— Peço desculpas por incomodá-lo a uma hora dessas, Capitão Dion.
— De forma alguma, Alteza. Como meros soldados, é nosso dever obedecer aos seus desejos, não importa a hora ou o lugar.
Dion ajoelhou-se e inclinou a cabeça para a princesa que salvara a vida de seus homens. Era, para ele, uma rara demonstração de respeito, mas o ar cínico que sempre carregava consigo fazia com que parecesse um pouco menos que totalmente sincero.
— É-É mesmo? Bem, tudo bem então. É um pouco assustador ouvir isso de você, mas… — Ela se ajeitou desconfortavelmente em sua cadeira, inclinando-se cautelosamente para longe dele antes de limpar a garganta. — Enfim. Há algo que preciso fazer, e gostaria de pedir sua ajuda.
Depois de ouvi-la explicar suas intenções, ele franziu a testa.
— A senhorita quer voltar para a floresta… para encontrar seu grampo de cabelo?
Será que é realmente valioso ou algo assim? Até agora, ela não pareceu do tipo que se apega a coisas desse tipo, no entanto… Talvez seja um presente de alguém especial?
Apesar de postular várias possibilidades em sua cabeça, a resposta seguinte dela só o confundiu ainda mais.
— …É algo que a senhorita recebeu de uma criança mendiga?
Claro, poderia ser uma herança da mãe do garoto, mas ele não conseguia entender por que ela o queria de volta a ponto de ir até a floresta.
— Estou ciente de que é um pedido egoísta, e o senhor pode ter suas reservas…
— Claro. Vamos, não me importo.
— …Quê?
— Vossa Alteza me fez um grande favor ao criar uma oportunidade para eu retirar as tropas. O mínimo que posso fazer é satisfazer alguns pedidos egoístas.
Além disso, há mais do que apenas egoísmo nisso, certo?
Embora ele tenha deixado a última parte por dizer, não demonstrou hesitação em concordar com o pedido dela.
— Dito isso, não posso mover as tropas, então, se não se importar, eu mesmo a levarei até lá.
— V-Você quer dizer… Apenas nós dois?! — O rosto de Mia ficou alguns tons mais branco antes que ela conseguisse espremer mais algumas palavras. — S-Suponho… que terá de ser…
Sua voz tremia como se estivesse prestes a chorar.
— Capitão Dion.
Uma voz parou Dion quando ele saía da sala.
— Ah, Senhor Ludwig.
Ele olhou e descobriu o assessor próximo de Mia esperando por ele.
— Se eu também pudesse lhe pedir um favor… Por favor, faça tudo ao seu alcance para garantir que Sua Alteza retorne em segurança. O império precisa dela. Tanto agora… quanto no futuro.
— Como desejar. Sou um homem que paga suas dívidas, e devo uma grande a Sua Alteza. Farei o meu melhor. — Ele saudou Ludwig casualmente e se virou para ir.
— Mais uma coisa. Se eu pudesse fazer apenas mais um pedido…
Dion parou e olhou para trás, vendo um senso de resolução nos olhos de Ludwig. Dion se enrijeceu.
— Sim? O que mais posso fazer por você, Senhor Ludwig?
— Assim que este incidente estiver totalmente concluído, gostaria que se juntasse à nossa causa e se tornasse um dos aliados de Sua Alteza.
— Juntar-me à sua causa, diz o senhor? Essas não são palavras para se jogar ao vento. Eu estava sob a impressão de que sua querida princesa não gosta muito de mim, mas…
Considerando que este convite vinha de um de seus assessores mais confiáveis, ele devia ter julgado mal o que ela pensava dele.
— Além disso, o senhor não está me dando muito com o que trabalhar aqui. O que exatamente isso vai implicar? Devo me juntar à guarda imperial e fazer toda aquela coisa de servir e proteger? Não que eu não o faria, entenda bem. Diabos, isso não parece nada mal.
— Essa é de fato uma proposta tentadora. Considerando sua habilidade com a espada, Sua Alteza provavelmente estará mais segura com o senhor do que com qualquer outro guarda. Mas — continuou ele com um balançar de cabeça —, não é isso.
Nem mesmo Dion estava preparado para o que ele disse a seguir.
— Meu pedido… é que o senhor se torne um general.
— Hã? O senhor quer que eu faça o quê? Um general? Quer dizer, do exército? — Ele encarou Ludwig em choque.
— Veja bem, eu tenho meus contatos no Ministério da Lua Dourada e em outros departamentos que lidam com assuntos internos. Mas não tenho conexões no Ministério da Lua de Ébano e, portanto, nenhuma influência sobre assuntos militares. Para que Sua Alteza faça o que planeja, ela precisará de mais do que apenas pessoas de escritório como eu. Ela precisa de aliados nas forças armadas, e não apenas quaisquer aliados. Ela precisa de alguém que entenda tanto o que ela está tentando alcançar quanto tenha a capacidade de ajudá-la a chegar lá.
— Então o senhor quer que eu suba na hierarquia e a ajude de lá?
O que Ludwig estava pedindo a ele era indiscutivelmente ainda mais difícil do que arriscar sua vida para proteger Mia como um guarda imperial. Para alguém como ele, que não tinha desejo por títulos ou prestígio, a política não era nada além de uma dor de cabeça. Promoções eram a última coisa que lhe interessava.
— Sabe, isso soa como… algo que pode ser divertido.
Foi por isso que ele ficou surpreso ao ouvir as palavras que saíram de sua própria boca. No entanto, quanto mais pensava sobre isso, menos estranho parecia. Para os soldados, arriscar suas vidas fazia parte do trabalho. Se ele fosse morrer em serviço, parecia melhor fazê-lo servindo a Mia do que ser enviado para a morte sob as ordens estúpidas de algum nobre.
— De qualquer forma, isso é tudo apenas um pensamento positivo. Não há garantia de que sequer sairemos vivos daquela floresta, muito menos resolveremos este conflito pacificamen— O que é tão engraçado?
Ele arqueou uma sobrancelha para Ludwig, que estava rindo dele.
— Oh, não se importe comigo. Apenas acho tudo isso bastante divertido.
— O quê? Acha que estou perdendo meu tempo me preocupando porque tem certeza de que Sua Alteza encontrará uma maneira de resolver essa bagunça?
— Isso é parte disso, sim, mas o que acho mais divertido é que o senhor, Capitão Dion, parece pensar o mesmo.
Dion congelou. Lentamente, olhou para sua mão, que repousava no punho de sua espada. Era verdade que ele não estava realmente preocupado, mas pensara que era por causa de sua confiança em sua própria habilidade.
Será que eu também estava pensando que, contanto que eu deixe com a princesa, as coisas vão dar certo?
Ele bufou. O pensamento era ao mesmo tempo divertido e terrivelmente irritante.
As conversas secretas que ocorreram naquela noite se tornariam mais tarde um renomado pedaço da história, aparecendo em numerosos livros didáticos e artigos. Elas apresentavam dois personagens proeminentes. O primeiro era o famoso chanceler Ludwig, que eventualmente viria a ser conhecido como um da “Banda dos Quatro” de Mia. O segundo — também um dos Quatro — era o grande general Dion Alaia. Como aliados e amigos, os dois homens se dedicaram à causa de Mia. O vínculo que compartilhavam foi forjado através de uma vida inteira de adversidades compartilhadas, mas tudo começou naquela fatídica noite de conversas secretas.
Tradução: Gabriella
Revisão: Matface
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