Império Tearmoon

Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 59.1 – Princesa Mia… Descola uma Amizade na Base do (Mal?) Entendido

— Lorde Radnor, o senhor não está facilitando as coisas. A arrecadação de impostos é crucial para a saúde do Império. Como nobre, imagino que o senhor saiba muito bem da sua obrigação de pagá-los… — Ludwig disse para o homem de meia-idade à sua frente.

Eles estavam na mansão do Barão de Radnor e, pela carranca que o homem ostentava, Lorde Radnor não estava nem um pouco feliz com a visita. Ludwig soltou um suspiro.

— Olhe aqui, este é o valor que o senhor declarou ao Ministério da Lua Dourada. — Ele estendeu ao barão um pergaminho com uma penca de números. — E este aqui é o montante que o senhor de fato arrecadou do povo da sua baronia. Agora, se me permite destacar a diferença, digamos, gritante entre os dois, o que, espero eu, deixe bem claro o motivo da minha visita…

Ele engoliu um “seu salafrário sonegador”, mas não conseguiu segurar um estalo de língua.

Pergaminho não dá em árvore, viu?

— Mas é claro, é claro! Não que eu me oponha a pagar, de forma alguma — respondeu Lorde Radnor, lutando para manter um sorriso amarelo enquanto passava os olhos pelo pergaminho. — Mas fico aqui pensando… o que aconteceria se Lorde Bluemoon ficasse sabendo…

O Barão se referia a um dos Quatro Duques de Tearmoon, Lorde Bluemoon, a quem ele era alinhado.

— …que um grande amigo dele está sendo, digamos, pressionado de forma tão agressiva por causa de impostos? Confio que o senhor compreende minha preocupação, não?

Radnor fez uma careta que, provavelmente, era para ser intimidante, mas Ludwig apenas deu de ombros.

— Com certeza. Estou ciente de que, se Lorde Bluemoon descobrisse que uma pequena sonegação fiscal pudesse estremecer as relações dele com Sua Alteza, seria um tanto preocupante… para o senhor — retrucou Ludwig, fitando o barão por cima dos óculos.

Ao ver que Ludwig não se abalou nem um pingo com a ameaça, a expressão de Radnor vacilou, demonstrando uma ponta de nervosismo pela primeira vez. Conforme as entrelinhas da fala de Ludwig foram se assentando em sua mente, ele percebeu o quão delicada era sua situação. O duque teria que ponderar se valeria a pena proteger Radnor, caso isso significasse queimar o filme com Mia. Entre um simples barão e a Princesa, para que lado a corda arrebentaria?

Claro que, na prática, o Duque de Bluemoon certamente protestaria formalmente se soubesse que um mero funcionário da Lua Dourada teve a petulância de dar um puxão de orelha num nobre de sua facção. Mesmo com o respaldo da Princesa, Bluemoon ainda seria um adversário de peso. Os Quatro Duques tinham tanto poder no Império que até a própria Mia precisava andar na ponta dos pés perto deles, imagine só um burocrata como Ludwig.

Por isso mesmo, era crucial que Ludwig mantivesse aquela pose de confiança inabalável. Qualquer vacilo, o menor sinal de receio, e a farsa iria por água abaixo, permitindo que Radnor retomasse as rédeas da situação. Percebendo o barão visivelmente tenso, ele continuou a ofensiva:

— Exijo apenas que o valor correto seja pago. A diferença entre o seu relatório original e o seu… digamos, pagamento tardio, é de pouca importância. Sua Alteza não tem a menor intenção de criar caso por ninharias como essa. Ela mesma disse — e estou citando — “Qualquer um pode cometer um deslize”.

Ludwig estava deixando bem claro: se o barão acertasse as contas, o assunto morreria ali. Em vez de uma declaração fraudulenta, o incidente seria registrado como um erro de contabilidade ou uma falha na transcrição – nada de sonegação intencional, apenas um descuido que atrasou o pagamento. Ludwig ofereceu a Radnor a chance de ouro de escapar tanto de uma acusação criminal quanto de uma possível queda de braço com a princesa. A isca foi mordida na hora.

— B-Bem, sendo assim… — O barão abriu um sorriso subserviente e concordou com a cabeça. — Providenciarei a quantia imediatamente. Depois de uma viagem tão longa, não podemos deixá-lo voltar de mãos abanando, não é mesmo? E, se não for incômodo… quando vir Sua Alteza, eu agradeceria muito se o senhor pudesse interceder por mim.

— Perfeitamente. Considere feito.

Ele lançou um último olhar de desprezo para Radnor antes de se virar, sentindo uma vontade imensa de soltar um suspiro daqueles bem fundos.

