Liberte Aquela Bruxa – Vol. 04 – Cap. 671 – Situação Turbulenta

Yorko lamentou em silêncio.

Inferno, não concordamos em nunca mais nos encontrarmos? Eu só disse “Se você precisar de alguma assistência, procure por mim na embaixada” por pura educação.

Ele olhou para Otto e, após hesitar por bastante tempo, disse:

— Mande-a entrar.

Se o verdadeiro comprador, Otto, não estivesse aqui, Yorko inventaria uma desculpa, dizendo: “O Embaixador está ocupado. Por favor, volte depois.” E então bateria a porta na cara.

Número 76 logo trouxe a menina para dentro. Realmente era a bruxa que ele havia comprado nos Mercadores Negros, Amy.

Assim que entrou, a bruxa correu para Yorko e segurou o braço dele, dizendo:

— Senhor, por favor, nos ajude. Annie e as outras estão em perigo!

— Perigo? Calma, calma. Relaxe. Sente-se primeiro. — Yorko colocou a mão no ombro dela e disse. — Diga-me o que exatamente aconteceu.

— Nós fomos… encontradas. — Amy falou, um pouco sem fôlego. — Um grande número de guardas da… equipe de patrulha… cercaram o orfanato e… bloquearam as ruas mais próximas. Eu vi mais de um pelotão de cavaleiros… Eles estão procurando bruxas de quarteirão em quarteirão. As outras bruxas ainda estão presas lá… Por favor, ajude elas!

— Há outras bruxas além de você e Annie?

— Sim, Salvadora e Espadim. Salvadora não tem as pernas, então Annie carrega ela nas costas.

Yorko abriu a boca, surpreso. Duas já era muito, e agora havia quatro!

— Como você conseguiu escapar?

— Nossa comida estava acabando, então eu tive que sair pra comprar alguma coisa. Mas assim que eu voltei… eles estavam por todo o lugar! — A voz dela ficou trêmula, quase querendo chorar.

Yorko se encontrou numa situação difícil. Embora ele fosse o Embaixador do Reino de Castelo Cinza, ele não possuía nenhum poder executivo. Portanto, seria impossível ele deter a equipe de patrulha. Além disso, a operação era comandada pelo Rei do Alvorecer, que havia se irritado bastante durante a reunião de corte. Se ele decidisse interceder pelas bruxas, provavelmente sofreria uma punição muito mais severa do que apenas ser expulso do palácio.

— Não se preocupe. Elas ficarão bem. — Número 76 consolou Amy enquanto acariciava gentilmente as costas dela. — O senhor Yorko deve saber como trazê-las sãs e salvas.

Não mesmo! — Yorko respondeu em silêncio. Se Amy tivesse aceitado a proteção de Roland antes, nada disso teria acontecido.

— Onde está o Senhor Hill? — Otto questionou.

— Não sei. Ele nunca está presente na maior parte do dia. — Yorko franziu as sobrancelhas. — Se você quiser vê-lo, terá que esperar até o anoitecer.

— Entendo… Vou procurar pelo Conde Quinn primeiro. Ele é o primeiro ministro do rei e também responsável pela equipe de patrulha. Talvez ele possa ajudá-las a escapar.

— Espere aí. Será que ele vai mesmo te ouvir?

— Não sei, mas não custa nada tentar. — Otto hesitou por um momento e continuou: — Você ainda se lembra de quando eu te falei da minha amiga, que é uma bruxa? O nome dela é Andrea Quinn. Ela é a filha do Conde Quinn.

O tempo passou lentamente. Yorko não pôde fazer nada a não ser olhar pela janela enquanto esperava.

Enquanto isso, Número 76 havia feito um trabalho incrível confortando Amy. A garota finalmente havia se acalmado e caído no sono na poltrona. Yorko, vendo isso, soube que a longa jornada havia sido bastante cansativa para essa bruxa. Mesmo assim, ainda foi bastante ingênuo da parte dela dormir num lugar como este.

No fim da tarde, Hill Fawkes voltou para a mansão do embaixador.

— Onde você estav… — Antes mesmo de terminar a frase, Yorko viu três pessoas entrarem na mansão, logo atrás de Hill.

Na verdade, eram “duas pessoas e meio”.

