— U-Um… Sion?
Vendo sua expressão persistente de agonia, Mia ficou um pouco preocupada. Talvez todo aquele treino de chutes tenha valido a pena demais.
— Mia, você tem minha gratidão. Mais uma vez, sou lembrado de que você é verdadeiramente a Grande Sábia do Império.
Ainda fazendo uma careta, Sion baixou a cabeça e agradeceu-a em tons sinceros. Isso lhe deu um arrepio na espinha, e ela deu um passo para trás.
E-Esse cara acabou de me agradecer por chutá-lo? Q-Que diabos? Ele é um deles? Aquelas pessoas como o pai de Tiona que se sentem felizes quando são machucadas?
— Suas palavras despertaram em mim algo que certamente teria permanecido adormecido de outra forma.
Eeek! D-Despertaram? Despertaram o quê?! E o que você quer dizer com eu sou verdadeiramente a Grande Sábia? Você não precisa ser inteligente para… Oh, santas luas, é sobre a força do chute? Ou o ângulo?! Ele gostou de como eu chuto?! E se ele começar a me pedir para chutá-lo de novo e de novo?!
Ela forçou um sorriso. Sua bochecha tremeu algumas vezes.
— B-Bem, então, isso não é simplesmente maravilhoso? Bom para você.
Para sua perplexidade, ele abriu um sorriso brilhante, como se as palavras dela tivessem aliviado um grande fardo. Ela lentamente desviou o olhar, tentando muito não fazer mais contato visual. Ocorreu-lhe que ela poderia ter acabado de cometer um erro irreparável, mas ela o jogou no armário de sua mente. Quanto menos ela pensasse nisso, melhor.
— A-A propósito, sobre esse chanceler. Dasayev, era isso? Vocês já descobriram onde ele está?
Ela rapidamente mudou de assunto. Deixar problemas para depois era seu modus operandi.
— Ah, sim… Keithwood, quer explicar? — disse Sion. Keithwood assentiu.
— De acordo com nossas informações, Lorde Donovan está sendo mantido cativo bem debaixo de nossos narizes — disse ele, gesticulando para a cidade ao redor deles. — Ele está em algum lugar aqui em Senia.
— O quê?! — Os olhos de Mia se arregalaram de choque. — Príncipe Abel, você está familiarizado com esta cidade?
Abel balançou a cabeça para a pergunta de Keithwood. — Não, mas alguns dos soldados podem estar. Deixe-me perguntar…
Naquele momento, um pensamento ocorreu a Mia.
— Oh, não seria melhor perguntar para a Lynsha?
Você acha que pode me fazer fazer todo o trabalho duro enquanto você assiste da plateia? Pense de novo, sua garota boba, pensou Mia.
Um sorriso travesso surgiu em seus lábios.
Por um momento, Abel ficou hipnotizado pelo sorriso radiante de Mia. Foi preciso um esforço de vontade para ele desviar o olhar, após o qual tossiu sem jeito e se concentrou novamente no assunto em questão.
— Lynsha? Quem é essa?
— A irmã do líder do exército rebelde. Tornei-me bastante próxima dela, na verdade.
Abel inspirou um sopro de pura admiração.
— Entendo… Você conseguiu, hã…
Nisso, Abel sentiu que já sabia o que Mia estava tentando fazer.
Ela… está esperando aliviar a sentença eventual deles?
Ele pensou no que Mia havia dito antes: todo mundo comete erros, então as pessoas deveriam ter a chance de se redimir. Embora tivessem sido coagidos por espiões estrangeiros, aqueles que se juntaram ao exército rebelde não poderiam ficar impunes. As figuras centrais, especialmente, enfrentariam consequências severas. Nas circunstâncias atuais, era provável que fosse a pena de morte. No entanto, se despojados de seu título de rebeldes, essas pessoas eram pouco mais que pessoas comuns que se sentiam sobrecarregadas por impostos pesados.
Mia, que entendia que a monarquia era parcialmente responsável por sua agitação, provavelmente sentia simpatia por sua situação. Esperando diminuir sua punição o máximo possível, ela provavelmente estava lhes dando uma chance de se redimirem. Se eles contribuíssem para resolver este conflito, quando chegasse a hora do julgamento, eles seriam capazes de se apresentar sob uma luz mais favorável.
