Império Tearmoon

Império Tearmoon – Vol. 03 – Prólogo: Com Esse Nome Orgulhoso Perto do Seu Coração! Parte 2: A Garota da Estrela-Guia

 

Uma garota solitária corria por entre as ruínas desoladas do lugar que um dia fora seu lar. Outrora aclamada como “A Cidade Agraciada pela Lua” por sua beleza encantadora, a capital imperial era agora uma sombra fumegante de seu antigo esplendor. Arrasada repetidas vezes pelos horrores da guerra, jazia estéril e devastada. Escombros espalhados serviam como o horizonte de uma terra sem lei. Carcaças secas vagamente humanoides espalhavam-se pelas ruas. Um dia foram pessoas. Agora não eram nem mesmo cadáveres. A paisagem urbana em ruínas parecia mais desoladora do que o antigo Distrito da Lua Nova. Para aqueles que ali permaneciam, não era uma favela; era um deserto de tijolo e pedra.

Era por isso que a visão de uma jovem sendo perseguida por um grupo de homens armados não moveu nenhum morador à ação. Ela corria e corria, a respiração saindo em arquejos irregulares. Seu cabelo prateado ansiava por ser lavado; enegrecido pela fuligem e pelo suor, perdera seu brilho de platina. Lama pontilhava suas bochechas, as manchas escuras em forte contraste com sua pele pálida. Seus ombros finos subiam e desciam laboriosamente enquanto ela lutava para respirar o suficiente para suprir os poucos músculos que restavam em sua estrutura emaciada.

Ainda assim, ela continuou, forçando suas pernas a dar passo após passo agonizante enquanto olhava para trás repetidas vezes para seus perseguidores com a energia desesperada e aterrorizada de uma presa tentando escapar da morte. Ela correu até que a dor surda da fadiga se transformou na dor ardente da exaustão, e então ela correu mais um pouco. Sem parar ela foi; a tristeza, o medo e o fogo em seus pulmões e membros se confundindo em uma massa disforme de agonia que ameaçava esmagar seu coração. Então, aconteceu — suas forças a abandonaram; ela tropeçou e caiu.

— Ah—

Ela bateu com força no chão, e o objeto que estava segurando deslizou para longe dela pela estrada irregular. Era um livro antigo. Tendo sido condenado ao destino ígneo do biblioclasmo, poucas cópias restavam no mundo. Inscrito em sua capa estava o título: “As Crônicas da Princesa Mia”. Ela rastejou apressadamente em direção a ele. — …Mãe Elise.

A garota se lembrou do sorriso gentil de sua falecida autora, que a criara como sua própria filha.

“Ouça, Bel. O que está escrito neste livro é a verdade, e é uma verdade que você deve saber — sobre sua avó, e que tipo de pessoa ela era… Não importa quantas falsidades o mundo tente enterrá-la, só você precisa saber o que realmente aconteceu…”

Assim disse a mais jovem de suas duas mães adotivas antes de lhe dar um tapinha carinhoso na cabeça.

— Mãe Anne…

A garota chamada Bel se lembrou do abraço terno de outra pessoa, que lhe dera amor e apoio incondicionais.

“Vá, querida. Vá, e mantenha esse nome orgulhoso perto do seu coração. O sangue dela corre em você. Você não pode morrer aqui. Vá! Corra!”

Assim disse a mais velha de suas mães adotivas antes de puxá-la para um abraço, seu sorriso tão quente quanto o sangue que escorria por seu peito.

Eram os rostos das pessoas que Bel amava. Rostos gentis e compassivos, que ela nunca mais veria.

— Tia Tiona… Tia Chloe… Sr. Ludwig… Tio Dion…

Todos se foram. Todos que lhe mostraram bondade morreram… para protegê-la. Antes disso, no entanto, todos disseram as mesmas palavras — alguns com arrependimento, outros com um sorriso amargo. Mas, sem falhar, todos disseram a mesma coisa.

“Se ao menos ela ainda estivesse viva… Não teria acabado assim…”

Se aquela santa senhora de compaixão ilimitada, a Grande Sábia do Império, ainda estivesse entre eles, o império… e o mundo… certamente teriam evitado este destino terrível. Essa Ela, exaltada por todos que Bel conhecia, estava ausente em suas próprias memórias. Tudo o que ela conseguia lembrar era a vaga sensação de uma disposição gentil. Era por isso que todo o seu conhecimento sobre a figura reverenciada vinha dos livros.

