Satou aqui. Em RPGs antigos, sempre achei que ganhar a habilidade de viajar em carruagens puxadas por cavalos era um ponto importante. Mas não é tão confortável quanto um carro.
A carruagem sacudiu e fez barulho ao longo da estrada principal.
— Ooh!
— Meeeow!
Cada vez que um pequeno animal como um rato ou um coelho olhava dos arbustos ao lado da estrada, Pochi e Tama quase saltavam da carruagem. E cada vez que eles faziam isso, Liza estava lá para segurá-las.
A carruagem não andava mais rápido do que uma bicicleta, mas ainda seria perigoso se elas caíssem e fossem arrastadas para baixo das rodas.
— Pochi, Tama, vocês vão cair se ficarem se inclinando para os lados, então, por favor, parem com isso.
— Sim, senhor.
— Kaaay!
As duas responderam afirmativamente e se posicionaram do lado esquerdo e direito contra o encosto do meu assento.
Eu sabia que elas se comportariam até que outra coisa chamasse atenção delas de novo.
A brisa estava um pouco fria, mas era agradável junto ao calor do sol.
Como este era um mundo de fantasia, eu esperava alguns encontros com monstros aleatórios, mas na realidade a jornada foi bastante pacífica. Foi provavelmente graças aos esforços de Zena e seus companheiros em sua patrulha.
No entanto, quando verifiquei o mapa, vi monstros à espreita mais longe na estrada. Provavelmente era impossível erradicá-los completamente.
Por cerca de uma hora depois de deixarmos a cidade, nossa volta parecia mais um monte de árvores aleatório do que uma floresta em si, mas tínhamos saído dessa e agora estávamos viajando por uma área muito acidentada.
À nossa esquerda, eu podia ver as montanhas que levavam ao Berço de Trazayuya, onde o Rei Morto-Vivo Zen manteve Mia presa.
Uma árvore ou arbusto de vez em quando aparecia entre a estrada e o sopé.
Antes de chegarmos a essa área irregular, encontramos outros viajantes em carruagens ou a pé, mas a maioria tinha ido para o oeste em uma bifurcação[1] na estrada.
Na estrada oeste ficava a cidade mineira do condado de Seiryuu e, além dela, a estrada cruzava com mais dois condados em um que era aparentemente uma área muito próspera para o comércio. A maioria dos comerciantes iria nessa direção.
De acordo com meu mapa, ainda havia algumas outras carruagens na estrada sul além da nossa, mas nenhuma que eu pudesse realmente ver.
Também havia condados e baronatos ao sul, mas por causa das leis ruins ali, os mercadores tendiam a manter distância.
O comerciante que me informou sobre tudo isso acrescentou que as coisas eram seguras o suficiente no Ducado Ougoch, que era famoso pela paisagem noturna de seus canais, mas, mais longe do que isso e encontraria preços baratos e um mercado rigidamente controlado por vendedores locais.
Havia mais vilas perto da estrada oeste também, então isso provavelmente também contribuiu para sua popularidade.
— Caaaaarne?
— Ovelhas, senhor!
Seguindo os olhares de Tama e Pochi, vi uma colina distante onde um pastor pastoreava um grande rebanho de ovelhas.
As duas acenaram freneticamente em direção ao morro, mas aparentemente a outra pessoa não podia nos ver, pois não responderam.
A sombra do que parecia ser um pequeno cão pastor correu, impedindo habilmente qualquer ovelha de se afastar muito. Parecia um cachorro comum, não, um demi-humano. Eu não tinha visto nenhum cachorro ou gato na cidade, mas acho que as pessoas cuidavam deles nesse mundo também.
Enquanto eu aproveitava a vista, a estrada quase reta se transformou em uma ampla curva ao longo de uma colina.
A carruagem balançou. Atrás de mim, ouvi pequenos gritos de Lulu e Mia e xingamentos de Arisa, mas deixei passar, fingindo não ouvir.
Como a estrada obviamente era apenas de terra, não era pavimentada, era natural que as carruagens deixassem buracos ao longo do caminho. No entanto, como duas carruagens não seguiam exatamente o mesmo caminho, algumas áreas eram tão acidentadas que ameaçavam danificar as rodas.