Se dissessem que foram enganados pelos espiões de Sunkland, mas mudaram de ideia no meio do caminho e ajudaram o exército de Remno a frustrar o plano sinistro… Conhecendo meu pai, eles poderiam realmente convencê-lo.
Ele sabia que o Rei de Remno era um homem direto. Se Mia falasse em nome deles como a Princesa de Tearmoon, isso melhoraria ainda mais suas chances.
De qualquer forma, ela definitivamente está pensando muitos movimentos à frente.
Abel ficou maravilhado com sua previsão. Escondido dentro da admiração, no entanto, havia algo mais terno — um calor reconfortante pelo conhecimento de que, ao lidar com aqueles que erraram, sua profunda sabedoria era temperada por uma profunda simpatia por sua situação. Ele estava feliz que ela pensasse assim, mesmo que, à primeira vista, essa faceta de seu caráter não condissesse com seu status de governante. Era, ostensivamente, um sentimento um tanto ingênuo. No entanto, isso a tornava mais querida para ele do que nunca, porque ele sabia que a compaixão de Mia era sempre fundada em uma base sólida de pragmatismo.
Como a garota Lynsha morava por aqui, ela estaria familiarizada com a geografia local. Estando conectada ao exército rebelde, ela também poderia ter conhecimento de possíveis esconderijos. Fazia sentido tê-la como guia.
Depois, havia a questão do pós-conflito. Os revolucionários estavam tecnicamente representando o povo, e executar seu líder não causaria pouca tensão. No mínimo, daria às facções opostas ao rei muita munição para ataques políticos, mas para o reino manter qualquer semblante de ordem, um incidente como este precisava incorrer em punição severa. No entanto, a penalidade sem justa causa enviaria uma mensagem confusa ao público e desferiria um golpe na legitimidade do regime atual.
As palavras-chave eram, é claro, sem justa causa”. Essa era a força motriz por trás das ações de Mia. Ela estava tentando dar-lhes os fundamentos para tornar a absolvição mais palatável para os poderosos, se não obrigatória. Para fazer isso, ela teria que tecer uma teia complicada de argumentos lógicos e princípios legais, mas no cerne de tudo estava uma convicção de bom coração.
Mia, você é verdadeiramente extraordinária… Posso estar sonhando alto agora, mas um dia…
Felizmente para ele, o dia em que ele viesse a perceber a verdadeira natureza da convicção de bom coração de Mia provavelmente nunca chegaria.
— Falando em informações, no entanto… Esses seus espiões de Sunkland – como eles se chamavam? Corvos do Vento? – Eles certamente se infiltraram bem fundo em nossa família real — disse Abel em um tom pensativo. — Eu me pergunto quem eles são…
— Na verdade, quem enviou esta informação foi uma criada que atende pelo nome de Monica Buendia.
— O quê— Meu senhor?! Isso é— — Um Keithwood assustado tentou impedir Sion de dizer mais, mas o príncipe balançou a cabeça.
— Está tudo bem. Não importa se eles sabem. Pretendo aconselhar meu pai a ter todos os Corvos do Vento recolhidos.
Isso deixou Keithwood com pouco mais a dizer. Uma retirada em larga escala dos Corvos do Vento provavelmente aconteceria mesmo sem a proposta de Sion. Nenhum dos reinos desejava lutar uma guerra no momento. Remno não tinha forças, e Sunkland temia a repercussão. Consequentemente, as reuniões provavelmente seriam conduzidas a portas fechadas, nas quais a questão seria resolvida por algum outro método, como compensação monetária. Era fácil imaginar que a primeira exigência de Remno seria a eliminação completa da rede de espionagem de Sunkland dentro de suas fronteiras, começando com a expulsão de todos os agentes dos Corvos do Vento. Quanto aos diretamente envolvidos com a conspiração… As deliberações diplomáticas decidiriam, em última análise, seu destino.
— Além disso, conhecendo o Príncipe Abel, duvido que ele fará algo com ela. — Sion olhou para Abel. — Estou correto em minha suposição?
— Sim, você pode confiar em mim nisso. Ainda assim, Monica, hã… Então foi ela…
Abel lembrou-se do rosto da criada que vira no outro dia.
Não sou a Princesa Mia, mas a ideia de que ela possa enfrentar penalidades severas também não me agrada. O que significa…
Com uma careta hesitante, ele se virou para Mia.
