— Bem-vinda a União das Bruxas! — No salão, bruxas de diferentes idades fizeram uma recepção calorosa com um delicioso banquete.
— Obrigada, obrigada. — Lucia sentiu seus olhos marejarem novamente. Ela respirou fundo e tentou conter as lágrimas. Então, ela ergueu a taça e bebeu um bocado de vinho. Não era amargo como ela se lembrava, mas um pouco doce.
Depois de conhecer o Lorde, com a assistência de Rouxinol, Lucia conseguiu tomar um banho e também dar um banho em Ling, que ainda permanecia inconsciente. Depois, elas até mesmo vestiram um conjunto de roupas limpas. Colocando sua irmã na cama, Lucia seguiu Rouxinol de volta ao salão do castelo. Ali, as bruxas prepararam uma festa de boas-vindas para ela.
Esta foi a primeira vez que Lucia viu tantas bruxas juntas, dispersando imediatamente o último vestígio de dúvidas no fundo do seu coração. No caso de as bruxas terem sido presas ou forçadas a servir o Lorde, elas nunca seriam capazes de sorrir de forma tão leve e brilhante.
Lembrando-se do que Rouxinol havia dito “Aqui é o lar das bruxas”, de repente Lucia entendeu o que ela queria dizer. Ao se lembrar das bruxas que foram expostas e posteriormente caçadas pela Igreja, Lucia sabia que uma bruxa nunca iria ter uma vida fácil. Assim que os bandidos atacaram Valência, ela passou um mês de dor, sofrimento e uma vida de constantes fugas. Mas agora, com a calorosa recepção da União, ela finalmente poderia relaxar um pouco, dando descanso para a sua mente que esteve sempre em alerta.
Ao mesmo tempo, ela também percebeu como um banquete com as bruxas poderia se tornar algo mágico. Usando sua Chama-negra, Anna assou a carne de cabra perfeitamente em um instante, enquanto a bacia com a carne continuava ilesa.
Uma menina com cabelo loiro curto estava voando, segurando um jarro de vinho e distribuindo para todas, enquanto uma bruxa com um olhar exótico cantava ao mesmo tempo em que simulava uma ampla gama de instrumentos musicais, que eventualmente convergiam para uma linda música.
Com Rouxinol apresentando as bruxas, uma após a trial, ela conseguiu lembrar do nome de todas. Ao fazer isto, Lucia foi logo se sentindo parte do grupo, e o sentimento de inclusão afastava toda a dor em seu coração. Na União havia bruxas confiáveis e maduras, como Pergaminho e Wendy. Também havia algumas que assemelhavam-se a irmãs mais velhas, como Eco e Ramos, além de outras. E, claro, havia aquelas com a idade similar a dela. Mas não importa quem fosse, ninguém a tratava como uma estranha no local e, por isso, o coração de Lucia estava cheio de gratidão.
Após o banquete e a despedida das bruxas, Lucia foi para seu novo quarto com Ling. O Príncipe não quis separá-las, ao invés disso, ele deu o último quarto de hóspedes no segundo andar do castelo, para que ambas dormissem.
— Irmã? — Ao ouvir alguns barulhos, Ling abriu os olhos.
— Ah, você acordou! — Lucia ficou extremamente animada e rapidamente correu até a cama — Como você está se sentindo?
Ling só dava a impressão de que esteve dormindo por um bom tempo, sem mostrar nenhum vestígio da praga ou da dor que havia sentido nos últimos dias. Com os olhos ainda um pouco turvos, ela abriu a boca e murmurou:
— Eu estou com tanta fome!
— Espere… — Lucia tirou um saquinho do bolso cheio de peixe seco, previamente preparado por Rouxinol, que exalava um aroma suculento — Aqui tem um pouco de comida.
Sentada na cama e vendo como Ling comia o peixe, Lucia ficou tão satisfeita que começou a afagar a cabeça da irmã. Este ano, sua irmã tinha acabado de completar dez anos e agora, sem pais, ela era a única em quem Ling podia confiar.
Depois de comer dois peixes, a visão turva de Ling desapareceu, ela começou a olhar em volta cheia de curiosidade e perguntou:
— Onde estamos? Não lembro do navio ter uma cama tão grande.
— Estamos na Região Oeste, em Vila Fronteiriça. Chegamos ao nosso destino.
— Já chegamos? — Ling colocou as mãos em suas bochechas dizendo — Mas eu não estou… doente? Então eles concordaram em deixar os doentes entrarem na vila?
— Sim, você está certa, eles não te deixariam entrar na vila doente. — Lucia respondeu, e ao ver a expressão em branco no rosto da irmã, ela começou a rir — No entanto, as bruxas do Lorde já curaram você. — Logo após, Ling recebeu um breve resumo do ocorrido nas docas — E de agora em diante nós vamos morar aqui no castelo.
— Bruxas? — Ling perguntou, inclinando a cabeça — Como você, irmã?
