Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 15 – Princesa Mia Atinge a Iluminação

 

A casa de Anne estava localizada fora do centro da cidade que cercava o castelo. Era uma casa comum de madeira, pequena e despretensiosa, junto de várias outras habitações que eram do mesmo jeito. Lindas flores decoravam o quintal, do outro lado tinha um varal onde as roupas recém-lavadas esvoaçavam suavemente na brisa. Era uma visão humilde – não era sofisticada em nenhum aspecto – mas irradiava o calor da lareira e do lar.

— Princesa Mia, por favor, fique aqui na carruagem até que eu diga que está tudo bem para entrar — advertiu Anne antes de correr para dentro da casa. Alguns minutos depois, ela reapareceu com um casal de meia-idade, ambos um pouco pálidos.

— Nossa, vocês dois seriam…

— É-É uma honra absoluta conhecê-la, Vossa Alteza. Eu sou o pai da Anne — disse o homem com sua voz falhando pelo nervosismo. Ele então apresentou a mulher ao seu lado como a mãe de Anne.

               Em resposta, Mia deu um puxão rápido na saia e fez uma reverência.

— Prazer em conhecê-los. Meu nome é Mia Luna Tearmoon. Sua filha, Anne, tem sido uma verdadeira bênção para mim. Estou muito grata por seus serviços — disse ela com um sorriso doce.

— V-Você nos agracia com suas palavras, Vossa Alteza. Por favor, aceite nossa mais profunda gratidão por agraciar nossa filha com seu favor real.

— T-Temo que não tenhamos nada a oferecer à Vossa Alteza aqui, mas…

— Por favor, fiquem à vontade. O serviço que sua filha oferece é o suficiente. Não peço mais nada. Estamos visitando hoje simplesmente porque desejamos trazer um presente para vocês. — Mia deu a eles seu melhor sorriso de princesa. Ela era muito boa em mostrar o seu lado doce. — Agora Anne, poderia me apresentar para suas irmãs? Rápido, por favor.

Ela queria comer os doces gelados, e o pensamento deles derretendo a estava deixando no limite. Felizmente, o copo de cerâmica continha oito doces no total – ela sabia porque tinha contado. Com tantos, deveria haver o suficiente para que todos na família de Anne comessem um e ainda deixassem um pouco para ela.

            Ufa, tem o bastante! Ainda bem que os Quatro Duques não economizam em seus presentes!

Ela estremeceu de alegria ao imaginar-se colocando uma das delicadas guloseimas na boca. Quando entrou no quarto de hóspedes, no entanto, ela ficou um pouco preocupada. Reunidos no espaço pequeno estavam quatro crianças. O mais velho era um menino, que parecia ser um pouco mais velho que Mia. As outras três, eram meninas que pareciam ser um pouco mais jovens do que ela.

— …Irmão e irmãs de Anne, eu presumo.

Contando com Anne, havia seis jovens aqui. Com os pais dela, isso fazia… Oito!

Ufa. No limite…

Isso significava que depois de fazer as contas, haveria um único doce para ela. Ao mesmo tempo, ela teria demonstrado sua generosidade sem limites compartilhando livremente suas guloseimas com todos os presentes. Não só isso, mas a impressão de Anne sobre como a princesa tinha um bom coração, permaneceria intacta.

Sentindo-se bastante orgulhosa de si mesma por tudo ter funcionado tão perfeitamente – não que ela tivesse algo a ver com isso – Mia voltou a se imaginar alegremente comendo doces gelados. Como resultado, ela não prestou atenção às apresentações de Anne sobre seus familiares.

— Então… Sinto muito, princesa Mia, mas a nossa segunda irmã, Elise, tem problemas de saúde e está sempre deitada em seu quarto. Sei que ela deveria vir cumprimentá-la, mas…

— …Ahn?

Mia congelou. Havia mais uma pessoa. Não apenas isso…

— Uau! Sério, Vossa Alteza? Tem certeza de que podemos ter isso?

— Obrigado, Vossa Alteza! Vamos, mamãe e papai! Vamos provar juntos!

— Agora. Cuidado com o seu comportamento na frente da princesa… Por favor me desculpe, Vossa Alteza

Diante dos rostos sorridentes da família de Anne, Mia sabia que seu destino estava selado. Ela não teve coragem de exigir um pedaço na frente de Anne e correr o risco de arruinar sua imagem como a princesa de bom coração.

Suas garotas estúpidas! Por que não colocaram dez, suas mesquinhas?! Isso não é nada para os Quatro Duques!

Ela decidiu direcionar sua frustração para as filhas dos duques. Depois de submetê-las a uma boa rodada de xingamentos mentais, ela finalmente se acalmou.

— Sinto muito, Vossa Alteza. Sei que normalmente não há desculpa para sua ausência… Por favor, aceite minhas sinceras desculpas…

— O que? O-Oh, uh, isso é culpa minha. Eu não me importo. É minha culpa ter vindo tão de repente. Além disso, se ela não está se sentindo bem, não faz sentido forçá-la a vir. Mais importante, Anne, por favor, faça com que todos experimentem esse doce. Seria uma pena se eles derretessem. — Ela lançou um último olhar melancólico para os doces gelados antes de continuar. — Ah. Sim, e por que não levamos um para sua irmã lá no quarto dela?

A fim de se deixar totalmente claro, Mia não estava dizendo isso por preocupação com os doentes. Ela simplesmente não suportava a ideia de algo gostoso estar entrando nas bocas dos outros, e não na dela. Ficar lá significava sentar e ver todo mundo comer. Ela precisaria de um coração de ouro para não considerar isso uma tortura, e o dela só tinha uma fina camada de ouro. Era hora de fazer uma fuga.

Quanto a como Anne interpretou sua declaração…

— Ah… Princesa Mia… — Ela disse, tão emocionada que teve de tomar alguns momentos para se recompor antes que pudesse continuar. — Você é tão atenciosa. Aprecio a sua bondade. De verdade. E tenho certeza que minha irmã também. Ela ficará tão feliz em ver você!

— Ah. Vamos lá então. É bom ouvir isso.

Comparada com as sinceras palavras de gratidão de sua jovem empregada, a resposta de Mia foi decididamente menos apaixonada.