Os cavalos seguiram ao longo da estrada por conta própria, mas para evitar esses buracos, o cocheiro teria que ajustar seu percurso.
Mesmo com a ajuda de minhas habilidades, ainda não tinha experiência suficiente para evitar todos.
Enquanto eu pedia desculpas para mim mesmo, Arisa colocou a cabeça por trás de mim, apoiando-se na cabeça de Pochi.
— Tenha mais cuidado ao dirigir!
— Não reclame. Ainda sou um novato.
Eu afastei os protestos de Arisa evasivamente.
Pochi não parecia muito satisfeita ao ser usada como apoio. — Arisa, você é pesada, senhorita.
— Desculpe, desculpe. É que você estava na posição perfeita para eu subir em cima de você, então não pude evitar.
Pedindo desculpas, Arisa levantou a cabeça, aconchegando-se no meu ombro em vez disso. Isso poderia ter feito meu coração bater forte se ela fosse uma mulher bonita, mas como era tão jovem, parecia apenas uma criança mimada.
Naquele momento, percebi um pequeno gorgolejo queixoso. Provavelmente fui o único que ouviu, graças à minha habilidade de “Audição Aguçada”.
Deve ter vindo de Lulu. Até o som de seu estômago roncando era fofo.
Verifiquei no mapa um bom lugar para parar para almoçar.
— É quase hora do almoço. Tem uma laje de pedra na próxima colina e parece que poderia nos proteger do vento, vamos parar e comer lá.
Minha proposta foi aprovada com um grito de alegria unânime.
Depois de subirmos o caminho coberto de ervas daninhas, parei a carruagem em uma área ensolarada perto do megálito[2].
— Chegamos. Pessoal, é hora de cuidar dos cavalos e preparar nosso almoço.
Enquanto falava, desci da carruagem e fixei as travas no lugar, semelhante ao freio de mão de um carro.
Como eu já tinha atribuído papéis antes de chegarmos, todas começaram seu trabalho sem precisar de mais instruções.
Pochi e Tama pularam e tiraram ferramentas do espaço de armazenamento para cuidar dos cavalos.
Os sobretudos que normalmente usavam em público estavam dentro da carruagem, já que agora usavam camisas brancas e shorts fofos combinando. O short de Tama era rosa, enquanto o de Pochi era amarelo.
— Eu vou cuidar de seus cascos, senhor!
— Dig, diiig!
— Tenha cuidado para não tomarem coice, vocês duas.
— Sim, senhor!
— Entendiiii!
Avisei as meninas para terem cuidado ao tirar a terra e as pedras dos cascos dos cavalos. Os cavalos bufaram indignados, como se para protestar que nunca seriam tão descuidados.
— Nana e eu vamos procurar pedras para construir um fogareiro.
— Ótimo, obrigado.
Vestida com uma armadura de couro marrom claro, Liza se dirigiu para reunir algumas das pedras menores perto das grandes lajes.
— Mestre, voltarei, eu corajosamente relato.
Nana foi a próxima a falar enquanto descia da carruagem.
Seu longo cabelo loiro estava preso em um rabo de cavalo com uma fita. Ela usava um vestido escarlate, do qual nunca seria visto no Japão moderno, com mangas que estufavam nos ombros e um colete vermelho-escuro que ameaçava estourar com a pressão do busto generoso.
Naturalmente, fiz questão de registrar mentalmente o momento que ela saltou da carruagem.
Eu não queria que seu lindo vestido se sujasse enquanto ela juntava pedras, então discretamente tirei um avental do Armazenamento sob a sombra da carruagem e entreguei a Nana.
Senti olhos cravados em minhas costas e me virei para encontrar Lulu. Parecia que ela estava esperando uma chance de falar.
— Mestre, eu trouxe a bolsa.
— Obrigado, Lulu.
Aceitei a Bolsa Depósito de Lulu e ofereci a mão para ajudá-la a descer da carruagem.
Já estava acostumado com o momento de hesitação dela antes de aceitar minha mão, mas o fato de que ela ainda ficava vermelha toda vez realmente mostrava sua timidez.
Lulu pisou no chão, seu fino cabelo preto balançando suavemente. Tive o mais breve vislumbre de suas pernas brancas enquanto sua saia flutuava no ar por um momento. Embora o vestido branco que usou na cidade lhe caísse melhor, Lulu agora usava uma camisa creme e uma saia azul escura. Provavelmente, o tecido branco ficaria sujo com muita facilidade.
