De pé no topo de uma encosta, Mayne olhou para a Cidade Real de Coração de Lobo, a capital do reino.
Em apenas três meses, a cidade mudou completamente. Na última vez que ele tinha vindo para cá, a muralha da cidade, construída com pedras tão brancas quanto a neve do Reino de Inverno Eterno, era como dentes brancos sem manchas de um lobo recém-nascido, mas agora a parede, manchada de sangue e danificada, tinha um tom marrom-avermelhado e parecia bastante acabada. Partes quebradas foram remendadas às pressas com pedras negras locais ou até mesmo com pedaços de madeira.
Olhando de longe, essa muralha áspera e suja era como presas terríveis de um lobo velho que havia roído muitos animais e se tornado um verdadeiro predador.
As forças da Igreja acamparam a cerca de 2.500 m da capital do Reino de Coração de Lobo. Desta vez, a Igreja enviou menos soldados, pois eles ainda precisavam proteger a antiga Cidade Sagrada, caso a Rainha de Água Clara a atacasse furtivamente. Por isso, a Igreja enviou 800 soldados do Exército da Punição Divina, 5.000 soldados do Exército do Julgamento e mais 5.000 homens para auxiliar na logística e transporte durante o ataque à capital do Reino de Coração de Lobo. Mesmo assim, Mayne estava totalmente confiante em capturar essa cidade, pois ele tinha suas armas secretas e as bruxas purificadas.
— Vossa Eminência, as Bestas de Cerco estão prontas para atacar. — Um padre correu para o topo da encosta e relatou a Mayne.
— E as bruxas purificadas?
— Estão prontas também.
Mayne pegou uma luneta e observou o campo de batalha. Duas Bestas de Cerco estavam postas a 1.000 metros da cidade, escondidas bem debaixo de um abrigo de palha e cercadas por tábuas. Era difícil para qualquer um enxergar de longe aquelas armas de aparência assustadora sem o auxílio de uma luneta.
Em frente às Bestas de Cerco, estava o Exército da Punição Divina, formado por crentes fervorosos que foram convertidos em soldados pela Igreja. Eles permaneciam imóveis, mesmo no vento de outono. Todos os inimigos que haviam lutado contra eles tinham sido subjugados pelo seu poder. Como eles eram incapazes de agir de forma independente em batalhas, eles eram controlados por seus comandantes que se misturavam entre eles sob o disfarce idêntico aos mesmos soldados. Quanto a esses comandantes, somente o papa e os três arcebispos sabiam quem de fato eram.
— Ótimo. Agora você pode voltar à sua posição e esperar pelo sinal para atacar. — Mayne assentiu com satisfação.
— Sim, Vossa Eminência.
Agora era hora de convocar as bruxas purificadas do Sumo Pontífice.
Ao pensar nelas, Mayne não podia deixar de franzir as sobrancelhas, pois eram totalmente diferentes das bruxas purificadas pelos arcebispos. Elas se comportavam como queriam, mesmo quando estavam no exército. Se suas próprias bruxas purificadas agissem assim, ele as puniria com chicotadas, mas ele não podia tratar essas duas bruxas purificadas assim, pois elas ocupavam posições equivalentes a ele na Igreja. Afinal de contas, o Sumo Pontífice só havia ordenado que o ajudassem nessa batalha, e não a seguir suas ordens.
Não importa como elas se comportassem, ele ainda precisava da ajuda delas para eliminar os inimigos.
Ele desceu a encosta e atravessou o batalhão até a tenda das bruxas. Assim como ele esperava, não encontrou ninguém na tenda quando levantou a cortina.
— Onde Zero e Isabella foram? — Ele perguntou a um soldado do Exército do Julgamento que estava na porta.
— As duas senhoras estão interrogando os prisioneiros e devem estar no lado leste do batalhão. Elas estão em um espaço aberto e plano. O senhor encontrará facilmente assim que chegar no local. O senhor quer que as chame? — O guarda disse.
Se eu quisesse que você fosse, primeiramente eu nem viria aqui, e sim mandaria meus soldados no lugar. E de novo, jogando com os cativos… elas não se cansaram disso ainda? — Mayne reclamou interiormente e disse ao guarda com um rosto sombrio — Não precisa sair de seu posto, eu vou lá dar uma olhada.
Após andar por um tempo, Mayne encontrou o local indicado pelo guarda.
Cercadas por muitos soldados do Exército do Julgamento, estavam duas mulheres. Na frente delas havia três cativos cujas mãos estavam amarradas às costas. Uma mulher, inclinada para a frente, estava sussurrando algo para os cativos com uma expressão suave, mas decidida. Seus cabelos brancos e as bordas de seu manto branco dançavam ao vento, fazendo-a parecer uma elfa. A outra mulher também tinha um ótimo corpo, cabelo loiro ondulado e uma voz doce. De vez em quando podia-se ouvir o seu riso suave.
