Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 10 – Cap. 01 – O Oni Vermelho é Azul

 

“No meio do 1º mês, 1548º ano, Calendário Continental”

“Domínio de Magna, Randel”

Randel, no oeste do reino havia sido a cidade central do ducado do ex-general Georg Carmine do exército, e agora era propriedade do pai de Hal, Glaive Magna.

Também era o lugar onde o Exército Proibido e o Exército “regular” tinham se enfrentado durante a guerra anterior.

De fato, a única batalha de verdade havia sido travada numa fortaleza construída perto, sendo os muros apenas levemente bombardeados, então a cidade em si não tinha levado nenhum dano. Agora que um ano se passou, ela havia retornado à calma de antes.

A mansão de Casa de Magna ficava na cidade-castelo em Randel.

Esta cidade era governada por Glaive, então normalmente ele deveria ter podido viver na antiga moradia de Georg, o Castelo de Randel. No entanto, sabendo as reais intenções por trás do que Georg fizera, Glaive não suportaria viver no castelo do homem, vivendo em vez disso na sua mansão na cidade e indo ao castelo apenas para trabalhar.

Esta era a mansão a que, hoje, Halbert trouxera Kaede e Ruby de volta.

Para recompensar os soldados que tinham participado na expedição para a União das Nações Orientais, eles estavam revezando licenças longas do trabalho. Halbert e o retorno das suas parceiras estavam se aproveitando dessa licença.

Glaive recebeu os três de braços abertos.

— Ah, fico feliz de vê-lo a salvo. A pequena Kaede e Madame Ruby também.

A “pequena’’ para Kaede e o “madame” para Ruby eram uma indicação de quanto tempo as conhecia. Embora ele conhecesse Kaede, a amiga de infância de Halbert, desde que ela era uma garotinha, estava hesitante em ser tão íntimo com a recém-chegada Ruby.

As duas deram um leve abraço em Glaive com sorrisos um tanto desconfortáveis.

— Estamos de volta, Sir Glaive — disse Kaede.

— Retornamos, Sogro — disse Ruby. — Não precisa me tratar tão formalmente, porém.

— Ah, entendo. Deixe me chamá-la de Ruby então.

Glaive normalmente ficava de cara séria, mas agora ele estava todo sorridente.

— Não importa quantas conquistas meu filho consiga no campo de batalha, elas não podem se igualar à proeza de trazer duas mulheres sábias e belas para nossa casa. Ele sempre deu trabalho, mas preciso elogiá-lo por trazer vocês duas como esposas.

Kaede deu uma risadinha

— Você está exagerando, sabe, senhor?

— Estou envergonhada — acrescentou Ruby.

Vendo seu pai mimando suas futuras noras, Halbert suspirou.

— Também estou de volta, sabe?

— Hum? Ah, Hal. Ouvi dizer que se destacou na União das Nações Orientais também. Você me deixa orgulhoso como pai, mas não deixe que suba a sua cabeça e faça colocar minhas filhas aqui em perigo.

— É, eu sei — respondeu Halbert obedientemente ao sermão.

Glaive achou essa atitude suspeita vindo de Halbert. Parecia que ele ficava agitado com bem menos facilidade do que o normal. Em qualquer outra circunstância, ele teria dito algo como “Não me trate como uma criança para sempre!” e reagido, mas hoje estava muito disposto a ouvir.

— Aconteceu alguma coisa? Perguntou Glaive.

— …Nada demais. Me desculpe. Estou cansado, então deixe-me descansar no meu quarto.

Com isso dito, Halbert ergueu sua bagagem, e dirigiu-se para seu quarto.

Quando Glaive notou Kaede e Ruby o vendo ir com preocupação, ele limpou a garganta para tentar mudar o clima.

— Bem, vocês duas, venham. Minha esposa está esperando ansiosamente para discutir sobre seus vestidos de noiva.

— Entendemos — disse Kaede. — Vem, vamos lá, Ruby.

— Ok.

Glaive guiou as duas até o vestiário onde sua esposa esperava.

No entanto, quando as duas passaram pela porta e ele a fechou, deu uma olhada na direção do quarto de Halbert.

 

 

Enquanto isso…

Halbert não estava descansando no seu quarto de jeito nenhum. Ele tinha na verdade saído pela janela, levando suas duas lanças favoritas para um bosque no pátio da mansão.

Halbert inspirou profundamente o ar frio do inverno, e então começou a balançar suas lanças. O som das lâminas cortando o vento, e o barulho da fina corrente que as juntava, ecoaram pelas árvores.

Bloqueio, estocada, corte… Ele movia-se como se estivesse lutando contra um inimigo invisível.

Muito provavelmente, tinha alguém em específico em mente.

Entretanto, da forma que ele parecia, balançando que nem um louco, só fazia parecer que estava tentando eliminar alguma indecisão.

Só havia um pensamento na mente de Halbert enquanto ele balançava as lanças.

Tudo bem… eu ficar fazendo isso?

Essa era a única coisa que ele considerava.

Receber licença, voltar para a casa para a sua família junto de suas noivas, preparar para o casamento que logo viria… essa vida toda separada da luta deixava Halbert nervoso.

Tudo bem eu ficar fazendo isso? Eu posso derrotar aquele cara desse jeito?

Seus golpes ficaram cada vez mais desleixados.

Porque estava balançando descontroladamente com mais força do que poderia controlar, sua perna de apoio estava instável, e ele tremia para esquerda e para a direita. Gradualmente estava ficando sem fôlego também.

Sua inabilidade de mover-se como queria aumentava a frustração, e Halbert enfiou as lanças no chão.

— Hahh… Hahh… — Os ombros de Halbert erguiam-se com cada respiração.

Uma sombra aproximou-se.

— Francamente… ver você dói.

— Hã?!

Quando Halbert virou-se para olhar, Glaive estava observando detrás de uma árvore próxima.

— Ah, é só você, pai…

— Esses padrões ridículos não vão servir de nada como treino. Você só está dando uma extravasada.

— Guh…

Talvez ele tivesse alguma autoconsciência, porque Halbert não retrucou.

Com um único suspiro para o filho, Glaive se aproximou e pôs uma mão no ombro de Halbert.

— Você perdeu para alguém na União das Nações Orientais?

— O quê?! Ainda não perdi! Não perdi…, mas… encontrei um cara que não tenho certeza se consigo derrotar.

Halbert retrucou forte em reflexo, mas suas palavras gradualmente se enfraqueceram e ao fim, ele sentou-se frouxamente.

Glaive franziu o rosto.

— Tem alguém por aí que conseguiu fazer isso com você, o garoto que sempre estava desnecessariamente cheio de confiança?

— Fuuga Haan — disse Halbert. — Sua força é de outro nível, e tem um carisma enorme também. Quando vi o que ele tinha conquistado, me senti atraído involuntariamente.

O que estava preso na mente de Halbert era a ilusão persistente do Fuuga Haan que ele vira naquele dia.