Arisa foi a próxima a se aproximar da cabine do cocheiro do interior da carruagem, caminhando com um passo confiante.
— Mestre, me ajude a descer também!
A roupa de Arisa, uma jaqueta vermelho-escura sobre um top e um fundo rosa fofo, parecia impróprio para viagens. Ela estendeu a mão e fez uma exigência em um tom um tanto mimado.
Seu cabelo violeta balançava com o vento. Ela normalmente usava uma touca ou uma peruca loira para evitar chamar a atenção em público, mas ela havia deixado dentro da carruagem.
Não era grande coisa, então estendi a mão para ajudá-la a descer.
Então, de repente, inclinei minha cabeça para o lado.
Um instante depois, o rosto de Arisa estava onde o meu estava, com os lábios franzidos. Essa foi por pouco.
— Chega de assédio sexual, por favor.
— Aww, estou apenas tentando servir ao meu mestre de acordo com meu juramento! Você é tão cruel.
— Xiu.
A resposta de Arisa foi tão absurda que eu bati levemente na testa dela para repreendê-la. A julgar pela maneira como ela rolou na grama dramaticamente segurando a cabeça, duvidei do arrependimento dela.
O texto do nosso acordo específico não falava nada de evitar o assédio. Tive que ter cuidado para não confiar no contrato como um impedimento, para minha frustração.
Se Arisa tivesse pelo menos vinte anos de idade… Bem, eu provavelmente ainda não aceitaria seus avanços, mas não iria me importar muito. Ela tinha a idade de uma criança, eu definitivamente não estava interessado.
Na verdade, a personalidade de Arisa me lembrava de algo da metade do século passado. Eu não sabia quantos anos ela tinha antes de reencarnar aqui, e ela parecia não querer dizer.
— Satou.
Finalmente, a elfa Mia apareceu, falando com um sorriso brilhante. Suas orelhas pontudas saiam por baixo de suas tranças azul-esverdeadas. Ela usava uma roupa que parecia uma versão azul-clara de Arisa.
Com sua atual compleição saudável, era difícil imaginar o quão enfraquecida ela estava quando eu a resgatei do Zen.
Ela não terá problemas em suportar a longa jornada até sua cidade natal neste estado.
— Você quer que eu te ajude a descer também?
— Uhum.
Em pé com os braços estendidos, Mia acenou com a cabeça feliz.
Eu a levantei por sua cintura delicada e a coloquei no chão com cuidado. Ao contrário de Arisa, eu não precisava me preocupar que ela pudesse tentar alguma coisa.
— Obrigada.
— De nada.
Mia sorriu timidamente ao me agradecer, então caminhou até as pedras grandes.
Peguei um balde e um pequeno barril de água da Bolsa Depósito para dar de beber aos cavalos.
A propósito, eu havia dado às meninas uma descrição equivocada da Bolsa Depósito como “uma bolsa mágica que pode conter muitas coisas” no início de nossa jornada. Por segurança, instrui elas a manter segredo para que os ladrões não tentassem roubá-la.
— Missão cumprida, senhor.
— Prooonto!
— Bom trabalho, vocês duas.
Pochi e Tama se aproximaram para relatar a conclusão de seu trabalho, e eu dei um tapinha na cabeça de ambas.
Só então, Lulu voltou de inspecionar as rodas.
— Mestre, as rodas e os eixos estão perfeitos. Só tinha pedaços de ervas daninhas grudadas.
— Ótimo, obrigado.
Já que nossa inspeção acabou, talvez agora seja um bom momento para alimentar os cavalos, não, talvez eu devesse deixá-los um pouco mais confortáveis primeiro.
— Lulu, você pode me ajudar a desamarrá-los?
— Claro, senhor!
Com a ajuda de Lulu, soltei os cavalos do jugo[3] e prendi as rédeas da carruagem.
Eu verifiquei seus rostos onde os pedaços foram colocados, os cavalos não pareciam estarem arranhados. Provavelmente estava bem.
— Mestre, posso ajudá-lo com alguma coisa?
