer uma teia de aranha.

— Elas devem ser construídas assim para confundir alguns monstros que vagam, para evitar que eles perturbem os guerreiros mortos — explicou Anão Xamã, com um assobio impressionado. Até os melhores pedreiros anões não teriam achado algo simples criar corredores como esses. — Vagar por esse lugar como um espírito perdido… isso seria um destino cruel.

— Sim, pois isso remove um dos ciclos de morte e renascimento — disse Lagarto Sacerdote. — Mas, esse lugar já caiu nas mãos dos goblins.

Não havia dúvidas de que o lugar tinha se tornado um terreno fértil para o caos.

— Acima de tudo… — murmurou Lagarto Sacerdote, adicionando alguns traços de carvão ao velino — o esquema de um mapa não pode ser feito desinteressadamente. Cada um de nós deve se manter vigilante.

— Bem, essa sala primeiro, eu acho.

Segurando seu cajado com as duas mãos, Sacerdotisa olhou para a porta grande e grossa. Era de um ébano do céu noturno, enfeitado com uma borda de ouro e parecia desafiar a passagem do tempo. Miraculosamente, por estar em tal lugar úmido, a porta não mostrava sinais de apodrecimento ou desgaste. Era claramente encantado com alguma magia antiga. Com exceção de um pouco de ferrugem ao redor da fechadura, não havia nenhum arranhão.

— Não está trancada — disse Alta-Elfa Arqueira. — E não parece ter nenhuma armadilha, pelo menos não na porta em si. — Ela terminou de inspecionar a fechadura, assentiu levemente e pisou ao lado. — Isso não é minha especialidade, no entanto. Então não me culpem se algo correr mal.

— Aqui vou eu — declarou Matador de Goblins, depois chutou a porta da câmara funerária.

Os aventureiros entraram na sala como uma avalanche.

Uma vez que estavam dentro, Anão Xamã martelou uma cunha debaixo da porta para a manter aberta. Ele sempre tinha a ferramenta em mãos contra eventuais situações inesperadas, e a forma fácil que ele a usou, sugeria uma longa familiaridade.

Lagarto Sacerdote manteve sua arma preparada para proteger Anão Xamã de qualquer emboscada. Enquanto o anão trabalhava, era a função de Alta-Elfa Arqueira verificar a sala.

A câmara funerária tinha dez pés quadrados, pavimentado com nove fileiras de três. Alta-Elfa Arqueira se virou para examinar a sala, com uma flecha preparada no arco…

— Olhem para aquilo!

— Que horror…!

Alta-Elfa Arqueira e Sacerdotisa engoliram em seco, com expressões claras de nojo em seus rostos.

A sala estava vazia, salvo vários caixões de pedra. Ao centro, uma forma estava à vista pela luz fraca da tocha. Alguém estava amarrado, com as pernas e braços estendidos como que para expor deliberadamente.

A forma parecia ser uma figura humana, com a cabeça baixa de exaustão, uma mulher de cabelo comprido. Ela usava uma armadura metálica desbotada. Talvez ela fosse uma dos aventureiros que tinha ido antes deles e não voltaram.

— Matador de Goblins, senhor!

— Não há uma alternativa…

Com a permissão de Matador de Goblins, Sacerdotisa correu para a mulher cativa.

Ela se ajoelhou e perguntou: — Olá? Olá? Está tudo bem? — Não houve resposta.

A mulher nem mesmo olhou na direção de Sacerdotisa. Sua cabeça estava simplesmente lá abaixada.

Ela tinha perdido toda a força? Ou ela estava…?

— …! Eu… Eu vou tentar te curar…!

Sacerdotisa pôs de lado seu medo do pior e começou a rezar à Mãe Terra para a cura.

— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, coloque tua venerável mão sobre…

Com um leve sibilo, o cabelo da mulher caiu no chão, bem à frente de Sacerdotisa que levantou as mãos para invocar o milagre.

Olhos vazios olharam para ela.

Isso foi uma pessoa.

Foi.

Um esqueleto velho, disfarçado com a pele de uma mulher que fora presumivelmente esfolada viva.

— Isso é ruim! Isso… isso é muito ruim!

Sacerdotisa deu um grito falho.

Ao mesmo instante, a entrada selou com um choque.

A cunha ressoou através da sala, gozando deles.

— Hrr…!

Lagarto Sacerdote investiu imediatamente para a porta com o ombro, mas ela não se moveu.

