Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 10 – Cap. 02 – Ginger Limpa Tudo

 

“3° dia, 2° mês, 1548° ano, Calendário Continental – Castelo Parnam”.

Nesse dia frio, Ginger Camus, o diretor da Escola Vocacional de Ginger, onde várias áreas eram estudadas academicamente na cidade-castelo, estava tendo uma reunião com Souma.

Isso era para relatar um certo estudo do departamento de música que tinha sido aberto há alguns dias.

No escritório de assuntos governamentais, Ginger estava sentado no sofá, esperando ansiosamente que Souma terminasse de olhar os materiais que ele tinha entregue.

O único som no quarto em que estavam sozinhos era o de folhear de páginas.

Por fim, Souma, que lia os documentos de pesquisas atentamente, fez várias perguntas a Ginger. Ele respondeu a todas elas.

— Hum — gemeu Souma —, entendo. Isso é fascinante. É uma coisa interessante que você se focou, mas… não sei dizer se tem um uso prático para mim ou não. Quero conseguir opiniões de uma cantora como Juna e de um especialista em magia.

— Ora, sim — disse Ginger. — Acho que isso seria o melhor.

— Então, num futuro próximo, posso pedir que volte com o presidente dessa “Sociedade para o Estudo de Músicas de Trabalho”? Vou reunir algumas pessoas que possam fazer uma decisão, também.

— Entendido.

Ginger ergueu e curvou-se.

Não tinha conseguido uma resposta instantânea, mas esse era um passo adiante. Ele seria capaz de levar de volta boas notícias para os pesquisadores da escola.

Enquanto Ginger se sentia aliviado, Souma deixou os papéis ao seu lado e disse: — A propósito, mudando de assunto… Ginger.

— S-Sim. O que é?

— Você não tem planos de se casar com Sandria?

Por um momento, Ginger encarou de volta sem expressão, incapaz de processar o que ouvira. Então, conforme gradualmente entendeu as palavras de Souma, o sangue subiu a sua cabeça, e ele rapidamente ficou vermelho.

— O queê?! O que é isso, do nada?

— Ah, bem. Você sabe que eu vou realizar meu casamento junto com a coroação em abril? — perguntou Souma. — Estamos planejando realizar casamentos pela capital para quaisquer servos meus que queiram participar. Estou procurando por servos que estejam interessados, sabe?

— S-sim… Ouvi falar.

— Quando conheci vocês dois, ela estava dizendo “Não quero soltá-lo” e “Por favor, me deixe ficar a seu lado”, então achava que vocês falariam sobre casar rapidinho, mas… Não ouvi falar em nenhum progresso desde isso. — disse Souma com um olhar de dúvida. — Eu queria perguntá-lo se você pretendia casar-se ou não.

Ginger esforçou-se para encontrar as palavras para responder.

Honestamente, Ginger queria casar-se com Sandria também.

Eles haviam superado suas posições como escrava e senhor dos dias de mercador de escravo dele, e trabalharam juntos para encontrar compradores para os escravos que os tratariam bem.

Daí, mesmo depois de Sandria ser libertada da escravidão e Ginger ser nomeado como chefe da instalação de treinamento que veio antes da escola vocacional, Sandria havia continuado a apoiá-lo.

Ele sentiu que o vínculo deles estava aprofundando-se. Ginger podia sentir que Sandria se importava com ele tanto quanto ele com ela, e isso não era só o seu ego falando.

— A verdade é que… Eu já disse a ela que gostaria que casasse comigo — admitiu Ginger.

Os olhos de Souma se arregalaram.

— O que, então você já a pediu em casamento? Qual foi a resposta dela?

— “Vou ter que recusar por ora”… ela disse.

— Hã? Ela rejeitou?! Ah, mas com um “por ora” hã… “Por ora”?

Ginger assentiu. Se estava dizendo, “por ora” então isso significava que não estava inteiramente indisposta a considerar. Essa era uma maneira de dizer que pode ser possível que ela aceite mais tarde.