Arisa tirou a poeira de suas roupas e se aproximou de mim. Havia uma marca vermelha fraca em sua testa. Eu teria que tomar cuidado de agora em diante.
— Sim, dê sal e frutas para os cavalos, se quiser.
Depois de retirar um pequeno cocho e um saco de ração da Bolsa Depósito, entreguei a Arisa dois pedaços de fruta e uma pequena bolsa de sal.
Os frutos eram uma recompensa aos animais pelo seu trabalho árduo. O cocheiro veterano avisou Lulu e eu para não esquecermos de fornecer sal aos cavalos em uma longa viagem.
— Beleza. Mia, venha me ajudar.
— Uhum.
Arisa chamou Mia alegremente. A elfa, que estava olhando para os megálitos, assentiu e começou a cuidar dos cavalos com Arisa.
— Pochi, Tama, isso não é perigoso?
— Vamos ficar bem, senhora.
— Tááá tudo beeem.
Eu segui o olhar nervoso de Lulu e vi Tama em cima dos ombros de Pochi para limpar as costas dos cavalos com uma toalha. Parecia perigoso à primeira vista, mas os pés de Pochi estavam firmemente no chão, então estava tudo bem.
Talvez eu deva pegar alguns materiais e construir uma escada?
Enquanto refletia sobre isso, preparei um almoço para os cavalos: uma mistura de grãos e palha. Uma refeição simples, mas para cavalos de carruagens seria de primeira classe.
Os cavalos acabaram com as frutas em segundos, então mergulharam suas cabeças na gamela[4] para comer com fervor.
— Estão mastigando, senhor!
— Gostosooo!
Pochi e Tama se sentaram na frente da pequena gamela para ficar olhando com inveja a comida. Seus olhares ansiosos pareciam incomodar os animais.
Para o bem da saúde mental dos cavalos, mandei Pochi e Tama pegar pedras que pudéssemos usar para segurar os panos em que sentaríamos durante o almoço. A dupla concordou prontamente e foram em busca, animadas por ter recebido outra tarefa.
— Com licença, Mestre. Tudo bem se eu usar um pouco deste tecido grosso?
— Claro. Você está fazendo um avental?
— Quero retocar as almofadas de palha.
Depois de lavar a baba do cavalo das mãos no balde de água, Arisa as enxugou com um lenço enquanto fazia seu pedido.
Eu tinha feito às pressas algumas almofadas de palha para ajudar a proteger as meninas das vibrações da carruagem. Os travesseiros improvisados eram simples de palha com um pano enrolado em volta como rolos de sushi.
Eu havia tentado comprar algumas almofadas pré-fabricadas em uma loja, mas ninguém as estava vendendo na cidade de Seiryuu, e como encomendá-las demoraria muito, nós mesmos encontramos uma solução.
— Então a palha não está bem cortada, hein?
— Não é isso. O amortecimento é bom, mas a palha está começando a sair e arranhar minha bunda.
Arisa balançou a cabeça.
Entendo… Então era a durabilidade que não estava tão boa.
— Bem, então por que não trabalhamos todos nas almofadas enquanto esperamos o almoço ficar pronto?
Peguei a Bolsa Depósito e tirei um grande saco cheio de lenha, utensílios de cozinha e ingredientes para Liza, e então dei a Bolsa Depósito para Arisa. As almofadas de palha eram volumosas, então imaginei que as crianças precisariam da bolsa para carregá-las.
Então, como Lulu não tinha nada para fazer, eu a trouxe comigo para levar as coisas de cozinha para Liza.
No chão, a uma curta distância da carruagem, havia um fogareiro de pedras, parecendo muito mais resistente do que eu esperava. Falei com Liza e Nana enquanto revisavam seu trabalho.
— Isso é mais impressionante do que eu esperava.
— Sim. Precisamos de algo desse calibre para preparar ensopado para tantas pessoas.
Lulu entregou os utensílios de cozinha para Liza.
— Sra. Liza, devo preparar a lenha?
— Sim, obrigada.
Quando Lulu começou a arrumar a lenha, Liza olhou os suprimentos de cozinha.
— Mestre, meu trabalho está feito, eu relato.
— Você foi ótima.
Nana se reportava a mim com bastante orgulho e respondi com apreço.
— Mestre, tudo bem se eu começar o fogo agora?
