Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 10 – Cap. 05 – A entrega dos Gatos Pretos

“Noite do 1º Dia, 3º mês, 1548º ano, Calendário Continental — Castelo de Parnam”

 

O líder dos Gatos Pretos, a unidade de inteligência e operações secretas que respondia diretamente à coroa, foi convocado por Souma para o escritório de assuntos governamentais no Castelo de Parnam.

Quando Kagetora entrou com sua máscara e armadura negras imponentes de costume, não pela porta do escritório, mas sim pela porta de vidro que dava ao terraço, Souma pôs a mão na testa e suspirou.

— Vim a seu pedido — Kagetora anunciou.

— …Não poderia usar a entrada normal?

— As pessoas desconfiam de mim com esta roupa. Não seria bom se uma das criadas desmaiasse de novo.

— É um pouco tarde para dizer isso, mas essa roupa não é nem um pouco furtiva, não é?

Podia desaparecer na escuridão, mas Kagetora parecia muito fora de lugar onde quer que houvesse luz. No entanto, ele balançou a cabeça.

— Se necessário for, a atenção dos outros pode ser desviada usando encantamentos. Mais importante que isso, para o que me chamou aqui hoje? Eu sou levado a crer que você tem alguma tarefa importante para mim.

— É. Esta é uma tarefa que posso confiar apenas a você.

O rosto de Souma ficou mais sério, e ele tirou um objeto retangular da gaveta de sua mesa de escritório.

Era uma caixa de metal.

Um prisma retangular de 15 por 20, e 40 centímetros, sem nenhuma ornamentação na superfície, mas havia um grande cadeado no lado superior, que era onde a tampa estava.

Olhando para a simplicidade do design e a atenção prestada em defender a caixa, era possível inferir quão importantes os conteúdos deveriam ser.

Souma passou essa caixa metálica para Kagetora.

— Quero que entregue isso ao meu sogro na Casa de Elfrieden. Estou pedindo assim porque quero que entregue o item pessoalmente. Deve permanecer lacrada até chegar às mãos dele.

— Você quer dizer o antigo rei, Sir Albert?

Kagetora encarou a caixa de metal.

Era uma caixa hermeticamente fechada.

O remetente era o atual rei (provisório) do país.

O destinatário era o antigo rei.

E daí existia todo o cuidado tomado em enviá-la com o líder dos Gatos Pretos.

Era quase como se um objeto perigoso que pudesse balançar o país estivesse dentro dela.

O que diabos podia haver dentro da caixa?

— Posso perguntar sobre os conteúdos? — Kagetora perguntou.

— Não pode. Não posso contá-lo.

Tendo dito isso, Souma agora passou uma carta com um lacre de cera para ele.

— Gostaria que entregasse esta carta a meu sogro junto da caixa. Ela contém sua chave. Faça meu sogro ler a carta em sua presença, e quando ele terminar, você deve realizar as ordens contidas dentro.

— …Entendido.

Kagetora curvou-se e recebeu a caixa e a carta.

Apesar da entrega não ser nada além de misteriosa, ele conhecia o jovem rei. Devia haver um profundo pensamento em ação aqui, então Kagetora não perguntaria mais. Agora tudo que restava era realizar com precisão a tarefa que lhe fora confiada.

Kagetora estava prestes a sair pelo terraço do mesmo jeito que chegara… e então aconteceu.

Houve uma batida na porta do escritório.

Kagetora tentou esconder-se, mas Souma disse “Espere” e o impediu.

— Sou eu. Posso entrar? 

Era a voz de uma mulher. Essa voz pertencia a Liscia.

Souma disse:

— Vá em frente.

A porta abriu-se, e Liscia e…

— Minha Senhora?! — Kagetora exclamou.

… de todas as pessoas, a antiga rainha, Elisha, entrou com ela.

— Faz muito tempo — Elisha disse formalmente. — Sir Car… Quer dizer, Sir Kagetora.

Ela era tão graciosa como sempre, e apesar de agora ser uma avó, ainda era uma linda dama.

Acabou que, tendo ouvido de Souma quão difícil era criar gêmeos com primeiros filhos, ela apressara-se a vir ao lado deles para ajudá-los.

Liscia e Elisha seguravam uma criança cada, Kazuha e Cian. Liscia deu uma olhada em Kagetora, que estava atordoado de pé em um canto da sala, assentindo para ele com um sorriso suave.

Vendo-a, algo quente aflorou nos olhos de Kagetora, no fundo da máscara.

Aquela princesa moleca… ela é uma mãe agora…

Este quarto agora tinha três gerações de princesas reais. A cena fez Kagetora querer beliscar a ponte do nariz, mas ele desesperadamente escondeu suas emoções, não querendo deixar que fossem descobertas.

Enquanto Kagetora tinha dificuldades, sem o conhecimento de ninguém, Souma perguntou a Liscia:

—Você já terminou de dar leite a Cian e Kazuha?

— Sim. Os dois tomaram muito hoje, e agora estão dormindo profundamente. Cian caiu no sono no meu seio, mas Kazuha estava animada por alguma razão, e só não ia dormir.

