Império Tearmoon

Império Tearmoon – Vol. 02 – Cap. 12 – Uma Mia de Olhos Lacrimejantes, Sozinha e Desamparada

 

Os Lulus eram uma tribo de cerca de duzentos membros que viviam em uma aldeia isolada na Floresta dos Mares Tranquilos, que, na linha do tempo anterior, era conhecida por ser o palco de uma grande tragédia. Sussurros abafados passavam de orelha em orelha, lamentando a destruição que o egoísmo da princesa causara à aldeia. O que os rumores não conseguiam transmitir, no entanto, era a pura brutalidade do massacre que ocorrera. Após sofrerem pesadas baixas nas mãos de habilidosos arqueiros Lulu, o exército imperial agiu para reprimir a agitação de uma vez por todas, queimando a floresta e massacrando toda a tribo.

Os únicos Lulus que sobreviveram ao massacre não estavam lá para começar; eram migrantes e viajantes que haviam deixado sua aldeia para encontrar trabalho. Espalhados por todo o Império, sua dor e raiva os levaram aos braços do crescente exército revolucionário, onde sua pontaria especializada os tornou armas mortais — para o sangrento desespero de inúmeros soldados imperiais.

No final, a aldeia Lulu seria lembrada como um trágico criadouro de ódio, onde um massacre brutal gravou uma amarga vingança nos corações de inúmeras almas.

Mas isso foi no passado. No momento presente, tudo estava quieto na frente Lulu. No entanto, os guerreiros da tribo demonstravam expressões sombrias enquanto esperavam. Eles podiam sentir a tensão engrossando o ar. Era uma paz tênue, a calmaria antes da tempestade, e eles sabiam que não duraria. O silêncio sufocante foi finalmente quebrado por uma mensagem de um batedor da linha de frente.

— Os soldados imperiais… recuaram?

A voz do chefe saiu como um coaxar baixo e rouco.

— Deve ser uma armadilha. Estão tentando nos atrair para fora — sugeriu um dos guerreiros.

— Isso é muito possível — respondeu o batedor, que então franziu a testa. — Mas mesmo assim… O acampamento deles está completamente vazio, e suas provisões permanecem intocadas. É tudo muito bizarro.

O batedor não era um jovem ingênuo. Eles estavam à beira da guerra, o destino de toda a sua tribo em jogo, e ele era alguém em quem confiavam para atuar como sentinela da linha de frente em tempos tão terríveis. Uma simples tentativa de emboscada dificilmente passaria despercebida por ele.

— De qualquer forma, manteremos nossa posição até sabermos mais — disse o chefe com voz pesada. Ele cruzou os braços e acariciou sua longa barba antes de se virar para a jovem ao seu lado.

— Sinto muito por tê-la feito vir de tão longe apenas para se deparar com algo assim. Eu esperava pedir que passasse a mensagem do conde distante para o capitão do exército imperial, mas…

— Não me importo. Quando a tribo está em perigo, é natural vir ajudar… — A jovem assentiu, sua expressão forte, mas solene. — Eu estava pensando em pedir à Senhorita Tiona para falar com algumas das pessoas mais importantes e pedir que mediassem uma solução pacífica…

— Pedir aos superiores, hein… Dependendo de como as coisas forem, podemos de fato ter que considerar tal opção… mas, infelizmente, temo que o Conde Distante de Rudolvon seja uma rara exceção. Duvido que quaisquer outros nobres sejam nobres o suficiente para nos ajudar.

No final das contas, os Lulus eram apenas uma única tribo de pessoas ocupando uma seção da floresta perto da fronteira. A nobreza do império não tinha motivos para ajudá-los. O chefe balançou a cabeça. Ele vivera o suficiente para saber como a nobreza os via. No entanto…

— Você está sendo muito pessimista, Chefe — disse a garota. — Existem nobres bons e respeitáveis também. Além disso—

— Com licença! Chefe! Uma garota que entrou na floresta deixou cair isto.

— O que é iss— Hm?! Aquele grampo… É…

Ao ver o item na mão do sentinela, uma ruga profunda apareceu na testa do chefe.

 

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A-Argh… Como chegamos a este ponto…

Mia estava dura como uma tábua sentada em seu cavalo, seus passos lentos a balançando para cima e para baixo. Ela olhou para a figura alta e esguia sentada bem à sua frente e sentiu seus músculos se contraírem ainda mais. Devido aos supostos perigos de andar a cavalo à noite, ela agora estava presa andando em conjunto com Dion. Eram apenas ela, ele e a vastidão da natureza. O que era absolutamente aterrorizante.