Lulu tinha acabado de colocar lenha no fogareiro e segurava a pederneira em uma das mãos.
— Espere, Lulu. Use isto.
Como acender uma fogueira com pederneira era uma tarefa bastante difícil, entreguei a Lulu a Corda de Fogo que eu trouxe.
— Ah, eu nunca usei este item mágico antes. Como funciona?
— O fogo sai da ponta quando você pressiona a área elevada.
Lulu parecia nervosa quando entreguei a ferramenta a ela, então expliquei como usá-la.
— Uau, que prático! Ser capaz de fazer fogo com essa facilidade é como mágica.
— Bem, é um item mágico.
Os olhos de Lulu se arregalaram de surpresa com a conveniência do fogo ao apertar apenas um botão.
Quando Lulu ficou com sua tia por parte de mãe na cidade, eles tinham apenas pederneiras, e quando ela era assistente de Arisa no castelo, ela não tinha permissão para entrar na cozinha. Este foi seu primeiro contato com um Item Mágico de criação de fogo.
— Alguma de vocês sabe cozinhar? — Perguntei a Lulu e Nana.
— Eu vigiei o fogo e descasquei legumes e tal, mas nunca cozinhei em si.
— A número 3 tinha todas as funções de cozinha, por isso não tenho experiência prática. Aprendi as sequências operacionais básicas de culinária, mas não tenho receitas registradas em minha biblioteca. Eu gostaria muito de instalá-las, eu desejo.
Liza parecia ser a única que poderia preparar uma refeição, mas essas duas seriam pelo menos capazes de dar uma mão.
A escolha de palavras de Nana foi estranha como sempre, mas entendi o que ela estava tentando dizer. Encher um homúnculo de conhecimento é tão fácil quanto instalar um aplicativo em um celular?
Eu estava um pouco curioso, mas aplacar a fome de todos era prioridade.
— Vou incumbir vocês duas de ajudar Liza, então. Peço que vocês façam o que Liza mandar e nos faça uma comida deliciosa.
— Faremos o nosso melhor!
— Sim, Mestre, eu confirmo.
Aparentemente, a maneira peculiar de Nana falar estava me afetando um pouco.
— Liza, vou deixar o resto com você.
— Entendido, senhor.
Após uma rápida discussão sobre o cardápio, deixei Liza encarregada da cozinha.
No meio do caminho entre a nossa cozinha improvisada e a carruagem, Arisa e Mia estavam brigando para estender o cobertor que pegaram na Bolsa Depósito, então fui ajudá-las.
Pochi e Tama chegaram na hora certa com as pedras, que colocamos em cada canto para o cobertor não voar.
Arisa colocou as almofadas de palha em cima do cobertor.
— Beleza, Pochi e Tama, por favor, retirem o pano das palhas. Vão sair depois de desamarrar a corda.
— Sim, senhora.
— Aye-aye!
— Mia, se houver algum pedaço de palha nos pedaços desembrulhados, por favor, remova-o.
— Uhum.
Arisa delegou atribuições às meninas mais novas.
Ao lado de Arisa, coloquei um conjunto de costura, pacotes de vários tecidos e couro de pele de cabra curtido.
— Hmm? Para que precisamos de couro?
— Se usarmos isso para a parte em que você se senta, a palha não vai sair, certo?
— Sim, isso é verdade, mas podemos usar algo tão caro quanto couro de cabra?
Arisa inclinou a cabeça incerta.
— Claro. Eu não gostaria que todos ficassem arranhados só para economizar um pouco de dinheiro.
— Faz sentido. Não seriam mais macios ao toque!
Arisa acenou com a cabeça com um grande sorriso, mas isso não estava nem perto da minha intenção. Eu não tinha planos de tocar nas costas de ninguém, muito menos nas dela.
— Se pudermos usar o couro, não precisaremos do tecido grosso. Mestre, você pode cortá-lo em pedaços desse tamanho aqui? Minhas mãos são muito pequenas para usar uma tesoura grande.
— Claro, cuidarei disso.
Cortei o couro no tamanho que Arisa havia especificado e entreguei a ela.
Lutando com a grande agulha de couro, Arisa costurou a peça de couro no tecido que Pochi e Tama haviam removido.