— Eu admirei a forma como ele vivia como se estivesse em chamas, e por um breve momento, eu não estava nem com medo de morrer. O fato de que eu pensara dessa maneira me deixou com muito mais medo quando eu pensei depois. Mesmo assim… naquela hora, pensei que queria gastar minha vida como um guerreiro. Esquecendo completamente da Kaede e da Ruby.

Seu pai ficou em silêncio.

Hal imaginou Fuuga heroicamente indo e vindo pelo campo de batalha, liderando a cavalaria de temsbock, que entregaria suas vidas para ele sem medo, sem arrependerem-se se morressem ao longo do caminho. Ele tinha entrado em transe com aquela visão, e embora conseguira parar, sentira-se sendo atraído.

— Eu nunca fui tão pretensioso a ponto de achar que não havia alguém mais forte que eu por aí — disse Halbert. — Aquela elfa negra ao lado de Souma — mesmo comigo, Kaede, e a jovem Senhorita Carla contra, ela ainda nos esmagou. Tem sempre alguém melhor por aí.

— Chame-a de Madame Aisha, ok? — Pediu Glaive. — É da segunda rainha primária que você está falando.

— Aquela Aisha… Madame Aisha jamais trairá Souma. Então, enquanto eu for leal a este país, jamais verei sua lâmina apontada para nós. Mas… Fuuga é de outro país. Ele quer fazer seu nome ser conhecido no continente também. Contanto que mantenha essa ambição, alguma hora ele e Souma… ele e este país entrarão em choque.

Imaginava que quando essa hora chegasse, quem enfrentaria Fuuga seriam ele e Ruby. Porque Fuuga voava por aí com seu tigre voador Durga. Aisha, que não tinha uma montaria voadora, estava em desvantagem.

Durga era tão poderoso que qualquer tentativa de o enfrentar com um wyvern não teria chance.

No fim, apenas Halbert e Ruby, a dragão vermelha, seriam páreos para ele.

— Preciso chegar a um ponto onde eu possa ganhar dele — disse Halbert. — Senão não conseguirei proteger o país, ou Kaede e Ruby. Quando penso sobre isso… não consigo não ficar afobado. Eu começo a pensar: “Tudo bem ficar fazendo isso?” Se não ficar mais forte, jamais conseguirei derrotá-lo.

Casar-se e ganhar uma parceira significava ter ainda mais para proteger.

No caso de Halbert, ele ganharia duas de uma vez, então a responsabilidade era dobrada.

Francamente, fico admirado como Souma consegue aguentar essa pressão. Estou sinceramente impressionado.

Ele era o rei, e ganharia cinco parceiras de uma vez, afinal.

Além disso, ele e Liscia agora tinham filhos ao mesmo tempo. Em termos do número de coisas que tinham que proteger, Halbert não tinha nada comparado ao Souma.

Em termos de força física, a diferença entre Halbert e Souma era como a de um homem adulto e de um bebê, mas em termos de resistência mental, o oposto era verdade.

— Quando penso que casarei com Kaede e Ruby em breve… me preocupo mais e mais se estou bem assim. É tipo… vou conseguir proteger minhas esposas?

— Entendo. — Glaive, que cruzara os braços, ouvindo em silêncio, surpreendemente sorria. — Você era só um filhotinho antes, mas agora parece que finalmente começou a desenvolver alguma consciência de sua responsabilidade como herdeiro da família.

— Não me provoque. Estou tentando ter uma conversa séria aqui, ok?

Halbert encarou-o com raiva, mas Glaive balançou sua cabeça quieto.

— Não estou provocando-o. Em primeiro lugar, o que você está sentindo é algo que todo mundo sente antes de se casar. Não acho que os medos que você sente tenham muito a ver com Fuuga, sabe?

— Hã? Fuuga… não tem nada a ver?

— Ele pode ser um fator que contribui — disse Glaive. — No entanto, sua preocupação fundamental é se, depois de casar-se com aquelas duas, você conseguirá defender essa família como chefe da casa. Essa é uma preocupação com que mesmo um marido normal que não enfrenta inimigos poderosos no campo de batalha tem que lidar. Não há nada de especial nisso.

Quando Glaive não levou isso a sério, Halbert sentiu como se escamas tivessem caído dos seus olhos.

Halbert pensara que estava com medo de Fuuga, mas Glaive dizia que uma grande parte do que ele temia era a incerteza sobre ter uma família. Se isso era verdade, significava que a incerteza tinha tomado a forma do fantasma de Fuuga.

— Está falando da sua experiência aqui? — perguntou Halbert.

— Bem… sim, acho que sim.

Vendo Glaive virar de lado desajeitadamente, Halbert ficou perplexo. Mesmo o Glaive de olhar severo havia entrado em pânico como ele antes de se casar.

Glaive limpou a garganta e disse a seu filho:

— Ahem… ainda assim, mesmo que não seja a raiz das suas preocupações, você realmente vê esse tal de Fuuga como uma ameaça, certo? Se está tão em dúvida assim, em vez de fazer um treinamento que não o beneficiará aqui, porque não ir a algum lugar onde você possa se concentrar e treinar seriamente?

— Treinar seriamente?

— Antes de você tomar aquelas duas como parceiras de vida, talvez faça bem passar algum tempo sozinho em autocontemplação. Felizmente, com o lançamento da rede de transportes de Sua Majestade, deslocar-se pelo país tornou-se muito mais fácil. Eu vou hospedá-las na casa aqui, então use sua licença para ir onde quiser, entre em contato com várias pessoas, e treine à vontade.

Treinar sozinho. Era uma proposta atraente para Halbert. Ele certamente não conseguiria focar-se aqui. Nesse caso, essa seria uma boa chance para dar uma nova olhada em si mesmo.

— Mas tudo bem? — preocupou-se. — Kaede e Ruby não ficarão bravas?

— Mesmo se ficarem, você mesmo precisa contar isso a elas. Ah. Tenho certeza de que não ficarão felizes com isso, mas elas acreditarão em você e mandarão você embora.

— É…

— Mas certifique-se de não fazer qualquer coisa que deixe aquelas garotas tristes. Se você perambular pelo distrito da luz vermelha só porque é a última vez que será solteiro, vai receber os punhos de mim e de sua mãe como punição.

Glaive soou desesperado de alguma forma enquanto fazia essa última ameaça.

— Eu não tinha nenhuma intenção de fazer algo assim… — disse Hal.

Ele pausou.

— Não me diz que você fez isso

Glaive começou a suar frio enquanto colocava a mão no ombro do filho.

— Lembre-se que algumas coisas não serão perdoadas como excessos da juventude. Se você enfurecer aquelas que se tornarão suas parceiras de vida, espere que elas tomem total controle da sua vida de casados daí em frente.

Hal ficou em silêncio.

Era por essa razão que, apesar da postura gentil de sua mãe, a Casa de Magna estava sob o domínio dela?

Tendo a sensação de que tinha vislumbrado algumas das circunstâncias de sua própria família, Halbert resolveu ser cuidadoso consigo mesmo.

Quando ele retornou à casa, Halbert fez como Glaive havia dito, e revelou a Kaede e Ruby que ele queria partir em uma jornada de auto crescimento. Quando ele fez isso, a resposta delas foi…

— Bem, se é isso que você quer, Hal, tem que ser assim, sabe?

