Liberte Aquela Bruxa – Vol. 04 – Cap. 616 – Campo de Batalha Infernal

Estrondos fortes e ensurdecedores vinham de todo lugar.

Tudo o que Zero podia ouvir dentre esses estrondos eram os gritos e gemidos fracos de dor.

Na linha de frente, havia uma vanguarda formada por Guerreiros da Punição Divina, e na linha de trás, estava o Exército de Julgamento, que avançava lentamente. Essa era a formação do “Grande Escudo”, desenvolvida para lidar com o enxame de bestas demoníacas, mas que também era igualmente efetiva contra as flechas e armas de pó de neve. Esses escudos de ferro eram capazes de ricochetear uma rajada de flechas, e nem mesmo as armas de pó de neve de Timothy poderiam penetrá-los. A única desvantagem era que eles eram extremamente pesados, e, por isso, somente o Exército da Punição Divina poderia carregá-los em batalha.

Contudo, desta vez, os escudos perderam sua efetividade.

De vez em quando, um Guerreiro da Punição Divina seria destroçado pelas bolas de ferro que vinham assobiando em direção a eles, e até mesmo as pessoas na retaguarda seriam atingidas pelas mesmas bolas. Sangue rapidamente jorrava dos furos criados por essas bolas. Os guerreiros que não morriam no local, se contorciam e gritavam de dor. Alguns até mesmo tentavam guardar suas entranhas que haviam caído no chão, em pânico. Isso tudo involuntariamente enfraquecia o moral de seus companheiros que ainda estavam lutando.

— Isso não pode continuar! Temos que fazer com que os Guerreiros da Punição Divina avancem o mais rápido que puderem! — O assistente de Soli vozeou.

— Eu concordo, Trial Soli! — Um dos comandantes concordou enquanto cerrava os punhos. — Essas bolas de ferro podem apenas viajar em linha reta, e não podem ser atiradas rapidamente! A coisa certa a fazer seria espalhar nossos guerreiros pelo campo de batalha, fazendo com que não sejamos mais alvos fáceis!

— Entendido. Passem minhas ordens para expandir nossa formação e efetuar uma investida total!

Zero ouviu Soli Daal emitindo uma ordem de ataque.

Contudo, momentos depois, um novo tipo de arma entrou no campo de batalha.

Soava como o barulho incessante de uma chuva de granizo colidindo com uma chapa de metal¹Ela está se referindo às metralhadoras.. Uma nuvem de fumaça de repente se levantou na frente dos guerreiros que avançavam e fez com que eles caíssem mortos no chão como trigo ceifado. Foi impossível para Zero saber de onde o ataque vinha.

Os Condutores ficaram com semblantes pálidos.

Todos sabiam que o resultado desta batalha já estava decidido.

Zero de repente ouviu um som sibilante de algo cortando o ar. Era agudo, porém abafado, como o chiar de uma víbora.

Perigo!

Zero imediatamente olhou na direção do som. Ela subconscientemente queria correr para um local seguro, mas rapidamente lembrou que esse não era o seu corpo real, e sim o do arcebispo.

Lamentavelmente, Soli Daal não foi tão vigilante quanto ela.

Uma grande bola de ferro veio do céu e caiu no chão à frente dele. Assim que colidiu com o chão, a bola de ferro imediatamente quicou e passou raspando pelo corpo de Soli, atingindo seu braço.

Zero sentiu sua visão girando em círculos antes de cair no chão²Lembrem-se que aqui é uma memória de Soli que ela está acessando, logo, tudo o que acontece com ela é o que aconteceu com Soli..

Sangue fresco jorrava do ombro de Soli. O lugar onde seu braço deveria estar havia ficado vazio. Ele cerrou os dentes para não gritar de dor.

Várias pessoas nervosamente se reuniram em volta dele.

— Vossa Eminência!

— Pela santa benevolência, seu braço…

— Recuem! Ordenem que todos batam em retirada!

— Levem o Lorde Soli para longe deste lugar!

A memória acabou neste momento.

Zero abriu os olhos. Na frente dela estavam novamente os Prismas da Retaliação Divina e o Templo Secreto Principal, localizado no subterrâneo.

— Então foi isso que aconteceu. — Ela abaixou a cabeça e sorriu incontrolavelmente.

Agora tudo faz sentido. Isso explica como um mero lorde de Vila Fronteiriça conseguiu se tornar o novo rei do Reino de Castelo Cinza; explica como ele conseguiu derrotar a cavalaria do duque e o exército louco do 2º Príncipe várias vezes, e também explica como ele foi capaz de capturar a Cidade Real de Castelo Cinza em um único dia. Os estrondos contínuos, o cheiro de pó de neve no ar… Essas coisas provam a existência de um novo tipo de arma que é imensamente superior às armas de pó de neve Timothy.