Esta é a oportunidade perfeita para mostrar minha confiabilidade como mestre com minhas habilidades de “Costura” e “Fabricação de Couro”.
Passei a linha na minha agulha e costurei o couro e o tecido sem problemas. A velocidade e a precisão dos meus dedos envergonhariam uma máquina de costura.
— I-incrível! Como você pode ser tão rápido com essa agulha…?
— Incrível, senhor!
— Incrivelmente incrível!
Heh. Todo esse elogio é muito legal. Depois que terminei, puxei a agulha para apertar as costuras quando…
— Hein?
— Hmm?
Por algum motivo, a linha deslizou para fora e o couro e o tecido se separaram.
Expressei minha confusão em uníssono[5] com Mia, que estava assistindo ao meu lado.
— Por quê?
— …O que você quer dizer com por quêêê?! — Arisa uivou em direção ao céu.
Quando ela terminou, ela recuperou o controle de sua respiração e apontou meu erro.
— Honestamente! Você se esqueceu de dar um nó na ponta do fio!
Um nó… No fundo da minha mente, eu vagamente me lembrava de ter lido isso em um livro há muito tempo. Devo ter aprendido algo sobre isso em casa, há muito tempo.
Eu teria que deixar a Professora Arisa me ensinar o básico da costura.
Eu acho que apenas ter a habilidade não foi suficiente para compensar a falta de conhecimento básico. A realidade é cruel.
Na minha próxima tentativa, consegui terminar corretamente e me deleitar com os elogios de todas. Depois amarramos o pano com capa de couro.
Não pude deixar de notar que Arisa testava meu trabalho todas as vezes para ter certeza de que finalizei certo.
Havia um pano amarelo no meio do tecido que compramos na cidade de Seiryuu, então prevaleci com o saber-fazer de Arisa para fazer um brinquedo de pelúcia do tamanho da palma da mão. Usei bolinhas de feltro para o enchimento.
> Habilidade Adquirida: “Fabricação de Bonecas”
> Título adquirido: Titereiro
Eu ganhei a habilidade, mas minha habilidade de “Costurar” sozinha parecia ser suficiente para fazer um bichinho de pelúcia, então eu não me preocupei em colocar pontos nele.
— Caaaaarne?
— Que passarinho rechonchudo, senhor!
Tama e Pochi deviam estar com fome, já que estavam olhando com prazer meu bichinho de pelúcia recém-feito.
—Hmm, fofo.
Mia apertou o brinquedo algumas vezes com prazer.
— Mestre!
Nana abandonou seu trabalho na panela e correu, mesmo com seu rosto frio.
O que está havendo?
— Permissão para cuidar desta criatura larval, eu peço.
Sem tirar os olhos do brinquedo, Nana o agarrou com as duas mãos, implorando para mim.
— Você gostou?
— Sim. — Nana assentiu enfaticamente, sua expressão ainda em branco como sempre. — Tão macio e redondo… De fato, é muito fofo.
Ela esfregou a bochecha contra o pintinho de pelúcia. Apesar de sua expressão inalterada, ela parecia muito feliz.
Acho que ela tem, tecnicamente, menos de um ano.
— Vou dar o primeiro para você, então, Nana.
— Mrrrr…
— Não fique com raiva, Mia. Vou fazer um para você também, — tranquilizei Mia, que estava de mau humor com a perda do bichinho de pelúcia.
Fiz um coelho de pano branco para ela, depois uma bonequinha Pochi para Tama e uma boneca Tama para Pochi.
— É uma Tama pequena, senhor!
— A minha é uma Pochiii pequena?
Pochi e Tama mostraram uma à outra suas bonecas com sorrisos enormes.
— Coelhinho.
— Yep, é um coelho.
Mia abraçou satisfeita o bichinho de pelúcia coelho que ganhou.
Arisa e a Lulu e Liza, que estavam preparando a comida, estavam olhando para nós com interesse. Eu acho que provavelmente estaria fazendo bichinhos de pelúcia para elas também logo, logo.
Enquanto isso, sinais de que o almoço estava quase pronto começaram a pairar no ar.
Guardei minhas ferramentas e brinquei com as crianças mais novas e guardamos as coisas.
— Está pronto?
— Tenho certeza que ficará logo, logo, senhor!