— Quando ficar satisfeito, se apresse de volta.

…aceitar com sorrisos irônicos.

Parecia que as duas tinham estado preocupadas sobre Halbert não agir como si mesmo recentemente. Halbert era muito grato pela gentileza delas.

E então, pegando emprestado um cavalo de guerra com Glaive, Halbert partiu numa jornada sozinho.

Ele viajou ao sul de Randel a cavalo por dois dias.

Finalmente, uma floresta densa foi avistada. Era o domínio autogovernado dos elfos negros, a Floresta Protegida por Deus.

Essa era a terceira vez que Halbert vinha à floresta. A primeira vez tinha sido para prestar assistência durante um desastre, e a segunda para ser uma escolta para Souma quando fora cumprimentar o pai de Aisha antes de casar-se com ela.

Quando Halbert disse aos guerreiros elfo negros de guarda do lado de fora da floresta que ele queria ir ao vilarejo, rapidamente permitiram que passasse porque era um rosto familiar

Eles disseram que mandariam um kui mensageiro para informar o chefe que ele viria, então Halbert agradeceu os guardas e avançou floresta adentro a cavalo.

Durante a viagem sacolejante a cavalo, Halbert pensou sobre as coisas.

Realmente foi ruim naquela hora. Como algo do inferno…

Ele achou que a sensação que tivera vendo Fuuga era parecida com um desastre natural. Como se algo além do conhecimento humano estivesse empunhando um poder incrível, e ele fosse uma mera mosca diante desse poder.

A floresta era o lugar onde Halbert foi levado a sentir profundamente sua própria impotência pela primeira vez.

Foi exatamente por isso que ele a escolhera como o primeiro lugar para ir na hora de dar uma nova olhada em si mesmo.

Eu mudei desde então? Estou comandando as Dracotropas abaixo de Kaede agora, sim. E ganhei uma parceira e montaria confiável com a Ruby. Também recebi uma arma incrível da artesã de Turgis, Taru. Mas quanto a mim, a mim mesmo…

Enquanto ele pensava essas coisas, de repente saiu numa área aberta.

Na Floresta Protegida por Deus, a qual com as muitas árvores era escura mesmo no meio do dia, esse era o único lugar sem nenhuma árvore alta, com o céu aberto se estendendo acima dele.

Foi onde o deslizamento de terra ocorrera. Porque o deslizamento de terra tinha derrubado todas as árvores altas, esse era o único local aberto.

Halbert desmontou do cavalo para olhar a cena.

Naquela época, a terra cobrindo o solo era marrom escura, mas agora ela era coberta de verde, e havia jovens árvores tão altas quanto Halbert.

Sentindo alguém atrás dele, Halbert virou de costas para encontrar um guerreiro elfo negro sorridente.

— Ora, Sir Halbert. Não o vejo desde que Sir Souma veio visitar.

O jovem homem era o pai de Aisha e chefe da Floresta Protegida por Deus, Wodan Udgard.

— Faz muito tempo, Sir Wodan — disse Halbert — Sinto muito por vir com pouco aviso prévio.

Halbert sentia por se impor, mas Wodan abriu os braços para recebê-lo.

— Não se preocupe. Você fez muito por nós, então é sempre bem-vindo. Tenho certeza que Sur e Velza teriam ficado felizes de vê-lo se estivessem aqui.

— Elas estão fora agora? — perguntou Halbert.

— Sim. Parece que elas deixaram a floresta por causa de um assunto urgente alguns dias atrás.

— Entendo… fico um pouco desapontado de ouvir isso.

A garota elfo negra de doze anos, Velza, tinha ficado apegada a ele depois de salvá-la durante o desastre. Já que estava na Floresta Protegida por Deus de qualquer jeito, teria sido legal vê-la, mas se ela não estava aqui, era isso e pronto.

Wodan perguntou:

— O que o traz para a Floresta Protegida por Deus?

— Estou em treinamento agora. Para me reavaliar e me melhorar.

— Treinamento… é? Creio lembrar-me de ouvir você dizendo que casaria logo, estou certo, Sir Halbert? Ao mesmo tempo que a minha filha está prevista para casar com Sua Majestade.

— Bem… sim, mas…

— Hum, parece que você tem suas razões. Importaria de me contá-las?

Quando Wodan perguntou isso com sinceridade, Halbert relatou a sequência de eventos que o colocou nessa jornada. Quando ele falou sobre Fuuga, Wodan gemeu com um olhar difícil.

— Tem um guerreiro por aí que pode fazer até a minha Aisha reconhecer a superioridade dele? Francamente… é um mundo grande lá fora, não é?

Para Wodan, quem conhecia a força de Aisha melhor que todo mundo, era difícil de acreditar que havia um ser por aí que até ela temia. Entretanto, quando a expressão atormentada de Halbert o disse que era verdade, ele arrepiou-se.

Halbert suspirou e disse:

— Eu… eu tenho medo daquele homem. Se ele se tornar um inimigo um dia, vou conseguir vencê-lo? Serei capaz de proteger Kaede e Ruby, minhas futuras esposas? Eu penso nisso demais, e até me faz começar a duvidar se devia casar com elas de qualquer maneira.

— Hum… Wodan parecia pensar sobre o que lhe tinha sido dito por algum tempo. O silêncio era desconfortável, e enquanto Halbert esperava que ele dissesse algo, Wodan de repente veio com:

— Isso é fraqueza.

— Hã?! — Quando confrontado diretamente com sua fraqueza, Halbert engoliu em seco.

Vendo a reação, Wodan se deu conta da má escolha de palavras e corrigiu-se.

— Ah, não estou dizendo isso com uma crítica a você. Todos nós carregamos fraqueza em nós em maior ou menor grau. O que é importante é se podemos ou não a encarar.

— Encarar nossa fraqueza, você quer dizer? — Halbert perguntou.

— Sim. Você está fazendo isso. Agora é só uma questão de se você consegue olhar a verdadeira natureza dessa fraqueza. “Fraqueza nunca é só fraqueza” Essas palavras foram passadas pelos guerreiros da Floresta Protegida por Deus.

Wodan agachou-se, passando a mão pelo musgo no solo.

— Naquele desastre, a grama e as árvores foram ceifadas pela terra e lama. Podemos dizer que elas foram fracas em relação à terra. Nosso poder, também foi pequeno e insignificante.

Halbert ficou em silêncio.

— Mas ainda assim, veja. Agora a grama cobre essa mesma terra. A grama é derrubada facilmente, mas tem uma força que mais do que compensa isso. Ela brotou apenas alguns dias depois do desastre, e em poucos meses, a área estava coberta de verde. Agora que se passou cerca de um ano, novas árvores começaram a crescer também. Há uma força naqueles que pensamos serem fracos. O mesmo vale para as pessoas.

Quando Wodan levantou, virou para encarar Halbert.

