Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 43 – Pânico na sela

— Princesa Mia? O que está fazendo aqui?

— Nossa, Príncipe Abel? Que coincidência.

Os olhos de Mia se arregalaram minimamente em surpresa. Não esperava ver Abel aqui. Mergulhando nas memórias da linha do tempo anterior, lembrou que Abel foi um membro do Clube de Cartas, o qual ela realmente considerou entrar numa tentativa de se aproximar dele. No entanto, após descobrir que na verdade era um clube composto por um bando de imprestáveis que passam o dia todo apostando, Anne se tornou inflexível sobre deixá-la se aproximar do local.

Eu tinha certeza de que ele estaria vagabundeando como seus colegas degenerados.

O Abel do passado ressurgiu em sua mente. Lembrou de como seu rosto sempre parecia estar meio pálido. Tudo sobre ele — do seu sorriso apático e superficial, ao seu jeito desleixado de usar o uniforme — ilustrava alguém que não levava a vida a sério. E ainda assim…

 — Você se juntou ao Clube de Equitação?

— Hm? Ah, sim. Percebi que sendo, você sabe, tecnicamente um príncipe de Remno, deveria tentar refinar, pelo menos, minhas habilidades com as espadas e cavalos.

… A face que viu não era nada como a qual lembrava. Não havia contrafeito em seu sorriso alegre, e suas bem-vestidas roupas de cavalaria exalavam vitalidade.

— E o que te traz aqui? — disse Abel.

— Estava curiosa sobre a equitação, então vim dar uma olhada.

— Você? Equitação? Bom, isso não é o que esperava ouvir…

— Ei, Abel, você é amigo dessa dama?

— Ah, Malong. Sim. Eu tive a honra de ser seu parceiro de dança na festa da outra noite.

— Não diga. Em boa hora, então. Agora, por que não leva a dama para um passeio à cavalo?

— … O que? — Abel piscou algumas vezes.

— Ela estava curiosa o bastante para enfrentar todo o caminho até aqui. Não podemos deixá-la sair de mãos vazias agora, podemos? — disse Malong, com uma piscada sugestiva.

— Mas…

Abel deu uma rápida olhada em Mia antes de imediatamente desviar o olhar. Suas bochechas rapidamente coraram em tom rosa-claro.

Nossa, isso é…

Obviamente isso não escapou da percepção de Mia.

Quem diria. Ele está todo tímido por cavalgar comigo!

Ela podia entender o porquê de Abel ficar nervoso. Cavalgar em conjunto era algo bem íntimo.

Oh ho ho, ele não é a coisa mais fofa agora?!

Seu eu interior de vinte anos de idade ergueu a cabeça e olhou para ele com um olhar de arrogância mundana. Apesar de nunca ter tido um relacionamento, era uma mulher crescida — desde que você conte a linha do tempo anterior. A mente de um mero pré-adolescente dificilmente apresentaria um desafio a ela. Ela sabia que o estava lendo assim como leria um livro.

Apenas para constar, seu palpite estava realmente certo dessa vez, porém isso deveria, definitivamente, ser categorizado como sorte de principiante, e não à reflexão romântica.

Nesse caso, acho que serei obrigada a liderar as coisas por aqui. Sou a mais velha e madura, afinal.

Se sentindo muito bem sobre si mesma, Mia sorriu para ele.

— Eu apreciaria muito se você pudesse, Príncipe Abel. Nós mal tivemos tempo de nos conhecer na festa. Adoraria ter a chance de conversar um pouco mais. — disse  descaradamente inclinando a cabeça para o lado e olhando para ele com olhos límpidos e bem abertos.

— Uh, bem, digo… se você insiste, é claro…

— Nossa — disse Mia, com um doce sorriso —, que cavalheiro esplêndido você é.

O sorriso não durou muito.

Eeeek! Não! Nana nina não! Isso é muito alto! Isso é alto demais!

Exigiu cada gota de sua contenção para evitar gritar seus sentimentos em voz alta. Após Malong ajudá-la com o cavalo, imediatamente notou que algo estava errado: As costas de um cavalo ficavam em uma altura maior do que esperava.

E para piorar, tinha o fato dela estar em seu uniforme escolar. Conceituado por aqueles na vanguarda do mundo da moda, os uniformes da Academia São-Noel eram bem à frente de seu tempo. Uma blusa branca era vestida por baixo de um blazer e então complementada com uma saia sanfonada de dobras bem definidas. Essas roupas não eram nada parecidas com o vestuário comum da nobreza feminina. Isso também significava precisar cavalgar com uma saia, o que a forçou a sentar-se de lado com ambas as pernas juntas.

Por motivos óbvios, estava apavorada. Se pudesse se sentar normalmente, poderia olhar adiante sob a cabeça do cavalo. Já com seu corpo virado para o lado, qualquer vislumbre era um lembrete gritante da distância até o chão, e também era uma posição extremamente instável — qualquer desleixo em sua concentração resultaria em uma rápida e involuntária descavalgada. Como resultado, houve um dramático rearranjo dos recursos mentais. Todas as suas anteriores considerações — o ar romântico, tomar a liderança e ser a mais velha e madura — foram por água abaixo para atingir um objetivo singular: não ter um colapso nervoso bem ali.

— Tudo bem, Princesa Mia. Agora se segure firme em mi—Wah!

Tendo perdido toda sua compostura, não estava nem mesmo ouvindo. O medo de cair a fez enlaçar os braços no objeto mais próximo — a cintura de Abel — e se segurar pelo bem da vida.

— H-hum, Princesa Mia, você está… bem? V-você não precisa segurar tão for—

— E-e-eu sei! E-estou perfeitamente bem, s-sinta-se livre para continuar!

No momento que o cavalo deu seu primeiro passo à frente, ambos os “cavaleiros”   já tinham perdido toda a compostura. Estando tão perto da garota que gostava,  Abel se tornou uma pilha de nervos, enquanto Mia simplesmente estava em estado de pânico por puro pavor.

E assim começou o passeio à cavalo que foi de parar os corações por vários motivos errados.