— Isso é um problema! Acho que a porta foi obstruída!

— Vem cá, Escamoso! Talvez você e eu juntos…!

Lagarto Sacerdote e Anão Xamã se chocaram contra a porta com todas as suas forças. Ela rangeu, mas não se moveu. Não mostrando sinal algum de abrir.

— GROOROOROROB!!

— GORB!! GORRRRB!!

Vozes estridentes ecoaram do outro lado da parede de pedra, zombando dos esforços fúteis dos aventureiros.

Alta-Elfa Arqueira mordeu os lábios.

— Goblins…!

— Então eles nos apanharam — disse Matador de Goblins com aborrecimento.

Eles deviam ter esperado isso. Os goblins dificilmente poderiam deixar passar um grupo de aventureiros invadindo sua casa.

Encurralar uma presa cautelosa era difícil. Era muito mais fácil emboscar elas, montar uma armadilha. Os goblins sabiam que nenhum aventureiro deixaria uma mulher em apuros.

De vez em quando, a perspicácia cruel em suas cabecinhas podia ultrapassar mesmo a de um humano. Isso, juntamente com as suas fertilidades, era o que lhes permitia sobreviver durante tanto tempo.

— Não…!

Eles foram apanhados. A realidade disso deixou Sacerdotisa sem palavras. Seus joelhos tremiam, seus dentes rangiam e ela achava que suas pernas podiam ceder. A tragédia daquela primeira aventura veio à tona em sua mente.

— Se acalme.

A repreensão foi tão calma como sempre. Não era para a apoiar com seu medo, mas passar por ele. Ela assentiu ferozmente, como se agarrando às suas palavras. Seu rosto estava pálido, e alguma coisa reluzia nos cantos de seus olhos. Se ele não estivesse lá ou se ela estivesse sozinha, ela certamente teria desmaiado.

E isso teria significado morte, ou algo muito pior.

Mas, ao lado dela estava Matador de Goblins, com a guarda levantada e arma de prontidão.

— Ainda estamos vivos.

O canário começou a cantar ruidosamente.

 

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— Gás!

Ninguém tinha certeza de quem disse isso primeiro.

— GROB! GORRB!!

— GROOROB! GORRRB!!

O chilrear do canário se misturava com as risadas estridentes dos goblins do outro lado da porta.

Uma névoa branca começou a se infiltrar na sala através de vários buracos que foram perfurados nas paredes. Os aventureiros se comprimiram no centro da câmara funerária como que circundados. Eles estavam certamente com sérios problemas.

— Estamos em apuros agora. Eles vão acabar com todos de uma vez só.

— Nem todo gás é mortal… Mas tenho certeza que isso não é nada bom, seja qual for o caso.

Lagarto Sacerdote estalou sua língua, Anão Xamã grunhiu e limpou o suor de seu rosto. Seus olhos encontraram o esqueleto horrível na pele de mulher.

Olhando para a sala toda em desespero, esperando encontrar uma rota de fuga, Alta-Elfa Arqueira deu um grito.

— Isso não é bom! Não há outra saída!

— O que… vamos… fazer, Matador de Goblins, senhor…?

Sacerdotisa ainda não tinha obtido o milagre Cura, que poderia neutralizar veneno, e mesmo seus efeitos só iriam durar por pouco tempo. Quando ele passasse, seria o fim. Sem saber quanto tempo o gás continuaria vindo, tudo o que ela podia fazer era ganhar um pouco de tempo para eles.

Sacerdotisa olhou suplicante para Matador de Goblins, com os olhos brilhando de lágrimas.

Ele não deu nenhuma resposta.

— Matador de Goblins? Senhor?

— ……

Ele estava revirando silenciosamente sua bolsa.

Enquanto Sacerdotisa observava, ele tirou uma massa preta e lançou para ela.

— Enrole isso com toalha de mão e coloque sobre sua boca e nariz.

— Isso é… carvão?

— Isso vai a proteger um pouco do gás tóxico. Se tiver algumas plantas medicinais com você, as coloque no pano também. Depressa, se não quiser morrer.

— Sim, senhor!

Sacerdotisa pegou apressadamente o carvão e se sentou no lugar para vasculhar seus próprios itens. Quando ela retirou seis toalhas de mão limpas, ela viu um braço escamado chegando ao lado dela.

— Me deixe te ajudar. Vapores tóxicos não me afetam muito.

— O-obrigada…!

