Liberte Aquela Bruxa

Liberte Aquela Bruxa – Vol. 03 – Cap. 317 – Descoberta

 

Aquela voz baixinha deixou Raio toda arrepiada e com calafrios. Automaticamente todas as histórias de horror que ela ouviu de outros exploradores apareceram em sua mente. Não importava se fosse um demônio rastejando para fora do abismo, um fantasma com rancor ou um imortal persistente, qualquer uma dessas coisas seria um pesadelo para um explorador. Um monstro como esse poderia matar uma pessoa simplesmente olhando em seus olhos, além de ser um exímio ilusionista, sempre criando ilusões para enganar e devorar as pessoas. Raio estava morrendo de medo de encontrar um monstro desses no fundo do porão.

Apesar de seu pai, Trovão, ter dito a ela que essas histórias não passavam de tolices criadas pelos piores exploradores, ela ainda estava parada no local e não conseguia se mover.

Se isso não for um monstro, então o que é? Quem poderia continuar gritando a mesma coisa, do mesmo jeito e em intervalos definidos por tanto tempo, enquanto há demônios à espreita? — Raio pensou.

De qualquer forma, suas escolhas eram difíceis. Se fosse um monstro que matou todos os demônios lá dentro, ela também seria morta. Se fosse alguém que estivesse lutando contra demônios até agora, ela não queria dar de cara com esses monstros tão fortes. Ela simplesmente não conseguia se decidir.

Depois de hesitar por alguns momentos, ela decidiu voltar para discutir com Maggie primeiro.

Ouvindo o que Raio disse sobre a situação lá dentro, Maggie levantou a cabeça, dizendo:

— A gente pode apagar a tocha e entrar. Daí eles não vão poder ver a gente.

— Ah, mas aí a gente não vai poder ver eles também.

— Eu posso me transformar em uma coruja, pruu! — O pombo encostou seu rosto no rosto de Raio e fez um carinho nela — Assim que eu me transformar, posso ver no escuro, pruu!

Os olhos de Raio brilharam e ela concordou.

— Essa é uma boa ideia, mas… esses monstros das lendas vivem na escuridão durante toda a vida. Eles devem ser capazes de caçar suas presas no escuro. Se não fosse assim, eles morreriam de fome.

— Você não disse que essas histórias foram inventadas para assustar as pessoas, pruu?

— Bem, foi meu pai quem disse. — Raio a corrigiu.

— Pra mim é tudo a mesma coisa. De qualquer forma, eu nunca ouvi falar desses monstros imortais no Reino de Castelo Cinza. Se eles fossem realmente tão poderosos, eles não deveriam existir apenas nos Fiordes. — Uma luz brilhou em Maggie e o pombo rapidamente se transformou em uma coruja, com os olhos cheios de excitação — Eu achei que você estivesse interessada nessas histórias.

— Sim, uma exploradora qualificada nunca deve perder a chance de verificar uma história. Estou aqui para superar meu medo. Se eu escapar agora, tudo o que eu fiz será em vão. — Depois de um momento de hesitação, Raio decidiu fazer o que Maggie sugeriu.

Espere um pouco… eu estou aqui para superar meu medo, mas por que Maggie está tão interessada em explorar essas ruínas? Será que... — Raio pensou e perguntou:

— Você está com tanta pressa para entrar lá por causa das cestas de ovos?

A coruja piscou os olhos redondos para a garotinha e depois virou a cabeça para o lado.

Raio chegou à entrada do porão novamente. Ela respirou fundo várias vezes e depois entrou na escuridão profunda, segurando firmemente seu revólver.

Ela se sentiu muito mais calma desta vez com Maggie em seu ombro.

O chão estava molhado, com trial d’água aqui e ali. Como este porão ficava no subsolo, toda a chuva que caía na torre fluía ali. Normalmente, um porão desses teria um sistema para drenar a água, mas depois de centenas de anos, as valas já deviam estar bloqueadas.

Maggie abriu uma asa e deu um tapinha na cabeça de Raio para sugerir que ela tomasse cuidado com as escadas à frente.

Raio andou mais devagar, segurou na borda da escada e começou a descer. A escada estava em espiral, e depois de descer uma volta, ela de repente viu alguma luz.