Enquanto Souma inclinava a cabeça para o lado, incapaz de descobrir as reais intenções de Sandria, Ginger deu um sorriso irônico e explicou:

— A San diz que ela não pode ser minha primeira esposa.

Especificamente, Sandria havia dito isso a ele, com um olhar levemente preocupado:

— Fico muito feliz de ouvir isso. Também o amo, Lorde Ginger. Entretanto, sou uma ex-escrava, e não tenho ligações a minha família. Se eu pensar na Casa de Camus, que vai continuar a crescer abaixo do Rei Souma, você devia tomar a filha de uma família influente para ser sua esposa. Se você me mantiver a seu lado como uma concubina depois disso, não me importaria.

Parecia que ela estava recusando somente no interesse da Casa de Camus.

Porque ela se importava com Ginger, não queria ser um grilhão para ele.

Era um sentimento que vinha do afeto puro até demais dela em relação a ele, então era difícil rejeitá-lo. O fato de que ela queria ficar ao lado dele, mesmo como uma concubina, significava, do jeito dela, que estava aceitando o pedido.

Ginger pôs as mãos na cabeça sem saber o que fazer.

— Sinceramente, não sei o que fazer. Ela aceitou meus sentimentos, mas não da forma como eu gostaria. Eu acho que aceitaria casar comigo se fosse a segunda esposa, mas seria rude com San e a outra pessoa se eu arranjasse outro casamento político só para que ela pudesse casar comigo.

— Bem, parece uma preocupação comum na sociedade nobre — disse Souma. — Não posso dizer que o pensamento dela destoa dos tempos que estamos vivendo, mas… deve ser uma sensação complicada para você.

Souma trouxe uma mão ao queixo, com um olhar pensativo.

Souma só tinha passado pela experiência de um romance não ortodoxo em que ele aprofundava seus laços com Liscia e as outras após já ter noivado com elas, mas não era errado casar por causa de afeto mútuo.

Quando ele viu que Ginger e Sandria se amavam, mas estavam pensando de forma oposta, Souma não podia deixá-los assim.

— Se a preocupação é o status, porque não fazer uma casa adotar Sandria primeiro? Tenho certeza que há várias casas que gostariam de ter ligações com a Casa de Camus, e com uma palavra da casa real, as coisas se moveriam rápido.

— …Não, não acho que seja esse o problema.

Ginger balançou a cabeça silenciosamente.

— Acho que, provavelmente, a San tem um complexo sobre ter sido uma escrava que foi vendida pela família. Ela se despreza, pensando que não é boa o suficiente para mim.

— Isso faz sentido, é… Então, até esse complexo ser resolvido, ela não pode dar um passo em frente?

Se era assim, seria um problema difícil de resolver. Esse tipo de complexo era uma questão para as pessoas, e não importa quanto os outros tentassem ajudar, só a própria poderia resolvê-lo.

No fim das contas, Sandria teria que chegar a um acordo com si mesma.

Souma cruzou as mãos atrás da cabeça, gemendo enquanto de reclinava na sua cadeira, pensando. Ele então perguntou a Ginger:

— Essa parte sobre ela ter sido vendida pela família, você perguntou sobre isso especificamente?

— Sim. Fiquei sabendo que ela era a filha de uma família de comerciantes, mas depois do pai dela ser enganado para assumir a dívida de uma pessoa má, ele a vendeu para um mercador de escravos para proteger sua família e negócio. Pela forma que a San conta, foi uma decisão difícil, e eu jamais a vi dizer uma palavra de reclamação contra o pai dela.

— Isso é terrível. Isso aconteceu neste país? Quero ver esse vilão processado.

— Não, parece que a San foi vendida aqui de outro país — Ginger suspirou sem forças. — Parece que o vilão estava conectado com pessoas poderosas naquele país, e ele não teve escolha a não ser aceitar sem resistir. Se tivesse acontecido neste país, eu faria você processar aquele malfeitor, para restaurar a honra da San, mas não há muito o que possamos fazer se aconteceu em outra terra, não é?