Tama e Pochi ficavam ao redor de Liza enquanto ela terminava de cozinhar, observando-a atentamente. A impaciência delas estava atingindo um nível febril, já que balançavam para frente e para trás ritmicamente. Suas caudas também balançavam ativamente, é claro.
— Hmm, o cheiro está muito bom.
— Ohhh, meu estômago está prestes a começar a grudar nas minhas costas!
O delicioso aroma saindo da panela cativou Mia e Arisa também. Aparentemente, Pochi e Tama não eram as únicas com fome.
— A comida está pronta, pessoal.
— Precisa de ajuuuda?
— Eu carrego, senhor.
Atendendo ao chamado de Lulu, Tama e Pochi correram, enxugando a baba do rosto com os braços.
As duas gritaram ao redor do enorme pote quando Liza o ergueu, mas era muito grande para qualquer uma das duas carregar, então Liza simplesmente a levou.
Pochi e Tama seguiram ansiosamente atrás dela, olhando para ela com entusiasmo.
As crianças mais novas terminaram de arrumar a mesa e, com um coro de “Obrigada pela comida” (um costume que Arisa espalhou para as outras), a refeição começou.
Mia também conhecia a frase. Ela explicou que um herói que viveu em sua aldeia élfica antes de ela nascer, o que no caso de Mia significava pelo menos cem anos atrás, popularizou o costume.
O almoço de hoje foi uma quiche[6] com legumes em conserva cortesia da Pousada da Frente, junto com ensopado feito por Liza e companhia. O ensopado continha feijão, batata, cebola e carne seca.
As batatas cortadas um tanto esquisitamente foram provavelmente resultado do trabalho manual de Lulu e Nana.
Comi um pouco do ensopado espesso e cremoso. Um gosto salgado bem forte atingiu minha língua primeiro, seguido pelo sabor forte de batatas e carne seca. Um momento depois, a doçura da cebola trouxe um pouco de alívio para o salgado áspero.
Os grãos se assemelhavam a favas grandes, mas sua maciez e sabor delicioso tinham uma grande semelhança com o edamame[7]. Eu adoraria ferver esses grãos e experimentá-los gelados com uma cerveja algum dia.
Comparada às refeições feitas por chefs mais habilidosos como os da Pousada da Frente, essa refeição era mais como a culinária bem temperada de um solteiro não refinado, mas ainda era apetitosa à sua maneira.
— Está delicioso, Liza. Lulu, Nana, vocês também se saíram bem.
— Muito agradecida.
Liza respondeu às minhas palavras de elogio com uma expressão formal. Mas, no fundo, ela provavelmente estava satisfeita ou envergonhada, porque seu rabo estava batendo no cobertor. Essas caudas com certeza são um sinal de felicidade.
Nana concordou com a cabeça inexpressivamente com o bichinho de pelúcia em uma das mãos, mas Lulu parecia constrangida.
— A comida de Liza é sempre tão boa, senhor!
— Liza é a melhooor!
Pochi e Tama elogiaram Liza também, com as colheres bem apertadas nas mãos.
— Mm, bom.
— Talvez um pouco salgado, mas delicioso.
Mia e Arisa também expressaram sua satisfação.
— Mestre, o mingau de trigo também está agradável, eu informo.
Nana, a única pessoa com comida diferente, deu sua conclusão em sua expressão impassível de sempre.
Não estávamos intimidando ou excluindo ela, é claro.
Homúnculos como Nana tinham estômagos fracos nos primeiros seis meses ou mais de suas vidas, então ela tinha que receber PM diretamente ou seguir uma dieta apenas com líquidos.
Essa informação também foi documentada nos diários de Trazayuya, a pessoa que projetou o homúnculo. Não tive dúvidas de que era verdade.
Quando ela era subordinada de Zen no Berço, elas entravam em uma instalação chamada “tanque regulamentar” para receber magia e nutrição.
Nana já havia passado o período de seis meses, mas, dadas as circunstâncias, achamos melhor mantê-la com uma dieta líquida por um tempo para ver como ela se sairia. O plano era introduzir alimentos sólidos gradualmente para evitar problemas.
Se eu tivesse habilidades como “Manipulação Mágica” ou “Magia Prática”, seria capaz de restaurar a magia dela sozinho, mas ninguém dos membros do nosso grupo conseguia usar essas habilidades, e pensei que seria melhor para ela comer com o resto de nós também.