Era uma tênue luz amarelada que vinha de algum lugar do fundo do porão e refletia no chão. Por um momento, ela fixou os olhos no chão e descobriu que na verdade era a água do esgoto lá embaixo que brilhava. Além disso, havia muita água, cobrindo quase um terço da porta, logo, ela calculou que a água deveria bater em seu joelho.

Sem querer se aventurar na água do porão, Raio começou a voar e chegou até a porta. Ela colocou a cabeça para dentro e observou o que estava ao seu redor, descobrindo que existia uma sala incrivelmente grande do outro lado, muito mais espaçosa que o térreo da torre. Ela não viu nenhuma tocha acesa, mas algumas pedras embutidas na parede estavam emitindo essa luz amarelada, permitindo com que Raio enxergasse a sala toda.

Uma plataforma de pedra estava erguida no centro da sala com algumas criaturas em pé ao redor. Raio tinha certeza de que eram demônios, pois eram altos e possuíam uma carapaça nas costas. Eles ainda não haviam notado a menina e a coruja. Em vez disso, eles estavam segurando grandes escudos e longas lanças em suas mãos enquanto cercavam um grande cubo de pedra azul.

Neste momento, aquele pedido de ajuda estava cada vez mais claro. Soava como se uma mulher estivesse falando no ouvido delas.

— Ajude-me… ajude-me…

O que eu devo fazer? — Raio pensou, engolindo em seco.

— Nós…

— Vai lá e salve ela. — Maggie sussurrou em seu ouvido.

— O quê? — A garotinha ficou surpresa — Mas há vários demônios ali… não podemos vencê-los! — Ela sentiu sua mão suar, justamente a mão que estava segurando o revólver — Se a irmã Rouxinol estivesse aqui, estaria tudo bem, mas eu… não posso fazer isso sozinha.

— Você está falando daquelas criaturas ali? — Maggie inclinou a cabeça e continuou — Pra mim, parecem que trial todos mortos, pruu.

— O quê? Mortos?

Antes de Raio terminar de falar, Maggie já havia voado, deixando a garotinha parada no mesmo lugar. Raio ficou tão assustada que até esqueceu de estender o braço para tentar parar Maggie. Quando finalmente conseguiu voltar a si, ela percebeu que Maggie já estava quase chegando em um dos demônios. Raio cerrou os dentes e voou atrás da coruja, enquanto segurava firmemente sua arma, tentando se lembrar de todas as lições de tiro que Rouxinol lhe havia ensinado.

Surpreendentemente, assim que a coruja deu uma leve bicada no demônio, Raio viu a criatura desmoronar, como se fosse uma rocha castigada pelo tempo.

— O que aconteceu? — Raio pousou ao lado de Maggie e olhou surpresa para os outros três demônios.

De pé na plataforma, ela podia ver claramente as rachaduras sobre todos os seus corpos, além de teias de aranha quebradas entre as pernas deles. Atrás de suas máscaras horripilantes, ela viu que seus olhos e peles estavam pálidos e cinzentos, não mostrando nenhum sinal de vida. Agora ela finalmente entendeu porque Maggie havia notado isso. Mesmo na luz fraca, a visão de uma coruja é muito melhor que a de um humano.

Quando ela estava prestes a relaxar, outra coisa de repente chamou sua atenção.

Agora que ela estava na plataforma de pedra, ela percebeu que o cubo não era feito de pedra azul. Olhando mais de perto, Raio percebeu que o cubo era feito de gelo transparente, como cristal, e dentro dele havia uma mulher com roupas muito bonitas. Ela estava de olhos fechados e com as duas mãos abertas. Seus longos cabelos azuis estavam para trás, como se tivessem sido soprados pelo vento.

— Ela é uma bruxa? — Maggie voou até o topo do cubo de cristal e bicou fortemente, emitindo sons altos e nítidos. No entanto, ela nem conseguiu riscar o cubo.

— Eu não sei. — Raio murmurou.

Ao colocar a mão no cubo, ela sentiu um frio que parecia penetrar em sua própria alma. Era óbvio que essa mulher esteve nesse “caixão de gelo”, coberto de uma espessa camada de poeira, por muito tempo, mas parecia que ainda estava viva. Suas sobrancelhas estavam franzidas, como se estivesse ansiosa e preocupada.

— Ajude-me…

Mais uma vez, Raio ouviu a voz familiar vindo de dentro do grande cubo de gelo.

 


 

Tradução: JZanin

Revisão: Kabum

 

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