Liberte Aquela Bruxa – Vol. 03 – Cap. 345 – Passado (Parte 2)

Agatha estava perplexa com tamanhas mudanças. Ela estava tentando convencer a si mesma de que nada disso era verdade, mas as histórias eram bastante críveis. De certa forma, seria muito difícil para uma bruxa inventar tudo isso.

Ao se colocar no lugar das bruxas nos dias atuais, ela percebeu que não conseguia se imaginar sendo uma escrava, ou mesmo ser caçada pela inquisição para ser abatida como um animal. Mesmo as pessoas comuns com o menor status na Cidade Sagrada de Taquila eram tratadas pelas bruxas como seres humanos, não como bichos.

De repente, ela começou a se sentir extremamente exausta. Wendy logo percebeu essa mudança. trazendo rapidamente uma xícara de leite quente e tentou consolá-la:

— Oh, querida, beba este leite e você se sentirá melhor.

Embora a dama de cabelos vermelhos não tivesse o poder divino e a força daquela Guerreira Sagrada, ela deixou Agatha impressionada com seu temperamento gentil e bons modos. Agatha bebeu o leite em um só gole. Uma corrente quente e doce percorreu por seu estômago, ajudando ela a se recuperar um pouco. Agatha descansou por um longo período antes de continuar a conversa.

Embora ela não conseguisse entender por que essas bruxas estavam agindo com cautela, ela sabia que precisava ganhar a confiança delas primeiro, ou jamais seria livre.

Quanto à credibilidade do que o Príncipe e Wendy disseram, ela teria que ver com seus próprios olhos. Ela só acreditaria no desaparecimento da sagrada Aliança depois de confirmar tudo por si mesma, testemunhando que as Terras Bárbaras de agora estavam mesmo diferentes das de outrora — Como eu disse, meu nome é Agatha, e eu era uma integrante da Sociedade Expedicionária de Taquila. No trigésimo ano da Batalha da Vontade Divina, Taquila, a última Cidade Sagrada, entrou em guerra contra os demônios. A maioria das pessoas foi para o exílio, enquanto eu fui para a Floresta das Brumas, a fim de recolher as coisas que nós deixamos lá.

— Espere, vocês estavam lutando contra os demônios? — O Príncipe perguntou.

— Quem mais poderia estar lutando contra eles além de nós? — Agatha franziu a testa — Deveríamos confiar em humanos vulneráveis ​​como você?

— Você foi uma bruxa criada pela Igreja?

— Eu nunca ouvi nada sobre essa Igreja. O que é isso? — Agatha disse impaciente — Taquila… não, todas as Cidades Sagradas que abrigaram dezenas de milhares de pessoas foram criadas por bruxas. Além das bruxas, a maioria dos cidadãos eram pessoas comuns… como você. Eles eram responsáveis ​​por reproduzir e criar os filhos até que, por ventura, o poder mágico fosse despertado. E então essas jovens bruxas seriam entregues a outro departamento especial para receberem educação e treinamento. É claro que as bruxas que eram boas em lutar se juntariam à Aliança e participariam de batalhas contra demônios.

O Príncipe ponderou por um momento, depois pegou um livro e perguntou:

— Você consegue ler?

Agatha folheou o livro e foi atraída pelo conteúdo de uma só vez.

— Este é um diário de uma bruxa.

— Você também sabe escrever dessa maneira? — Uma bruxa com cabelos cinzas perguntou.

— Este sistema de escrita foi criado pela Aliança e é exclusivo para as bruxas. Desta forma, os seres humanos comuns seriam impedidos de participar de assuntos importantes do alto escalão. Mas na minha opinião, eu não achava que esse tipo de exclusão fosse uma boa ideia.

— Como vocês conseguiam impedir as pessoas comuns de ler? — A bruxa de cabelos cinzas perguntou com entusiasmo — Mesmo que as bruxas criassem outro sistema linguístico, as pessoas comuns também poderiam compreendê-lo por meio da aprendizagem, certo?

— É preciso poder mágico para conseguir ler. — Agatha explicou — Não é muito difícil. Se você for uma bruxa, eu posso ensinar a você.

— A linguagem é uma ferramenta de comunicação. — O Príncipe comentou — Quanto mais popular for, melhor. Então o que a Aliança fez foi algo estúpido. A exclusão de pessoas comuns só limitou a disponibilidade de recursos para a Aliança. Na verdade, após treinamento e educação, as pessoas comuns são capazes de realizar muitos feitos. Exceto quanto às tarefas que necessitam de poder mágico, em todas as outras coisas eles são tão bons quanto as bruxas.

Embora Agatha concordasse com ele, ela mal podia aceitar que uma pessoa comum criticasse a Aliança. Ela colaboraria com eles quando necessário, mas não podia tolerar o julgamento desse humano.

Ela começou a sentir saudades de Kaff, seu guarda. Embora ele fosse apenas um subordinado da família dela, ela achava que ele era mais gentil do que esse tal Príncipe.