— É… seria difícil se não estivermos em termos amigáveis com eles — disse Souma. — Se ele está ligado a pessoas influentes, provavelmente seriamos acusados de interferir em assuntos internos também. Que país era, a propósito?

— O Império Gran Caos. Claramente não há nada que possa ser feito lá, certo?

Souma ficou em silêncio.

Ele estava pensando… Hã? Talvez isso seja mais fácil de resolver do que eu pensava!

Se ele explicasse a situação para Maria ou Jeanne, e fizesse elas indiciarem o vilão e seus apoiadores poderosos juntos, sentia que isso arrumaria tudo.

Se aquelas duas soubessem que o seu povo estava sendo forçado a sofrer sem seu conhecimento, elas com certeza bateriam o martelo da justiça nos vilões.

Souma pensara que seria difícil, então estava quase desapontado com quão simples isso seria.

No entanto, Ginger ainda parecia deprimido.

Ah, sim. Ginger não sabe que estamos em bons termos com o Império.

Porque a aliança secreta com o Império era um segredo, o número de pessoas dentro do país que sabiam era limitado.

Para Ginger, que não foi informado, não poderia ter imaginado que canais existiam entre os dois países, mesmo que Souma e Maria pudessem realizar reuniões secretas sempre que desejassem.

Souma estava prestes a contar a Ginger, vendo a sua aparência deprimido, e então… parou.

Claro, se eu fizer o pedido a Maria, ela cuidará disso. Mas isso é bom o suficiente? Em vez de eu assumir o protagonismo, não deveria ser Ginger, quem mais se importa com Sandria, a assumir um papel ativo? Especialmente se esperamos que as coisas deem certo.

Souma pôs a mente a trabalhar pelos dois. Quando ele pensou sobre sua relação com Ginger, e a linha que tinha até o Império, teve uma ideia.

— Ei, Ginger!

— Ah, sim? O que é?

— Você não tem conexões no Império?

Ginger balançou a cabeça com força.

— N-nem um pouco! Eu nunca estive fora do reino, sabia?!

— Você talvez não. Mas tem alguém no Império que você conhece.

— Alguém que eu conheço? De quem está falando?

— Piltory Sarraceno. Lembra-se dele?

— Sir Piltory… Ahh. O nobre que tomou Anzu e Shiho como suas esposas? Espera, você está me dizendo que Sir Piltory está no Império?!

Piltory Sarraceno era um homem de sangue quente que era o chefe da Casa de Sarraceno, e quando Ginger era um mercador de escravos, ele tinha libertado as lindas gêmeas Anzu e Shiho para serem suas esposas. Ele fora o príncipe na história de Cinderela delas, então Ginger lembrava-se dele.

Agora que ele falou isso, Sir Piltory dissera que ia ao Império — percebeu Ginger, de boca aberta. Tinha esquecido completamente.

Souma riu e disse a ele:

— Piltory atualmente está residindo no Império como nosso negociante principal lá. Ele pode ter influência com pessoas de autoridade no Império, então porque não pedir para ele? Se for um favor do homem que o juntou com as suas duas esposas, um homem de sangue quente não vai recusar.

—V-você está certo! Eu adoraria pedir a ele! Posso ir ao Império?

— Não, se você só precisa contatá-lo, isso pode ser feito do castelo — disse Souma. — Vou arrumar as coisas para amanhã ao meio dia, então poderia vir ao castelo de novo?

— Claro! Por favor faça isso!

Ginger curvou-se profundamente.

Então, ele foi embora, retornando para casa com uma cara de animação incontida.

Observando-o ir com um sorriso irônico, Souma levantou e se alongou.

— Ora bem, acho que vou fazer as preparações para o casamento deles.

Ele não podia tomar o protagonismo, mas tinha arrumado tudo para eles.

Enquanto pensava sobre isso, Souma dirigiu-se para a Sala da Transmissão da Joia.

No dia seguinte…

— Minha nossa. Se é isso que você precisa, por favor, permita-me auxiliar — disse Piltory do outro lado do receptor simples, batendo no próprio peito.

