Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 38 – A empregada por trás das cenas – O desfecho

Um pouco antes de Tiona, novamente bem vestida, ficar pronta para sair, Keithwood lhe entregou uma curta mensagem.

—  Sinto muito em lhe incomodar, Senhorita Rudolvon, porém se importaria em entregar isto ao milorde, Príncipe Sion?

— Huh? Oh, certamente entregarei — respondeu Tiona com um aceno antes de avançar ao salão de baile.

Chegou atrasada, mas ninguém pareceu se atentar. A razão disso foi ter chegado ao fim da dança entre Mia e Sion. Todos estavam hipnotizados pelas suas performances, permitindo que Tiona caminhasse sem chamar atenção.

 Uma vez que a dança terminou, Sion foi imediatamente cercado por um amontoado de garotas. Tiona estava intimidada pelo pensamento de se esgueirar por um grupo desses, mas respirou fundo, segurou os nervos e entrou no meio.

— Hum, com licença…

— Oi? Ah, acho que já te vi antes. Seu nome é…

— Tiona Rudolvon. Desculpe te incomodar, Príncipe Sion, mas, hm, Keithwood me disse para lhe entregar isso…

— Ele pediu? Hm, com licença.

Após criar alguma distância entre ele e o grupo de garotas, Sion rapidamente leu o bilhete, que resumia o incidente e os prováveis culpados. Além do mais, mencionava que seria prudente considerar um possível envolvimento da Princesa Mia, pela simples abundância de cuidados.

Hah, de fato, uma grande “abundância de cuidados”. Você às vezes é muito cuidadoso para o seu próprio bem, Keithwood. 

Sion sorriu e balançou a cabeça. O trabalho de Keithwood era expandir sua perspectiva tomando nota de possibilidades que ele não consideraria. Portanto, qualquer um por quem Sion nutrisse algum tipo de afeição deveria ser analisado com máximo rigor. Mas era provável que, pessoalmente, Keithwood não suspeitasse de Mia também.

Caramba, tenho certeza de que ela é alguém que nem Keithwood conseguiria evitar de gostar.

De qualquer maneira, ele permaneceu cético, escolhendo apresentar os fatos para que Sion os considerasse. Apesar de sua atitude firme, podíamos ver um homem cuja competência não procedia de talento, mas sim de obstinada diligência — um verdadeiro maníaco pelo seu próprio trabalho.

Dito isso…

Sion pensou em como Mia rejeitou sua oferta para uma segunda dança. Ela, quase que certamente, avistou Tiona durante a dança. Um simples olhar era, provavelmente, tudo que precisaria para entender mais ou menos a situação. Então, numa tentativa de deixar a pobre garota aproveitar a festa agora que estava presente, confiou Tiona a ele. Normalmente, Mia teria cuidado dela, mas em um baile, a melhor solução era um parceiro masculino liderando o caminho.

Uma parceira mais adequada para mim, huh… Em outras palavras, há alguém aqui que precisa da minha ajuda.

Apesar da leve redundância da fala, o sentido era claro, e este era um pedido que Sion não poderia recusar.

Ainda assim, minha querida princesa… formulando. Na próxima vez, você deveria considerar as nuances da palavra “adequada”.

Sentindo que acabou de encontrar uma fissura na armadura de perfeição que Mia era, Sion não pôde deixar de sorrir.

— Hum, Príncipe Sion?

— Oi? Ah, peço desculpas — disse Sion, limpando a garganta. — Senhorita Rudolvon, posso ter a honra de me juntar a você na próxima dança?

E então, a noite de música e dança continuou.

Na manhã seguinte. Mia acordou se sentindo incrível. Na última noite, após produzir muito suor com toda aquela dança, aproveitou uma longa e luxuosa noite na banheira. Em seguida, junto ao confortável cansaço perpetuando seu corpo da cabeça aos pés, se arrastou para a cama macia e dormiu como uma pedra até o amanhecer. Esse foi, com certeza, o sono ideal. Após acordar, encontrou-se cheia de energia e bom humor. Passeou pela cafeteria, cantarolando para si mesma enquanto imaginava o que teria no cardápio. Quando se sentou e mandou Anne fazer o pedido de sua comida, no entanto, franziu a testa.

—Hum?

Um jovem rapaz se aproximou de Anne. Ele tinha um olhar afiado, características rígidas e estava vestido primorosamente em preto. Parecia ser o atendente de algum dos alunos da academia. Havia uma elegância na forma em que  se conduzia e Mia o considerou bastante charmoso. Se fosse apenas algum outro colega bem vestido, ela nem daria uma segunda olhada. O máximo que faria seria dar um tapinha nas costas de Anne junto com uma piscadinha. No entanto, aconteceu de ser o atendente de seu arqui-inimigo, Príncipe Sion, e isso mudava tudo.

Pior ainda era o fato de que estava acompanhado de outra garota. Suas características únicas pertenciam a uma minoria única dentro do império, e Mia a conhecia como a atendente de Tiona Rudolvon, Liora.

Até os dias de hoje Mia conseguia lembrar do ódio que observou nos olhos dessa garota enquanto apontava uma flecha para o seu rosto. Foi uma cena da linha do tempo anterior que foi queimada em sua memória.

P-P-Por que luas Anne está falando com eles como se fossem amigos?!

Mia perguntou sobre isso quando ela retornou.

— Eu iria te contar sobre isso depois, mas… — Embora inicialmente hesitante, Anne começou a contar os eventos do dia anterior. Quando terminou…

— ….

Mia não emitiu nenhum som. Anne continuou a esperar e esperar, mas Mia permanecia estranhamente imóvel. E então, pouco a pouco, seu pequeno corpo começou a inclinar.

— Princesa Mia!

Ela caiu para o lado igual um tronco, sua pele pálida como a lua.