Liberte Aquela Bruxa – Vol. 03 – Cap. 296 – Demônios

 

A situação se inverteu instantaneamente quando Maggie levou Rouxinol de volta para a batalha.

O demônio rugiu com raiva e foi forçado a desistir de sua perseguição a Raio. Ele forçou sua montaria a virar e mergulhou direto em direção a Maggie. O braço do demônio que ainda não havia se recuperado totalmente levantou outra lança, então, inchou-se imediatamente, muito mais rápido que antes, e isso fez com que sua pele se rasgasse e sangue jorrasse.

Mesmo parecendo ter colocado toda a sua força nesse ataque, a lança arremessada não tinha tanta força como a anterior, de modo que Rouxinol era capaz de prever sua trajetória.

— Maggie! — Ela deu um tapinha na fera gigante, entrou em sua névoa e deu um passo à frente.

— Aoow! Pruu! — O corpo de Maggie rapidamente se transformou em um pombo mais uma vez.

O alvo gigantesco de repente desapareceu, a lança passou por ambas fazendo um zunido e logo atingiu o mar. No momento seguinte, Rouxinol saiu da névoa e apareceu nas costas de Maggie, que estava em forma de besta demoníaca híbrida mais uma vez. Todo o processo de esquiva ocorreu sem problemas.

O demônio estava se contorcendo de dor, e seu braço direito ficou com a finura de um polegar, despedaçando-se centímetro por centímetro, como um galho seco. No entanto, sua mão esquerda ainda estava apertando as rédeas firmemente e manipulando a montaria para ir de encontro com suas inimigas, como se o demônio quisesse se matar, mas levar as bruxas junto consigo.

Maggie obviamente não agiria conforme o demônio desejava. De repente, ela desceu e voou por baixo do inimigo quando eles estavam prestes a colidir. Quando Maggie restaurou seu equilíbrio, Rouxinol já tinha desaparecido de suas costas. Ela apareceu como um fantasma atrás do demônio.

O inimigo estava lutando para desamarrar a corda que o amarrava ao corpo da besta, mas Rouxinol definitivamente não lhe daria essa chance. Ela puxou o gatilho com toda a sua ira e o barulho seco da explosão da pólvora ressoou por todo o ambiente.

O tiro desta vez quebrou a carapaça nas costas do inimigo e perfurou seu peito, fazendo-o rugir alto. O demônio não conseguiu se manter na besta demoníaca híbrida e caiu, deixando um rastro de sangue no ar.

Por fim, a besta demoníaca, que agora estava sem mestre, foi morta a tiros por Raio, caindo no mar e desaparecendo por completo.

O Olho Celeste lentamente posou na praia.

— O que devemos fazer agora? — Rouxinol olhou ansiosamente para Anna, pois, provavelmente, ela foi a única que conseguiu permanecer calma durante todo o caos.

— Não podemos demorar. Mesmo se começássemos a voar agora e não parássemos, o balão de ar quente só chegaria na vila à meia-noite. — Anna disse lentamente — Raio, Maggie, vocês precisam levar o Príncipe Roland imediatamente.

— Não tem problema, aoow! — A besta disse, abrindo sua boca gigantesca.

— Eu também… não tenho problema. Deixa com a gente. — Raio estava cabisbaixa, provavelmente pensando em sua habilidade como uma exploradora. O fato de ela ter ficado com tanto medo de lutar com o inimigo, acabou causando problemas para todos.

Rouxinol deu um peteleco na cabeça dela e disse:

— Ninguém nasce sabendo como lutar. Isso não é culpa sua.

As bruxas amarraram o Príncipe inconsciente nas costas de Maggie, e o braço decepado foi carregado por Raio. Ambas rapidamente voaram para o céu em direção a Vila Fronteiriça, seguindo o Rio Vermelho.

— E nós? — Wendy perguntou — Estou quase sem poder mágico.

— Vamos voar o mais rápido possível, pois nós temos que estar o mais longe possível do inimigo. Eles podem enviar outro grupo de demônios para nos procurar, e aqui ainda estamos muito próximas da montanha. Precisamos sair daqui urgentemente. — Anna disse — Encontraremos um lugar escondido para acampar depois que chegarmos a um local seguro.

Sua decisão foi unanimemente aceita pelas outras bruxas.

O Olho Celeste se levantou novamente, mas agora só restavam apenas cinco pessoas no cesto.