Essa era a Sala da Transmissão da Joia no Castelo de Parnam, onde a joia para a Transmissão de Voz da Joia era mantida, e Ginger estava usando-a para falando com Piltory no Império.

Ao lado deles, Souma e Aisha estavam assistindo. Tendo Souma assistindo, eles poderiam evitar críticas de que estava usando um tesouro nacional por razões pessoais.

Quando Ginger pediu ajuda com Sandria, Piltory aceitou imediata e entusiasmadamente.

— Você me juntou com as minhas esposas, Anzu e Shiho, Sir Ginger. De certa forma, você foi nosso Cupido. Como eu poderia fazer menos do que isso para ajudá-lo?

— Seu Cupido…? Eu era só um mercador de escravos.

— Isso é apenas quão gratos nós somos. Ambas deram à luz agora, e a Casa de Sarraceno está segura. Ouvi que Madame Sandria fez muito para cuidar de minhas esposas também. Para retribuir o favor, eu juro que vou dar uma palavra com os superiores no Império a respeito do caso da família de Madame Sandria e pedir para que cuidem dele.

Depois de concordar em assumir a tarefa com o comprometimento apropriado a um homem de sangue tão quente, Piltory curvou-se.

— Obrigado!

Ginger estava sorrindo.

Não era um dado que tudo ia dar certo tão cedo, mas havia alguma esperança de uma resolução agora. E isso era tudo graças às conexões que Ginger tinha construído desde o tempo que ele era um mercador de escravos. Nunca gostara do trabalho, mas agora estava contente de não ter fugido dele.

— Parece que você arrumou as coisas.

Souma, que permanecera em silêncio até esse ponto, andou até a jóia.

— Piltory. Peço a você também. Por favor, ajude o Ginger.

— Sim, senhor. Será feito, Sua Majestade — respondeu Piltory batendo continência.

Souma assentiu com a cabeça, pondo uma mão no ombro de Ginger.

— Tenho certeza de que Piltory cuidará do resto. Entrarei em contato se houver qualquer progresso, então venha ao castelo quando chegar a hora.

— Sim! Muito obrigado por tudo!

— Eliminar as preocupações do seu subordinado é parte do trabalho de um superior — disse Souma. — Agora, cuidarei do resto, então pode ir para casa.

Ginger repetidamente agradeceu, curvando-se de novo e de novo enquanto deixava a sala.

Uma vez que Aisha confirmou que a presença de Ginger havia se retirado, Souma falou para a joia da Transmissão de Voz da Joia:

— …Você ouviu como é. Posso pedir que cuide disso?

— Mas é claro.

A resposta foi uma voz de uma mulher.

Quando Piltory afastou-se, a Imperatriz do Império Gran Caos, Maria Euforia, apareceu. Ela tinha ficado ouvindo a Transmissão de Voz da Joia anterior de fora da tela.

Maria pôs uma mão na bochecha com um olhar preocupado.

— E pensar que eu descobriria que algo assim estava acontecendo no meu país porque pessoas de outro país me contaram… é vergonhoso sendo a pessoa responsável por este país.

O tom dela era de arrependimento.

Souma balançou a cabeça silenciosamente.

— Nenhum governante consegue olhar em todos os cantinhos de seu país. Tenho certeza que coisas assim acontecem no meu também. Eu só não me dou conta disso.

— …Isso é verdade — admitiu Maria. — Todo mundo, não importa quem, tem seus lados bons e maus. Algumas pessoas são propensas a fazer atos ruins. Mesmo com o poder de uma imperatriz ou rei, seria difícil impedi-los antes que pudessem agir.

— Se você quisesse impedi-los com antecedência, precisaria instituir um estado de absoluta vigilância — disse Souma. — Mas se reprimir demais, isso vai espalhar mais descontentamento e desconfiança no país. No presente… a única coisa que podemos fazer é lidar duramente com essas coisas quando vierem à luz.

— Sim. Então, deixe esse assunto comigo.

— Se você concorda em lidar com isso, fico tranquilizado — disse Souma. — Conto com você.

Com isso, Souma e Maria assentiram firmemente um para o outro.

