Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 11 – Um Grande Líder Concedido a Nós – Nota: Um Terrível Mal Entendido

 

Para Ludwig, foi o encontro de uma vida.

Nascido como o segundo filho de um comerciante, era dotado de uma esperteza facilmente aparente desde a infância. Com seu irmão mais velho destinado a assumir os negócios da família, ele direcionou suas aspirações para outro lugar, decidindo desde cedo a se tornar um funcionário do governo. Uma vez que começou a estudar para seu objetivo, no entanto, não demorou muito para perceber a enorme escala da corrupção que apodreceu o Império Tearmoon por dentro.

As razões eram diversas, mas estava claro que muito disso se originava das casas nobres, das quais a própria família do imperador era a mais poderosa. Talvez por isso Ludwig tivesse tanto desdém pelos nobres e realeza; isto é, aqueles chamados de linhagem nobre. Então, um dia, uma jovem apareceu de repente diante dele.

O nome dela era Mia Luna Tearmoon. Com seus lindos cabelos prateados – que brilhavam como se infundidos com a luz do luar – quanto às circunstâncias de seu nascimento – como princesa, era tão bem-nascida quanto possível – era a epítome do tipo de nobreza que ele sempre detestou. E mesmo assim, essa garota, com todo o seu privilégio e poder, veio até ele e pediu a ele para emprestar-lhe sua força para restaurar o império.

Ele nunca esqueceria o brilho de inteligência que tinha visto em seus olhos. Era deslumbrante, quase divino… Naquele instante, sentiu como se estivesse diante da própria deusa da lua, banhada em sua luz. Mesmo agora, seu coração disparava de alegria sempre que se lembrava da cena. Desde aquele dia, em um esforço para corresponder à confiança que Mia depositou nele, se dedicou de corpo e alma ao seu trabalho. Quando encontrou resistência de seus superiores, dispensou suas queixas ostentando o nome da princesa. Imaginando que suas ações certamente haviam chegado aos ouvidos de Mia, interpretou o silêncio dela como se estivesse agindo de acordo com os desejos dela. Presumivelmente, ela pretendia que, uma vez que o informasse de seus pensamentos sobre o império, ele tomasse a iniciativa e fizesse o que achasse melhor. Sua postura era clara: ela apontava o caminho e ele traçava o curso. Era a boa liderança dos livros didáticos; uma vez que a visão abrangente foi comunicada, os detalhes devem ser deixados para os especialistas na linha de frente e seu julgamento deve ser respeitado. Embora parecesse uma decisão bem simples, os líderes que a tomavam corretamente eram poucos e distantes entre si, seu julgamento pobre levando à queda de incontáveis reinos ao longo dos tempos.

Ainda assim, aqui estava uma menina, com apenas doze anos de idade, que conseguiu. Quem desafiou a tendência da história e tomou a decisão correta. Ludwig estremeceu quando um choque percorreu sua espinha.

— Ela poderia… Ela deve… Certamente, ela é uma grande líder concedida a nós pelos céus… — sussurrou Ludwig enquanto olhava para o céu em reverência.

…Desnecessário dizer, é claro, que praticamente tudo o que ele pensava era nada mais do que uma invenção de sua própria imaginação.

Apenas no caso de não ter ficado claro para alguém.

— Boa tarde, Ludwig.

            — Ora, se não é a princesa. Bem-vinda, Sua Alteza — disse Ludwig, fazendo uma pausa em seu trabalho. Assim que estava prestes a se levantar, Mia levantou a mão para detê-lo.

Ela sorriu e disse:

— Por favor, fique à vontade. Saiba que seu trabalho duro é muito apreciado. Obrigada, Ludwig.

            — De nada, Sua Alteza, mas o crédito deve ser todo seu. Graças a você, meu trabalho está sendo muito mais tranquilo. Por favor, aceite minha gratidão.

Ludwig curvou-se respeitosamente, o que provocou um aceno satisfeito de Mia. Ele soltou um suspiro de alívio, tomando seu aceno de cabeça como um sinal de que seu comportamento até o momento não estava errado. Afinal, ele estava na presença de alguém cuja sabedoria superava em muito a sua; ele precisava ficar atento.

            — Muito bem. Na realidade, vim aqui hoje porque gostaria de seu conselho sobre um assunto muito particular.

            — Meu conselho, você diz…

            Ludwig cruzou os braços e franziu as sobrancelhas enquanto mastigava as palavras da princesa.

            A julgar pelo tom de voz de Sua Alteza, ela não aparenta ter nenhuma reclamação sobre meu trabalho até agora… Mas, novamente, nunca posso ter certeza. Talvez haja algo que eu não tenha percebido.

            Afinal, imaginou, ele estava falando com alguém que poderia muito bem ser uma deusa da lua em forma humana. Seu intelecto certamente beirava o divino.

            A essa altura, após um período de inflação extrema e descontrolada, a opinião de Ludwig sobre Mia estava bem além do reino da razão e do bom senso.

            …Pobre homem.

            — De fato. Embora poderíamos ter nossa discussão aqui… — Mia baixou o tom e mostrou a ele um sorriso cheio de dentes. — Preferiria que me acompanhasse para outro lugar, na verdade.

— E onde poderia ser?

            — O Distrito Lua Nova.

            A mandíbula de Ludwig caiu no chão quando ouviu essas palavras.

— O-o quê?! Você deseja… ir para as favelas?! — exclamou, sua voz falhando um pouco em espanto.

            O Distrito de Lua Nova era a favela mais próxima das muralhas da cidade de Lunatear. Era um lugar evitado até mesmo pelos cidadãos comuns, quanto mais pela nobreza ou, Deus me livre, a realeza. O próprio Ludwig nunca tinha posto os pés no distrito, e também nunca quis. Sob nenhuma circunstância – nenhuma – a única princesa do Império Tearmoon deveria ir para lá.

Sua explosão foi imediatamente ecoada por uma Anne angustiada, para quem as palavras de Mia foram um rude despertar.

            — Vossa Alteza Mia! Você não pode! Isso está indo longe demais! — gritou a dama de companhia, que até agora tinha a impressão de que Mia estava ali simplesmente para encontrar Ludwig. Para uma jovem donzela como ela, o Distrito de Lua Nova era o tipo de lugar que queria evitar a todo custo. Era alertada por seus pais para ficar longe de lá por ser perigoso, e ela repetia o mesmo para seus irmãos mais novos.

— É algo que deve ser feito — disse Mia, descartando suas queixas com um aceno de cabeça. — Quero que você dê uma olhada com seus próprios olhos, Ludwig, e me diga o que pensa.

A determinação em sua voz os impediu de dizer qualquer coisa mais.