Além disso, ele lhe dissera para se segurar firme, mas ela não sabia onde ou em que se segurar, e estava com medo de se agarrar no lugar errado e deixá-lo com raiva, então fez a única coisa em que conseguiu pensar: congelar e torcer para não cair.

— Vamos parar no acampamento no caminho, Alteza.

— No acampamento? Por quê?

— Porque precisamos estocar algumas tochas, obviamente. Ou a senhorita pretendia procurar algo na floresta à noite na completa escuridão? — Ele soltou um suspiro que soou desconfortavelmente como extrema exasperação. — Sabe, no final das contas, a senhorita realmente consegue estragar tudo às vezes, Alteza. Tem que trabalhar em sua confiança.

Estragar tudo? O que ele quer dizer?

— Toda a premissa simplesmente não funciona. É tão amador. Você tem que procurar algo no meio da noite? Qual é. Que tipo de razão é essa? Você pode ter enganado meu vice-capitão para acreditar em você, mas…

Dion olhou por cima do ombro para ela. Quando ela inclinou a cabeça, intrigada, ele revirou os olhos.

— Tudo bem, pode parar com a encenação agora. Presumo que a senhorita vai se encontrar diretamente com a tribo e resolver tudo com eles pessoalmente?

— …Hã?

— Oh? Estou errado? Considerando que a senhorita tão graciosamente interrompeu meus planos de relaxar com uma boa taça de vinho, depois de um dia bastante cansativo, e me arrastou até aqui, pensei que poderia esperar pelo menos isso de você. Hm?

De repente, ela pôde sentir uma pressão tangível emanando dele. Algo frio e gélido subiu por sua espinha, e ela se apressou em responder.

— C-C-Claro! Não, quero dizer! Você não está errado, claro! E vou precisar da sua ajuda!

— Bom. Como pensei, a senhorita é interessante, Alteza! — Ele riu de forma divertida, e a pressão se dissipou.

— Enfim, não sei exatamente o que a senhorita está planejando, mas estarei com você o tempo todo. Mesmo que esta cavalgada nos leve direto para o Inferno.

Ela olhou para ele, e a expressão em seu rosto a fez perceber algo. Foi uma daquelas constatações que realmente deveriam ter vindo antes, mas, no entanto, era melhor tarde do que nunca.

Nossa? Isso… vai ser perigoso? Eu… estou em apuros?

Cenas de sua vida anterior passaram por sua mente, terminando com o momento em que fora morta pelo próprio homem que estava sentado à sua frente.

E-Espere um minuto! Em que, pelas luas, eu me meti?!

Ela havia baixado a guarda. Era isso, simples assim. Depois de retirar as tropas, pensara que resolvera tudo. Ir procurar o grampo deveria ser nada mais que uma precaução. Seu alívio enferrujou seus sentidos, cegando-a para o perigo de sua situação.

E-Eu sei o que é isso. É como quando o aperitivo é muito gostoso e você come demais e fica muito cheio e acaba perdendo todo o sentido da refeição, que é a sobremesa realmente boa… Gah! Qual é, concentre-se! Esta não é a hora de criar metáforas tão poéticas!

Não era, claro, nem poético nem uma metáfora, mas sua natureza desarticulada era uma boa analogia para o estado confuso de sua mente.

— Este lugar… é realmente escuro.

À noite, a Floresta dos Mares Tranquilos estava submersa em uma escuridão profunda e sufocante. Dion caminhava à sua frente e, embora a tocha em sua mão ardesse brilhantemente, iluminava pouco mais que um pequeno círculo ao redor deles. O lugar não parecia em nada como durante o dia. A maneira como a floresta parecia ter se transformado em um mundo diferente a deixou nervosa, o que significava que quaisquer ruídos súbitos, como…

— Alteza.

— Eeek!

…alguém falando com ela era o suficiente para fazê-la pular.

— O-O-O que foi?!

— Oh, nada demais. Só pensei em apontar que chegamos ao lugar onde fomos atacados durante o dia — disse Dion com um sorriso que sugeria que ele estava se divertindo muito com isso.

— A-Ah, entendo… Ok, então. — Ela olhou em volta e coçou a cabeça. — Tem… certeza de que este é o lugar?

— Muita certeza. Olhe, a marca ainda está naquela árvore de onde a flecha a atingiu.

Ela espiou algo na casca que, agora que ele mencionou, parecia de fato o tipo de marca que uma flecha deixaria, mas…

Não posso ter certeza. Mais importante, como vou encontrar alguma coisa em um lugar como este?

