Na segunda vez em que o Canhão Cancioneiro disparou, Agatha cobriu as orelhas com antecedência.
Então ela viu uma cena incrível.
Ela esperava um trabalho árduo de recarga da arma, mas isso não aconteceu. O gigantesco tubo de metal parecia pesadíssimo, mas na verdade não era tão pesado assim, embora cada tiro parecesse abalar a terra. No entanto, sua base permaneceu absolutamente imóvel, como se o tubo e a base não estivessem acoplados. O tubo longo era rápido e preciso a cada disparo, tanto em termos de manuseio quanto de recarga, e esse processo nem sequer exigia controle humano. Apenas três dos quatro operadores estavam ocupados trabalhando, enquanto o comandante, Machado de Ferro, estava apenas de lado, dando ordens.
Retirar a tampa de metal, colocar aquela concha de cobre, pôr a bola de ferro e então disparar… e repetir o processo de novo e de novo. Agatha podia sentir a ira tremenda da terra a cada dez respirações. Ao mesmo tempo, ela também testemunhou o solo e a neve atirados para cima devido à explosão uma vez após a outra, pelo fogo alaranjado. O Príncipe realmente não mentiu. Após testemunhar a arma disparar em alvos mais próximos da muralha, Agatha observou que essa arma disparava o virote tão rápido que era impossível acompanhar com os olhos. A julgar pelo intervalo entre o tempo de disparo e o momento em que a terra e a neve subiam, ela podia concluir com toda a certeza que nem uma Transcendente poderia evitar esse ataque!
Agatha olhou para essa arma de tubo longo prateado e não pôde deixar de ficar boquiaberta.
Se… se Taquila fosse protegida por uma arma tão poderosa naquela época, podíamos ter conseguido manter todos os demônios longe das muralhas da cidade e, assim, evitar cair no dilema da guerra de atrito depois que as muralhas fossem destruídas. A guerra talvez não tivesse terminado da forma como terminou. — Ela pensou e depois de um bom tempo, engoliu a saliva e perguntou em voz baixa:
— Essa arma foi criada por bruxas?
De sua aparência e brilho radiante, isso não poderia ter sido feito artesanalmente por mortais com martelos de ferro.
No entanto, a resposta do Príncipe a surpreendeu demasiadamente.
— Esta é uma obra-prima criada em conjunto por bruxas e mortais. — Ele sorriu e continuou — As bruxas são responsáveis pela fundição do aço até a construção de todo o canhão, enquanto os químicos são responsáveis pelos detonadores utilizados para disparar. A propósito, as bruxas que estão engajados na fabricação são todas assistentes, como você gosta de chamar, exceto Anna.
Agatha sentiu que tudo o que aprendera foi abalado. Ela achava que tinha sido gentil e generosa o suficiente com os mortais, e por isso ela havia sido marginalizada pela Sociedade Expedicionária. No entanto, ouvindo o que o Príncipe acabou de dizer, parecia que o que ela fizera estava longe de ser suficiente, certo?
Então a Aliança esteve errada desde o início? — Agatha pensou — Será mesmo possível que os mortais podem derrotar os demônios, como o Príncipe disse?
No entanto, se a cooperação entre bruxas e mortais pudesse gerar uma força tão poderosa, então por que a primeira Batalha da Vontade Divina acabou com uma derrota vergonhosa?
Com perguntas continuamente surgindo em sua mente, Agatha começou a ficar cada vez mais e mais confusa.
Quando os canhões dispararam em sucessão, Tilly também ficou muito chocada.
Apesar de uma vez ter ficado no topo da muralha e visto os antigos canhões sendo disparados contra bestas demoníacas, as desvantagens daqueles canhões também eram bastante evidentes: difícil de mirar a uma longa distância e não poderia disparar para baixo quando os inimigos se aproximassem. Os soldados conseguiram matar muitas bestas demoníacas, mas somente em alguns pontos. Caso houvesse uma besta demoníaca híbrida voadora, seria muito provável que ela conseguisse voar pela muralha antes de ser atingida, pois a recarga também era lenta.
Além disso, para carregar e disparar rapidamente, eram necessários de cinco a dez soldados para compor uma equipe completa de artilharia. Caso alguém errasse um passo durante a operação de recarga, tudo daria errado. Um soldado era especificamente destacado para observar a fonte de combustão após a ignição. Se houvesse uma chuva forte, os antigos canhões de artilharia provavelmente seriam inúteis.
No entanto, o Canhão Cancioneiro, recentemente desenvolvido por Roland, não tinha esses tipos de problemas.
