Na primeira vez que o encontrou, as coisas não poderiam ter sido piores. Naquele dia, Mia o estava chamando, um jovem oficial do ministério, para reconhecer formalmente seu serviço. Sua primeira impressão do jovem não foi ruim, na verdade, gostou bastante dele. Tinha o cabelo liso, comprido apenas o suficiente para cobrir as orelhas e usava um par de óculos de fabricação estrangeira. Atrás das pequenas lentes haviam olhos que brilhavam de inteligência. Embora houvesse um ar de distância nele, seus traços bonitos eram mais do que o suficiente para chamar a atenção de Mia. Foi por esse motivo que ela deu um sorriso, que raramente mostrava aos plebeus, e o cumprimentou com uma voz estranhamente gentil.
Entretanto, sua resposta foi fria e cortante.
— Você tem ideia de quanto às refeições da realeza custam?
— P-Por quê? Que rude da sua parte.
A súbita afronta deixou Mia perplexa. O homem de óculos diante dela estava aparentemente com raiva, mas ela não tinha a menor ideia do porquê. Era extremamente raro para Mia ver alguém bravo com ela, muito menos ser repreendida por alguém que tinha acabado de conhecer pela primeira vez. Nada disso fazia sentido.
— Devo informar que estou aqui para reconhecer seus esforços! Por que, então, devo ser submetida a tal ofensa? — Ela disse indignada. Afinal, havia apenas concedido ao jovem algumas palavras de agradecimento.
A implosão financeira e uma epidemia violenta, combinadas com a revolta de uma tribo menor, levaram o império à beira do colapso. Oficiais, funcionários e até ministros de alto escalão estavam todos prestes a fugir de seus cargos. Foi quando Mia soube que havia um funcionário se recusando a abandonar suas funções e permanecia trabalhando incansavelmente sozinho.
— Que coisa terrivelmente admirável. Acredito que deveria pessoalmente fazer uma visita a ele.
Então foi e lá estava ela.
Tinha vindo até aqui! Só por causa dele! Então, como ela foi a única quem teve de assistir esse jovem oficial supostamente leal lhe dar um olhar de condescendência e todo o seu discurso do tipo “você tem ideia de quanto”? E não só isso, ele continuou!
— Eu agradeceria se parasse de ficar aí como um pedaço de madeira. Pelo menos saia do caminho. Além disso, há muitas coisas que só você pode fazer, então se tem tanto tempo disponível, por favor, torne-se útil, Vossa Alteza.
Que insolência! Que terrível insolência! A atitude desse homem é absolutamente imperdoável!
Mia ficou tão chateada com o encontro que perdeu uma noite inteira de sono. Mesmo depois de ir para a cama, continuou rangendo os dentes de raiva enquanto se virava e revirava. Quando parou de se debater, já estava claro lá fora.
Em resumo, seu primeiro encontro foi horrível.
No entanto, também era verdade que mesmo depois de Mia ter sido jogada na masmorra, ele permaneceu firme em seu trabalho, correndo incansavelmente de um lugar para outro em sua tentativa solitária de restaurar o império. Ela soube que ele apelou para sua libertação e, entre seus incontáveis súditos, ele e Anne foram os únicos a visitá-la no dia em que foi executada. Consequentemente, a confiança de Mia no homem era profunda.
Se fosse um pouco mais gentil com suas palavras, eu não teria reclamações sobre ele.
— …Hmph. Muito bem. Se você é tão apaixonado, jovem fiscal Ludwig, então vou permitir que trabalhe o quanto quiser. Você foi oficialmente nomeado para o Ministério da Lua Escarlate.
A situação mudou rapidamente e a paciência do oficial mais velho se esgotou.
Ah-hah! Ludwig! Esse era o seu… Espere. Ministério da Lua Escarlate?
— Você está me mandando para o campo?
— Correto. Por que você não vai arrecadar mais impostos do povo do campo? Isso vai resolver sua crise de todo o império, não vai?
— Mas…
Ora, isso não é nada bom! Aquele estúpido de quatro olhos já foi expulso do emprego!
Mia entrou em pânico. A última vez que ele foi enviado para o campo, não voltou até que fosse tarde demais. Até então, o Império Tearmoon já estava além do reparo. Em outras palavras, se ele for…
Estarei indo direto para a guilhotina!
Mia saltou das sombras e correu até os dois homens.
— E-Espere um pouco!
— Ugh, quem é agora… V-Vossa Alteza!
— Acredito que já ouvi o bastante para entender o que está acontecendo aqui
O oficial de alto escalão enxugou o brilho espesso de suor que de repente revestiu sua testa.
— Ah, bem, peço desculpas por submeter Vossa Alteza a tal discussão tediosa…
— Isso não importa. Mais importante, devo dizer que acho terrivelmente imprudente estar jogando jovens funcionários para o caminho com tal impunidade. Prefiro tê-los falando suas ideias e dedicando seus argumentos para que possamos agir com seus métodos para o benefício do Império.
— Ah, entendo, mas…
Antes que o homem mais velho pudesse terminar seu pensamento, Mia atirou a ele um olhar.
— Oh! Eu estou ouvindo certa resistência?
— O qu… Não! D-D-De jeito nenhum!
— Adorável, fico feliz em ouvir isso. A propósito, você, jovem, acredito que seu nome era… Hmm, Ludwig, certo?
— Huh? Uh, sim — respondeu Ludwig, um pouco intrigado com a menção repentina de seu nome.
— Gostaria de ter uma palavra ou duas com você. Espero que esteja tudo bem — disse Mia enquanto agarrava a mão de Ludwig e o puxava para outro quarto.
— Ei… Uh, quero dizer, me perdoe, Alteza, mas posso saber qual é a sua preocupação? Existem muitos outros assuntos que precisam da minha atenção…
No início, Ludwig ficou bastante surpreso com esta mudança abrupta de eventos, mas, tendo recuperado a compostura, agora estava revirando os olhos para o comportamento aparentemente sem sentido da jovem princesa.
— Eu gostaria de falar com você um pouco.
— Uh, tenho quase certeza de que acabei de dizer que estou ocupado…
— Há algo que gostaria de lhe perguntar
— …Entra por um ouvido e sai pelo outro, hein. A princesa egoísta, de fato. Vejo que sua infâmia é mais do que merecida — disse Ludwig com um encolher de ombros antes de soltar um longo suspiro. — Continuemos?? Irei lhe ouvir então.
— Muito bem. Suponho que a maneira mais simples de colocar isso seria… Como alguém pode restaurar o estado das finanças do império?
Assim que ouviu essa pergunta, os olhos de Ludwig se estreitaram.
— Hmph. Nesse caso, deixe-me fazer uma pergunta, Sua Alteza. Você tem alguma ideia de quanto custa para alimentá-la? — disse olhando paternalmente para ela.
Em troca, Mia respondeu:
— Bem, acredito que uma única refeição custa o equivalente a um mês de salário para você, calculando seu valor em cerca de um ouro crescente. Estou correta?
Ela então cruzou os braços e olhou para ele com o sorriso presunçoso que já tinha usado.
Tradução: Axtro
Revisão: Alice & Nero_SL
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