A constatação viera tarde demais. Se ela pedisse a Dion para levá-la de volta agora, ele apenas reviraria os olhos para ela. E isso supondo que ela tivesse sorte. Se de alguma forma o irritasse, estaria em apuros. Afinal, ela estava lidando com a pessoa que literalmente a matara antes. Qualquer coisa que pudesse irritá-lo era um grande não…

Justo quando ela começou a vasculhar o chão na tentativa de encontrar seu grampo, ouviu a voz de Dion.

— Alteza, parece que as coisas estão indo de acordo com o seu plano.

— …Quê?

Ela lhe deu um olhar vago e sem expressão.

— Ei, que tal vocês saírem em vez de nos espiar como um bando de curiosos? — ele gritou enquanto apontava sua tocha para alguns arbustos.

Logo depois, ouviu-se o som de algo roçando nas folhas, e vários homens de aparência mal-humorada apareceram. Todos usavam peles sobre seus corpos magros e musculosos.

Então é assim que os Lulus se parecem? Será que algum deles é parente da Liora?

Ela os encarou, aturdida, enquanto a conversa continuava sem sua participação.

— Considerando que não fui recebido por uma chuva de flechas, presumo que não estão aqui para lutar.

— Impressionante… Líder dos guerreiros do império, você tem boa perspicácia.

Os guerreiros se afastaram enquanto um homem mais velho, com uma impressionante barba grisalha, passava por eles. O homem fixou Dion com um olhar perscrutador. Então, ele mudou seu olhar aguçado para Mia.

— Garota… — disse ele com um sotaque perceptível. — Você é a pessoa… que veio aqui durante o dia, certo?

Despreparada para que a conversa a envolvesse de repente, ela piscou sem expressão para ele algumas vezes. Então, imaginando que não adiantaria mentir, assentiu.

— Isso mesmo. Eu estava—

— Garota… Onde você conseguiu isso? — o homem perguntou com um rosnado baixo.

Em sua mão, ele segurava exatamente o que Mia procurava — o grampo de unicórnio.

— Nossa, isso é…

— Responda-me… Onde você conseguiu isso? Eu te aviso… Diga a coisa errada e eu vou—

— Tudo bem, acho que já chega — interrompeu Dion, dando um passo à frente. — Cuidado com a língua, velho. Diante de você está Sua Alteza, Princesa do Império Tearmoon, então sugiro que comece a ter modos. Além disso, sou tecnicamente responsável pela segurança dela, então… — Sua mão moveu-se para o punho de sua espada e sua voz adquiriu um tom afiado. — Vou ter que avisá-lo. Diga a coisa errada, e talvez eu tenha que parar de ser bonzinho.

— Você! Você…

O ar engrossou imediatamente com a tensão enquanto os dois homens se fuzilavam com o olhar. Os dentes estavam à mostra e os nervos, à flor da pele. Em um instante, a situação se tornara perigosamente volátil.

Ahh… Isto é…

Mia, enquanto isso, tremia…

Isto é sublime! Que prazer… Que felicidade!

…de absoluto deleite. Ela estava tendo um momento. Na verdade, estava ficando tão emocionada que lágrimas brotavam em seus olhos. E quem poderia culpá-la? Dion — o homem que a matara e era possivelmente seu maior inimigo — estava entrando na linha de fogo. Por ela. Dion estava arriscando sua vida para protegê-la. Era nada menos que êxtase puro e não adulterado. Gratificação do mais alto grau.

Ahhh, é isso! Conheço esse sentimento! É o mesmo de quando conquistei Ludwig! Isso é absolutamente glorioso!

Ela teve que se segurar para não cair em uma gargalhada de “Ohohos”.

— A propósito, Alteza… Presumo que saiba como vai lidar com isso, certo?

— …Quê?

Não demorou muito para ele estragar sua festa.

— Uh…

— Supondo que a senhorita já tenha planejado uma situação como esta, quer começar a falar? Tenho permissão para matá-los ou não? Vai ser luta ou fuga? Agradeceria alguma direção sobre como proceder.

Ele lhe deu outro de seus sorrisos característicos, amigáveis demais. A essa altura, ela sabia exatamente o que significava — é melhor você saber o que está fazendo ou vai se arrepender muito — e isso a fez empalidecer.

