Liberte Aquela Bruxa

Liberte Aquela Bruxa – Vol. 03 – Cap. 232 – Ilhas Sombrias

 

Em um barco navegando no meio do mar, um homem alto, robusto e de aparência austera, de repente, disse:

— Os Fiordes possuem inúmeras ilhas e, até agora, ninguém jamais atravessou a fronteira delas. Quanto mais para o leste você navegar, mais imprevisível o clima se torna, e o mesmo se aplica às ilhas. Eu realmente não sei o quão estranhas estas ilhas podem ser.

— Até mesmo você nunca chegou ao fim das ilhas? — Tilly perguntou com curiosidade — Eles dizem que você é o explorador mais renomado dos Fiordes, além de você, há apenas alguns que se atrevem a atravessar a Ilha da Chama Ardente e continuar navegando para o leste.

— Ahahaha. — O homem começou a gargalhar — Seu louvor é um pouco exagerado. Na verdade, todos os anos há pessoas corajosas dos Fiordes que navegam para o leste em busca de novas terras, mas é difícil para elas encontrarem algo novo. Com os furacões ferozes e o nevoeiro que aparece de repente, eventualmente torna-se impossível para os navios se moverem mesmo um passo adiante.

Então esse é o Trovão. —  Cinzas lembrou — O primeiro explorador a descobrir as Ilhas Sombrias. Mas há dois anos, no meio dos perigos do mar, seu paradeiro tornou-se desconhecido, e agora muitas pessoas pensam que ele já morreu.

Cinzas jamais pensou que ele estaria na Ilha Adormecida, e ainda mais que a 5ª Princesa faria um acordo com ele, visando abrir novas rotas marítimas para a Ilha, além de desenhar um mapa do mar e procurar novas ruínas, enquanto Tilly enviaria bruxas para apoiar suas explorações. Quanto ao motivo do seu desaparecimento nos últimos dois anos, ela nunca o ouviu mencionar, e Tilly nunca havia parado para falar sobre isso com ela. Mas ela tinha a sensação de que Sua Majestade conhecia toda a história. Caso contrário, eles nunca teriam feito um acordo deste nível. Ao pensar em tudo isso, Cinzas ficou um pouco triste, pois ela estava sendo deixada no escuro.

— Assim como o furacão de ontem? — Cinzas perguntou.

— Exatamente. Eles aparecem em um piscar de olhos e desaparecem da mesma forma. — Trovão sacudiu o cachimbo e jogou as cinzas no mar, depois colocou um pouco de ervas no fornilho antes de acendê-lo mais uma vez — Se não fosse pela habilidade mágica de sua bruxa…

— O nome dela é Molly. — Cinzas o lembrou com certa rispidez.

— Ah, é isso mesmo, que memória a minha. — Trovão não parecia se importar com ela, ele apenas coçou a cabeça e começou a rir — Se não fosse por Molly, receio que o navio tivesse virado. Sua habilidade é simplesmente fantástica. É por isso que eu penso que as bruxas são as melhores para tornarem-se exploradoras.

— Creio que já exista uma. — Tilly sorriu — Uma bruxa que carrega o nome de um certo explorador famoso.

— Bem… — Trovão tragou o cachimbo, e depois exalou um longo fio de fumaça — Espero que sim.

Olha aí de novo. — Cinzas franziu a testa — Estão falando de coisas que eu não faço ideia.

Cinzas saiu da proa sem dizer nada e foi para a popa do navio tentar acalmar sua frustração. Sua Majestade parecia querer explorar as ruínas com urgência, pois assim que elas eliminaram as últimas igrejas dos Fiordes, Tilly imediatamente preparou todos os arranjos para sair ao mar. E para sua surpresa, Sua Majestade também disse que queria entrar pessoalmente nas ruínas. Independentemente do quanto Cinzas tentasse desencorajá-la, era inútil.

Chegando na popa, Cinzas viu Molly sentada, controlando seu servo mágico que, por sua vez, segurava uma vara de pescar, aprendendo a pescar com os marinheiros. No início, os marinheiros queriam se opor a ter bruxas a bordo, mas com o furacão de ontem, a atitude deles virou do avesso. Nesse dia, Molly convocou seu servo mágico e ordenou que ele se expandisse rapidamente, envolvendo a parte do meio do navio, tornando impossível para qualquer coisa o atingir, seja chuva ou vento. Embora o navio tenha sido atingido por grandes ondas, uma após a outra, fazendo-o subir e descer, o casco ainda permaneceu estável. E então hoje, cada um dos marinheiros tratava as bruxas como seus amuletos da sorte, chegando até mesmo a dizer que, no futuro, teriam muito medo de ir ao mar se uma bruxa não os acompanhasse.

— Irmã Cinzas, olhe o peixão que peguei! — Molly apontou para o barril atrás dela, enquanto colocava um peixe do mar sem escamas e que tinha uma boca longa, afiada e pontuda, parecendo completamente diferente dos peixes de rio que Cinzas conhecia de Castelo Cinza.

— Que peixe é esse?

— Peixe-espada, eles gostam de seguir e viajar junto com os navios, mas às vezes atacam o casco com a boca e acabam furando a madeira. — Um marinheiro respondeu — Mas eles também são muito deliciosos, especialmente a carne da barriga. Depois de pôr na boca, a carne derrete como gelo em sua língua. — Ele lambeu os lábios — Esta noite, todos poderão desfrutar dessa iguaria.

— Parece que eu peguei outro peixe! — Molly gritou.

Cinzas simplesmente viu uma sombra negra movendo-se sob a superfície da água azul-escura, mas, juntamente com o movimento de puxar a vara do servo mágico, a sombra tornou-se maior e maior, atravessando a superfície da água rapidamente.