Cerca de uma semana depois…

Ginger e Sandria receberam uma convocação para aparecerem no castelo juntos.

Normalmente, quanto havia assuntos a resolver no castelo, Ginger iria enquanto Sandria ficava em casa, mas hoje a convocação era para Sandria também.

Sandria tentou recusar, dizendo que não era o lugar em que uma ex-escrava como ela pertencia.

Porém, Ginger lhe assegurou:

— Está tudo bem. Estarei com você, então vamos juntos.

Isso, e o fato de que era uma mensagem do castelo, fizeram com que ela relutantemente concordasse em ir.

Quando passou pelo portão principal guardado pelos guardas do palácio e viu o castelo impressionante de pé diante dela. Sandria se sentiu desconfortável, fora do seu lugar, e agarrou a manga de Ginger enquanto ele andava ao lado dela.

Vendo Sandria assim, Ginger deu uma risada:

— Você não está agindo como si mesma, San. Normalmente, você é corajosa não importa com quem esteja lidando.

— Você é mais mal do que eu pensava, Lorde Ginger — disse Sandria, fazendo beicinho como uma criança. — Me sinto tão fora de lugar aqui. É intimidador.

— Acho você fofa quando está agindo timi… Ai!

— Você realmente é malvado.

Com o olhar de desgosto, Sandria beliscou o braço de Ginger. Ela devia estar com vergonha, porque seu rosto estava vermelho.

Mas acho isso fofo — pensou Ginger, olhando-a de lado.

Quando os dois entraram no castelo, uma empregada dragonata apareceu para guiá-los até onde iam e começou a andar à frente deles.

Enquanto andavam pelo hall e pegavam o elevador de contrapeso, Sandria perguntou:

— Ahm, Lorde Ginger? Me foi dito para acompanhá-lo hoje, mas você está ciente da razão pela qual foi chamado?

— Sim, bem… É provavelmente porque as coisas estão prontas.

— Prontas…?

Ginger assentiu, e então olhou para cima.

— Fiz o que podia. O resto é com você, eu diria.

Sandria inclinou a cabeça para o lado, com um ponto de interrogação flutuando acima dela.

Então, o elevador parou, e os três saíram no hall.

Por fim, chegaram em frente à Sala da Transmissão da Joia.

— Por favor, entrem. Todos estão esperando — disse a empregada dragonata, então virou e foi embora.

Quando eles entraram na sala como instruído, foram recebidos por uma enorme joia da Transmissão de Voz da Joia.

— É grande… — disse Sandria maravilhada. — Essa é a joia para a Transmissão de Voz da Joia?

Enquanto Sandria estava distraída com a enorme joia flutuante no meio da sala, alguém os chamou:

—Vocês chegaram!

Lá havia um homem alto vestido todo de preto.

Era o primeiro-ministro deste país, Hakuya Kwonmin.

Hakuya curvou-se a ambos.

— Sua Majestade esta indisposto com as preparações para a coroação e os casamentos, então eu tomarei conta de vocês no lugar dele desta vez.

Tomar conta de nós? Fazendo o quê? — Sandria se perguntara.

Então, o que parecia com um espelho de corpo inteiro ao lado da joia acendeu, e a forma de uma pessoa foi projetada nele.

Era uma linda garota que, com sua armadura branca, representava a ideia de uma princesa general. Surpresa com a aparição da garota de repente, Sandria puxou a manga de Ginger.

Esse era um receptor simples para a Transmissão de Voz da Joia, mas mesmo que as pessoas comuns soubessem que elas existiam, dificilmente um deles já tinha visto uma de verdade. Era difícil culpar Sandria por ficar surpresa.

A garota cumprimentou os três:

— Olá, Sir Hakuya, Sir Ginger e Madame Sandria, era isso? É um prazer conhecê-los. Sou a irmã mais nova da Imperatriz Maria Euforia do Império Gran Caos, Jeanne Euforia.

A aparição repentina da irmã mais nova da imperatriz da grande nação no Oeste deixou Sandria incapaz de entender o que estava acontecendo por um tempo.