— O coração que conhece o medo é cauteloso e avesso à imprudência. O coração que deseja fugir é minucioso quando se trata de garantir a própria segurança. É por isso que nós dizemos na Floresta Protegida por Deus que você não deve rejeitar seu medo.

— Não rejeitar o medo…

Era importante temer Fuuga?

Certamente, pode ser verdade que cautela é importante. Dito isso, quando eu ficar de pé diante de Fuuga, conseguirei lutar? Quando lutar contra ele, a quem temo, conseguirei defender este país, defender minha família?

Enquanto Halbert repensava isso, Wodan deu uma risada.

— Se você deseja saber mais do coração que conhece o medo, não tem alguém próximo a você que seria apropriado para ensiná-lo? Porque não pergunta para ele?

— Hã? De quem está falando?

— Tem, não tem? Aquele que tem o maior medo neste país, e aquele que também deve agir de forma mais covarde. Na capital de Parnam.

Quando ele disse isso, ocorreu a Halbert.

Era verdade. Aquele cara estava numa posição onde sempre tinha que ficar com medo de algo. Ter medo, preparar-se, e apesar de sua fraqueza, superar seu terror de alguma forma.

Eles deviam ser amigos, então não deve ser ruim ir conversar.

Enquanto Halbert pensava nisso, Wodan se retirou e estendeu seu arco por alguma razão.

— Sir Wodan? — Halbert perguntou.

— Heh heh! Bem, deixando isso de lado, você veio a esta floresta para treinar, não foi? O que acha? Treinará com o pai da garota que dizem ser a mais forte deste país?

Quando ele colocava desse jeito, um guerreiro como Halbert não podia deixar a oportunidade passar.

Halbert empunhou suas duas lanças favoritas, sorrindo.

— Parece bom pra mim. Comparado a usar a minha cabeça, isso é bem mais meu estilo.

— Você não deve deixar de usar a sua cabeça. Mesmo durante esta batalha, continue pensando a todo momento.

— Sim, senhor!

Enquanto eles tinham essa troca como instrutor e pupilo, os dois começaram a lutar.

Finalmente, tendo realizado o treinamento de combate com Wodan, Halbert deixou a Floresta Protegida por Deus para trás, direcionando o seu cavalo para nordeste.

 

 

O próximo lugar a que Halbert chegou era a cidade capital familiar de Parnam.

Quando Halbert alcançou a capital, ele imediatamente dirigiu-se ao castelo.

Os guardas sabiam quem ele era, e já tinha a permissão de Souma, então apesar de sua visita inesperada, ele foi levado ao escritório de assuntos governamentais do rei com apenas uma simples revista prévia.

Quando Halbert bateu à porta, uma voz apática veio do outro lado.

— Entre…

Quando entrou no quarto, o rei provisório, Souma, estava lá do outro lado de uma montanha de papelada.

Próximo a ele estavam vários burocratas e o Primeiro Ministro de robe negra, Hakuya.

Quando ele notou que era Halbert, Souma, que parecia um pouco exausto com toda a papelada, inclinou a cabeça para o lado.

— Hal? Isso é inusitado. Você veio até aqui só para me ver?

— Bem, eu só queria falar com um você um pouco… Posso voltar depois se agora for uma hora ruim.

Ele obviamente não podia atrapalhar os deveres dele.

Souma deu um grande bocejo.

— Hum, eu estava pensando que precisava de uma pausa, então claro. Hakuya e todos os outros, vamos dar uma curta pausa.

— Muito Bem.

Hakuya curvou-se e então deixou o escritório. Os burocratas partiram também, deixando apenas Souma e Halbert juntos no quarto.

— Então? Você veio aqui porque tinha algo para falar, certo? — disse Souma, indicando que ele deveria falar.

Halbert resignou-se e disse:

— Fuuga esteve na minha mente desde que voltamos da União das Nações Orientais.

— Ah, é? Despertou para o caminho do guerreiro agora?

— Não seja bobo… estou tentando falar sério aqui — disse Halbert ressentido.

Souma deu de ombros.

— Foi uma piada. Esteve na minha mente também. Ele vem depois dos meus recém-nascidos, Liscia e as outras, e esse monte de trabalho, no entanto.

— Ele está bem no fundo da pilha.

— O que que tem o Fuuga?

Halbert suprimiu seu desejo de manter as aparências e decidiu ser direto.

— Se acabarmos lutando contra Fuuga em algum ponto no futuro, eu vou ser quem vai enfrentá-lo, certo?

— Você seria, sim. Acho que, provavelmente os únicos que teriam uma chance contra Fuuga e Durga seriam você e a Ruby. Se a Aisha fosse quem tivesse feito um contrato com a Naden, poderia depender delas, mas não vou conseguir dar conta. Eu não vejo os outros da cavalaria wyvern conseguindo segurá-lo, também.

Souma cruzou os braços e os descansou atrás da cadeira enquanto falava.

— Honestamente, eu fico preocupado que os soldados fujam só porque Fuuga e Durga avance contra eles. Seria ruim se acabassem fazendo a coisa do “É– É o Lu Bu!”

— Lu Bu? O que é isso?

— Não, esquece isso. De qualquer jeito, para nos prevenirmos contra esse tipo de situação, precisamos de um grande homem nosso que seja tão majestoso quanto Fuuga. Tipo: “Se Wei tem Zhang Liao, Wu tem Gan Ning”

— Zhang Liao? Gan Ning?

— É uma pena que ninguém entende as minhas referências do Romance dos Três Reinos1O Romance dos Três Reinos (chinês tradicional: 三國演義; chinês simplificado: 三国演义; pinyin: sānguó yǎnyì), livro escrito por Luo Guanzhong no século XIV, é um romance histórico chinês baseado em eventos dos anos turbulentos próximos do fim da Dinastia Han e da era dos Três Reinos da China, começando em 169 e terminando com a reunificação do reino em 280. — disse Souma com uma cara séria depois de soltar um monte de besteira que ninguém mais entendia. — Da minha parte, eu tenho grandes expectativas para Hal, o oni vermelho. Preciso que você se torne alguém que as pessoas pensem quando estiverem com medo de Fuuga dizendo: “Bem, temos Hal, o oni vermelho”. Eu nunca terei essa presença florida no campo de batalha.

— Presença florida? Você quer dizer, tipo, carisma?

— É. Se vocês e os outros vassalos puderem compensar pelo que Fuuga tem que eu não tenho, isso ajudaria bastante. Para impedir que as pessoas sejam atraídas pela atmosfera em torno de Fuuga.

— …

Halbert contraiu os lábios.

Essas expectativas seriam um grande peso para ele. Bem quando estava pensando que tinha que fazer algo a respeito de si mesmo, teria que assumir as expectativas das pessoas, também. Seria esperado dele ganhar de um oponente que não sabia se poderia superar. Por todas as pessoas, também. Isso era um incrível fardo.

Por favor… não me faça carregar isso…

Então, Souma levantou-se e bateu no ombro de Halbert.

— Então, Halbert, conto com você.

Sem qualquer forma de saber o que Halbert sentia, Souma disse:

— Se Fuuga avançar contra nós, segure-o por pelo menos um minuto, tudo bem?