 

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— Juro por Deus, parece que essa gente não pensa… — Ludwig massageava as têmporas, tentando aliviar a dor de cabeça chata que o perseguia desde que voltara para seu escritório no Ministério da Lua Dourada. — Pra que cometer uma fraude tão na cara? É óbvio que vai ser pego! Era melhor nem ter começado… Ah, se todos os nobres fossem tão ajuizados quanto Sua Alteza… Minha vida seria tão mais fácil. — Ele suspirou, balançando a cabeça. — Bem, sonhar ainda é de graça, né?

— E aí, essas rugas são novas ou você só está feliz em me ver?

Ludwig ergueu os olhos num sobressalto e deu de cara com um homem parado na soleira da porta. Ostentava uma farta cabeleira loira e uma barba impecavelmente aparada. Seus olhos castanhos faiscavam inteligência, e ele tinha um sorriso que desarmava qualquer um.

Ludwig abriu um sorriso ao reconhecer a figura nostálgica.

— Ah, Balthazar! Quanto tempo, meu amigo! Quando retornou à capital?

— Cheguei hoje à tarde. Ouvi dizer que estava me procurando, então vim correndo pra cá.

Balthazar Brandt era um velho camarada de Ludwig, ele trabalhava no Ministério da Lua Escarlate. Terceiro filho de um conde, tivera um berço de ouro. Mesmo assim, o luxo e as mordomias não foram suficientes para apagar a chama de seu talento. Determinado a testar os limites de suas capacidades, mudou-se para a capital e tornou-se pupilo do mais renomado erudito da cidade. Sob a tutela do mestre, não só acumulou vasto conhecimento, como também conheceu Ludwig. Pouco tempo depois, prestou o concurso para o Ministério da Lua Escarlate, foi aprovado e começou a construir uma reputação como um oficial jovem, porém extremamente competente.

— Nem nos meus melhores sonhos imaginei que conseguiria falar com você tão cedo… Parece que a sorte resolveu me dar uma piscadela — disse Ludwig, soltando um suspiro aliviado.

Ele não chamara Balthazar para um simples bate-papo sobre os velhos tempos. Apesar de ter o apoio da Princesa de Tearmoon, ele não passava de um servidor público. Como oficial do Ministério da Lua Dourada, vinha batendo na tecla da abolição de políticas que beneficiavam a nobreza sem necessidade, e se dedicava de corpo e alma para garantir que os impostos fossem arrecadados de forma justa e igualitária. E para nobres do calibre do Barão de Radnor, cuja prepotência e teimosia faziam até seus colegas recuarem, ele chegava ao ponto de fazer visitas em pessoa. Seus esforços frequentemente o colocavam em rota de colisão com as facções dos Quatro Duques, e ele acabou ganhando fama nos círculos nobres de ser um bisbilhoteiro, uma verdadeira pedra no sapato deles.

Contudo, era só até aí que suas conquistas iam. Havia um limite para o que ele podia fazer dentro do Ministério da Lua Dourada, responsável por impostos e finanças. O Império era um gigante grande demais para ser consertado apenas por suas mãos. Por isso, ele precisava de aliados – companheiros que compartilhassem sua visão e abraçassem sua causa.

Os dois rumaram para um restaurante que frequentavam e se acomodaram numa sala reservada. Sem rodeios, Balthazar perguntou: — E então, Ludwig, qual é a boa? Me chamou aqui só pra exibir suas novas rugas?

— Dá um tempo com essa história de rugas, pelo amor de Deus! Mas, sim, não nego que a vida tem sido corrida. O cansaço está começando a cobrar seu preço… — Ludwig segurou um bocejo e deu de ombros.

— Fiquei sabendo que você anda pisando em muitos calos por aí. Apertando o cerco, em?

Balthazar vinha de uma família tradicional da nobreza central. Não era de se espantar que alguns boatos tivessem chegado aos ouvidos de seus parentes.

— O pessoal lá de casa anda comentando sobre você, sabia? — ele continuou. — Ah, mas não me leve a mal. Ninguém dos meus está metido em falcatruas.

— Eu sei.

Os dois trocaram sorrisos. O de Ludwig era um tanto amargo; o de Balthazar, tingido de sarcasmo.

— Claro que, se você descobrir alguma sujeira deles, pode aplicar a pena que achar justa. Não pegue leve só por minha causa. Fraude fiscal em larga escala pode pôr um país de joelhos. Temos que estar sempre de olho nas forças que tentam minar a integridade moral do Império.

Balthazar era um racionalista de carteirinha, que não teria piedade nem da própria família se os pegasse em alguma falcatrua. Era esse absolutismo que Ludwig mais admirava nele.

— Você tem toda razão, mas, para ser sincero, o que me tira o sono mais do que a sonegação de impostos são essas ideias discriminatórias tão arraigadas neste Império…

— Hum. Ideias discriminatórias, é?