— Isso mesmo. E sabe do melhor? Todas elas foram muito gentis comigo, especialmente uma bruxa chamada Rouxinol. — Lucia suavemente cutucou a cabeça da irmã — Ela também me ajudou a te dar um banho.
— Oh, mas você sempre disse que os nobres odeiam as bruxas, não é? Por que o Lorde estaria disposto a proteger as bruxas?
Com a pergunta, Lucia tossiu duas vezes.
— Isso… bem, de vez em quando, também existem pessoas boas entre os nobres.
Enquanto tirava o último pedaço de peixe seco da sacola, Ling perguntou:
— Isso significa que você precisa trabalhar pra ele? Como aquelas criadas? Varrendo o chão, cozinhando e esquentando a cama do Lorde?
— Não, que bobagem! — Lucia disse, agarrando o rosto de sua irmã mais nova — Eu sou uma bruxa! Então, é natural que eu ajude o Lorde com a minha habilidade! Mas, isso que você disse sobre as criadas, quem lhe contou?
— Mamãe… — Ela sussurrou tristemente — Ela também disse que foi por isso que nunca deixou que papai tivesse uma criada em casa.
Ao ouvir o nome de sua família, o rosto de Lucia de repente pareceu bastante triste. Em vez de culpar Ling por trazer de volta essa memória triste, ela puxou sua irmã mais nova e a abraçou com força enquanto suspirava.
Ela não estava preocupada com a teoria de sua irmã, pois pela conversa que ela teve com o Lorde, Lucia pôde perceber que, além de perguntas simples sobre sua vida e experiências, a única coisa que lhe interessava era sua habilidade, deixando evidente que ele se preocupava mais se a sua habilidade seria útil ou não.
Mas, ao lembrar de sua habilidade, Lucia ficou profundamente preocupada.
Lucia não era uma completa ignorante sobre como funcionava o mundo das bruxas. Ela sabia que seis meses atrás, muitas bruxas haviam passado por Valência, e, logo após, foram gradualmente deixando a cidade. Ela soube que essas bruxas estavam seguindo em direção aos Fiordes, todas em busca de um novo lar. Mas Lucia não queria deixar seus pais e, por isso, não concordou em acompanhá-las. No entanto, ao passar um bom tempo elas, Lucia, pelo menos, percebeu que as bruxas costumam dividir-se em dois tipos: as combatentes e a as não-combatentes.
Sua habilidade de fazer as coisas voltarem ao seu estado original poderia ser dispensável. Até mesmo em momentos de paz, sua habilidade não poderia acrescer em muita coisa, mas o momento agora era de guerra, e a sua habilidade seria ainda mais inútil.
Seu pai havia sido um comerciante, responsável por uma fábrica de pergaminhos, então, sua casa sempre estava recheada de pergaminhos e outros materiais. Mas no dia em que Lucia se tornou uma bruxa, ela acidentalmente usou sua habilidade, transformando o papel em uma pilha de grama e pó fino. Após o ocorrido, embora seus pais a tivessem repreendido severamente, eles não a entregaram à Igreja. Em vez disso, eles advertiram Lucia repetidas vezes para manter distância da igreja e, se necessário, usar a Pedra da Retaliação Divina como disfarce.
No início, Lucia estava muito curiosa sobre sua recém-descoberta habilidade, muitas vezes e em segredo, escondendo-se em seu quarto para restaurar todos os tipos de itens. Mas ela rapidamente descobriu que essa habilidade era extremamente difícil de controlar. Por exemplo, quando ela tentava restaurar um pergaminho para seu estado original, às vezes ela conseguiria os mesmos resultados obtidos na primeira tentativa, mas em outros testes restavam apenas algumas partículas negras no local. Já no caso de lançar a magia continuamente em um mesmo objeto, este se tornaria cada vez menor, e o produto final seria algo como um pó ou grãos finos. Isso significava que sua magia não poderia restaurar objetos, mas sim destruí-los. Sua habilidade era simplesmente destruir o que já tinha sido construído por outras pessoas.
As outras bruxas também pensavam que sua habilidade era inútil. Quando o assunto era combate, o seu alcance era curto e também era ineficaz em seres vivos. Qualquer fazendeiro sem treinamento seria uma ameaça para ela, sem falar dos cavaleiros experientes. Então, considerando que Lucia não poderia se tornar uma bruxa combatente, até mesmo como uma bruxa não-combatente, era impossível para ela pensar em qualquer uso eficaz de sua habilidade, fazendo-a acreditar que a mesma seria a mais medíocre de todas.
Chegando a essa conclusão, ela ficou deprimida por um longo tempo.
Mas agora… o que realmente a deixava preocupada, era se Sua Alteza Real também chegaria a tais conclusões. Será que ele a expulsaria do castelo?
Com o coração apertado, ela apagou as velas, abraçou sua irmã, que estava satisfeita depois de comer um delicioso peixe seco, e fechou os olhos, aguardando o clarear de um novo dia.
Tradução: JZanin
Revisão: Kabum
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