— …Hã? — Halbert piscou. — Tudo bem só um minuto?

— Ei, se você conseguir aguentar, cinco, dez minutos, ou até mais. Quem sabe até ganhar, seria de grande ajuda, mas não posso esperar muito, posso? Batalhas podem ser decididas pela sorte do momento. Nada é absoluto.

— Bem… É, acho que sim.

Agora Halbert sentia-se confuso.

Souma coçou sua cabeça.

— Mesmo Fuuga e Durga não têm como enfrentar a Força Aérea de Defesa Nacional inteira. Mesmo que ninguém consiga enfrentá-lo um contra um, se o cercarmos e ficarmos batendo, ele deve se render.

— Cercá-lo e bater nele… Hã? Tudo bem fazer isso?

— Ele não é um cara com que podemos ser exigentes na forma como o derrotamos. A questão é se podemos armar isso ou não. Na guerra anterior, tivemos uma situação onde não pudemos impedir o avanço de Gaius e as coisas ficaram arriscadas, afinal. A cavalaria de wyvern usando nosso tesouro, o Pequeno Susumu Mark V Leve (um dispositivo de propulsão leve do tipo Maxwell) é boa em ataques relâmpago, mas não é adequada para encurralar um inimigo. É por isso que, para cercar Fuuga, eu quero que você e Ruby façam o seu melhor para mantê-lo parado.

Halbert ficou perplexo.

Souma tinha se sentindo tão ameaçado por Fuuga quanto ele, mas estava pensando sobre isso de uma forma completamente diferente.

Halbert achava que eles precisavam de uma única pessoa que pudesse derrotar o homem, mas Souma tinha pensado numa forma de ganhar usando um grupo grande que incluía Halbert.

Por causa da fraqueza de Souma, ele não era seletivo em relação aos métodos que escolhia para sobreviver.

Halbert sentiu as escamas caindo dos olhos.

— Eu não necessariamente preciso derrotar Fuuga?

— Eu te disse, não? Se você puder, não teria nada melhor. Mas não se force demais. Para convencer o povo de que você é um grande homem igual a Fuuga, a primeira prioridade é que você sobreviva. Esse tipo de figura heroica dará apoio emocional ao povo. É por isso que, não importa quão sujo seja, você e Ruby tem que sobreviver juntos.

— Você faz soar tão simples — disse Halbert lentamente.

Ficar de pé à frente de Fuuga e sobreviver não seria fácil.

No entanto, seria bem mais fácil do que se esperassem que o derrotasse. Só por isso… ele sentiu que valeu a pena ter vindo aqui hoje.

Halbert deu um sorrisinho e acenou.

— Obrigado por me ouvir. Bem, agora vou partir.

— Hum, já acabou? Espera. Seu casamento está próximo, também, não está? Você realmente devia ficar por aqui?

Halbert riu.

— Estou no meu último retiro que poderei tirar como um homem solteiro. Eu preciso ficar forte o suficiente para lutar de igual para igual com Fuuga graças a um certo rei, afinal.

Ele disse isso com um pouco de rancor.

 

 

Aconteceu quando Halbert estava numa jornada para treinar e se reavaliar.

Kaede e Ruby, tendo se despedido dele para sua jornada, estavam ficando na mansão da Casa de Magna em Randel. Porque a licença estendida que lhes tinha sido concedida era de cerca de um mês, eles tinham usado para relaxar e para limpar a sujeira da trilha da campanha.

E hoje, no vestiário da Casa de Magna, Ruby estava provando o vestido de casamento que ela usaria na cerimônia.

— B-Bem, o que acha? — perguntou Ruby, olhando para baixo para o vestido de branco puro. Era uma cor simples e limpa, e o contraste com o cabelo vermelho flamejante de Ruby fazia ela parecer muito bonita.

Quando um dragão se transformava em humano, suas roupas eram feitas de suas escamas transformadas e não era possível trocá-las para diferir da cor do corpo. Então, vermelho para Ruby e preto para Naden.

Isso significava que para colocar o vestido branco puro que ela vestia agora, Ruby tinha temporariamente feito suas roupas de escamas desaparecerem e ficado completamente pelada antes de colocar o vestido preparado.

Usando esse método, a raça dos dragões poderia participar da moda. Mas, diferentemente das roupas feitas das próprias escamas que se transformavam com seus corpos, roupas comuns seriam rasgadas em pedaços quando eles se transformassem em dragão. Então, se quisessem se transformar, seria necessário ficar pelado.

Ruby deu um giro em frente ao espelho, dando um suspiro de prazer.

— Que vestido adorável…

— Hehe, ele realmente combina com você — disse a mãe de Halbert, Elba, pondo uma mão da bochecha enquanto olhava para o vestido de Ruby.

Kaede estava de pé ao lado dela, sorrindo.

— Realmente combina com você, sabe, Ruby?

Ruby sorriu envergonhada.

— Obrigado, Kaede.

Elba assentiu satisfeita.

— Porque as cores dos nossos cabelos são tão próximas, sinto como se você fosse minha filha de verdade, vendo-a assim. Eu estava grata só de Kaede, quem eu conheço desde que ela era jovem, entrar na nossa família, mas ter você também, Ruby… Meu menino é muito abençoado.

— N-Não, isso não é verdade — disse Ruby rapidamente.

— Sim, é sim. Francamente… Como aquele menino podia deixar suas noivas adoráveis para viajar sozinho? Glaive é tão culpado quanto também, por tê-lo deixado empolgado com isso. Quando ele voltar, tenham certeza de que Halbert faça bastante do que vocês duas quiserem dele. Vocês têm a minha permissão.

— Ahaha… Vamos fazer exatamente isso, sabe? — respondeu Kaede com um sorriso irônico.

A propósito, Glaive tinha levado uma bronca de Elba quando ela soube a razão pela qual Halbert partira na sua jornada.

— Tudo bem ouvi-lo, mas enviá-lo numa jornada é demais. Pense naquelas duas pobres meninas que foram deixadas para trás. Você precisa entender os sentimentos das mulheres mais! E assim por diante.

Kaede e Ruby tinham intercedido dizendo: “Ele fez isso com a nossa permissão”, mas Glaive tinha sido proibido de ter contato com as suas futuras noras por um tempo como punição.

A punição foi um baita choque para ele, aparentemente, então Glaive estava trancado no seu quarto emburrado.

Kaede sorriu ironicamente, lembrando-se disso.

Enquanto Elba beliscava a manga do vestido de casamento que Ruby vestia, ela estreitou os olhos.

— Deixe-me contar-lhe sobre esse vestido. É o que eu usei quando entrei na Casa de Magna pelo casamento, sabe?

— Hã?! É?!

Elba deu uma risadinha.

— Sim. Eu nunca tive uma filha, então fiquei imaginando quando ele veria a luz do dia novamente. Tenho certeza de que o vestido está feliz em ser usado por você.

— T-Tudo bem eu usar algo tão importante? E-Em vez de mim, não devia ser a esposa principal, Kaede, usando-o?

Kaede sorriu ironicamente.