Uma delas era mais alta que Hill, tinha o rosto salpicado de sangue e olhos atentos. Era a mesma Annie que havia roubado Amy dos Mercadores Negros, anteriormente. Ela carregava uma garota de cabelo roxo nas costas. A garota estava amarrada a Annie por duas tiras grossas de pano, uma passando pela cintura e a outra, pelos ombros.

Segundo a descrição de Amy, essa devia ser Salvadora, que não tinha as pernas.

A pessoa que entrou por último tinha aproximadamente a mesma altura que Número 76. Ela tinha um cabelo cinza, e era bem magra e frágil. Ela caminhava como se tivesse sofrido lesões graves.

Acordada pelo som dos passos, Amy ficou surpresa por um momento antes de se jogar nos braços de Annie.

— Vocês escaparam… Graças a Deus! Aqueles cavaleiros machucaram vocês?

— Estou bem, mas Espadim… Ela consumiu muito poder mágico.

— Eu fiquei tão preocupada com vocês… — Amy não conseguiu mais suprimir suas emoções e começou a chorar.

— Annie está aqui agora. Você não precisa mais se preocupar… — Salvadora ofereceu consolo.

Yorko ficou boquiaberto.

— Como você encontrou elas?

— É uma longa história. Elas devem sair daqui o mais rápido possível. — Hill agarrou o braço do embaixador e o puxou para o quarto. — Ouça, todos vocês devem sair da Cidade do Resplendor antes que o portão da cidade feche. Nossas carruagens já estão prontas, cinco no total. As duas primeiras carregam trigo e frutas, e vocês ficarão nas outras três…

— Espere um segundo. — Yorko interrompeu. — Você acabou de dizer “todos vocês”?

— Você e as bruxas, não eu. — Hill salientou cada palavra. — Para não obstruir o plano de Sua Majestade, devemos ficar de olho no Reino do Alvorecer.

— Mas eu sou o Embaixador!

— É exatamente por isso que você precisa ir. — Num momento crítico como esse, Hill parecia mais calmo que o normal. — Olhe bem, eu não salvei essas três bruxas.

— O quê? — Yorko ficou chocado. — Não foi você?

— Meus homens sempre ficam espalhados por vários lugares. Eu soube da notícia assim que os cavaleiros do palácio receberam a ordem de cercar o orfanato onde estavam as bruxas. Infelizmente, quando eu cheguei lá, o quarteirão já estava cercado. Somente os Ratos do Submundo sabiam como entrar lá.

— Então você subornou os Ratos?

— Eu mantenho contato com os Ratos desde que cheguei no Reino do Alvorecer. Embora isso tenha custado uma boa quantia de dinheiro, eles até que me ajudam de vez em quando em tempos de crise. — Hill disse em voz baixa. — Mas as três bruxas já haviam fugido de lá quando as encontrei com a ajuda dos Ratos.

— Isso não é perfeito? Eu vou pedir para Denise ajudá-las a fugir do reino. Vamos fingir que nada aconteceu…

Hill balançou a cabeça.

— Não é tão simples assim. O Rei Appen já sabia onde era o esconderijo das bruxas. Ele tem homens o suficiente para revirar todo o quarteirão de cabeça pra baixo. Como elas escaparam? Só tem uma explicação plausível para isso: eles deixaram as bruxas fugirem de propósito. Talvez Appen só queira descobrir se há mais esconderijos de bruxas… ou talvez… ele queira descobrir quem é a pessoa que ajuda as bruxas pelos bastidores.

Yorko engoliu em seco.

— Se esse de fato for o caso, será um risco você permanecer na Cidade do Resplendor. A melhor alternativa é sair daqui o mais rápido possível. — Hill continuou. — Mas não fique desanimado, se você conseguir levar essas quatro bruxas para Sua Majestade, sua recompensa será bem maior do que cumprir seus deveres como Embaixador.

— Mas e você… — Yorko perguntou, hesitante. — E se você for pego?

— Eles até podem prender uma pessoa de renome, mas não uma pessoa sem nome que se esconde na escuridão. Aos olhos deles, eu nunca existi. — Hill sorriu. — Ninguém vai notar a ausência de um guarda na delegação, e o Lorde Otto também vai me ajudar. Você se lembra do que eu te disse antes? Eu sou apenas um reles acrobata. Da próxima vez que você e Sua Majestade visitarem o Reino do Alvorecer, provavelmente ouvirão que uma nova trupe de acrobatas surgiu de repente na próspera Cidade do Resplendor.