— Como o demônio nos encontrou? — Soraya perguntou perplexa — O balão está pintado com uma camuflagem idêntica ao céu, então, seria muito difícil discernir um objeto com essa camuflagem a uma altura de mais de dois mil metros. Até mesmo com um telescópio seria difícil.

— Foi um demônio gigantesco. — Sylvie disse, franzindo a testa — Ele estava agachado no topo de uma torre negra e sua cabeça era maior que o corpo, coberta de incontáveis ​​olhos. Assim que eu olhei para ele… todos os olhos se voltaram para mim, foi então que centenas de demônios saíram do chão, como se a área toda estivesse fervendo.

— Existe um monstro assim? Céus! — Soraya ofegou.

— Não só isso, as duas montarias voadoras também eram muito estranhas. — Anna disse, ponderando sobre o que havia ocorrido — O sangue que jorrava das bestas demoníacas híbridas não era preto como a tinta, mas azul escuro, e era completamente diferente do sangue das bestas demoníacas híbridas que encontramos nos Meses dos Demônios.

— Sim, eles se parecem mais com demônios. — Soraya acrescentou — Eu vi que o primeiro demônio que Rouxinol acertou também tinha sangue azul.

— Então não são bestas demoníacas híbridas? — Sylvie perguntou.

— Eu não sei, mas foi muito oportuno Maggie ter conseguido se transformar em um deles. — Wendy disse emocionada — Se ela não tivesse salvado Rouxinol, provavelmente estaríamos perdidas.

— Ela evoluiu. — Rouxinol, que estava quieta, disse de repente — Quando eu estava dentro da névoa, vi que o poder mágico em seu corpo não é mais um ciclone como uma névoa em rotação. Agora tem uma forma única e sólida, como um par de asas brancas.

Raio estava abraçando o braço de Sua Alteza, sentindo-se extremamente culpada.

O demônio só tem aquela aparência maligna, mas quando está no céu, ele não é capaz de agir rapidamente, porque o seu corpo é muito grande. — Ela pensou — Se eu tivesse saído do cesto e bloqueado o ataque no mesmo instante, ele não teria ferido Sua Alteza.

Ficar na frente de um companheiro para protegê-lo era uma responsabilidade obrigatória dos exploradores. Trovão seria o primeiro, sempre tomando a liderança na frente de um grupo de marujos ao encontrar perigos durante as explorações marítimas nos Fiordes. Ele nunca iria recuar, seja contra piratas ou contra os monstros do mar profundo.

Pela primeira vez, Raio percebeu que ainda havia um longo caminho para se tornar uma exploradora de excelência. No entanto, ela lembrou que seu pai também mencionou que o medo poderia ser sobrepujado por meio da compreensão e familiaridade, enquanto as habilidades poderiam ser dominadas com treinamento e repetição.

Ela decidiu que iria implorar a Sua Alteza para que lhe desse um revólver especial assim que ele acordasse, depois, ela iria pedir a Rouxinol para treiná-la, ensinando-a a lutar e atirar com mais eficácia.

— Como está Sua Alteza, aoow? — Maggie murmurou com sua voz rouca e arrastada, como um vento que soprava em uma caverna de pedra, bastante diferente de quando estava transformada em um pombo — Estou sentindo que o corpo dele está ficando mais frio, aoow!

Raio cerrou os punhos, virou-se e voou para as costas de Maggie.

Roland parecia totalmente sem vida, com os olhos fechados, lábios pálidos e cabelos grisalhos desarrumados. O sangue em suas roupas já estava seco, e as feridas pretas queimadas estavam horríveis. Ela gentilmente colocou a mão em seu pescoço e sentiu uma fraca pulsação, o que significava que o Príncipe ainda estava vivo. Entretanto, as pontas de seus dedos estavam assustadoramente frias.

— Você ainda tem muito poder mágico? — Raio pensou e calculou rapidamente a distância que ainda faltava — Precisamos voar a toda velocidade!

— Tudo bem, aoow!

Quando as duas chegaram em Vila Fronteiriça, a garotinha já estava zonza. Voar em alta velocidade consumia rapidamente o seu poder mágico, além de ser um grande fardo para o seu corpo. Ela cerrou os dentes e usou seu último esforço para pousar diretamente no pátio do castelo, e gritou para os guardas, que logo correram assim que ouviram o barulho.

— Rápido! Tragam a senhorita Nana. Sua Alteza, o Príncipe Roland está ferido!