As bebidas chegaram. Balthazar deu um gole, lançando a Ludwig um olhar que parecia duvidar daquela afirmação.

— Reconheço que existe discriminação contra algumas tribos minoritárias em regiões mais afastadas, mas será que o problema é tão grande assim para merecer tanta preocupação? Para mim, as coisas parecem estar nos eixos por enquanto…

— Dá para parar de se fazer de sonso? Olha, a verdade é que eu até já tentei propor isso ao Barão de Radnor. Perguntei se ele toparia abrir as terras dele para o cultivo. O baronato não é lá essas coisas em tamanho, mas é plano e cortado por rios, perfeito para agricultura. Até ofereci subsídios. Adivinha só no que deu? — Ludwig suspirou. — Foi como dar murro em ponta de faca.

— É, não me surpreende nem um pouco — disse Balthazar, cruzando os braços e meneando a cabeça. — Duvido que exista uma multidão de nobres dispostos a transformar seus feudos em fazendas.

O costume de menosprezar agricultores e a agricultura, a consequente baixa taxa de autossuficiência e os custos exorbitantes de importação para manter o abastecimento de comida… Eram esses os fantasmas que assombravam as noites de Ludwig.

— Se não resolvermos essa questão, receio que o Império não tenha futuro.

O problema tinha raízes fundas. A discriminação contra a agricultura no Império remontava aos seus primórdios. As terras que hoje formavam o Império Tearmoon eram uma região fértil, antigamente conhecida como Cinturão Crescente. Qualquer semente ali plantada rendia dez, vinte vezes mais. O povo da região vivia da lavoura. Com recursos de sobra e colheitas generosas, levavam uma vida tranquila, quase sem conflitos… até serem invadidos por uma tribo estrangeira de caçadores-coletores. Estes, adaptando suas técnicas de caça para a guerra, rapidamente subjugaram os nativos. A partir daí, os conquistados passaram a ser zombados por seus novos senhores, que os chamavam de “escravos da terra”. Rotulados de covardes e incapazes, eram tachados de “aqueles sem bravura para caçar” e “aqueles cujo único talento é revolver o chão”.

Com acesso a uma fonte constante de alimento e mão de obra na forma de seus novos servos, os caçadores-coletores enriqueceram cada vez mais. Em algum momento, passaram a se autodenominar nobres. E o homem que antes fora o valente líder de sua tribo tornou-se o Primeiro Imperador. Desde então, os agricultores sempre ocuparam uma posição inferior na hierarquia social do Império. Embora o arcaico sistema de servidão tivesse sido abolido há muito tempo, a discriminação continuava viva e forte, fruto da crença profundamente enraizada de que a agricultura era para os desprovidos de talento para qualquer outra coisa.

Resultado: hoje em dia, os nobres relutavam em usar suas terras para a agricultura. Claro, permitiam o mínimo para seu próprio sustento, mas preferiam importar sempre que possível. A última coisa que queriam era transformar seus territórios em novas lavouras.

Essa era a suprema ironia de Tearmoon: um Império construído sobre vastas e férteis terras, mas que desprezava a própria bênção. Era contra essa mentalidade distorcida que Ludwig se levantava. O gigante que ele pretendia enfrentar era nada menos que a própria história e tradição do Império.

— Do jeito que as coisas estão, dependemos dos reinos vizinhos para produzir nossa comida. É arriscado demais. Se eles enfrentarem uma crise de fome, é óbvio que vão priorizar os seus. Se não aumentarmos nossa produção interna e melhorarmos nossa autossuficiência, o Império não terá futuro.

— Você está coberto de razão, mas é uma tarefa hercúlea — disse Balthazar, fazendo uma careta ao pensar nas implicações.

Com o olhar atento de um pescador prestes a fisgar a presa, Ludwig inclinou-se para frente.

— O motivo de eu querer falar com você é para saber como andam as coisas por lá. Aqueles nobres das Terras Distantes… Como estão se virando?

— Exatamente como você imagina, provavelmente.

As áreas que, digamos, foram mais recentemente incorporadas ao Império eram conhecidas como as Terras Distantes Imperiais. Os governantes dessas regiões eram chamados de nobres das Terras Distantes. Antes da anexação, a agricultura ali era algo corriqueiro, e seu povo consistia em simples lavradores que não viam vergonha alguma em cultivar a terra. Contudo, ao se tornarem parte de Tearmoon, passaram a ser ridicularizados pela nobreza central, que os via como matutos e os apelidava de nobres das Terras Distantes. Poucos apreciavam esse tipo de tratamento.

— O tempo passa, e todo mundo acaba entrando na linha, tentando diminuir suas áreas de plantio. O Ministério da Lua Escarlate até tem regras que limitam o quanto de terra agrícola pode ser convertida… mas regras, meu amigo, sempre podem ser flexibilizadas, desde que haja dinheiro na jogada.