— Princesa Mia, eu poderia talvez pedir que aquele homem nos acompanhe? Acredito que ele seja um de seus súditos.
— …Eh? Dion?
Vendo que ela o olhava com uma expressão vazia, ele coçou a cabeça e explicou.
— Normalmente, este seria o trabalho de Bernardo, mas ele não é exatamente conhecido por seu pensamento flexível. Por enquanto, prefiro não lhe dizer que Sunkland está envolvida em tudo isso.
— Ah, entendo. Bem… acho que ele provavelmente não vai dizer não… — disse ela, sua expressão tornando-se sombria enquanto olhava na direção dele.
Com passos lentos e claramente relutantes, ela se aproximou de Dion.
— Bem, quero dizer, já que Vossa Alteza parece ter toda a intenção de ir, eu meio que tenho que acompanhá-la também, não é? — Ele deu de ombros e balançou a cabeça como se estivesse lidando com uma criança particularmente exigente.
Espere um minuto… Oh, entendo o que está acontecendo aqui. Todo mundo está esperando que eu vá também, não é? Claro que estão. Quando não estiveram? Na verdade, estou começando a ver um padrão aqui…
Com um suspiro resignado, ela aceitou seu destino como a sábia previdente que supostamente era.
No final, o esquadrão que partiu para resgatar Donovan era composto por seis pessoas: Sion, Abel, Keithwood, Dion, Mia e Anne. Ludwig foi falar com Lambert e negociar a dissolução imediata do exército rebelde após o retorno seguro do Conde Donovan. Tiona, que sabia manejar uma espada até certo ponto, foi com ele como salvaguarda. A ideia de ter ambos os príncipes avançando para a briga encontrou alguma resistência, mas a falta de outros indivíduos viáveis acabou decidindo a questão. Os Lenços Azuis de Lambert não iam deixá-los trazer um bando de soldados do exército de Remno. Por outro lado, os revolucionários não eram competentes nem confiáveis o suficiente para serem uma opção sensata para escolta. O grupo de Mia era, portanto, o melhor, dadas as circunstâncias.
Honestamente, só eu já seria o suficiente… Mas de qualquer forma. Se as coisas ficarem feias, vou apenas garantir que tiro a princesa e sua criada de lá. Quanto ao seu namoradinho príncipe… Eh, ele terá que se virar, pensou Dion.
De acordo com as informações de Monica, a área de confinamento estava fracamente guardada. Jem tinha apenas alguns agentes dos Corvos do Vento treinados para o combate o acompanhando. Normalmente, Dion ficaria enojado com esses números — eles precisariam de três vezes mais oponentes para tornar a luta interessante — mas considerando que a princesa estava com ele, ele decidiu diminuir sua bravata usual e proceder com um pouco mais de cautela.
— Então, a luta não me preocupa muito, mas só entre nós… você realmente espera que isso dê certo? — ele perguntou a Ludwig antes de se separarem.
— O que você quer dizer?
— Quero dizer, se você quer que eu simplesmente entre e massacre todo mundo que eu vejo, então eu entendo totalmente, mas se você espera ter o Chanceler de volta são e salvo… Tenho que admitir, não consigo ver por que eles o manteriam vivo por tanto tempo.
Dasayev Donovan não era nada mais do que um instrumento para desencadear a revolta popular. Uma vez que ele serviu ao seu propósito, havia pouco mérito em deixá-lo viver.
— Entendo seu ponto — respondeu Ludwig. — Eu, no entanto, acredito no contrário.
Dion ergueu uma sobrancelha.
— Ah é? Por quê?
— Isso foi algo que me foi dito por Sua Alteza… mas aparentemente, o líder dos revolucionários é um homem que é, para citá-la, “um bom falador, mas parece meio superficial”.
No início, a resposta fez Dion franzir a testa, mas a compreensão rapidamente se infiltrou em sua expressão.
— Aha, então é isso… Sim, acho que há uma razão para eles o deixarem vivo. De qualquer forma, estarei casualmente defendendo a princesa com minha vida, então vocês garantam que mantenham esses revolucionários longe de nós, ok? — disse ele, acenando com a mão de forma displicente enquanto se afastava.
Tradução: Gabriella
Revisão: Matface
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