— Na casa de Foxia, nós temos nossas próprias peças de roupa para esses tipos de cerimônias de casamento, sabe? Meu irmão mais velho já herdou a casa, mas tem uma vestimenta tradicional que nossas mulheres devem vestir. Somos uma família que originalmente veio para cá vindo do Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças, sabe?

A roupa de casamento usada pela Casa de Foxia era um shiromuku2O Shiromuku é um quimono branco, monocromático e ricamente bordado, usado por noivas na cerimônia de casamento japonesa. O nome Shiromuku é composto por duas palavras: “shiro”, que significa branco, e “muku”, que significa pureza. branco puro, um iro-uchikake3O Iro-uchikake é um quimono usado por noivas em casamentos tradicionais japoneses. Neste traje de casamento tradicional e muito formal, a noiva veste um quimono branco e um obi, mas os cobre com um sobretudo colorido que pode ser usado durante todo o casamento ou apenas na cerimônia em si. colorido e um hikifurisode4Hiki-furisode é um quimono de casamento semelhante ao Uchikake na coloração, mas é apenas um quimono sem o sobretudo. Esta é uma maneira mais simples de obter o efeito colorido. Mais informações sobre as vestes de casamento japoneses nesse link. de manga longa, se parecendo muito com as roupas de casamento estilo japonês do mundo de Souma. A Casa de Foxia queria que Kaede vestisse essa roupa tradicional, então ela não poderia vestir o vestido de Elba.

— É por isso que estou deixando o vestido para você, Ruby — disse Kaede.

— Entendo… Mas parece que seu quimono vai ser adorável também.

Ruby ficou encantada com a descrição dele.

— Hehe, vai ser bonito — Kaede deu uma risadinha —, mas o vestido da Dona Elba é adorável também. Eu teria gostado de vesti-lo.

— Ah, então porque não usa os dois? — Elba bateu palmas como se tivesse uma ideia brilhante. — Vocês duas têm a mesma altura, então porque não trocar de roupas entre si no meio do banquete? Eu vou conseguir a permissão da Casa de Foxia.

— Acho que isso seria maravilhoso, mas… recentemente o peito de Ruby tem ficado maior — suspirou Kaede, dando uma olhada nele de relance.

— N-Não me olhe assim!

Ruby apressadamente trouxe os braços para cima para cobri-lo.

A forma humana de um dragão começava andrógena, mas então mudava para o sexo que combinava com o de seu parceiro. O corpo de Ruby estava ficando cada vez mais feminino, e Pai, cujo cavaleiro tinha sido uma mulher, estava se tornando um homem.

Dito isso, Naden, que tinha feito um contrato com Souma, estava tão pequena como sempre, então havia variação individual em como essas mudanças se manifestavam.

Enquanto Kaede olhava o peito de Ruby com ciúmes, Elba sorriu ironicamente.

— Bem, você vai ter que apenas dar um jeito com enchimento aí.

— O mundo é injusto, sabe? — reclamou Kaede.

— Se Naden ouvisse você reclamando do tamanho do seu peito, acho que ela ia perder a cabeça… — comentou Ruby.

Enquanto as três conversavam, um dos empregados entrou no quarto com uma batida na porta.

— Minha senhora, há uma pessoa que diz que quer se encontrar com vocês três — ele disse a elas.

Acontece que a pessoa em questão queria ver Kaede e Ruby também, então Elba fez com que ela fosse trazida a este quarto. A pessoa revelou-se ser um jovem homem, acompanhado de uma garota elfa negra de uns doze anos.

— Oh? — disse Ruby — Se bem me lembro, vocês dois eram…

A garota elfa negra curvou-se.

— Faz muito tempo, Senhorita Ruby. E é um prazer conhecê-la, madame. Sou Velza, filha de Sur, da Floresta Protegida por Deus.

— Ah, então você é a Velza! — disse Elba. — Ouvi falar de você do Hal. Se bem me lembro, você era a garota que Hal salvou durante aquele desastre.

Velza deu uma responsa enérgica:

— Sim! Eu realmente preciso agradecê-la pelo que ele fez.

— Hehe, que garota enérgica e adorável que você é — disse Elba carinhosamente.

— Então, para o que veio hoje? — Ruby perguntou. — O que veio fazer aqui, Sir Sur?

Sur sorriu ironicamente e balançou sua cabeça.

— Ah, não, eu só estou aqui acompanhando minha filha…

Velza encarou Kaede bastante.

— Orelhas de raposa… Você por acaso seria quem vai se tornar a esposa principal de Lorde Hal, Senhorita Kaede?

— Hã? Ehh… sim, sou. Porque sabe meu nome?

— Ouvi falar de você antes de Lorde Hal e Senhorita Ruby virem visitar a Floresta Protegida por Deus. Entendo… então você é a Senhorita Kaede.

Velza de repente dobrou um dos joelhos, baixando a cabeça.

— Vim hoje com um pedido!

— Um… um pedido?! — gritou Kaede. — Para mi-mim?

— Sim! Eu… Eu quero…

Velza ergueu o rosto, cheia de determinação, olhou direto para Kaede e disse:

— Quero servir ao Lorde Hal! Por favor, me faça uma serva da Casa de Magna!

Foi decidido que elas deveriam falar sobre isso calmamente. Depois de Ruby se trocar, elas foram para a sala de recepção e ouviram Velza falar.

Velza trouxe uma mão para o peito e explicou seu raciocínio:

— Lorde Hal salvou minha vida. Desejo retribuir essa dívida, e jurar lealdade ao Lorde Hal. Nós elfos negros nos orgulhamos de nos mantermos ao lado daqueles a quem juramos nossa lealdade e defendê-los até o dia que morrermos. Então, por favor, me deixe ficar a seu lado.

— Agora que você diz… Madame Aisha disse algo assim — disse Kaede, relembrando-se da futura segunda rainha primária de Souma.

Se ela bem se lembrava, a razão pela qual Aisha tornara-se a guarda-costas autoimposta de Souma era porque ela tinha jurado lealdade a ele.

Vendo a seriedade nos olhos de Velza, Kaede e Ruby foram pegas de surpresa, e Elba sorriu, dizendo coisas como “Minha nossa, minha nossa” e “Ser tão jovem novamente”.

Kaede começou a suar frio enquanto ela perguntava:

— Mas, nesse caso, você não devia pedir para o Hal diretamente?

— Quando ele veio à Floresta Protegida por Deus antes, eu disse a ele sutilmente. No entanto, Lorde Hal achou que fosse uma piada infantil, e ele não me levava a sério. Ele só dizia: “Quando você crescer”.

Aquele imbecil tapado! — pensaram Kaede e Ruby simultaneamente.

Havia um leve anseio amoroso visível pelas palavras de Velza. A completa incapacidade do noivo delas de perceber quão séria a garota era dava a ambas dores de cabeça.

Velza continuou:

— Vocês casarão com Lorde Hal em breve, correto? Nesse caso, eu queria que vocês, que serão as esposas dele, soubessem a minha intenção com antecedência. E quero a permissão de vocês. Quando eu crescer, por favor, me deixem ficar ao lado de Lorde Hal.