O carregamento da parte de trás do novo canhão permitia que a boca permanecesse mais baixo do que a culatra, aumentando assim a eficiência do disparo a curta distância. A taxa de disparo também foi drasticamente aumentada, e a equipe necessária para o seu manuseio foi reduzida a três pessoas. Além disso, o canhão não precisava ser aceso do lado de fora por fogo, o que significava que eles poderiam operar mesmo em condições climáticas adversas. Como seu alcance de ataque era muito maior que o de manganelas, o Canhão Cancioneiro merecia todos os elogios que Roland fez, como uma arma revolucionária.
Embora atualmente necessitasse das habilidades das bruxas para fabricar tais armas, Tilly acreditava que isso era apenas temporário, pois segundo Sylvie, no passado, apenas o Cavaleiro-chefe estava equipado com arma de fogo de repetição, mas agora cada soldado tinha uma na mão. Anna só precisava criar as peças mais complexas e equipamentos para a fabricação de tais armas. O trabalho específico de fundição e montagem poderia ser completado independentemente pelos trabalhadores.
Andrea e Cinzas estavam atônitas, não acreditando no poder de fogo do Canhão Cancioneiro. Tilly observou a expressão de ambas e agradeceu silenciosamente por ter Roland como aliado, embora ela ainda se sentisse um pouco distante para tratá-lo como irmão.
Tilly até teve a sensação de que Roland estava muito à sua frente, o que causou uma certa frustração.
Se ao menos ele pudesse ser mais franco… — Ela pensou.
Vendo os detonadores que foram produzidas com grande dificuldade sendo gastos em um piscar de olhos, Roland sentiu seu coração doer. Ainda assim, ele sabia que precisava manter uma expressão orgulhosa e não permitir que as pessoas percebessem que ele não estava querendo mais continuar os testes.
De toda forma, este não foi o teste real do novo canhão.
Para conseguir toda essa demonstração brilhante, ele pediu a Machado de Ferro para convocar uma equipe de artilheiros de elite do Batalhão de Artilharia e fizesse com que eles iniciassem a prática de tiro simulado alguns dias atrás, durante os quais também realizaram duas rodadas práticas. Isso não foi nada além de uma demonstração de força especialmente preparada para as bruxas.
Os disparos continuaram sem problemas, e o resultado também foi excelente. Pelo menos, ao observar o olhar chocado de Agatha, Roland podia dizer que a performance dos canhões havia cumprido seu papel.
No entanto, Roland sabia que o desempenho de disparo do Canhão Cancioneiro ainda estava longe de ser o ideal.
Exceto pelo calibre sagrado de 152 mm, o restante não estava nem perto do poder de fogo do original. Com a habilidade de Anna em usinagem de precisão, a purificação de elementos de Lucia e a habilidade de Sylvie para detecção de rachaduras, teoricamente, ele poderia fabricar canhões modernos em um sentido real, em vez de uma réplica que só tinha um alcance de tiro de 7 a 8 km.
Entretanto, os detalhes eram a peça-chave. Por exemplo, após os testes, Roland acreditava que o tamanho da câmara de disparo ainda era muito pequeno.
Levando em conta o peso da munição, Roland diminuiu o volume da câmara propositadamente, o que resultou em insuficiência na quantidade de detonador. Embora tivesse um longo cano de calibre 40, seu alcance de tiro ainda era insatisfatório.
Outro detalhe importante era o propelente.
Como a nitroglicerina ainda estava em processo de teste, Roland utilizou neste canhão o nitroamido. Essa também foi a razão pela qual Roland estava frustrado, pois essa pequena quantidade de nitroamido utilizada nos testes de canhão, poderia ser utilizada para fazer milhares de projéteis dos revólveres de repetição. Além disso, esses propelentes sem fumaça não foram gelatinizados, o que diminuiu ainda mais a carga de pólvora.
Finalmente, o projétil desse canhão era uma versão maior do projétil dos revólveres de repetição. Se a bala não tivesse uma espoleta na ponta para causar uma explosão de maior impacto, a letalidade dependeria simplesmente de energia cinética. Se errasse o alvo, significaria perder todo o esforço, logo, esse tipo de projétil só poderia ser utilizado para atacar inimigos lentos.
No geral, ainda havia um longo caminho a percorrer antes que eles conseguissem bombardear e cobrir cada centímetro da terra com projéteis de canhão.
No entanto, Roland sentiu que provavelmente não tinha tanto tempo quanto inicialmente esperava. Agora que ele sabia que as pedras mágicas são Pedras da Retaliação Divina transformadas por demônios, ele sentia uma inquietação que crescia a cada momento, no fundo de seu coração.
Se os demônios também tiverem suas próprias tecnologias e equipes de pesquisa científica, então o desenvolvimento deles estaria de vento em popa, certo? — Roland pensou apreensivo.
Tradução: JZanin
Revisão: Kabum
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