Mayne disse para o chefe de justiça ao seu lado:
— Ordene a todos os guerreiros do Exército do Julgamento para saírem deste lugar imediatamente, incluindo os responsáveis pelos cativos.
— Sim, Vossa Eminência.
A bruxa loira percebeu o que estava ocorrendo, então disse alguma coisa para a outra bruxa e caminhou rapidamente em direção a Mayne.
— Vossa Eminência. — Ela inclinou-se ligeiramente para Mayne e continuou — Por que você está afastando o público? A provação está prestes a começar.
Ele acenou de volta para cumprimentá-la e disse:
— Lady Isabella, o ataque final à Cidade Real de Coração de Lobo está prestes a começar também. Neste momento, não há nenhum motivo para interrogar cativos. Além disso, eles são apenas batedores que pegamos ao longo do caminho e não podem oferecer nenhuma informação valiosa. Se puderem, espero que vocês duas cheguem imediatamente à linha de frente.
— Relaxe, agora que estamos aqui, é impossível para qualquer inimigo importante escapar. Quanto à provação… bem, eu não posso pará-la. Aliás, já que não posso interromper, que tal você assistir conosco? Não vai demorar muito tempo, de qualquer maneira. — Isabella disse enquanto estendia as mãos.
— A mesma de antes?
— Bem, as regras são basicamente as mesmas. — Ela sorriu — Zero adora esse tipo de jogo.
— Então, comece imediatamente. — Mayne tentou ao máximo suprimir sua raiva, fingindo um rosto inexpressivo.
Porra! Ainda falam que isso é uma provação? — Mesmo com uma expressão séria, Mayne estava amaldiçoando em pensamento — Está mais para jogo de gato e rato.
Neste jogo, um cativo teria que conseguir escapar de uma área predefinida por Zero ou derrotá-la. Somente assim ele teria uma pequena chance de sobreviver. Essas ações pareciam extremamente difíceis de serem realizadas, mas a isca era boa o suficiente para deixar os cativos com uma pitada de esperança. Mas na verdade, eles jamais conseguiriam escapar.
A provação não parecia nem de longe algo justo, tampouco as ações da bruxa purificada. Por isso que Mayne havia ordenado a todos os guerreiros para que saíssem, pois ele temia que a fé deles fosse abalada, caso assistissem a tal espetáculo.
Mayne estava decidido que, quando se tornasse o Papa, ele deveria ensinar estritamente essas bruxas a obedecerem às ordens.
Neste momento, Zero já havia desatado as cordas que amarravam os cativos. Ela esticou os braços para mostrar que não carregava nenhuma arma, mas os cativos tinham uma espada longa, um machete e uma besta leve colocadas na frente deles.
— Vamos, lutem ou fujam. Sigam seu próprio coração. Somente Deus pode decidir. — Zero disse com um rosto calmo e um tom gentil.
De repente, um dos cativos cerrou os dentes e pegou a besta para atirar na bruxa purificada à queima roupa. Logo depois disso, ele pegou a espada para atacá-la, planejando não dar tempo para ela reagir. Ele havia feito todas essas ações em apenas um movimento suave, o que indicava que ele não era apenas um miliciano comum.
No entanto, sua espada não atingiu a bruxa purificada. Zero evitou facilmente o ataque súbito, movendo-se rapidamente dois passos para trás. Ao levantar a cabeça, ele ficou boquiaberto ao ver a bruxa segurando a flecha entre os lábios, como se fosse um galho comum.
Zero cuspiu a flecha e disse com um sorriso:
— Vá em frente, por favor.
Os olhos do cativo se arregalaram de susto. Vendo suas mãos trêmulas, Mayne tinha certeza de que a maior parte da coragem que ele acabara de tirar desaparecera agora e a coragem restante, se houvesse, bastaria apenas para o seu último ataque.
Como o arcebispo esperava, após um momento de hesitação, o cativo deu vazão aos seus sentimentos em um rugido alto e correu em direção à bruxa desarmada, com uma espada na mão.
Este último golpe do cativo não demonstrou nenhuma habilidade. Mayne já sabia o que iria acontecer a seguir, mesmo com os olhos fechados. Tendo passado apenas meio mês com Zero, ele ficou impressionado com sua incrível habilidade. Ela não era uma bruxa Extraordinária, mas poderia competir com as Extraordinárias em termos de habilidades de combate. Seu ponto forte não era o poder ou resiliência, mas sim sua técnica e habilidade incomparáveis.
Mesmo sem poder mágico, ela ainda seria uma excelente soldada.
Zero se inclinou para o lado para evitar a espada do cativo e, em seguida, aproveitou a chance para agarrar a cabeça dele com suas mãos delgadas. Fazendo uso de seu impulso para frente, ela torceu ligeiramente a cabeça dele, e o cativo caiu de repente, parecendo que todos os seus ossos foram removidos.
Zero se virou para olhar os dois cativos restantes e disse:
— Agora é a vez de vocês.
Tradução: JZanin
Revisão: Kabum
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