Velza encarou Kaede nos olhos. Sua seriedade era aparente.

Ruby olhou para Elba, mas dessa vez ela apenas sorriu, dizendo nada. Parecia que pretendia deixar isso com Kaede e Ruby.

Enquanto isso, Kaede encarou Velza inquisitivamente. Houve um breve silêncio, e Ruby, que não podia mais lidar com o estresse no ar, gritou e agarrou a própria cabeça.

— Ahh! O que é essa atmosfera?…O que você acha, Kaede?

Kaede ficou em silêncio.

Ela olhou nos olhos de Velza e falou suavemente:

— Você disse que queria servir Hal como uma serva da Casa de Magna, mas você realmente vai ficar satisfeita só com isso?

— Isso… — Velza de repente ficou sem palavras.

Kaede não tirava os olhos dela.

Velza, percebendo que não poderia esconder o resto, confessou honestamente seus próprios sentimentos:

—…Não. Isso é apenas o mínimo, o menor dos meus desejos que quero que sejam realizados. Se Lorde Hal não tem intenção de ir além, quero ficar ao lado dele como uma serva. Entretanto… na verdade… se for de todo possível…

Velza criou a coragem para continuar.

— Se for de todo possível, gostaria de ser a esposa de Lorde Hal. Quero ficar ao lado dele como sua esposa.

— Achei isso mesmo. É isso então — suspirou Kaede. Do que tinha ouvido até agora, ela tinha previsto isso.

Para essa garota, Halbert, que a salvara da areia e terra, era um tipo de príncipe num cavalo branco. Na mente dela, ele provavelmente parecia três vezes mais legal do que o normal.

Se eu estivesse na posição dela, acho que teria uma queda por ele, também — pensou Kaede — Francamente, sabe? Aquele Hal. Quando é legal de vez em quando, ele realmente anima uma garota.

Enquanto reclamava na sua cabeça sobre o noivo ausente, Kaede pensou bem.

Ela aprendera com Aisha que se um elfo negro jurasse lealdade a alguém, ele lhe serviria até que a morte os separasse. Se ela rejeitasse Velza aqui, isso podia apenas inflamar a paixão dela ainda mais.

Além disso, ter uma ligação com os elfos negros, a quem devido às suas tendências insulares de antes tinham poucas trocas com o mundo exterior, não seria algo ruim para a Casa de Magna.

Era uma oferta difícil para Kaede, que estava entrando na Casa de Magna como esposa principal, recusar.

Hal tem que ser quem fará a decisão final, mas vou ter que estar preparada para aceitá-la se chegar a isso — decidiu Kaede. — É uma sensação complicada, mas… vou precisar que ela se torne alguém digna de minha aceitação.

Kaede resolveu e então falou:

— Velza.

— S-Sim?!

— Quantos anos você tem?

— Doze.

— Entendo… Nesse caso, gostaria de impor uma condição.

— …O que seria? — perguntou Velza hesitante.

— Que você frequente a escola na capital Parnam a partir dessa primavera, e você deve ter sucesso em formar-se.

— Es–Escola?

Enquanto Velza piscava, Kaede tinha assumido uma expressão extremamente séria.

— Você deseja ajudar Hal, sim? Estou ciente de que membros da raça elfa negra são excelentes guerreiros. Acho que você tem grande potencial como artista marcial. No entanto, tenho certeza de que Hal voará para a linha de frente montado em Ruby. Esse não é um lugar que alguém pode acompanhá-lo sem convicção, e eu posso imaginar vários cenários onde lutar ao lado dele seria pelo contrário um obstáculo.

Velza ficou em silêncio.

— Portanto, será muito importante que você dê suporte pela retaguarda. Se você deseja ser parceira dele, quero que domine os estudos, e seja uma pessoa que possa apoiar Hal de fora do campo de batalha.

— Para apoiar Hal… É para isso que serve ir à escola? — perguntou Velza.

Kaede assentiu.

— Eu vou deixar a decisão final com Hal, mas se você conseguir formar-se na Academia Real ou na Academia de Oficiais, vou respeitar suas intenções.

Elba tinha ficado assistindo em silêncio, mas agora ela falou:

— Kaede, você está bem com isso?

— Não tem o que fazer. — Kaede deu de ombros. — Atualmente há alta demanda por pessoas talentosas no reino. Vai levar pelo menos quatro anos para se formar em uma dessas escolas. Se ela estudar, e ainda assim se sentir da mesma forma daqui a quatro anos, eu não tenho razão alguma para não a receber.

— Francamente… você é boa demais para o Hal, sabia disso, Kaede? — disse Elba sorrindo.

Kaede devolveu um sorriso desconfortável a ela.

Velza, que tinha assumido um olhar pensativo depois de ouvir a condição, assentiu firme.

— Muito Bem. Quero estudar na capital, e quatro anos depois, aparecerei diante de Lorde Hal como uma dama apropriada para a Casa de Magna. Quando essa hora chegar, conto com você.

Velza curvou-se profundamente para Kaede, Elba e Ruby. Então, com pressa de matricular-se, arrastou Sur e foi embora.

Depois de vê-los partirem, Ruby perguntou a Kaede:

— Você está pensando que, com quatro anos, ela deve mudar de ideia?

— Pelo que eu vi da Aisha… não acho que isso vá acontecer. Quando a hora chegar, vamos nos preparar para recebê-la calorosamente.

— Ok — disse Ruby lentamente. — Mas era realmente tudo bem nós decidirmos isso sem o Hal?

— Isso é culpa dele por ser tão legal. Mas… pensando bem, aquela garota queria ser subordinada dele. Isso significa que vai ter uma esposa em meio aos seus superiores, colegas de trabalho (sua montaria) e seus subordinados.

— Isso parece… difícil. Eu sinto um pouco por ele.

Kaede riu alegre.

— Ele vai ter que aguentar. Vamos trabalhar juntas acima, ao lado e abaixo dele para que, não importa quanto suba, mais nenhuma garota se apaixone por ele.

— Conte comigo.

A primeira e segunda esposa deram um aperto de mão.

— Aquele garoto é um arruaceiro mesmo — disse Elba, ainda sorrindo.

 

 

Por volta do mesmo tempo…

— Atchim! — espirrou Halbert.

Tendo encontrado Souma em Parnam, Halbert se dirigia ainda mais ao leste. Convenientemente, havia uma unidade dirigindo-se para a ilha onde o porta-aviões tipo ilha com wyverns, Hiryuu, estava atracado, então ele deixara seu cavalo no castelo e pegara uma carona com eles.

Falar com Souma tinha ajudado bastante a diminuir seu medo de Fuuga.

Mas isso não significa que eu posso ser descuidado. Eu tenho que proteger Kaede e Ruby, afinal.

Ponderando sobre isso, Halbert decidira continuar sua viagem para se reavaliar.

E pensando sobre onde era melhor treinar, ele imaginou que tinha que ser no Hiryuu, a base das Dracotropas das quais ele era comandante.