Senhorita Jeanne… Ahh, realmente é a Senhorita Jeanne! Sandria tinha familiaridade com aquele belo rosto.

Sandria havia nascido no Império Gran Caos, e já tinha visto aquele rosto antes, apenas uma vez.

Quando era jovem, e o imperador anterior estava vivo, ela tinha estado numa multidão com sua família, assistindo uma Transmissão de Voz da Joia onde Sua Majestade Imperial e a família imperial apareceram.

Sandria pensara que Jeanne era uma garota bonita mesmo naquele tempo, mas ela estava chocada em ver que tinha crescido e se tornado tão bela e digna.

Jeanne olhou Sandria e disse:

— No lugar de minha irmã atarefada, eu cuidarei das coisas do nosso lado desta vez. Agora, Madame Sandria…

— Si… Sim. — Sandria ficou boquiaberta tendo sido tratada pelo nome. — O que é?

Jeanne baixou a cabeça profundamente.

— No lugar de minha irmã que não pôde estar aqui, quero me desculpar.

— Hã…?

— Ouvi a história da sua queda na escravidão. Me foi dito que seu pai foi enganado, forçado a assumir uma dívida, e a vendeu para defender sua família e negócio.

Jeanne estava falando das circunstâncias dela. Porque Jeanne, a irmã mais nova da imperatriz, sabia qualquer coisa sobre ela?

E, com um flash de compreensão, ela olhou para Ginger, quem assentia sério.

Jeanne baixou a cabeça novamente.

— Me foi dito que o trapaceiro estava ligado a nobres influentes na região, e suas vítimas eram forçadas a simplesmente aceitar suas perdas. Tendo permitido que essa opressão ocorresse, falhamos como aquelas responsáveis por este império. O fato de que nossa má gestão gerou problemas a você e aos outros dói na minha irmã. Realmente sentimos muito.

— N-Não… Não tem necessidade de você ou Senhorita Maria me pedirem desculpas…

O fato de Jeanne estar curvando-se a ela deixou Sandria confusa.

Ela queria que alguém explicasse exatamente o que estava acontecendo aqui. Já havia aceitado sua situação, mas agora estavam lhe pedindo desculpas. E, ainda por cima, a irmã mais nova da imperatriz, alguém muito acima dela.

Jeanne disse à Sandria confusa:

— Sei que isso vem tarde, mas prendemos o trapaceiro e os nobres aos quais ele estava ligado. Estamos investigando seus outros crimes. Lidaremos duramente com esses vilões sob nossas leis.

— C-Certo…

— Os nobres terão os nomes de família encerrados e seus patrimônios expropriados. Esse patrimônio será usado para compensar as vítimas, pelo menos parcialmente.

Aqueles que tinham feito ela ser vendida como escrava estavam sendo levados à justiça. Parecia como algo acontecendo em algum mundo distante para Sandria.

Ela ressentia aqueles que tinham feito isso. Estava triste que sua família havia a vendido como escrava. No entanto, não havia pensado sobre isso por muito tempo. Porque…

Enquanto Sandria olhava para a tela, os olhos apaixonados de Ginger estavam nela.

Porque eu conheci Lorde Ginger…

Tendo sido vendida no reino, tinha sido cuidada pelo avô de Ginger, que simpatizou com sua situação horrível e cuidou bem dela.

Então, depois de sua morte, Sandria pode conhecer Ginger.

A partir daí, tinha sido uma rápida sucessão de eventos maravilhosos.

Ginger era um homem gentil, e ele cuidava bem de todos.

Agora sendo o chefe do recém-estabelecido Centro de Treinamento de Ginger pelo Rei Souma. Havia libertado Sandria, dizendo que queria ficar com ela para sempre. Por causa disso, eles se mantiveram próximos, e continuaram a administrar o centro de treinamento juntos até hoje.

Pode ter sido má sorte que ela caíra na escravidão. Porém, Sandria sentia-se mais do que sortuda o suficiente agora. Seu coração está cheio e satisfeito com seus sentimentos por Ginger.