Se Zero não tivesse “testemunhado isso pessoalmente”, ela nunca teria imaginado que as armas de pó de neve poderiam ser tão poderosas assim.

Claro, ela sabia que essas novas armas não eram um segredo da família Wimbledon, ou então Timothy e Garcia também saberiam.

Sem sombra de dúvidas, Roland havia encontrado alguma coisa em Vila Fronteiriça que o permitiu ter o poder que ele tinha hoje.

Outra possibilidade era que ele havia dominado as técnicas antigas de alguma família isolada. Desde que a Aliança foi dissolvida, alguns construtores, ferreiros, inventores e etc., que auxiliavam os cidadãos locais, fugiram para lugares distantes a fim de viverem suas vidas. Muitos deles possuíam habilidades especializadas, e portanto, seria possível que um deles tivesse inventado essas armas engenhosas.

Ou talvez, as armas foram encontradas em alguma ruína na Cordilheira Intransponível. Os registros históricos na biblioteca mencionavam que havia algumas ruínas de origens desconhecidas situadas na fronteira das Terras Selvagens. Na verdade, foi a descoberta de um labirinto subterrâneo que ocasionou a divisão da Aliança.

Mas Zero estava mais inclinada a acreditar que era a habilidade de alguma bruxa que fazia com que o pó de neve normal se tornasse extremamente poderoso.

Isso também explicaria por que Roland havia mudado sua atitude, recrutando várias bruxas e livrando-as da injustiça.

Esqueça, não adianta eu ficar especulando. Não importa qual seja a explicação, Roland Wimbledon é quem melhor sabe sobre isso. — Zero pensou.

Zero sabia que se ela devorasse Roland, ela passaria a entender tudo sobre essas armas.

— Lady… Zero? — O Guarda Chefe, que estava de pé em frente a saída da gaiola, perguntou com preocupação, pois já fazia um bom tempo que Zero não falava nada.

Zero suprimiu o entusiasmo em seu coração e esperou até que o sorriso em seu rosto desaparecesse completamente para só então sair calmamente da gaiola.

— Estou bem. Informe à agência de inteligência para convocar todas as bruxas puras que ainda estão no Reino do Alvorecer.

— Todas? — O Guarda Chefe parecia atônito. — Mas de acordo com o plano da senhora…

— A batalha decisiva está prestes a começar. — Zero explicou lentamente. — Eu quero que todas estejam aqui.

Comparado com o conhecimento de Roland, o Reino do Alvorecer era insignificante.

Uma arma que possui um poder tremendo, um alcance inacreditável e que pode ser usada por qualquer um. — Zero rapidamente conseguiu entender a importância que essas armas teriam na iminente Batalha da Vontade Divina.

Se essas armas pudessem ser produzidas em massa antes da chegada da Lua Sangrenta, as chances da Cidade Sagrada derrotar os demônios aumentariam significativamente.

Quanto a si mesma, ela conseguiria dar mais um passo em direção à vontade divina.

Vila do Vale Profundo, Região Norte do Reino de Castelo Cinza.

Após jantar, Iffy retornou ao seu quarto no castelo e imediatamente bocejou de sono. Nos últimos quinze dias, além de executar a Operação Extração de Presas, ela também não teve tempo para descansar após chegar na Vila do Vale Profundo. Ela não apenas ajudou o Primeiro Exército a proteger a base, como também teve que seguir Edith e comitiva para a Serra do Vento Congelante a fim de realocar os residentes locais. Embora estivesse sempre ocupada, ela agora sentia que sua vida finalmente tinha um real significado.

Ao observar com mais calma, ela percebeu que as bruxas não combatentes de fato possuíam suas próprias forças únicas. Ela também começou a perceber que não era tão diferente assim das pessoas normais, tirando, claro, o fato de que ela possuía poderes mágicos.

Com o passar dos dias, ela lentamente estava começando a ser aceita pelas integrantes da União das Bruxas. Há poucos dias, Maggie até mesmo disse um “olá” para ela pela primeira vez, embora Raio não tenha gostado nada disso.

Iffy sabia que ela não seria perdoada facilmente pela União das Bruxas. O que ela teria que fazer no momento era compensar por todo o mal que ela fez e demonstrar seu valor por meio de ações. Na verdade, ela não se importava se no final poderia se tornar uma irmã das outras bruxas ou não. Ela só queria se redimir…

Se redimir por sua única e melhor amiga, Annie.

Quando ela estava prestes a se deitar na cama, alguém bateu na porta.

Ao abrir a porta, ela ficou surpresa ao se deparar com a líder de Ilha Adormecida, Lady Tilly Wimbledon.

— Eu desejo falar com você sobre a Associação Presas de Sangue. — Tilly suspirou suavemente. — E também sobre Heidi Morgan e… Annie.