Liberte Aquela Bruxa – Vol. 03 – Cap. 197 – Preparando-se Para o Inimigo

 

Na manhã seguinte, após Raio encontrá-los em sua patrulha de rotina, Roland soube que havia um enorme pelotão de soldados e cavalos avançando lentamente em direção à Vila Fronteiriça.

— O quê? Mais de mil? — Roland ficou assustado.

Você não disse antes que era uma delegação de cinquenta? — Ele pensou.

— Uhum, pruu! — Maggie acrescentou — No entanto, só seis deles estão montados em cavalos.

— Nesse caso, como são as roupas e as armas… daqueles que estão andando a pé?

— São roupas normais, a maioria deles nem sequer têm armadura, e eles estão vestindo roupas de linho comum. — Raio disse — Já as armas deles são diferentes, no entanto, existem centenas deles na retaguarda carregando lanças.

Esse tipo de equipamento de baixa qualidade, será que eles são civis ou servos que foram recrutados à força? — Roland pensou.

Durante esta era, não havia nenhum tipo de treinamento militar especializado, e era exatamente por essa razão que a milícia geralmente só possuía a função de logística, transportando comida e outros suprimentos para os Cavaleiros. Além disso, algumas vezes eles também eram utilizados como bucha de canhão, a fim de esgotar as flechas dos inimigos.

Se Timothy quer usar força militar para lidar comigo, então deve ser praticamente certo que ele já esteja sabendo da batalha entre Vila Fronteiriça e Forte Cancioneiro. — Roland pensou — Naquela batalha, o exército do Duque Ryan, de mais de duzentos Cavaleiros, nem sequer chegaram a pisar na fronteira da vila, sem mencionar o bando de mercenários que correram por suas vidas. Conhecendo o processo e os resultados dessa batalha e ainda querendo atacar Vila Fronteiriça, a única situação plausível é que Timothy tem a confiança de que eles são capazes de quebrar a linha defensiva de tiro.

Roland só conseguia pensar nas pílulas da Igreja. No último encontro com o sacerdote da Igreja no Forte, ele adivinhou que a Igreja estava apoiando todos os candidatos ao trono. Entretanto, a situação seria diferente se essas pessoas possuíssem pílulas.

Estas pílulas poderiam aumentar a velocidade de reação e de movimento de um ser humano, tornando-os mais rápido que cavalos por um espaço de tempo, além de torná-los mais resistentes à dor. Isso significa que a Artilharia teria que enfrentar mais de mil cavaleiros. Isso traria perdas para o Primeiro Exército, mesmo se apenas uma dessas pessoas, sob o efeito da pílula, chegasse à linha de defesa.

Felizmente, o Primeiro Exército não era mais o exército de dois meses atrás. Embora houvessem apenas cerca de cem fuzis de repetição modificados, o poder de fogo destas novas armas era muito maior do que as antigas pistolas de pederneira, especialmente depois que Roland providenciou aos artilheiros um tipo de carregador especial de munição. Assim que entrar no alcance de trezentos metros, o inimigo sofrerá uma onda de ataques. Além do mais, após a batalha contra o forte, a artilheira também foi expandida. Agora, nós temos vinte grupos e cada um deles possui uma versão modificada do canhão de 5 kg com o dobro de alcance efetivo, o que equivale a mais de 1 quilômetro.

No entanto, trial questão veio à mente de Roland.

— Você viu se aqueles que estavam a pé, por acaso, estavam usando alguma Pedra da Retaliação Divina?

— Eu não fiquei muito perto deles. — Raio apontou para Maggie e disse — Mas Maggie pode ver muito melhor depois de se transformar em uma águia.

— Não vi nenhuma pedra, mas ela poderia estar escondida por debaixo da roupa, pruu! — Maggie disse balançando a cabeça.

— Nesse caso… — Roland ponderou e disse — Então, que tal você levar Rouxinol com você? Se não me engano, você pode carregar uma pessoa enquanto voa a dez metros de altura, certo? Vocês seguem o curso do Rio Vermelho, estando Maggie responsável por verificar a existência de navios no rio, voando na frente em guarda. Rouxinol, você entra na névoa com Raio e, quando estiver próxima o suficiente do inimigo, os observará a distância. Veja se as tropas estão usando alguma Pedra da Retaliação Divina, entretanto, sem minha permissão, vocês não podem atacar.

— Sim! — Rouxinol e Raio disseram em uníssono.

Quando as três bruxas estavam prestes a partir, Roland as impediu e disse:

— Lembrem-se, segurança em primeiro lugar. Protejam-se.

— Sem problemas. — Rouxinol piscou os olhos e sorriu.

Roland estava se sentindo um pouco desconfortável depois que as bruxas saíram.

Isso não foi praticamente uma declaração de guerra? — Roland pensou.

