— Eu quero ir. Vocês me ajudarão?
A voz suave carregava um pedido do coração de uma jovem conhecida como a Grande Sábia do Império. Era um pedido que, em qualquer outra circunstância, deveria ter sido recusado e repreendido por sua natureza absurda. No entanto…
— Isso é mais fácil dizer do que fazer, Princesa Mia. As tensões estão aumentando em Remno e todo o reino está atualmente em alerta máximo. Cruze a fronteira com uma tropa de guardas e eles podem presumir que é uma invasão. Entrar no reino envolverá, no mínimo, falsificar sua identidade e ficar fora de vista… — disse Keithwood.
Sion assentiu antes de acrescentar:
— Verdade. Em um momento como este, eles não vão deixar ninguém suspeito cruzar a fronteira. Precisaremos formular um plano.
— Entendo… — disse Mia. — Como podemos fazer isso?
Nenhuma das pessoas presentes a recusou. Eles ouviram seu apelo e começaram a pensar — não em problemas, mas em soluções. Não havia dúvida, nem ceticismo. Ninguém perguntou o que poderiam realizar indo. Ninguém questionou a viabilidade da ideia. Eles pularam os “o quês” e “porquês”, saltando diretamente para os “comos”, como se ajudar Mia fosse uma conclusão precipitada. Então, diante do que era ostensivamente uma tarefa impossível, eles encontraram um raio de esperança. Nem mesmo demorou muito. Afinal, Mia podia ser incompetente, mas se cercara de pessoas que eram tudo menos isso. Quando a Brigada Mia estava no trabalho, os problemas não tinham chance.
Para a surpresa de todos, no entanto, a primeira a falar foi seu membro mais despretensioso.
— Hum…
Todos se viraram para a fonte da voz, Chloe, que se encolheu antes de abaixar a mão trêmula, claramente intimidada pela densidade de realeza na sala.
— A caravana da nossa companhia está, hum… — ela respirou fundo e continuou com voz gaguejante —, programada para ir ao Reino de Remno, então, hum… e se a senhorita for com as carroças?
— Carroças, diz a senhorita… Ah, entendo. Camuflagem — disse Keithwood após um momento de contemplação de braços cruzados. — Boa ideia. Disfarçada de comerciante, há uma boa chance de a senhorita conseguir cruzar a fronteira sem que ninguém saiba. Além disso, evitará irritar qualquer um que encontrar. Afinal, as pessoas em Remno provavelmente não gostam muito da realeza agora.
Era certamente uma opção melhor do que aparecer como uma aristocrata estrangeira — ou, pior ainda, uma viajante misteriosa de origem não identificada — e lhe proporcionaria um movimento mais fácil. Vendo que um plano viável estava tomando forma, a carranca na testa de Keithwood começou a desaparecer. Então Sion falou.
— Parece que temos um plano. Nesse caso, eu também vou.
— Espere, o quê?!
Keithwood se virou e encarou seu mestre, incrédulo. Era verdade que ele tinha uma impressão positiva de Mia, e não odiava exatamente a ideia de fazer algo para ajudá-la. Com a permissão de Sion, ele estava até disposto a acompanhá-la em sua jornada. Foi por isso que ele lhe contara sobre a situação em primeiro lugar. Diabos, ele estava secretamente ansioso para lhe emprestar sua força. Considerando sua impassibilidade habitual, ela poderia muito bem ser sua celebridade favorita. Mas se Sion pretendia se arriscar pessoalmente, então ele não tinha escolha a não ser se opor.
— Vosa Alteza, isso não vai dar certo. Por favor, considere sua posição. O senhor é o Príncipe Herdeiro de Sunkland. — E o Príncipe Herdeiro de Sunkland não tinha absolutamente nada que fazer vagando por um reino estrangeiro em meio a uma revolta violenta. Conhecendo Sion, no entanto, Keithwood imaginou que ele recuaria se fosse advertido. Afinal, Sion quase sempre colocava o futuro de seu reino acima de seus próprios desejos e valorizava profundamente argumentos sólidos e crenças baseadas em princípios. Por alguma razão, no entanto, Sion lhe lançou um sorriso astuto.
— Eu sou, de fato, Keithwood, e é exatamente por isso que vou com ela.
— O que… o senhor quer dizer?
— Veja bem, não acredito que um grande rei deva ser um homem de valor. É preciso mais do que uma boa habilidade com a espada para governar. Ao mesmo tempo, não acredito que um homem covarde seria apto a governar um reino do calibre de Sunkland. O senhor não concorda?
— Bem, sim, o que o senhor diz é verdade, mas…
Uh oh.
Esses eram o tipo de argumentos sólidos e crenças baseadas em princípios que Keithwood estava tão acostumado a ouvir de Sion, exceto que, desta vez, ele estava do lado oposto do palco do debate. Era exatamente o tipo de situação em que o príncipe brilhava, e ele tinha a sensação de que Sion estava prestes a se exibir.