Crescia entre os nobres das Terras Distantes o desejo de usar suas terras para outros fins que não a agricultura. Não era tão forte quanto na nobreza central, mas a tendência era inegável.

— O Conde de Rudolvon é um daqueles raros nobres que batem o pé para manter suas terras agricultáveis, mas são pouquíssimos como ele.

Mesmo com as importações, equilibrar oferta e demanda era sempre um malabarismo arriscado, e a corda bamba ficava mais fina a cada dia. O declínio gradual na produção agrícola, embora ainda não fosse catastrófico, era, sem dúvida, pernicioso. Ludwig não conseguia deixar de encará-lo como um veneno lento que, gota a gota, era instilado na boca de um Império alheio ao perigo.

— E a propósito, como vai nossa querida Princesa, aquela de quem você não para de falar? Sua Sábia Alteza tem noção da encrenca em que estamos metidos?

Ludwig, que até um instante atrás se afogava no próprio pessimismo, se animou todo ao ouvir o nome de Mia. A situação podia parecer um beco sem saída… mas não era. Ele sabia onde encontrar uma luz no fim do túnel.

— Ontem mesmo, recebi uma carta de Sua Alteza. A primeira desde que ela partiu para a academia… — Ele abriu um sorriso de quem sabe das coisas. — Nela, ela mencionou ter ido à sua primeira festa de confraternização. Adivinha onde foi?

— Desembucha!

— No País Agrícola Perujin.

Balthazar engoliu em seco. Seus olhos se arregalaram, com um quê de admiração.

— Agora isso… é realmente interessante.

O País Agrícola Perujin fazia fronteira com Tearmoon a sudoeste. Com oitenta por cento de sua população dedicada à agricultura, apesar de seu tamanho considerável, seu poderio militar e econômico nem se comparava ao do Império. Por isso, aos olhos de Tearmoon, era visto como um país de segunda, quase insignificante. Menções a Perujin vinham frequentemente acompanhadas de adjetivos como “inferior”, “terra de servos” e “subdesenvolvido e bárbaro…”

Infelizmente, o preconceito desses nobres fofoqueiros os impedia de enxergar a verdade. Uma parcela considerável da comida que abastecia seu orgulhoso Império vinha justamente do país que tanto desprezavam. Ao optarem pelo escárnio e pela ignorância em vez dos fatos concretos, apenas demonstravam o quão profundamente estavam contaminados pela doença da insensatez.

— Um país que os nobres esnobam, mas que, na verdade, é vital para o Império, hein… Se isso foi uma jogada diplomática baseada em pura perspicácia, então as implicações são… Meu bom Deus!

— Estamos falando de Sua Alteza, não se esqueça! Provavelmente tudo foi friamente calculado. E tem mais na carta. Adivinha o que ela disse em seguida?

 

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— Escute com atenção, Rania. Já falei uma vez e repito: quero ter certeza absoluta de que não haverá nenhuma indelicadeza com os convidados do Império.

— Sim, pai, pode deixar.

A Terceira Princesa do País Agrícola Perujin, Rania Tafrif Perugian, respondeu de forma automática, escondendo sua má vontade atrás do véu delicado que lhe cobria o rosto.

— Mais uma vez, preciso frisar a importância do Império para nossas indús—

— Não se preocupe, pai. Vou garantir que tudo corra às mil maravilhas — atalhou Rania. Não precisava ouvir o resto. Ele repetia a mesma ladainha há anos, desde que ela pisara em São Noel pela primeira vez.

Até parece que importa. Não é como se fosse aparecer alguém que preste do Império, pensou ela, sem verbalizar a afronta, mas resmungando em silêncio.

Ela nem sempre fora assim. Desde pequena, carregava um forte senso de dever. Como princesa de Perujin, considerava sua obrigação zelar pelo futuro de seu país. Foi com esse pensamento que se matriculou na Academia São Noel.

Todo ano, no comecinho da primavera, os estudantes perujianos da academia organizavam um evento de boas-vindas, para o qual convidavam os alunos de Tearmoon. O objetivo era estreitar laços e – o mais importante – mimar os jovens nobres com comidas e produtos agrícolas de Perujin. Aqueles estudantes de Tearmoon, um dia, herdariam os títulos de seus pais e ocupariam cargos importantes no Império. Fazer amizade com eles desde cedo seria vantajoso para Perujin no futuro – e era exatamente para isso que servia a festa.

