Mia observava a troca de palavras entre Abel e Sion à distância. A julgar pela forma como interagiam, parecia que Abel havia perdoado Sion.
Ah, que alívio… Bom para você, Abel.
Ela sentiu uma pequena onda de alegria ao pensar que ele havia chegado à mesma conclusão que ela.
Além disso, depois de tudo isso, Sion não vai andar por aí com o nariz empinado por um bom tempo. Maravilhoso, pensou ela ao se aproximar dele com um sorriso presunçoso.
— Fico feliz em ver que você foi perdoado.
— Sim. Tudo graças a você, Mia.
Ele se virou para encará-la e baixou a cabeça silenciosamente. Ao lado deles, Abel deu de ombros com um sorriso irônico.
— Para ser justo, meu pai também não estava totalmente certo. Não posso jogar toda a culpa em Sunkland.
As palavras de Abel tocaram um ponto sensível em Mia, que sabia com familiaridade íntima que a responsabilidade não recaía apenas sobre a conspiração. A queda de Tearmoon foi causada tanto pela malícia quanto por sua própria corrupção interna. Seu acerto de contas era inevitável. Foi por isso que ela deixou de lado todas as suas queixas. Todas, exceto uma.
— Parece, Sion, que você finalmente provou o sabor do fracasso.
Sion olhou para ela, surpreso com seu comentário.
— Isso pode ser uma surpresa para alguém como você — continuou ela —, mas todos nós somos humanos. E humanos falham. Ninguém vive perfeitamente. É por isso que perdoamos, para que todos possamos ter chances de nos redimir.
Especialmente eu!, pensou ela. Certifiquem-se de que eu tenha minhas chances!
Isso era particularmente importante para ela, porque na linha do tempo anterior, ela não teve nenhuma chance. Agora que a situação havia se acalmado e ela estava pensando com um pouco mais de clareza, um pensamento surgiu em sua cabeça.
— Na verdade, agora que penso nisso… Hrm… — ponderou ela com os braços cruzados.
Se o que aconteceu em Remno é o mesmo que aconteceu em Tearmoon, então toda aquela atitude de superioridade que Sion tinha o tempo todo não era realmente justificada, era? Sob essa ideia… Hã, quer saber? Isso na verdade me deixa um pouco irritada.
Enquanto ela observava obliquamente sua expressão de desculpas, a Mia Malvada começou a sussurrar em seu ouvido.
Agora é o momento perfeito para lhe dar uma lição. Faça isso. Vai ficar tudo bem. Sem dor, não há ganho, certo? É para o bem dele.
…Ela esperou pelo contra-argumento em seu outro ouvido, mas nenhum veio. A Mia Boazinha, veja bem, estava relaxando no trabalho. É por isso que Mia às vezes se mete em problemas.
— Sion, acredito que você precise de um lembrete permanente do que aconteceu hoje, para que nunca se esqueça do seu fracasso.
— Hã? O que você quer dizer?
Mia fez uma pausa para efeito dramático antes de continuar com uma voz solene.
— Crime e castigo andam de mãos dadas; o primeiro só termina quando o segundo é recebido. O Príncipe Abel pode tê-lo perdoado, mas isso é realmente suficiente para satisfazer sua própria consciência?
— Castigo? — Keithwood sobressaltou-se com a palavra. — Espere, Princesa Mia! Você—
Sion silenciou seu assistente aflito com um braço estendido.
— Está tudo bem. Você… está certa, Princesa Mia. Aceitarei de bom grado meu castigo. Qual será?
— Mmhmhm, sua coragem é louvável. Fique ali, então — instruiu Mia.
Sion fez o que lhe foi dito e fechou os olhos. Mia começou a circulá-lo lentamente, andando com o ar pomposo de uma inspetora imperial. Finalmente, ela se posicionou atrás dele e se abaixou em uma postura. Assim como Abel havia praticado obstinadamente aquele único golpe de espada, Mia vinha aprimorando algo próprio. Desde o dia em que Anne lhe disse que não doía, ela estava determinada a melhorar a quantidade de dor que poderia infligir com seu movimento característico — o chute!
Ah, é melhor você se preparar, porque vou fazer isso doer muito!