— Suponha, para fins de argumentação, que exista uma princesa de um grande reino que seja minha igual em posto e poder. Ela, por preocupação com a segurança de um colega de classe, escolhe bravamente se aventurar nas terras perigosas de uma nação estrangeira. E isso apesar do fato de que ela não possui sequer a capacidade de se defender em uma luta — disse Sion com um toque dramático. — Diante da resolução desta princesa inteiramente teórica, o senhor não acha que isso refletiria mal em minha imagem, se eu hesitasse em me juntar a ela em sua busca?
— Eu…
…Não era exatamente um disparate. E essa era a pior parte. Seu panache desnecessário à parte, Sion realmente tinha um ponto. Sendo o príncipe de um grande reino, ele não tinha falta de inimigos políticos que aproveitariam a chance de obter algo contra ele. Era, portanto, razoável para ele, tanto quanto pudesse, se comportar de uma maneira que evitasse prejudicar sua reputação.
Isso é… xeque-mate? Droga. Acho que vamos fazer isso. É melhor eu contatar nossos agentes em Remno e dar-lhes um aviso.
Felizmente, eles tinham aliados dentro de Remno — o resultado de longos anos de trabalho incansável da dedicada agência de inteligência de Sunkland, que estabelecera uma habilidosa rede de espionagem em várias nações estrangeiras. Era uma conquista que falava da visão do Rei de Sunkland, que reconheceu a importância da guerra de informações cedo e com frequência. Sem sua divisão de inteligência, eles nunca teriam recebido notícias tão rápidas do levante em Remno. Em casa, reuniões provavelmente já estavam em andamento para discutir se a intervenção militar deveria ou não ser realizada.
O que é ótimo e tudo mais… mas pelo amor do sol, isso não torna aceitável que o maldito príncipe herdeiro esteja andando no que é potencialmente território inimigo em um momento como este, droga! Augh!
Keithwood esfregou as têmporas ao sentir uma sensação familiar se aproximando. Era uma velha amiga, e se chamava dor de cabeça.
— Alteza… eu também irei com a senhorita.
Seguindo os passos de Sion, Tiona ofereceu sua ajuda também. Ela se aventurava na esgrima e, embora não fosse uma mestra, era habilidosa o suficiente para garantir que quaisquer bandidos que se metessem com ela teriam problemas. Se nada mais, ela era mais forte que Mia. Como não podiam levar nenhum guarda imperial com eles, ter mais de uma pessoa que pudesse se virar em uma luta não era uma má proposta.
Mia não disse nada. Ela simplesmente baixou a cabeça em uma reverência profunda, como se o altruísmo abnegado de sua amiga merecesse mais do que a platitude sem sentido de agradecimentos falados, e apenas uma aceitação silenciosa e sincera fosse adequada à bondade oferecida.
— Alteza…
Então, houve uma terceira voz.
— Eu também vou. Por favor, leve-me com a senhorita.
Mia olhou para o último orador e, para sua consternação, descobriu que não podia dizer sim.
— Alteza? Posso ir? — continuou Anne, seu tom tímido. Houve um breve silêncio. Então Mia desviou o olhar.
— Sinto muito, Anne, mas não posso deixar que venha comigo.
Não era porque ela não queria que Anne a acompanhasse. Muito pelo contrário, na verdade, considerando que a presença de Anne a aliviaria do fardo de muitas tarefas cotidianas. Ela simplesmente não podia levar Anne com ela, e o motivo era simples: Anne não sabia andar a cavalo!
Considere, por exemplo, uma situação em que eles estivessem em perigo real e precisassem escapar rapidamente. Como Anne não conseguiria lidar com um cavalo sozinha, ela precisaria cavalgar junto com outra pessoa — provavelmente Keithwood. Considerando o fardo aumentado de carregar dois cavaleiros, o melhor cavalo — seja o mais fácil de montar ou o mais forte — teria que ser dado ao par. Era o arranjo mais sensato e óbvio. Se fosse qualquer outra criada, Mia vetaria a ideia em um piscar de olhos, mas não para Anne. Ela se sentia em dívida com sua criada, e desejava retribuir sua lealdade com sinceridade e bondade. Se suas vidas estivessem em risco, ela não poderia escolher colocar Anne em risco, nem gostaria.
Agora considere outro cenário em que Anne não tivesse vindo com eles, o que significa que todos os presentes sabiam cavalgar. Nesse caso, a regra de “damas primeiro” se aplicaria, e havia uma chance muito boa de que Mia recebesse o melhor cavalo do grupo, melhorando significativamente as chances de ela fazer uma fuga bem-sucedida. Basicamente, esta era apenas a boa e velha política “Mia em Primeiro Lugar” em ação novamente, e ela estava fazendo tudo ao seu alcance para maximizar a probabilidade de sua própria sobrevivência.
