— Irmã, nós chegamos. — Cole Kant correu para a cabine.
— Eu já lhe disse duas vezes durante esta viagem para não me chamar de irmã. — Edith levantou a cabeça e olhou para ele — Você já se esqueceu?
— Não… — Cole estremeceu — Não, eu ainda me lembro.
— Quem sou eu?
— Minha, minha empregada, senhorita Edith.
— Quem é você?
— Pai… não, o embaixador que foi enviado por Calvin Kant, o Duque da Região Norte.
— Ótimo. Certifique-se de não cometer o mesmo erro pela terceira vez. — Edith levantou-se, esticou os membros rígidos e saiu da cabine — Chame todos os membros da delegação de emissários. Vamos para o centro da cidade.
Este era um pequeno truque que Edith gostava de jogar. Ela gostava de observar secretamente a pessoa com quem estava prestes a negociar e só se revelaria depois de ter uma compreensão aproximada do tipo de pessoa que a outra parte era. Ao fazer isso, ela poderia tomar precauções de antemão e impressionar o outro. Se a pessoa com quem ela negociava fosse um homem, ele provavelmente estaria interessado nela.
Ela nunca tentou esconder ser uma mulher, pelo contrário, ela usava isso como uma vantagem social. Como ela era chamada de Pérola da Região Norte, ela certamente precisava fazer bom uso desse título.
— E sobre… as cabeças?
— Deixe-as no navio, a menos que você queira ficar com elas no seu quarto. — Edith disse com um sorriso malicioso — Elas já devem estar podres.
Andando fora do cavalete, Edith notou que havia muitos navios e barcos no canal. Muitas pessoas estavam no cais, a maioria carregando grandes bagagens. A julgar pelas roupas, eles não pareciam escravos nem homens de negócios. Ela estava bastante curiosa sobre isso, porque, até onde ela sabia, as pessoas nas outras esferas da vida raramente viajavam na estação da primavera.
Edith, então, chamou um servo e ordenou:
— Vá perguntar aonde eles estão indo.
— O que isso tem a ver conosco? — Cole perguntou perplexo.
— Como Roland Wimbledon assumiu a cidade, ele deve ter emitido algumas novas políticas para declarar sua autoridade. O que ele declarou pode, de certo modo, refletir suas características. Então, certamente tem algo a ver conosco. — Edith sorriu — É claro que você pode pagar algumas peças de ouro para os ratos coletarem as informações, mas eu pessoalmente prefiro informações em primeira mão.
— Então é assim que funciona…
— Você precisa observar mais e pensar mais, meu querido embaixador. — Edith disse — Esta é uma oportunidade rara.
Do outro lado do portão da cidade, as ruas estavam cheias de pedestres. Havia cabanas de vendedores de ambos os lados da estrada. Edith podia ouvir gritos constantes deles vendendo uma miríade de coisas. Alguns anos atrás, ela tinha ido à Cidade Real de Castelo Cinza para participar da cerimônia de passagem para a vida adulta da quinta princesa com seu pai. Esta cidade não mudou muito. Ainda estava tão ocupada como costumava ser.
Se fosse na Cidade de Noite Eterna, nunca se poderia ter visto uma multidão assim, exceto em um feriado ou uma celebração.
De repente, um orador na rua chamou sua atenção.
— Espere um pouco. — Edith ordenou que a tropa parasse e se juntou à multidão com Cole.
— Você sabe trabalhar com madeira? Você sabe colocar tijolos? Você sabe cuidar de gado e ovelhas? Se você sabe fazer algo e sabe fazer bem, então você é o talento que Sua Majestade está procurando! Vá para a Região Oeste. Lá, Sua Majestade está construindo a nova capital do reino, a Cidade de Primavera Eterna! Seu talento trará uma recompensa enorme!
Talento? — Edith ponderou sobre isso por um tempo — Que nome interessante, no entanto, o que significa essa nova capital? Cidade de Primavera Eterna? Existe uma cidade assim na Região Oeste?
Andando um pouco para frente, ela viu outro grupo de pessoas.
— As bruxas são inocentes! Este é o discurso de arrependimento que o Sumo Sacerdote escreveu logo antes de sua execução! — Outro orador disse, balançando no alto o documento em sua mão — Elas podem ser seus parentes próximos, sua filha ou mesmo sua irmã! Se você ainda tem medo delas, mande-as para a Cidade de Primavera Eterna, porque lá elas serão bem tratadas. Se não quiser se separar delas, podem ir embora juntos! Sua Majestade prometeu que as famílias das bruxas terão uma acomodação que as protegerá do vento e da chuva. Além disso, vocês também terão um emprego decente!