Quando Rania iniciou seus estudos, dedicou-se de corpo e alma aos preparativos, acreditando piamente que aquilo era o melhor para seu país. Selecionou as melhores colheitas, buscou conselhos sobre receitas adequadas e varou muitas noites planejando com os amigos, tudo para oferecer aos convidados de Tearmoon a melhor experiência possível. No dia da festa, porém, a realidade lhe deu um tapa na cara. Apareceu um mísero punhado de estudantes, todos de famílias nobres de baixo escalão. Tinham a mesma expressão de enfado de quem fora obrigado a comparecer, e ficou óbvio na hora que nenhum deles queria estar ali.

De início, Rania não conseguia entender tamanha diferença de atitude. Por que receberam um grupo tão desanimado? A resposta veio de onde menos se esperava: de sua própria irmã mais velha.

País de servos. De segunda categoria. Estado tributário.

Eram esses os termos que os nobres de Tearmoon usavam para descrever Perujin. Descobriu que sua irmã passara pela mesma situação anos antes, engolindo a mesma humilhação para agradar grupos de convidados de Tearmoon que estavam ali por pura obrigação. O sorriso cansado da irmã ao recordar essas experiências fez Rania tremer de raiva, mas tudo o que pôde fazer foi cerrar os dentes, apertar os punhos e engolir o choro.

Porque ela sabia a verdade: para os fracos, a única opção era aguentar firme. Se as relações com Tearmoon azedassem e uma guerra estourasse, Perujin seria esmagada como uma formiga. Desde aquele dia, ela perdeu todo o entusiasmo.

E agora, com o evento anual se aproximando a passos largos, seu astral estava no fundo do poço. Só de pensar nisso, sentia o estômago revirar. Sua má vontade tinha toda razão de ser; ninguém gosta de ver o fruto de tanto esforço ser ridicularizado como “comida de roça”.

— Ugh, eu odeio isso com todas as minhas forças! Queria tanto que essa festa fosse cancelada… — E então, uma ideia lhe ocorreu.

…Já que é tudo uma palhaçada mesmo, por que não me divertir um pouco?

Decidiu pregar uma peça. Foi até as travessas de comida que estavam sendo preparadas para a festa… e, às escondidas, misturou alguns alimentos em conserva que já tinham passado da validade há tempos.

Com a agricultura sendo seu carro-chefe, Perujin investia pesado em pesquisa de técnicas de conservação de grãos, o que permitia que durassem muito mais. O sabor, claro, sofria um pouco, mas era uma diferença sutil, que só os paladares mais apurados notariam. Considerando que Tearmoon só mandava nobres de segunda linha, era impossível que percebessem a diferença. Rania sorriu, imaginando os tontos se empanturrando alegremente com um monte de comida velha. Seria um consolo pequeno, mas, pelo menos, ela daria umas boas risadas. Infelizmente, talvez como um castigo do destino por seu coração maldoso, sua travessura acabou se voltando contra ela.

— Princesa Rania, por favor, aceite minha mais profunda gratidão por nos convidar para uma festa tão esplêndida, cheia de tantas maravilhas!

Quando os convidados chegaram no dia da festa, o queixo de Rania despencou.

O-o-o quê?! Mas por quê?! Como assim?!

— Sou Mia Luna Tearmoon, Princesa do Império Tearmoon. É um imenso prazer conhecê-la.

Liderando o grupo de estudantes estava ninguém menos que a VIP entre as VIPs, a filha querida do Imperador reinante, a própria Princesa Mia!

Ok, respira fundo! Beeem fundo! Calma, Rania, pensou ela, tentando controlar o pânico.

— O prazer é todo meu, Alteza. Sou Rania Tafrif Perujin, Terceira Princesa do País Agrícola Perujin. Agradeço imensamente por sua presença em nossa festa. Por favor, sintam-se em casa e deliciem-se com estas maravilhosas iguarias perujianas — disse ela, curvando-se profundamente. Ao levantar os olhos, porém, quase perdeu o fôlego.

A Princesa Mia, com seus olhos de um azul profundo e olhar cristalino, a encarava diretamente.

— Hyaa— Ah, hm, A-Alteza…?

— Ahn? Oh, me perdoe. Não se preocupe comigo.

O tom tranquilo de Mia não foi suficiente para acalmar o coração disparado de Rania.

É… É como se ela tivesse lido minha alma…

Então Rania se lembrou. Mia Luna Tearmoon tinha outro título; alguns a chamavam de a Grande Sábia do Império.

Será que ela sacou minha pegadinha também…? N-Não, impossível. Ela não tem como saber. Tem um monte de salgadinhos e doces, é bem provável que ela nem chegue a provar aquele específico. Vai dar tudo certo, pensou, enquanto seus olhos percorriam a variedade de travessas que cobriam as mesas. Eram tantas – quase tantas quanto as borboletas que esvoaçavam nervosamente em seu estômago.

 

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— Oh, me desculpe. Não se importe comigo.