— He he, Kazuha é que nem você era quando menor — Elisha deu uma risadinha. — Você era uma coisinha agitada, sabe? Sempre rápida para tentar escapar da cama.

— M-Mãe. Da vergonha quando você fala de coisas que eu nem consigo lembrar…

A fala de Elisha sobre memórias antigas estava fazendo as bochechas de Liscia corarem.

Com um sorriso irônico em relação à conversa delas, Souma deu uma espiada nos rostos dos gêmeos. Kazuha estava dormindo nos braços de Liscia, Cian nos de Elisha.

— Ah, francamente — Souma suspirou — Se não fosse por minhas obrigações, eles são tão fofos que poderia ficar encarando-os o dia todo.

— Ó, céus, não seja bobo — Liscia disse — Você é o rei, Souma, então recomponha-se.

— He he he! Liscia, você soa exatamente como eu soava antes.

Liscia repreendendo Souma por agir como um pai bobo parecia divertir Elisha.

Enquanto Kagetora ficava parado lá, sentindo-se fora do lugar nesse ambiente acolhedor, Liscia espiou na direção dele.

Então, aproximou-se.

— Ahm… Sir Kagetora?

— …O que é?

— Você poderia segurá-la para mim?

Com isso dito, ela entregou Kazuha para Kagetora.

Parecia que ele estava atipicamente consternado com a proposta. 

— Não, eu… Eu assustaria a criança se eu a segurasse…

— Está tudo bem. — Liscia olhou para Kagetora com completa sinceridade — Você se parece muito com um homem que eu amava e respeitava. Ouvi da minha mãe. Aquela pessoa antigamente me segurava quando eu tinha o tamanho de Kazuha. E ele me amava como se eu fosse a sua filha. Então… não tem nenhuma chance de essa menina, minha filha, não gostar de você.

— Princesa…

Kagetora removeu suas manoplas, e hesitantemente recebeu Kazuha.

Ele tinha braços grossos e corpulentos, mas porque era um homem besta felino, seus braços eram cobertos de pelo.

Embora o pelo tenha feito cócegas em Kazuha por um momento quando ele a pegou, ela logo começou a respirar suavemente com um olhar de total calma no rosto adormecido.

Crianças são sempre sensíveis, porque ainda há muito que não sabem sobre o mundo. Essa sensibilidade deve ter lhe deixado perceber o fato de que aqueles braços pertenciam a alguém que a protegeria incondicionalmente.

Um minuto depois, Kagetora devolveu Kazuha a Liscia.

— Sou grato por me oferecer essa experiência valiosa.

— He he. Souma pode continuar a causar problemas para você no futuro, mas por favor não exagere, e se cuide.

Vendo a preocupação de Liscia por Kagetora, Souma ficou só um pouco incomodado.

— Problemas? Ora, Isso não é justo.

— Ah, nossa! Com ciúmes de Sir Kagetora, genro? — Elisha provocou.

Souma encolheu os ombros, resignado.

— Não vou negar, sogra.

Mesmo enquanto Liscia dizia “Vixe” ela sorria.

Sentindo seus lábios curvarem para cima embaixo da máscara graças ao calor em volta dele, Kagetora disse “Com licença” e então sumiu na escuridão da noite pelo terraço.

 

 

“Na noite do dia seguinte”

 

Kagetora estava agora no domínio do rei anterior Albert, escondido nas montanhas.

Ele chegou na mansão de Albert e foi guiado por uma criada, que parecia um tanto intimidada pela aparência dele, até a sala de estar.

Embora agora fosse o terceiro mês do ano, ainda estava frio nas montanhas, e um fogo ardia numa grande lareira. Albert já estava na sala de estar, e ele recebeu Kagetora com um sorriso.

— Ah, Sir Car… Sir Kagetora. Que bom que você veio.

— Sim, senhor — Kagetora bateu continência — Fico feliz em ver que você parece estar bem.

Albert deu-lhe um tapa no ombro.

— Nada disso, nada disso! Estou aposentado agora. Deixemos de lado as restrições de senhor e vassalo, e tratemos um ao outro, em vez disso, com velhos amigos.

— Não… perdoe-me pela minha grosseria, não acredito que nos conhecíamos tanto assim.

— Você nunca muda. Essa sua personalidade é tão problemática como sempre.

Com o suspiro em relação à teimosia de Kagetora, Albert estendeu a mão direita.

— Então, sejamos amigos agora. Se você me tratasse como se você fosse um conhecido meu de muito tempo, eu ficaria contente.

— …Sim, senhor. Se isso é o que deseja, farei com prazer.

Kagetora pegou a mão de Albert, e eles trocaram um firme aperto de mão.

Albert o fez sentar num sofá perto da lareira, e ele mesmo sentou um lugar do outro lado de uma pequena mesa.

Então, juntando as mãos acima do joelho, Albert perguntou:

— Então, a que negócios veio hoje?

— Senhor, venho trazendo uma entrega para você do meu mestre, Sua Majestade, Rei Souma.