Ok, esta não é hora de se sentir bem! Preciso de soluções! O que devo fazer…

Ela pensou e pensou, mas tendo vindo para cá sem o menor esboço de um plano, nada lhe veio à mente. Além disso, havia alguns homens Lulu muito zangados olhando para ela, e isso a estava deixando muito desconfortável. Ela não fazia ideia do porquê de estarem com raiva dela, mas certamente parecia que sair dessa sem algum derramamento de sangue seria difícil. Pior ainda era o fato de que, pensando bem, Dion também não era exatamente um aliado fiel dela. Ele não era seu amigo e não lhe jurara lealdade. Sua ajuda era muito condicional e, com aquela aura intimidadora dele, ele mesmo parecia um inimigo na metade do tempo.

O que significa… Nossa, que estranho. Não há… ninguém do meu lado?

Ela não tinha guardas com ela. Seus súditos leais, Anne e Ludwig, que normalmente corriam em seu auxílio, não estavam aqui. Sozinha, desamparada e cercada por inimigos, ela estava completamente por conta própria. Ela se desesperou quando a realidade de sua situação a atingiu em cheio, e sua visão começou a se nublar com lágrimas.

Preciso… Preciso pensar em algo…

Enquanto ela mergulhava cada vez mais fundo no pânico, a ajuda apareceu da maneira mais inesperada.

— Por favor… Espere!

— Hm? Quem seria— Liora?!

A aparição súbita de um rosto familiar fez Mia soltar um grito de surpresa.

— Vossa Alteza… É uma honra — disse Liora com uma reverência. Mia lhe deu um olhar intrigado.

— O que você está fazendo em um lugar como este? Na verdade, esqueça… Poderia talvez me dizer por que o cavalheiro ali parece tão chateado?

— Claro… Na verdade… Ele é o Chefe da Tribo Lulu… e…

— Este grampo… — disse o chefe, que se inseriu na conversa. — Dei à minha esposa como presente… Então, depois que a esposa morreu… Dei à filha.

— Sua filha, diz o senhor…

Mia ponderou suas palavras por alguns segundos antes de assentir com compreensão.

— Entendo… Nesse caso, lamento muito informar que sua filha infelizmente faleceu.

— Faleceu…?

O chefe murmurou as palavras, incrédulo. Seus lábios tremeram um pouco. Vendo seu choque, Mia diminuiu a velocidade de sua fala e usou um tom o mais gentil possível para evitar qualquer provocação indesejada.

— Acredito que o grampo provavelmente me foi dado por seu neto.

— Diga-me… Conte-me mais.

Mia contou sua história a uma plateia silenciosa e atenta. Mesmo depois que ela terminou, ninguém falou. Os Lulus trocaram olhares, cada um tentando avaliar a veracidade da história através das expressões nos rostos uns dos outros. Eventualmente, Liora quebrou o silêncio.

— Chefe… Sua Alteza não é uma pessoa que mente… O que ela nos contou… condiz com o caráter da princesa que conheço.

Até Dion contribuiu com um comentário.

— Não que importe, mas só para que saibam, Sua Alteza Astuta ali foi quem fez com que pudéssemos retirar nossas tropas.

— O quê? Mentiras. A garota chutou nossa árvore… Nada mais — protestou um dos guerreiros.

Dion silenciou o homem com um olhar antes de continuar.

— Aqui vai uma pequena lição para vocês sobre como os militares funcionam. Exércitos, vejam bem, precisam ter razões válidas para se mover, e isso se aplica também à retirada. Eu não esperaria tal entendimento de um simples soldado raso, mas você — disse ele com um olhar inquisidor para o chefe —, deve certamente entender, ó Comandante das forças Lulu.

A expressão do velho endureceu, mas ele respondeu com uma voz rouca:

— Eu entendo… Mas você também deve saber… Acreditar em todas as suas palavras… É difícil.

Foi aqui que Mia viu uma chance de empurrar a conversa na direção que queria: criar uma desculpa para sair dali. Ela aproveitou a oportunidade.

— O senhor está muito certo. Nesse caso, devemos trazer o garoto para cá. Duvido que mantê-lo nas favelas lhe fará algum bem no futuro. Na verdade, providenciarei para que isso seja feito imediatamente. O senhor pode decidir depois que o vir.

Ela se virou e, sentindo que o assunto estava resolvido, fez menção de sair. Mal conseguira dar três passos quando ouviu a voz interrogativa de Dion atrás dela.

— Espere aí, Alteza. Por que está indo embora? Não pode ter terminado, certo?

— …Quê?

— A senhorita não ia pôr um fim a todo este conflito sobre a floresta? Ainda estou esperando para ver seu plano mestre se desenrolar.

Ele lhe deu aquele clássico sorriso de Dion, e a cor sumiu de seu rosto, novamente.