— Você não sabe andar a cavalo, Anne, o que significa que há uma boa chance de atrasar todo mundo. E o lugar para onde estamos indo é provavelmente muito perigoso.
— Mas, Alteza… eu…
Lágrimas brotaram nos olhos de Anne. Ela começou a fungar, a dor evidente em sua voz.
— Oh, Anne, não chore… Está tudo bem. Eu voltarei. Pode acreditar em minha palavra — disse Mia, confortando sua criada angustiada com um sorriso terno. — Então, posso confiar em você para segurar as pontas para mim enquanto estiver fora? Eu farei meu trabalho, e você fará o seu. Ok?
Ela sustentou o olhar de Anne, deixando seus olhos fazerem o resto da conversa. Afinal, quando voltasse, ela sem dúvida quereria relaxar com uma xícara de chá quente. Talvez estivesse tão cansada que quisesse mergulhar direto na cama. Ou talvez ansiasse por um bom e longo banho. Havia todos os tipos de coisas que ela poderia querer fazer quando voltasse, e se preparar para elas era um dever tão importante quanto qualquer outro. Embora ela tivesse deixado tudo por dizer, confiava que essa nuance fora transmitida.
Era, claro, mais consolo do que necessidade honesta, dito principalmente para aliviar a miséria de Anne. Infelizmente, ela pode ter deixado escapar demais de suas verdadeiras motivações. Apesar de suas palavras de conforto, a expressão de Anne nunca se iluminou.
Anne observou enquanto Mia e seus co-conspiradores recém-recrutados saíam um após o outro para fazer os preparativos para sua infiltração planejada em Remno. Logo, ela era a única que restava na sala. Ali ficou, olhando fixamente para a porta enquanto se fechava pela última vez. Um silêncio pesado se seguiu.
Eu sou… um peso morto. Porque não sei andar a cavalo… Tornei-me um fardo para Mia.
Ela olhou para o chão. Logo, um pingo constante começou a ecoar na sala. Lágrimas de frustração escorriam por suas bochechas, acumulando-se em uma pequena poça no chão. Mia a afastara, deixando claro que sua incapacidade de cavalgar a tornaria um fardo para todos os outros. Foi direto, e duro, e — o pior de tudo — totalmente gentil. Ela não era estúpida; sabia que Mia estava fazendo isso de propósito para aliviar o peso em sua consciência. Sua querida senhora não pensou duas vezes em trocar sua amizade por sua segurança, e ela não podia fazer nada a respeito. Porque era tudo verdade. Ela seria um fardo, e não tinha certeza se conseguiria se perdoar por isso.
De repente, ela ouviu uma voz solene e imponente, fazendo-a recuar.
— Senhorita Anne. Componha-se.
Ela se virou e encontrou Rafina observando-a com uma expressão passiva.
— Hum… Senhorita Rafina?
— Parece-me que a senhorita mal tem tempo para ficar se lamentando aqui.
— M-Mas… sinto-me tão inútil. Se eu soubesse andar a cavalo, poderia ir com Sua Alteza—
— O que a senhorita é para a Princesa Mia?
— Hã? Eu… sou sua dama de companhia pessoal…
Rafina balançou a cabeça.
— Não acredito que isso esteja correto. A senhorita se esqueceu de como Mia a apresentou a mim? — Ela olhou diretamente nos olhos de Anne. — A senhorita é o braço direito e a confidente dela.
As palavras de Rafina atingiram Anne como um raio, e ela cambaleou com o impacto.
— Mia lhe disse para fazer seu trabalho. Qual é esse trabalho, então? É ficar aqui, olhando para o chão e sentindo pena de si mesma?
— Meu… trabalho?
— Sim, seu trabalho. Um trabalho realizável apenas pelo braço direito e confidente de Mia. Algo lhe vem à mente?
Por algum tempo, Anne não disse nada. Então, ela se curvou e deixou a sala. Rafina observou enquanto Anne saía pela porta, sua postura consideravelmente mais ereta do que momentos antes.
Assim, a criada voltou a atuar nos bastidores. Anne agiu imediatamente, deixando a academia apenas um dia depois de Mia e sua equipe. Tendo percebido o que devia fazer, ela o guardou perto de seu coração, permitindo que isso a enchesse de resolução enquanto partia para seu destino: o Império Tearmoon. Sua lealdade inabalável acabaria por colocar a peça mais forte do império no tabuleiro, mas essa é uma história para outra hora.
E assim, todas as peças do jogo estavam no lugar no tabuleiro — um tabuleiro que tomava a forma do Reino de Remno, e um jogo de conspiração que veria a dame blanche, Mia, e sua equipe heterogênea, tentarem um resgate ousado de seu solitário cavalier, o Príncipe Abel, das garras de um mar de noir.
O jogo estava em movimento, seu resultado indeciso. Onde o futuro levaria era palpite de qualquer um.
Tradução: Gabriella
Revisão: Matface
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