Kagetora entregou a caixa de metal que recebera. Então, do seu bolso, tirou a carta que era a outra coisa que Souma havia confiado a ele, e a deu para Albert.

O antigo rei olhou para a caixa de metal, e disse:

— Ah, nossa, o que poderá ser?

— Também recebi esta carta do meu mestre. Ele diz que você deve lê-la em minha presença. A chave dessa caixa deve estar dentro da carta.

— Hum. Entendido.

Albert recebeu o envelope. Quebrando o lacre de cera e puxando a carta de dentro, e começou a lê-la. Ele ocasionalmente dizia “Mm-hm, mm-hm” ou “Entendo” enquanto lia, e quando terminou, fechou a carta.

Ele pegou a chave para a caixa de metal de dentro do envelope. Segurando-a com dois dedos, e olhou para Kagetora.

— A carta, ela disse que você deve seguir minhas ordens enquanto estiver aqui, sabe?

— Sim, senhor. Me foi ordenado fazer isso pelo meu mestre.

— Hum… Tenha certeza de lembrar-se dessas palavras.

Com isso, Albert pôs a chave na fechadura que mantinha a caixa fechada. Houve um clique quanto ele a girou, e a tampa se abriu lentamente.

Kagetora assistia em antecipação, esperando para ver qual item importante poderia estar dentro, mas…

— Hm?

Dentro havia uma única garrafa de vinho.

O que… exatamente isso devia ser? Kagetora arregalou os olhos.

Ele tinha sido designado a carregar o que parecia uma caixa importante, mas na verdade, só estivera trazendo uma garrafa de vinho para Sir Albert?

Kagetora começou a pensar que seu mestre podia estar rindo às custas dele, mas então…

— Hm?! Aquele vinho?!

Vendo a marca do vinho, os olhos de Kagetora incharam atrás da máscara.

Vendo a reação dele, Albert sorriu.

— Ah, nossa, que estranho. Você não devia saber nada sobre este vinho.

— Não… Não é nada. Foi tudo minha imaginação.

— Este vinho, sabe? Quando minha filha Liscia nasceu, enviei-o para um antigo amigo. Um vinho feito no ano de nascimento dela, na esperança de que ele sempre fosse protegê-la. Meu amigo costumava dizer “Beberei este vinho no dia que a princesa se casar” Esse amigo não está mais conosco agora, mas…

Enquanto Albert falava, ele fez um gesto para uma das criadas aproximar-se, então ordenou que ela trouxesse duas taças e algo para o jantar.

Depois disso, Albert reclinou-se no sofá, olhando para baixo para carta mais uma vez.

— Parece que meu amigo confiou este vinho a meu genro. Entretanto, meu genro diz que não tem gosto para vinho e que seria desperdício se ficasse com ele, então ele gostaria que eu bebesse. Seria um problema se estivesse caindo bêbado no dia do casamento deles, então devo bebê-lo como uma pré-celebração. “Seria estranho bebê-lo sozinho, então faça quem eu enviei para entregar o vinho juntar-se a você“… é o que a carta diz. Juntar-se-ia a mim, Sir Kagetora?

— Não, eu jamais poderia beber tal coisa… — Kagetora vacilou.

— Você está sob ordens de fazer o que eu mandar, sim?

— Guh…

Kagetora tentou esquivar-se, mas não pôde diante de uma ordem de seu mestre.

Enquanto ele rangia os dentes, a criada trouxe um pequeno banquete e deixou na mesa.

Então, como se para dar o golpe final, Albert ergue uma taça para Kagetora.

— Eu estava pensando agora mesmo que tinha tempo livre demais com Elisha ausente. O que você acha? Me acompanhará para um drink, em memória do meu saudoso amigo, e pela celebração do casamento de nossa filha?

— …Sim, senhor.

Finalmente cedendo, Kagetora aceitou a taça. 

— Entendido. Mas não teria como ficar bêbado com tão pouco álcool.

— Ho ho ho, fique tranquilo. Nossa adega tem muito mais desse vintage. Comprei em grande quantidade porque estava muito eufórico com o nascimento de Liscia, sabe?

Parecia que a garrafa que Albert enviara ao amigo era apenas uma de muitas.

— Que desperdício de dinheiro… — Kagetora suspirou — A madame não ficaria furiosa se soubesse disso?

— Ela, de fato, ficou bastante zangada comigo. Não me deixou segurar Liscia de novo por um tempo.

— Heh heh heh! Isso é muito você… Gya ha ha! — Kagetora riu mais alto do que normalmente se esperaria dele.

Albert se uniu a ele, e a mansão foi inundada das risadas de homens ecoando.

Naquela noite, eles beberam e fizerem festa, mas de manhã, apenas Albert permanecia na sala de estar, com o seu convidado tendo sumido fazia um tempo.

Ele provavelmente já partira em outra missão.

Como uma sombra, Kagetora era um homem de vários mistérios.

 


 

Tradução: Enzo

Revisão: Merovíngio

 

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