— C-Claro. Que conveniente que uma representante do Conde Distante de Rudolvon esteja aqui na forma de Liora. Tenho certeza de que estamos todos muito ansiosos para ouvir o que ela tem a dizer! — disse ela, agarrando-se desesperadamente a qualquer coisa que a fizesse parecer que não estava completamente perdida e à beira de um colapso nervoso.

Depois que todos tiveram sua vez de falar, Mia finalmente foi autorizada a ir, mas, bem quando estava prestes a sair, o chefe se aproximou dela sozinho.

— Alteza… Peço desculpas por mais cedo.

— Oh? O senhor não disse que tinha dificuldade em acreditar em mim? — ela perguntou, franzindo a testa para a atitude estranhamente humilde do chefe.

— Os outros estavam lá… Na frente dos homens da tribo… Tenho que dizer aquelas coisas — disse ele em um tom sincero. — A senhorita vem a terras inimigas… Com apenas um outro… É uma pessoa de coragem… Não mentirosa.

Ele se curvou profundamente ao nível da cintura. Sua longa barba grisalha balançava livremente de seu queixo.

— Obrigado por cuidar do meu neto… Peço desculpas pelas palavras rudes de mais cedo.

Os Lulus eram uma tribo que valorizava muito o senso de orgulho. Aqueles que os afrontavam seriam recebidos na mesma moeda, independentemente do posto ou status do ofensor. Mia, no entanto, era alguém que os ajudara. Além disso, ela era a Princesa do poderoso Império de Tearmoon. Ela tinha o poder de varrer sua aldeia do mapa por capricho e, no entanto, aproximou-se deles de boa fé e os tratou com o máximo respeito.

Portanto, eles não tinham motivos para hostilizá-la. Na verdade, não lhe dispensar uma quantidade igual de respeito seria certamente uma afronta ao seu orgulho. Considerando todas as coisas, o chefe decidira que seria melhor prestar a devida reverência, mesmo que apenas em particular. Para sua surpresa…

— O senhor não precisa se desculpar. Estou ciente de que estas árvores são um tesouro para seu povo, e foi rude da minha parte chutar uma delas. Estamos quites agora, que tal considerarmos tudo resolvido? — Ela sorriu para ele. Era um sorriso tão despreocupado, como se tais preocupações com orgulho e respeito fossem totalmente triviais para ela. — Mais importante, por favor, acolha seu neto com braços gentis.

Sua mandíbula se contraiu. Ele sabia exatamente o que ela estava tentando dizer com sua frase final, e isso o atingiu com a força de um martelo, enviando-o em uma rápida jornada mental por sua vida. Ele viu seu eu mais jovem, amarrado da cabeça aos pés pelas pesadas correntes de seu orgulho e teimosia como chefe. Viu como isso o sobrecarregava, endurecia sua disposição e o colocava em conflito com sua filha. Houve brigas. Houve lágrimas. Então, houve o fim. E o longo e incessante arrependimento por um relacionamento fraturado que nunca poderia ser consertado.

Ele olhou a jovem princesa nos olhos e ouviu suas palavras não ditas. Não cometa o mesmo erro com seu neto. Ele a entendeu, e pressionou os lábios para mantê-los imóveis. Após um longo momento, ele engoliu em seco e disse com uma voz rouca e esforçada:

— Sou profundamente grato… Por suas amáveis palavras, Alteza.

Sua própria alma tremeu diante da vasta empatia da jovem garota à sua frente.

…Claro, como todos vocês já devem saber, as palavras de Mia não nasceram da empatia. Elas vieram de um lugar muito diferente.

Se aquele garoto é o neto do chefe Lulu, então vai ser um problema se eu o deixar no orfanato.

Embora as coisas certamente tivessem melhorado, as favelas ainda eram as favelas. Nunca se sabe o que pode acontecer em um lugar como aquele. E se algo realmente acontecesse, os Lulus de toda a terra iam causar um inferno absoluto. Era melhor arrancar pela raiz quaisquer sementes de perigo antes que brotassem em problemas reais.

A melhor solução é trazer aquele garoto de volta para esta floresta, mas preciso que ele fique aqui. Para isso, preciso que o chefe o trate bem para que ele não faça birra querendo voltar para o orfanato…

Seu lema sempre fora “Mia em Primeiro Lugar”, e ela o estava seguindo. Infelizmente, ninguém na cena estava ciente de que a aparente compaixão de suas palavras na verdade se originara do bom e velho modelo egocêntrico do universo de Mia.

 


 

Tradução: Gabriella

Revisão: Matface

 

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