— Será o suficiente para você, Nana?
— Mestre, isso não é um problema, eu afirmo.
Nana parecia perfeitamente satisfeita, mas decidi oferecer água com frutas mais tarde para limpar seu paladar.
Todos pareciam estar comendo alegremente, exceto um indivíduo.
Por algum motivo, Mia estava tirando os pedaços de carne seca de seu ensopado e colocando-os de lado em um prato menor.
— Mia, não seja exigente. Apenas coma.
— Elfa.
Sim, você vai ter que dizer mais do que isso se quiser que eu entenda.
Como se tivesse ouvido meus pensamentos, Mia murmurou a palavra carne e desenhou um pequeno X no ar com o dedo.
— Ah, então os elfos não comem carne? Sim, é assim que as raças feéricas devem ser! — Arisa comentou alegremente. É verdade, parecia apropriado para os elfos serem vegetarianos, mas Mia estava inclinando a cabeça incerta com o comentário de Arisa.
Certo, já que tem um elfo de verdade bem na minha frente, eu deveria fazer uma pergunta que está me incomodando há anos.
— Mia, se os elfos não comem carne, para que você tem arcos?
— Monstros.
Isso fazia sentido. Então eram para autodefesa e caçar monstros?
Antes que as meninas-fera ficassem fortes o suficiente para o combate corpo a corpo, eu as instruí a atacar de longe, jogando pedras. Faria sentido para os elfos ensinarem suas crianças a lutar de uma distância segura com arco e flecha ou magia.
Meus pensamentos se desviaram um pouco, mas se não comer carne fazia parte da cultura de sua raça, seria melhor respeitar.
— Bem, se você não está apenas sendo exigente, está tudo bem.
A atenção de Mia se desviou de mim, como se ela tivesse percebido outra coisa. Tentei seguir sua linha de visão, mas tudo o que vi foi grama balançando ao vento.
De qualquer forma, eu teria que dizer a quem quer que servisse as refeições de agora em diante para não colocar carne na comida de Mia. Ela parecia capaz de comer ensopado de vegetais com caldo de carne sem problemas, então provavelmente não teríamos que preparar um prato totalmente separado, igual para alguém com alergia.
Pochi e Tama acabaram com os pedacinhos de carne do prato de Mia enquanto ela os retirava.
Então era hora de provar a comida que elas prepararam para nós na Pousada da Frente.
A quiche tinha ficado ligeiramente quente no meu Armazenamento, muito quente, na verdade, considerando a temperatura do ar. O Armazenamento forneceu um isolamento sólido.
Eu teria que fazer um teste de desempenho durante a jornada. Se eu pudesse transportar ensopado e similares e mantê-los aquecidos, preparar as refeições seria muito fácil.
Enquanto pensava nisso, distraidamente quebrei um pedaço de quiche do tamanho de uma mordida e coloquei na boca. A comida da Pousada da Frente era excelente, como sempre.
O ensopado de Liza e o quiche da pousada estavam deliciosos, e todos nós comemos alegremente.
A conversa, enquanto almoçávamos juntos, pode ter sido o melhor tempero de todos.
Notas:
1 – Lugar em que uma coisa se divide em duas: a bifurcação de uma estrada. Quebra da continuidade de; divisão, separação.⇧
2 – Em arqueologia, designa o conjunto de construções de grandes blocos de pedras, típicas das sociedades pré-históricas, edificadas essencialmente no período neolítico (por vezes também idade do Cobre e Bronze) com objetivos simbólicos, religiosos e principalmente funerários.⇧
3 – Peça de madeira usada para atrelar bois/cavalos a carroça ou arado.⇧
4 – Vasilha de madeira em forma de tronco de pirâmide rectangular , invertida, em que se dá de comer a porcos e outros animais.⇧
5 – Que tem o mesmo som (p.ex., que outro som, voz, termo, palavra etc.)⇧
6 – Quiche é um tipo de torta feita com recheio à base de ovos e creme de leite, ao qual se adicionam pedacinhos de toucinho defumado ou legumes, e que não leva cobertura. Geralmente em formato redondo ou oval.⇧
7 – O Edamame é a soja ainda na vagem verde.⇧
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