Ela era, sem dúvida, uma pessoa que conquistara seu título, e a Grande Sábia do Império era muitas coisas. Como uma santa, ela era um paradigma de compaixão e benevolência; como uma princesa, ela era a salvadora de sua nação. Após um certo ponto, tornara-se tabu falar dela ou da família imperial. Mesmo assim, quando a lua estava baixa e os ouvidos eram escassos, as pessoas falavam dela em vozes sussurradas, seus rostos florescendo em sorrisos afetuosos a cada repetição de seu nome.

Isso enchia Bel de orgulho. O pensamento de que o mesmo sangue corria em suas veias era como um farol brilhante em seu coração.

— Finalmente desistiu, garota?

Uma voz rouca a tirou do mundo terno das memórias passadas e a jogou de volta à realidade. Ela ergueu os olhos para encontrar um homem com uma armadura de couro grosseira. Ele usava um sorriso predatório.

— Olha, nós também não queremos fazer isso, mas essa recompensa pela sua cabeça é simplesmente gorda demais para deixar passar. Não leve para o lado pessoal, certo?

Ao lado dele, outro homem desembainhou a espada que trazia na cintura.

— Levante-se. Você vem conosco. Ah, e só para você saber, você é procurada viva ou morta, então eu simplesmente te mato se você tentar correr. A forca ou minha espada. Escolha seu veneno.

— Tenho que dizer, porém, essa garota está tão suja que nem consigo dizer se é a pessoa certa. Onde está aquele cartaz de procurado… Ei, garota, qual é o seu nome? E é melhor você dizer a verdade…

Sua aura ameaçadora a envolveu como os tentáculos de algum horror das profundezas do mar. O medo encheu seu coração, e ela tremeu.

Mãe… estou com medo… estou com tanto medo.

Ela apertou o livro que segurava ainda mais contra o peito.

Ajude-me… Avó…

Naquele momento, as vozes daqueles que ela amava ecoaram fracamente em sua cabeça.

“Mantenha esse nome orgulhoso perto do seu coração… e vá! Que você viva… por toda parte… Conte a eles… sobre ela…

De repente, ela se lembrou — o que significava, quem ela era e o que havia herdado. O sangue que corria em suas veias fora passado a ela por aquela que era um símbolo de esperança para seu povo. Atingiu-a como um raio, ressuscitando uma torrente de emoções que pressionavam seu peito. O tremor de seu corpo não parou, mas mudou de caráter. Desaparecera o peso opressor do medo, substituído pela tensão crescente do desafio. A tempestade furiosa dentro dela a impulsionou a se levantar. Ela fixou os homens com um olhar de intensidade silenciosa, seus olhos azuis cheios de resolução pura e radiante.

— Recuem, patifes insolentes!

O orgulho endireitou suas costas e firmou sua voz. De pé, com a cabeça erguida, ela conseguiu criar uma figura imponente, embora diminuta. Determinada a se comportar de uma maneira digna de uma descendente da Grande Sábia do Império, ela irradiou involuntariamente uma aura de seriedade que eclipsou totalmente o que a verdadeira jamais fora capaz. Então, ela declarou em voz alta aquele nome orgulhoso que carregava.

— Meu nome é Miabel! Miabel Luna Tearmoon! Aquela que herda o nobre sangue da Santa e Grande Sábia do Império, Mia Luna Tearmoon!

De repente, houve um clarão de luz ofuscante. O livro que ela segurava contra o peito se abriu, e palavras se ergueram de suas páginas. Elas flutuaram no ar, envoltas em um brilho dourado, antes de se desenrolarem em fios dourados que se enrolaram ao redor de seu corpo.

— Ah— Hã? O quê?

Ela olhou em choque enquanto era erguida no ar. No instante seguinte, tanto os fios quanto a garota desapareceram sem deixar vestígios.

…Assim, as areias do tempo mudaram seu fluxo.

 


 

Tradução: Gabriella

Revisão: Matface

 

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