— Meu nome é Pergaminho, senhorita Agatha. — Outra bruxa que parecia mais velha, de repente perguntou — Você já ouviu falar do nome Alice?

— Como você sabe esse nome? — Agatha disse boquiaberta — Vocês não disseram que todos os registros de quatrocentos anos atrás foram perdidos?

— Encontrei um livro antigo nas ruínas da floresta na fronteira leste da capital do Reino de Castelo Cinza. — Pergaminho disse — O livro em questão é esse que está em suas mãos. O nome dela está na última página escrita na linguagem das pessoas comuns.

Agatha rapidamente abriu na última página. Depois de ler o diário ilegível, ela suspirou profundamente e ficou em silêncio. A estátua de uma mulher começou a surgir na mente de Agatha. A dama erguia sua espada longa, com a luz irradiando de seu corpo e ofuscando os olhos de todos. Mas então sua imagem começou a desaparecer, passo a passo, pouco a pouco. No final, dissolveu-se totalmente na escuridão.

Depois de um longo tempo, ela disse lentamente:

— Certo, Alice era a Rainha da Cidade da Estrela Cadente, assim como uma das três chefes da Aliança. Ela era uma Extraordinária… e uma Transcendente. Mesmo entre as mais valorosas Guerreiras Sagradas da Aliança, ela também era a mais forte!

— Uma Transcendente! — As mulheres no quarto murmuraram.

— Como os registros foram perdidos, é natural que vocês não saibam sobre isso. — Agatha disse em um tom sério — As habilidades das bruxas melhoram continuamente desde o momento em que acordam o poder mágico em seus corpos até estabilizar o seu poder quando se tornam adultas. Mas isso não é o limite do crescimento. Algumas mais sortudas conseguem dar um passo além e realizar coisas inacreditáveis. Nós chamamos isso de alto despertar. Assim, não há limites para o quanto uma bruxa possa despertar, nem um limite para o quanto ela pode crescer, embora nós tenhamos métodos para observar o nível de suas habilidades e o desempenho do poder mágico em geral.

— Hum, seria uma evolução da habilidade? — O Príncipe tocou a parte de trás de sua cabeça e murmurou — Aqui na União das Bruxas, nós já temos quatro bruxas que evoluíram.

— Quatro? — Agatha quase engasgou ao ouvir isso e perguntou atônita — Quantas bruxas existem na sua União das Bruxas?

O Príncipe contou nos dedos e disse:

— Um pouco mais de dez.

— Não seja estúpido! — Agatha obviamente parecia estar furiosa por suas palavras precipitadas — Você quer dizer que quatro em cada dez passaram pelo alto despertar? Você tem noção do que a evolução significa para as bruxas? É totalmente diferente da consolidação ou das habilidades ao passar pela idade adulta. Apenas as mais sortudas podem ser promovidas, e isso com muito suor e inspiração!

O Príncipe pareceu não se importar com isso e gesticulou para Anna, de forma casual.

Que menina bonita e elegante! — Agatha disse para si mesma enquanto observava a garota caminhar em direção à cama. Ela era extraordinariamente bonita, mesmo entre todas as bruxas. Seus lindos olhos azuis pareciam um lago límpido e cristalino, onde Agatha podia ver seu próprio reflexo. Mas ela era muito jovem e talvez tivesse acabado de se tornar uma adulta. Era impossível para ela ter acumulado experiência suficiente em treinamento, meditação e inspiração. Agatha teve seu alto despertar aos 26 anos de idade. Naquela época, ela foi tratada como o gênio mais promissor da Aliança por sua conquista. Ela sabia o quão difícil era para uma bruxa ter seu alto despertar, pois ela mesma passou por isso.

Provavelmente eles acreditam que as habilidades que surgem após tornar-se uma adulta são habilidades que advém com o alto despertar. — Agatha disse para si mesmo.

De repente, uma bola de fogo laranja apareceu na palma da mão de Anna.

— É a habilidade de controlar a chama, um tipo comum das habilidades do tipo evocação, que podem ser classificadas pela temperatura máxima e a taxa de aquecimento. — Agatha comentou rapidamente — Aquelas que conseguem produzir chamas são bruxas combatentes.

Logo após Agatha dar seu parecer, a chama diminuiu e se transformou em uma chama verde fluorescente. A chama começou a mudar de cor, de verde escuro para verde claro, como se tentasse absorver todas as luzes ao redor para que ela se tornasse cada vez mais forte.

— Essa é a habilidade consolidada que ela dominou quando se tornou uma adulta. Depois você verá a habilidade mais importante. — O Príncipe disse.

Não, isso é impossível. Isso não pode ser uma habilidade consolidada. Se fosse, a chama original deveria ser, por exemplo, mais quente, maior e mais brilhante, não algo completamente diferente! — Agatha ficou boquiaberta — Além disso, como é possível que ela tenha uma habilidade mais importante?

Logo algo incrível aconteceu. A chama verde desapareceu de repente, e um cubo preto sólido emergiu da palma da mão de Anna, parecendo um pedaço de metal rígido com facetas lisas e ângulos perfeitos.