Depois de um longo segundo encarando o rosto de Rania, Mia sacudiu a cabeça. A garota tinha um bronzeado saudável e uma beleza encantadora em seus traços. Seus cabelos escuros pareciam ter capturado a cor do céu noturno, e seus olhos brilhavam com o verde intenso de uma floresta viçosa no verão.

Ah, sim. Lembro que os traços dela eram mais ou menos assim. Mas agora que observei bem, não vou esquecer de novo! pensou ela, sentindo uma ponta de satisfação após gravar os detalhes do rosto da garota.

Seus pensamentos a levaram a uma lembrança da linha do tempo anterior. Era o ano em que o Império fora assolado por uma fome terrível. Na época, Ludwig virava noites tentando garantir comida suficiente para o império.

— Alteza… se me permite a ousadia de desabafar minhas frustrações… — disse o Ludwig do passado. Uma veia saltava em sua testa, e sua bochecha repuxava.

— N-Na verdade, não permito… — gaguejou Mia. A expressão de Ludwig lhe dava calafrios.

— Estávamos prestes a conversar com a princesa de um país cuja ajuda necessitamos desesperadamente, correto? E essa princesa frequentou a academia na mesma época que a senhorita, correto? Então, como diabos é possível que a senhorita não se lembre da aparência dela?

— Eu acabei de dizer que “não permito”!

Ludwig ignorou o protesto fraco e continuou:

— A razão pela qual os nobres enviam seus filhos e filhas para a Academia São Noel é para construir relações e facilitar a diplomacia. Confio que a senhorita esteja ciente desse fato elementar?

— Cl-Claro que estou… Eu, hm, sinto muito pelo que aconteceu…

O que acontecera fora culpa exclusiva de Mia. Após uma série de negociações complicadas, Ludwig finalmente convencera o País Agrícola Perujin a lhes vender alimentos. Chegaram ao ponto de sentar à mesa de discussões, mas quando a princesa perujiana apareceu, Mia soltou uma que fez tudo ir pelos ares. Ela olhou para a princesa e perguntou: “Ora, quem seria a senhorita?”

Ludwig encarou Mia, que, num raro momento de genuíno remorso, parecia verdadeiramente arrasada. Ele suspirou.

— Bem, pensando bem, eles provavelmente só estavam esperando um deslize nosso para usar como desculpa e nos dar um não, de qualquer forma. — Mia olhou para ele, os olhos arregalados de surpresa.

— Sério?

— Imagino que sim. O Império não é o único lugar sofrendo com a fome. As colheitas foram ruins em todos os reinos vizinhos também. Comida está em falta por toda parte. Duvido que alguém tenha o suficiente para exportar. Mesmo tendo concordado em conversar, é provável que estivessem procurando um pretexto para nos dispensar o tempo todo.

Num momento igualmente raro de compaixão, Ludwig lhe oferecera algumas palavras de consolo. Logo em seguida, porém…

— Dito isso, é, no entanto, indesculpável esquecer os rostos da realeza estrangeira e de nobres poderosos, especialmente quando a senhorita sem dúvida os viu inúmeras vezes. É melhor dar uma boa e séria olhada em si mesma e refletir sobre seus erros, Alteza.

— E-Eu já estou fazendo isso. Não precisa ficar repetindo…

No fim das contas, Mia passou o resto do dia segurando as lágrimas, forçada a aguentar o sermão interminável de um Ludwig nada feliz. Desde então, Mia vinha se esforçando de verdade para identificar quem eram os contatos importantes e tentando ao máximo memorizar seus rostos.

…O que era ótimo, claro, mas nada que merecesse uma medalha.

 

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— Desejo sinceramente que esta maravilhosa confraternização aproxime ainda mais os povos de Tearmoon e Perujin. E agora, que comece a festa!

Ao comando de Rania, a festa, de fato, começou. Não era um banquete estilo buffet, nem um clássico chá da tarde, mas algo no meio termo. A comida servida nas mesas era, em sua maioria, petiscos e frutas. As bebidas consistiam em diversos tipos de chá preto e de ervas. Toda a festa transpirava a elegância serena de uma pausa vespertina. Enquanto Mia perscrutava as delícias disponíveis, sentiu seus olhos serem magneticamente atraídos para os bolos, depois para as tortas, e então para o…

Quanta variedade! Realmente fazem jus ao nome de País Agrícola.

Mia ficou genuinamente impressionada, e os filhos e filhas de marqueses e condes que a acompanhavam também não esconderam o entusiasmo diante da vasta seleção de quitutes. Especialmente para as moças, seus preconceitos se dissolveram diante de doces tão apetitosos. Nada como uma boa guloseima para combater a discriminação. É verdade que o fato de Mia ter se apressado pessoalmente para iniciar o “tour de degustação” foi um fator crucial para a aceitação geral.