Os dois começaram rapidamente a enrolar carvão e ervas em cada um dos panos, fazendo máscaras de gás simples. Sacerdotisa continuou a preparar panos para seus companheiros enquanto Lagarto Sacerdote envolvia um ao redor de seu rosto.

— Matador de Goblins, senhor!

— Obrigado.

— Aqui, pegue isso também…!

Duas máscaras de gás, uma feita com um pano maior. Ele pareceu adivinhar o que ela tinha em mente; ele envolveu imediatamente o pano grande ao redor da gaiola. Depois, ele colocou sua própria máscara através de seu capacete e começou a remexer sua bolsa outra vez. Ela estava cheia de objetos que nenhum dos outros conseguiam identificar.

— Deuses. Você tem tudo e mais alguma coisa aí dentro, não tem? — disse Anão Xamã, enquanto lutava para tentar incluir sua barba dentro do pano que Sacerdotisa tinha lhe dado.

— Apenas o mínimo — respondeu Matador de Goblins, agarrando dois sacos daquela confusão de itens. — Eu queria trazer máscaras como as que médicos usam quando estão tratando a peste negra, mas são muito grandes.

— Então, o que você tem em mente, Corta-barba? — O anão parecia estar sorrindo galantemente sob sua máscara.

Matador de Goblins jogou um dos sacos para ele. Anão Xamã se apressou para o apanhar, então deu um olhar interrogativo com seu peso inesperado.

— O que temos aqui?

— Cal e terra vulcânica. — Matador de Goblins estava tão calmo como sempre. — Misture elas e tampe os buracos.

Anão Xamã bateu repentinamente em seus joelhos. Mesmo com a máscara, seu sorriso era evidente.

— Concreto!

— Ele não vai secar muito rápido — disse Matador de Goblins, mas ele assentiu, Anão Xamã bateu em seu próprio peito.

— Com o que está preocupado, Corta-barba? Eu tenho a magia Meteorização!

Com isso, Alta-Elfa Arqueira pegou o saco da mão de Anão Xamã.

— Ei, orelhuda, o que está fazendo?

Por cima de sua máscara de gás, seus olhos semicerraram e suas orelhas balançaram.

— Eu selo os buracos, anão. Você lança a magia!

— Bem dito! — Sua resposta rápida foi como um maço batendo em um prego.

Ele e Alta-Elfa Arqueira começaram a se mover rapidamente pela sala. Alta-Elfa Arqueira iria espalhar concreto sempre que encontrasse um buraco e Anão Xamã iria estender sua mão.

— Tique-taque diz o relógio, suas mãos nunca param. Pêndulo, balança… tempo é a coisa!

Ele terminou com um grande grito e uma rajada de sopro, e o composto lamacento endureceu em um piscar de olhos.

Lagarto Sacerdote revirou seus olhos com a visão.

— Hmm. Você tem muitas artimanhas, mestre conjurador.

Ele moveu sua mandíbula para cima e para baixo. Ele estava coberto com um pano que não era longo o suficiente; ele fora complementado com uma bandagem. Sua voz foi abafada, mas de resto soava normal; pelo menos, ele parecia tranquilo. Para um homem-lagarto que tinha crescido nas selvas do sul, o campo de batalha era como uma segunda casa.

— Você tem um próximo passo em mente, nesse momento, meu senhor Matador de Goblins?

— Vamos mover um dos caixões em frente à porta como uma barricada — disse calmamente Matador de Goblins. Ele soou igual ao habitual; ele não parecia nem um pouco preocupado. — Quando o gás se dissipar, eles vão entrar.

— Ah, eu… eu vou ajudar!

Sacerdotisa se apressou para arrumar seus itens e se pôr de pé.

Matador de Goblins assentiu em resposta, e Lagarto Sacerdote foi até um caixão aleatório.

Sacerdotisa foi ao seu lado. Poderiam eles realmente o mover? Eles não tinham escolha.

— Quando estiverem prontos — disse Matador de Goblins.

— Juntos então. — Detrás deles, Lagarto Sacerdote colocou seus braços enormes contra a pedra.

— Um… Dois…

— Hrr!

— Hnnn!

Juntamente com o guerreiro e o sacerdote, Sacerdotisa se inclinou com toda a sua força com seu corpo esbelto. Seus braços magros e sua pele macia eram quase nada comparados aos seus companheiros. Mesmo assim, ela empurrou o caixão com toda a sua força, com suor formando em seu rosto.