— O Sumo Sacerdote foi executado? — Cole disse com os olhos arregalados.
Por outro lado, Edith franziu a testa. — Se esta é a nova política de Roland Wimbledon, a maneira como ele a promove é bastante melodramática. Ele não tem medo de provocar a ira da Igreja? Isso não será nada como a luta entre os nobres, mas uma guerra mortal contra as heresias. Não faço ideia se é uma bênção ou uma maldição servir a tal rei.
Levou uma hora para percorrer a rua que levava ao centro da cidade. Edith descobriu que na verdade a rua estava cheia de oradores que basicamente diziam repetidamente o que quer que Sua Majestade tivesse feito depois de conquistar a capital. Qualquer um que chegasse à Cidade Real de Castelo Cinza só precisaria ouvir na rua por meio dia para entender as mudanças que Sua Majestade havia feito, sem a necessidade de obter ajuda dos Ratos.
— Minha senhora, eu descobri algumas coisas. — O criado que foi enviado para perguntar sobre as notícias alcançou a equipe, ofegante — Eles estão todos indo…
— Cidade de Primavera Eterna, certo? — Edith o interrompeu.
— A senhora sabia?
— Não gaste seu tempo procurando uma estalagem. Vamos ao palácio entregar o documento do emissário. — O coração de Edith estava cheio de uma vaga sensação de mau presságio — Agora, vamos rápido!
— O quê? — Cole perguntou surpreso — Sua Majestade deixou a capital há uma semana? Sem sequer realizar uma cerimônia de inauguração?
— Foi o que a recepcionista disse. — O atendente relatou — No início, Sua Majestade deixou um homem chamado Barov Mons, seu Primeiro-Ministro, para cuidar dos assuntos do dia-a-dia, mas Barov Mons deixou a capital ontem também. Além dos criados, não há mais ninguém no palácio. A recepcionista disse que se você quiser falar com alguém da Prefeitura, ela pode passar a mensagem para você.
— Tudo bem. — Edith disse com uma voz fria.
Ela não esperava que seu palpite estivesse certo. Ela viajou sem parar por todo o caminho, mas ainda foi tarde demais para alcançar Roland.
Roland está realmente planejando mudar a capital, deixar esta esplêndida cidade para trás e reconstruir uma nova capital na Região Oeste! O que exatamente ele está pensando? Construir uma cidade em tal escala como a Cidade Real levaria pelo menos de trinta a quarenta anos! — Edith pensou.
— O que vamos fazer? — Olhando para os membros atordoados da delegação de emissários, Cole perguntou baixinho.
Depois de um longo tempo, Edith disse de mau humor:
— Vamos dar a volta e ir para a Cidade de Primavera Eterna!
— Eles foram embora de qualquer maneira. Não há necessidade de se apressar! — Cole disse com um rosto amargo — Já faz uma semana desde que eu tomei um banho. Eu sinto que os piolhos estão prestes a crescer no meu corpo.
Edith virou a cabeça e descobriu que seu colar também estava cheirando mal. Finalmente, ela suspirou.
— Vamos encontrar uma estalagem para esta noite, então. Mas partiremos amanhã de manhã.
Na manhã seguinte, quando a delegação de emissários chegou ao cais, eles descobriram que o navio deles havia sido queimado e só restava a carcaça.
— O que aconteceu? — Pela primeira vez, Edith se sentiu confusa.
— Ai, não fique brava, irmã… senhorita Edith. Devo observar mais… pensar mais… — Cole acenou com a mão e parou um transeunte — Será que a doca vai pegar fogo também? O que aconteceu?
— Hum? — O transeunte então explicou entusiasticamente — Deixa eu te contar, não faço ideia quem foi, mas alguém escondeu sorrateiramente corpos naquele navio ali. Os ratos dizem que tentaram roubar aquele navio, mas logo sentiram o cheiro podre. Você sabe, as pessoas estão muito cautelosas com essas coisas. Afinal, há meio ano, uma praga demoníaca atingiu a cidade, e a causa foi exatamente os corpos que a Igreja jogou por aí. De qualquer forma, o jeito mais seguro pra dar um jeito nisso é queimando tudo. O capitão foi preso pelos guardas para interrogatório. Vixe, você sabe de quem é esse navio?
Edith ficou surpresa, sem saber que expressão deveria usar. Depois de um longo silêncio, ela disse:
— Eu não o conheço. Obrigada pelas informações.
Parece que precisamos encontrar um novo navio. — Edith pensou — Eu acho que esta viagem para demonstrar nossa lealdade não será tão tranquila quanto eu imaginava…
Tradução: JZanin
Revisão: Kabum
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