Tendo recebido o pedido de desculpas de Jeanne, Sandria passou por tudo isso em sua mente, e confirmou tudo por si mesma de novo.

— Além disso… tem alguém que quer vê-la.

Jeanne deixou alguém entrar.

Era um homem besta de meia-idade com as mesmas orelhas de guaxinim e cauda que Sandria.

Olhando para o homem que estava de pé na tela com um rosto sofrido, os olhos de Sandria se arregalaram enquanto ela sussurrava:

— Pai…

— Sandria…

Ambos ficaram em silêncio por um tempo.

O pai foi forçado ao silêncio pela sua culpa por ter vendido sua filha como escrava, e a filha estava incerta sobre o que dizer para seu pai.

Os dois só ficaram lá, encarando um ao outro sem palavras.

Como se forçando o tempo congelado a se mover, Ginger pôs a mão na lombar de Sandria e lhe deu um empurrão.

— Lorde Ginger?

— Você deve só dizer exatamente o que você sente — disse Ginger. — Foi para isso que arranjamos esse tempo.

Ela ficou em silêncio por um momento. Então, com o encorajamento de Ginger, Sandria se decidiu e deu um passo à frente.

— Ahm… Tá todo mundo bem? A mamãe e meus irmãos e irmãs?

— Ah! S-Sim, eles estão bem. O negócio também. Graças a você, aguentamos por muito pouco. Por causa disso, tenho certeza que você passou por muitos apuros… Sinto muito.

O pai dela não se curvou ao pedir desculpas, mas olhava para cima. Isso era porque se ele olhasse para baixo, as lágrimas iam cair. Ele sentia que, depois de tudo que fizera sua filha passar, chorar e implorar por perdão seria injusto.

Sandria entendeu isso, e as lágrimas escorriam no seu rosto.

— Sinto muito… muito…! — explodiu o pai dela.

— …Eu sei. Não era só nossa família que você tinha que proteger; você tinha seus funcionários e as famílias deles para se importar também. Se não tivesse me vendido, tenho certeza que outra pessoa teria sido vendida no lugar.

Então, Sandria sorriu através de suas lágrimas.

— Estou feliz de ter vindo a esse país e conhecido Lorde Ginger. Acho que vou só ficar mais feliz a partir de agora. Por isso, não se culpe mais.

Ela estava feliz. Se tinha sido uma escrava ou não, não importava. Aqui e agora, poder estar ao lado de Ginger era a felicidade. Ela queria que seu pai, tão distante, visse isso.

— Sandria… — seu pai suspirou.

Ele virou-se, esfregando os olhos, e curvou-se profundamente para Ginger.

— Sir Ginger, depois de ter sacrificado minha própria filha, estou bem ciente de que não tenho direito de falar. No entanto, deixe me suportar a vergonha enquanto digo isso: por favor… faça minha filha feliz.

— …Sim. Claro que farei, Sogro.

Ginger assentiu firmemente para ele. Então, levando uma mão às bochechas de Sandria, ele usou a outra para limpar as lágrimas dela.

— San, eu te disse que ficaríamos ainda mais felizes, não disse?

— …Sim — sussurrou ela.

— Sou mais que feliz o suficiente. Se eu fosse ficar ainda mais feliz, teria que ser casando com você, tendo filhos e construindo uma família. Que tal?

Sandria deu uma risadinha nervosa.

— …Bem, acho que se isso acontecesse, eu seria muito mais feliz.

— Você aceita meu pedido de casamento? — perguntou Ginger.

O coração de Sandria estava cheio de amor pelo homem que tinha usado suas conexões para fazer tudo isso por ela. Ginger não apenas limpara as lágrimas dela, ele limpara toda a sua tristeza.

Sandria não estava mais amarrada pelos sentimentos de inferioridade causados por ter sido uma escrava.

Ela praticamente pulou no ar ao abraçar Ginger.

— Sim, querido! Por favor me faça ainda mais feliz!

Essas palavras expressaram os sentimentos dela mais honestamente do que qualquer coisa.

 


 

Tradução: Enzo

Revisão: Merovíngio

 

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