— Hn! Hrrnnn!

A dada altura, ela parou de tremer.

Logo, ela ouviu um som nítido de rachadura, e o caixão começou a se mover lentamente.

Ele deixava riscos brancos no chão enquanto eles o empurravam pela sala, finalmente o empurrando contra a porta com um estrondo.

Lagarto Sacerdote deu mais dois ou três empurrões antes de assentir com satisfação.

— Isso vai servir muito bem.

— Nós também terminamos!

Alta-Elfa Arqueira veio saltitando de volta a Lagarto Sacerdote.

Anão Xamã se mexeu em um cambaleio, limpando o suor de sua testa.

— Bem como as minhas magias, infelizmente.

— Pegue uma arma então. — Matador de Goblins puxou uma adaga de sua bainha.

Ele pegou a gaiola, onde o canário tinha finalmente se acalmado, e a colocou no meio da sala. Em seguida, verificou o estado do seu escudo e bolsa, e se preparou para lutar a qualquer momento.

— Oh-ho. Não vai faltar munição por aqui — disse Anão Xamã, pegando sua funda. Ele coletou um monte de pedras do chão e as colocou no bolso. Alta-Elfa Arqueira pegou a dica deles, verificando seu arco e garantindo que a corda estava apertada.

— Devo convocar um Guerreiro Dragãodente?

— Que acha de Proteção…?

— Por favor.

Para a resposta de Matador de Goblins, os dois membros do clero começaram as suas orações para seus respectivos patronos.

— Ó chifres e garras do nosso pai, Iguanodon, seus quatro membros se tornam duas pernas para andar sobre a terra.

— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, pelo poder da terra conceda segurança para nós que somos fracos.

Pela boa graça do antepassado de Lagarto Sacerdote, o temível naga, a garra que ele tinha jogado no chão se tornou um soldado enquanto eles observavam.

E a toda-compassiva Mãe Terra concedeu a todos eles, incluindo esse guerreiro recém-criado, o milagre de Proteção. Ela tinha ouvido o apelo de Sacerdotisa enquanto se agarrava ao cajado.

Agora atrás de uma barreira invisível, Alta-Elfa Arqueira preparou habilmente uma flecha em seu arco e apontou para a porta. Suas orelhas longas agitavam para cima e para baixo, traindo seu nervosismo.

— Está quieto lá fora.

— Eles notaram. — Matador de Goblins, aprofundado em uma postura baixa, correu em direção à porta. — Com esses buracos bloqueados, o gás venenoso terá começado a fluir de volta para eles. Nós já podemos ter matado vários…

Isso era um bom palpite. O barulho perturbador dos tambores de batalha ecoava das profundezas da terra. Então, passos de uma multidão enorme de alguma coisa vinha na direção deles. Com um som de metal raspando que deveria significar armadura.

Os goblins já estavam próximos.

A porta, barricada pelo caixão, começou a tremer; depois houve um som abafado de alguma coisa sendo chocada contra ela. A primeira pancada não produziu nenhum efeito, mas depois houve uma segunda e uma terceira. A porta começou a ranger sob os impactos.

Por fim, parte da porta cedeu com um ruído grande dela partindo, e um olho amarelo e nojento espreitou.

— Cuidado! — Mesmo enquanto gritava, Alta-Elfa Arqueira fez a flecha voar.

— GRRB?!

A flecha ponta-broto se enfiou através da fenda na porta e perfurou o goblin através do olho. A criatura caiu para trás com um grito estrondoso, mas seus companheiros preencheram rapidamente o vazio.

— Não posso dizer quantos passos há, mas tem algo estranho lá fora! — gritou Alta-Elfa Arqueira.

Os goblins, é claro, não ficariam parados para serem atingidos.

Assim que eles perceberam que os aventureiros na sala estavam retaliando, flechas começaram a voar pela abertura.

— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, pelo poder da terra conceda segurança para nós que somos fracos!

A Mãe Terra protegeu sua humilde discípula tão ferozmente quanto qualquer mãe protegeria seu filho. Proteção tinha salvado eles da saraivada de flechas à frente; disparos a esmo esporádicos não iriam conseguir passar por ela.

Enquanto a garota agarrasse seu cajado e rezasse, as flechas nunca os alcançariam.

 


 

Tradução: Kakasplat (3 Lobos)

Revisão: JZanin (3 Lobos)

 

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