Tão determinada estava ela a infligir dor em Sion que estava disposta a suportá-la em sua própria perna, e para uma fóbica à dor como Mia, isso era dizer muito. Ela firmou os pés e se preparou. Então ela soltou o golpe, chutando o mais alto que pôde. Com o arco perfeito de um pêndulo, sua perna balançou em direção à cabeça de Sion. Exceto que ficou aquém disso… e de seus ombros… e de sua cintura… e mal alcançou acima de suas coxas.
Em outras palavras, ela acertou em cheio na bunda dele! Com um som satisfatório de impacto para completar!
— Grave esta dor na memória, Sion, e que ela o lembre para sempre do que aconteceu hoje! — declarou ela com um olhar de triunfo sublime.
A dor para a qual Sion estava se preparando nunca veio. Em vez disso, ele sentiu um leve solavanco em seu traseiro. Ele se virou e encarou Mia, perplexo com o chute pateticamente fraco que acabara de receber.
— Hum… O que foi—
Ele se interrompeu imediatamente.
Espere, isso… teve que ser de propósito, certo?
Crime e castigo andavam de mãos dadas. O primeiro só terminava quando o segundo era recebido. A Grande Sábia do Império lhe havia feito uma pergunta: “O perdão de Abel é suficiente para você seguir em frente?”. Se o crime terminava com o castigo, então… onde estava o dele? Foi por isso que Mia não o poupou. Para todos os espectadores, seu castigo havia sido executado. Não haveria mais nada. Mas não tinha sido. Ele sabia, e para sempre carregaria o peso de saber que suas dívidas não foram pagas.
Portanto, seu crime — e a culpa decorrente — permaneceriam, para nunca desaparecer. Nunca mais ele agiria em nome da justiça sem se lembrar de seu fracasso neste dia. A dor da culpa o faria hesitar, forçando-o a se questionar. Repetidamente, ele precisaria perguntar se estava realmente fazendo a coisa certa. E então, depois de finalmente superar a incerteza e a auto-dúvida, ele se lembraria de perdoar, assim como uma vez fora perdoado. Diante de alguém que errou, os eventos deste dia serviriam como um lembrete eterno da necessidade de mostrar misericórdia e permitir a chance de se redimir.
Grave esta dor na memória, para que ela o lembre para sempre do que aconteceu hoje, hã…
Julgue com justiça e aja com retidão… Isso lhe fora dito inúmeras vezes quando era jovem. Agora, pela primeira vez em sua vida, ele entendia. Ele finalmente sentiu em um nível visceral o verdadeiro peso daquelas palavras e a dificuldade de viver de acordo com elas.
Muitos anos depois, Sion Sol Sunkland — aclamado como o Rei de Libra por sua sábia prudência e profunda misericórdia — falaria nostalgicamente com seu leal vassalo Keithwood sobre os eventos que ocorreram em um dia fatídico.
— Aquele dia foi minha encruzilhada. O ponto de virada da minha vida. Se eu não tivesse experimentado aquela agonia, certamente teria incorrido no ódio do meu povo e perdido a cabeça para a ira deles. Se eu tivesse experimentado mais tarde, estaria muito arraigado em meus caminhos para admitir meus erros.
Tradução: Gabriella
Revisão: Matface
💖 Agradecimentos 💖
Agradecemos a todos que leram diretamente aqui no site da Tsun e em especial nossos apoiadores:
📃 Outras Informações 📃
Apoie a scan para que ela continue lançando conteúdo, comente, divulgue, acesse e leia as obras diretamente em nosso site.
Acessem nosso Discord, receberemos vocês de braços abertos.
Que tal conhecer um pouco mais da staff da Tsun? Clique aqui e tenha acesso às informações da equipe!
Quando dei um passo em direção à luz, fechei os olhos reflexivamente. — Grr.…
Os Terras mais jovens não sabiam o que era chuva, embora os mais velhos –…
O alvoroço naquela manhã cedo despertou os Cascomontes. — Qual é o motivo dessa…
— Gostaria de ouvir as opiniões de todos também — disse o Inquisidor. —…
A caverna estava fria. Os goblins fungavam, o vapor gelado da mina aderindo à…
Blazers. Aqueles que podem manifestar o poder de sua alma em uma arma —…