Só para que fique bem claro, essa não era a intenção de Mia. A única coisa que passava por sua cabeça naquele momento era uma vontade incontrolável de se empanturrar. Um fato óbvio, talvez, mas que ainda assim vale a pena mencionar.

Depois de circular pelas mesas, Mia sentiu seu olhar ser fisgado por um prato em particular, meio escondido num canto.

— Ora, ora… Aqueles biscoitos parecem…

Não havia nada de extraordinário nos biscoitos. Em meio a um oceano de frutas coloridas e doces cintilantes, a única coisa que chamava a atenção neles era, justamente, sua total simplicidade.

— Ah, espere, aquilo é—

Por algum motivo desconhecido, Rania vinha correndo em sua direção com uma expressão de puro pânico. Mia não entendeu o porquê, mas poderia descobrir depois. No momento, os biscoitos eram prioridade. Pegou um e o levou à boca.

Ahh, eu conheço esse sabor… É ele. É exatamente este.

Dentro da textura esfarelenta e quase poeirenta, havia uma doçura que se espalhava lentamente pela língua. O gosto açucarado e barato trouxe de volta, num instante, seus longos e lúgubres dias na masmorra. Num mar de lembranças cinzentas e deprimentes, aquela era uma das poucas fagulhas de luz.

Apenas uma vez, Anne lhe levara aqueles biscoitos. Antes da revolução estourar, o Império já vinha sofrendo com a escassez de alimentos, e nem mesmo as refeições da família real escapavam da austeridade. Por semanas a fio, muitas vezes não havia nada doce para Mia comer. Depois de ser trancafiada na masmorra, a qualidade de sua comida só piorou. Justo quando ela quase se esquecera de que comer poderia trazer algum prazer, Anne apareceu com aqueles biscoitos. Quando ela provou aquela doçura… A felicidade foi indescritível.

Uma torrente de emoções a invadiu ao reviver aquele momento, e lágrimas brotaram em seus olhos.

— Este gosto… Há quanto tempo eu não o sentia…

— E-Eu sinto muitíssimo, Vossa Alteza!

Ela se virou e deu de cara com Rania, que a encarava com uma expressão de puro pavor.

— Ahn… Pelo quê, exatamente?

Ela não fazia ideia do que tinha acontecido, mas, a julgar pela palidez mortal no rosto da garota, imaginou que fosse algo grave. Por via das dúvidas, conduziu Rania – e alguns biscoitos, porque, afinal, ninguém come um só – para um canto mais reservado do salão, onde pudessem conversar com privacidade. Seja lá qual fosse o problema, ela esperava conseguir aparar as arestas sozinha. Se a história vazasse e sua comitiva fizesse um escândalo, poderiam arruinar de vez as relações com Perujin. A última coisa que ela queria era voltar para o palácio e levar outra bronca homérica de Ludwig.

Na ânsia de evitar um sermão, ela acabou, sem querer, agindo com bastante tato.

— Sobre aqueles biscoitos, hum… Bem, a verdade é que… eles foram feitos há três anos…

— H-Há três anos?!

Mia encarou a garota, boquiaberta. Em resposta, o rosto de Rania ficou ainda mais branco que papel.

— H-Hum, é que… E-Eu não… quer dizer… Me desculpe, foi só uma brincadeira idiota…

A princesa perujiana tremia como vara verde enquanto se desculpava, mas isso não abalou Mia nem um pouco. Na verdade, Mia nem estava prestando atenção. Ainda estava em choque, processando a verdade sobre os biscoitos.

Feitos há três anos, e ainda estão comestíveis?! Não só comestíveis, mas ainda por cima deliciosos?!

Mia conhecera a fome – sentira-a na pele. O mundo sem comida era um cenário infernal que ela vivenciara em primeira mão. O gosto rançoso do pão de centeio amanhecido era algo que ela não esqueceria tão cedo. Em Tearmoon, onde as técnicas agrícolas eram terrivelmente atrasadas, métodos de conservação de alimentos eram praticamente lenda. Era quase impossível manter as colheitas comestíveis por muito tempo, que dirá preservar sua qualidade.

Mia ergueu os biscoitos, observando-os com reverência. O simples fato de existirem já era incrível. Ela sabia o peso daquilo. Por um instante, eles quase pareceram moedas de ouro reluzentes. Então, tudo se encaixou como num passe de mágica, e ela entendeu porque Rania trouxera aqueles biscoitos para a festa.

Agora eu entendi! Isso é uma demonstração da tecnologia de Perujin! Ela está me mostrando o quão eficientes eles são na conservação de alimentos!

O Império Tearmoon era, na prática, um cliente de Perujin. A comida servida naquela festa não era apenas para ser saboreada. Eram amostras de produtos que estavam à venda.