— Este é… — O marinheiro arregalou os olhos e gritou — Não pegue ele, solte a vara! Rápido!

Ele mal tinha terminado de falar, quando uma criatura monstruosa saltou da água, com sua boca larga aberta, indo na direção de Molly para engoli-la inteira.

Molly estava prestes a ser engolida, mas Cinzas conseguiu ser ainda mais rápida que o monstro. Ela pegou Molly com a mão esquerda enquanto tirava sua enorme espada com a outra mão, golpeando-o diretamente na cabeça.

O monstro emitiu um grito dolorido quando foi jogado direto para as tábuas do navio. Então, rapidamente começou a mover seu corpo de aproximadamente seis pés (2 metros) de comprimento, tentando fugir de volta para a água. No entanto, Cinzas nunca deixaria uma oportunidade dessas passar. Ela deixou Molly no chão, agarrou sua espada com o gume ao contrário e fincou-a no monstro.

Por um momento, ele continuou a se contorcer, cuspindo uma série de bolhas brancas, mas logo ficou imóvel.

— O que é isso? — Neste momento, Cinzas finalmente teve a oportunidade de examinar cuidadosamente o monstro diante de seus olhos. Parecia um peixe, mas também tinha pernas curtas de caranguejo. A boca aberta era quase tão grande quanto ela mesma e estava cheia de fileiras de dentes afiados. Mas a coisa mais nojenta era o par de braços peludos que cresciam do lado de suas bocas, que até mesmo se dividiam em cinco dedos, lembrando vagamente uma mão humana.

— Esse é um fantasma do mar mutante! — O marinheiro, ainda chocado, respondeu com a mão no peito — Eles geralmente se disfarçam como peixes, fisgando a isca e depois mordendo o pescador, levando-o consigo para o fundo do mar. Eu também ouvi que só depois de comer um humano, é que eles são capazes de ter essas mãos aí!

— Essa última parte da história é apenas um boato. — Alguém disse por trás da tripulação.

Cinzas virou-se e viu que Tilly e Trovão estavam vindo.

— Capitão! — O marinheiro gritou, engoliu em seco e abriu caminho para Trovão passar.

— Quanto mais extraordinário for um rumor, mais impreciso ele é. — Trovão veio e chutou uma das pernas do monstro — Na verdade, esse monstro aqui tem outro nome. Um nome bem familiar pra vocês, eu diria.

— Qual? — Cinzas perguntou.

— Besta demoníaca. — Ele afirmou devagar.

— Sir Trovão, névoa pela frente! — O observador de repente gritou.

— Todos vocês, animem-se! — Trovão ordenou em voz alta — Soltem a vela, pois estamos entrando nas águas das Ilhas Sombrias.

Cinzas notou que, há alguns momentos atrás, o céu ensolarado e sem nuvens de repente se tornou sombrio, transformando o mar azul em uma sombra escura, como se uma massa de tinta estivesse sendo espalhada sobre a superfície da água. Todo o navio logo foi cercado por um denso nevoeiro. Estando de pé na popa do Navio, Cinzas nem conseguia ver a ponta da proa onde estava.

— O que está acontecendo? — Tilly não pôde deixar de agarrar o braço de Cinzas.

— É a prova de que não estamos navegando na direção errada. — Trovão afirmou — Quando as Ilhas Sombrias emergem, o mar cria uma neblina grossa. Claro, a maneira correta de dizer isso seria que a maré está baixa, com a água em torno de cento e dez pés (35 metros) abaixo do normal. O enorme declínio produzirá uma grande quantidade de névoa e recifes começarão a aparecer em todos os lugares. Então, se formos um pouco descuidados, nós afundaremos. Agora, vou precisar da ajuda de vocês para garantir que o navio não bata em alguma coisa e afunde.

Depois de suas palavras, todas as pessoas foram em direção à proa, e assim como aconteceu durante o furacão, o servo mágico de Molly se expandiu o tanto quanto pôde, cobrindo toda a proa e estendendo uma parte de seu corpo para dentro da água. Dessa forma, na iminência de uma colisão com os recifes, seu servo mágico seria o primeiro a perceber.

— Se você não tivesse uma bruxa, o que você faria? — Cinzas perguntou.

— Bem, só me restaria confiar em nossa perseverança e sorte. — Trovão suspirou — A frota enviaria um barco pequeno à frente como um patrulheiro, e depois de receber a confirmação de que o caminho é seguro, seguiríamos adiante. Mas esta área do mar não é pacífica. Como você já viu antes, quanto mais perto você está das Ilhas Sombrias, maior o perigo. Há o nevoeiro, os recifes e as bestas demoníacas… e é por isso que, mesmo havendo muitos aventureiros que chegam neste local, poucos conseguem encontrar a entrada das ruínas.

Depois de navegar dessa maneira por cerca de duas horas, o nevoeiro começou a desaparecer gradualmente, permitindo que Cinzas enxergasse cada vez mais as ilhas vizinhas. Não havia plantas no local, somente uma espécie de musgo verde ou alga, e também diversos crustáceos escalando as rochas.

— Todas estas ilhas afundam depois?

— Sim, exatamente como em Ilha Adormecida, só que o intervalo entre a vazante e a maré cheia é muito curto, podendo acontecer duas vezes ao mês. — Trovão respondeu — Além disso, a velocidade com que a maré sobe e desce é incrivelmente rápida, como se houvesse um enorme buraco no fundo do mar que engolisse toda a água circundante. Eu acredito que a razão pela qual o nível do mar nos Fiordes muda tanto, está relacionada a este lugar. Se tivermos sorte, podemos até mesmo presenciar como a ilha principal emergirá do fundo do oceano.

 


 

Tradução: JZanin

Revisão: Kabum

 

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