Além disso, ele notou que acabou cometendo um grande erro, pois ele tinha pouco controle em relação ao que ocorria em Forte Cancioneiro, e se não fosse pelo pombo-correio que Petrov enviou, ele provavelmente só iria notar a situação quando o inimigo estivesse batendo na porta. Se isso ocorresse, seria difícil para o Primeiro Exército reverter a situação, uma vez que eles estariam batalhando pelas ruas da vila.

Eu ainda sou jovem e ingênuo demais. — Roland pensou — Depois dessa guerra, isto vai ter que mudar. Vou ter que melhorar nosso sistema de inteligência e Petrov também deverá fazer parte de minha própria equipe.

O Príncipe Roland estava inquieto sentado na frente da mesa, e até mesmo perdeu o apetite. Somente depois que Raio voltou para o seu quarto com Rouxinol nas costas, é que ele ficou um pouco mais aliviado.

Maggie fechou suas asas e pousou nos ombros de Rouxinol, dizendo em voz alta:

— Sem pedras, pruu! Sem pedras, pruu!

— Nenhuma Pedra da Retaliação Divina?

— A maioria deles não possui. — Rouxinol tirou o capuz e seu cabelo loiro caiu — Eu observei tanto na parte da frente quanto na parte de trás das tropas. Além das dez pessoas que estavam liderando, deve ter mais três ou quatro pessoas com um buraco vazio no meio deles.

— Muito bem. — Um plano de batalha preliminar foi rapidamente formado na mente de Roland — Vocês estão com fome? Podem ir na sala de jantar e pedir para o chef cozinhar o que vocês quiserem.

— Churrasco, pruu! —  Maggie estendeu suas asas e levantou a cabeça.

Do lado de fora da vila, ao leste.

Van’er olhou para os pedreiros ocupados e para os trabalhadores de ambos os lados da rua.

— O que eles estão realmente construindo?

Centenas deles, primeiramente, estavam escavando vários buracos enormes no chão e depois começavam a construir uma parede de tijolos ao longo do perímetro dos buracos. Ele primeiro pensou que ambas as extremidades da muralha seriam unidas para bloquear a estrada, mas os muros estavam em volta do buraco.

— Quem sabe? Eu só sei que têm alguns inimigos esperando para apanharem de novo. — Jop disse animado, enquanto arrumava o carrinho do canhão.

Realmente. — Van’er pensou — Depois que derrotamos a coalizão do Duque Ryan, o Príncipe Roland, Sua Alteza, condecorou a cada um de nós do grupo de artilharia com um emblema de bronze… Não, não é esse o nome, o certo é “medalha”.

Na parte da frente da medalha estava desenhado a muralha de Forte Cancioneiro e atrás da medalha estava esculpido o ano e as façanhas militares. Foi primorosamente feita e deixou o Esquadrão de Fuzileiros morrendo de inveja.

E se o fato de receber essa honraria não fosse o suficiente, todos ainda foram promovidos. Van’er estava atualmente como o capitão da Artilharia, sendo responsável por dez equipes de canhão. E os irmãos Rodney, Garra de Gato, e Jop foram promovidos para líder de equipe, três deles foram transferidos para uma equipe recém-formada para ensinar os novos recrutas como operar um canhão.

Entretanto, o mais emocionante foi que o Príncipe Roland, Sua Alteza, tinha cumprido sua promessa e deu um pedaço de terra para cada um deles na parte inferior da Cordilheira Intransponível, localizado no lado leste da vila. Embora, atualmente, ainda fosse uma floresta, já havia um monumento erguido no terreno que significava que a terra pertencia a Van’er.

Agora, o Primeiro Exército acabou de saber que havia um novo inimigo invadindo a vila, consequentemente, estavam trabalhando a todo o vapor. Todo mundo estava ansioso para lutar, na esperança de contribuir para esta guerra.

À noite, Van’er limpou o suor da testa depois de completar o treinamento do dia. Ele se encostou no carrinho para ter um descanso. Durante toda a noite, ele verificou o trabalho dos novos recrutas para confirmar se eles estavam disparando e manejando o canhão de acordo com as regras. Sua garganta estava quase rouca devido a todos os gritos.

— Tome um pouco de água. — Jop deu a Van’er um saco de couro.

— Obrigado. — Van’er torceu a tampa e abriu, tomando um bom gole.

— Eu acho que sei o que eles estão construindo. — Jop sorriu e disse alegremente.

— Você? — Van’er devolveu a água para Jop.

A parede de tijolo que foi construída era tão alta como a metade de um ser humano, e os buracos eram rodeados por uma parede hexagonal. No entanto, cada parede estava entre trinta a quarenta centímetros de distância do solo, deixando um intervalo longo e estreito. Parecia um pouco com uma janela, mas era um pouco estreita.

— Seria uma casa?

— Não é errado, pode-se dizer que é uma casa. Eu perguntei para um dos pedreiros. — Jop assentiu — Ele me disse que foi uma ideia de Sua Alteza, que queria construir uma casa subterrânea para o Esquadrão de Fuzileiros, assim, eles poderiam se esconder ali dentro e se proteger enquanto atiram. No entanto, isso tem um nome único. Sua Alteza o chama de bunker.