…Ou algo do tipo. Lembro do Ludwig ter mencionado algo parecido. Eu acho.

Ele lhe dera um sermão tão longo que ela acabou ignorando a maior parte. De qualquer forma…

Nesse caso… Heh heh. Essa Princesa Rania realmente sabe o que faz!

Mia engoliu em seco, cobiçando os tesouros dourados que segurava. Em voz baixa, ponderou: — Entendo… Então, esta é a famosa conservação de alimentos perujiana… Absolutamente impressionante.

 

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Os olhos de Rania se arregalaram ao ouvir as palavras de Mia. Ela encarou a princesa de Tearmoon, quase sem conseguir acreditar no que acabara de escutar. Tinha certeza de que levaria uma bronca monumental… mas, em vez disso, estava ouvindo elogios.

Uma princesa de Tearmoon… elogiando a tecnologia de Perujin? Mas como? Por quê?

No mundo que ela conhecia, o povo do Império só tinha zombarias e desprezo por eles. Todo o trabalho árduo e a perícia investidos no cultivo e armazenamento de suas colheitas jamais seriam reconhecidos. Ela já tinha perdido as esperanças. Mas agora…

Essa pessoa… Será possível? Será que a Princesa Mia é alguém que vai reconhecer o valor da nossa tecnologia e nos tratar de igual para igual?

— Princesa Rania, gostaria de discutir um assunto com a senhorita. Poderia me conceder um instante?

— A-Ah, sim, claro!

Após a breve conversa, as duas princesas selaram o momento com um firme aperto de mãos e, assim, uma parceria milagrosa nasceu, fruto de um profundo e mútuo mal-entendido. Quanto ao rumo que este projeto peculiar tomará… Bem, só o tempo dirá.

 

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— Conservação de alimentos perujiana, hein… Estabelecendo um projeto de pesquisa conjunto, nós temos acesso à tecnologia deles, enquanto conseguem financiamento. Mas você não disse que o Império estava sofrendo com a síndrome dos cofres vazios?

— Eu tinha separado uma parte do nosso orçamento para ajudar no desenvolvimento de novas terras agrícolas. A maior parte dessa verba ainda está intacta, então pensei em usá-la para financiar este projeto. Parece um investimento bem melhor de tempo e dinheiro do que tentar enfiar juízo naquelas cabeças duras dos nobres.

— Hmm… A conservação de alimentos é o primeiro passo. Depois, dá para expandir para técnicas agrícolas mais abrangentes. Aí, com exemplos concretos dos benefícios dessas tecnologias, você começa a mudar a mentalidade dos nobres em relação à agricultura. E então, fica bem mais fácil convencê-los a liberar mais terras para o plantio… Ha! Brilhante. Vejo que você pensou em tudo nos mínimos detalhes.

— Para ser sincero, às vezes eu até torço para que a gente tenha uma crise de fome. Pelo menos me pouparia um bocado de saliva tentando convencê-los.

— Opa, opa, vai com calma aí! — Balthazar interveio, erguendo as mãos. — Acho que com esse desejo você está querendo dar um tiro no próprio pé.

Ludwig gargalhou.

— Entendi o recado. É brincadeira, claro… Mas, e aí, o que me diz? Depois de ouvir tudo isso, como você enxerga o futuro do Império? Não é lá muito animador, eu sei, mas se quer minha opinião… Também não há motivo para tanto pessimismo.

— Hmm. Se tudo o que você disse for verdade, então preciso concordar que essa princesa é uma figura e tanto, realmente intrigante…

Balthazar ergueu sua caneca de cerveja.

— À sábia princesa que surgiu, como num passe de mágica, na vida do meu bom amigo!

Ludwig não acompanhou o gesto. Em vez disso, ajeitou os óculos e, com voz solene, proclamou: — À Sua Sábia Majestade, a futura Imperatriz de Tearmoon!

Por um longo instante, Balthazar apenas o encarou, mudo de espanto.

 

 

 

— …Você está falando sério?

— Tudo pela restauração do Império. E para isso, meu caro, pretendo contar com a sua ajuda também — disse Ludwig, fitando Balthazar diretamente nos olhos.

Por um momento, Balthazar sustentou o olhar do amigo. Depois, ergueu os olhos para o teto, passou a mão pelos cabelos e soltou uma risada curta.

— A primeira Imperatriz na história de Tearmoon, hein? Vamos ter que puxar tantos pauzinhos que nossos braços vão cair de cansaço.

Enquanto isso, Mia seguia completamente alheia às poderosas marés que se formavam sob seus pés. Embora, eventualmente, ela viesse a descobrir os planos e tivesse um pequeno surto como resultado, essa é uma história que fica para depois.

 


 

Tradução: Gabriella

Revisão: Matface

 

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