Assim que chegou ao Hiryuu, ele imediatamente dirigiu-se para onde os membros das Dracotropas estavam treinando.

— Hum? Comandante? — perguntou um deles.

— Não estava de licença com a Jovem Senhorita Kaede?

— Não disse que tinha um casamento para se preparar?

Halbert devia estar de licença em casa com suas noivas, então os membros da unidade olharam para ele como se tivessem visto um fantasma.

Com um sorriso irônico em relação aos olhares estonteados, Halbert carregou suas lanças no ombro e disse casualmente:

— Bem, sabe como é que é, a vida em casa era meio entediante, então vim fazer um pouco de exercício.

— Fazer um pouco de exercício? Randel fica no lado oeste do Reino, não é? Essa ilha fica no extremo leste, sabe? Quão longe você veio só para fazer um pouco de exercício?

A desculpa forçada de Halbert obviamente não tinha funcionado.

Um dos homens até disse:

— Oho! Entendi! Comandante, você ficou com medo, não foi? Eu entendo como é, mas isso não vai colar, senhor. Se você começar a maltratar suas esposas agora, elas vão usar isso contra você pelo resto da vida, sabe?

O homem de meia idade com a barba por fazer assentiu sabiamente.

Ele podia estar falando de experiência, mas estava meio errado.

Halbert sorriu ironicamente, cutucando levemente o soldado no peito com a ponta de sua lança embainhada.

— Eu tenho permissão. Não se preocupe. Agora, vocês aí. Espero que não tenham ficado folgando enquanto eu e Kaede estamos longe, certo? Só porque fomos liberados das batalhas na União das Nações Orientais não significa que eu vou deixar vocês descansarem para sempre.

— Não nos subestime, senhor — disse um dos soldados que eram mais jovens que Halbert com uma expressão séria no rosto. Ele era o mais novo membro das Dracotropas, tendo apenas dezesseis anos, e a missão de reforçar a União das Nações Orientais tinha sido sua primeira campanha.

— Na batalha em Lasta, fomos forçados a reavaliar nosso entendimento de qual tipo de situação nossa união seria mobilizada. Descemos de muito longe para aliados que estavam lutando com desvantagem, e então lutamos duro para abrir um caminho no meio do inimigo. Ninguém folgaria no treinamento depois de passar por uma batalha como aquela.

— …Você tem razão.

Isso era o quão acirrada a Batalha de Lasta fora.

Houve poucos aliados contra o número avassalador de inimigos. E apesar das Dracotropas de elite terem sido enviadas de antemão, elas tinham sido forçadas a lutar com desvantagem. Se a cavalaria de wyvern não tivesse trazido barris de pólvora para bombardeio aéreo, Halbert tremia só de pensar o que poderia ter acontecido.

Ele virou-se para sua unidade e sinceramente abaixou a cabeça.

— Me desculpem. Esqueçam o que eu disse.

— Ah, não! Eu sou quem estava sendo presunçoso! — protestou o jovem Dracotropa.

— Ha ha ha! Você realmente se mantém firme agora, garoto — riu outro. — Aquela primeira noite (foi uma batalha noturna) te fez um homem?

— Ou, não fale isso de forma tão vulgar!

O soldado de meia idade passou o braço por trás dos ombros do mais novo, e os outros membros da unidade estavam rindo, também. A cena harmoniosa fez Halbert sorrir.

Souma dissera que Halbert não precisava necessariamente derrotar Fuuga. Isso significava não depender na sua habilidade pessoal de luta, mas superar Fuuga como uma unidade, um exército, ou um país.

Halbert tinha camaradas confiáveis assim. Ele não lutaria sozinho.

Halbert sentiu sua hesitação se desfazendo.

Cruzando suas duas lanças, deslizou uma sobre a outra para fazer barulho enquanto se virava para a sua unidade para dizer:

— Ok, eu vim até aqui. Isso foi o suficiente de conversa à toa. É hora de treinar.

— SIM, SENHOR!

E então, Halbert suou juntou dos membros das Dracotropas.

Cerca de duas horas depois, Halbert, tendo finalizado seu treinamento, estava de pé em frente a um poço bombeado à mão (porém, sendo esse um porta aviões, ele estava preso a um tanque de água), pelado da cintura para cima, jogando água de cima da sua cabeça.

Quando ele estava lavando o suor do treinamento desse corpo másculo e recuperando o seu folego, alguém que passava por lá lhe chamou:

— Você! Você é o comandante Halbert das Dracotropas?

— Hã?

Quando Halbert virou-se em resposta à pergunta súbita, a pessoa de pé ali era Castor, o capitão desse porta aviões tipo ilha, o Hiryuu.

 As Dracotropas eram uma força de combate em terra, então, falando rigorosamente, ele pertencia a uma organização diferente de Castor, mas contanto que ele estivesse a bordo do Hiryuu, Capitão Castor era efetivamente o com a patente mais alta.

Halbert se apressou para bater continência.

 — Ah! Capitão, me perdoe!

— Não tem porque ser tão formal — disse Castor. — Porém, ouvi dizer que estava de licença?

— S-Sim. Estou, mas, ahm… coisas aconteceram…

Todo mundo ficou apontando a mesma coisa, e Halbert estava ficando cansado de explicar, então ele tentou rir da situação.

Castor, sentindo que ele não queria falar sobre isso, simplesmente disse: “Hum…” com um gesto como se estivesse pensando.

— Então, você está livre agora?

— Hã? É, Bem, sim.

Castor deu um sorriso aberto.

— Então pode juntar-se a mim depois disso?

Castor trouxe Halbert para seu quarto privado, que era separado da sala do capitão, e o fez sentar no sofá. Enquanto isso, ele pegou uma garrafa de vinho da prateleira, uma taça, bem como bolachas de água e sal e castanhas como lanche.

— Meu segundo em comando está de licença também, sabe? — explicou Castor — Tenho ficado entediado.

Parecia que ele estava pedindo que Halbert acompanhasse ele bebendo.

Castor sentou-se no sofá em frente e perguntou:

— Comandante Halbert… ah, posso chamá-lo apenas de Halbert? Como você é com bebidas alcóolicas, Halbert? Forte, ou fraco?

— Hã? Ahn, normal, eu acho.

Castor assentiu satisfeito.

— Entendo. Bem, normal é o melhor. Minha sogra bebe tanto que as manhãs em que eu tenho que me juntar a ela são duras.

— O-Oh… É mesmo?

Halbert piscou enquanto Castor servia o vinho na taça.

Porque ele estava aqui bebendo com um dos três ex-duques, e o capitão atual do Hiryuu?

Se você considerar nossas posições… Espere. Se eu fosse dizer isso, a forma como eu trato Souma como um amigo é ainda mais problemática.

A Casa de Magna não era de forma alguma uma casa pequena, mas mesmo considerando isso, Halbert parecia fadado a estar ligado às figuras importantes deste país. Isso era sem dúvida uma dor de cabeça para Kaede.

Se ele se relembrasse, a hora que Souma e os outros tinham ouvido ele e Kaede discutindo no café de canto Lorelei pode ter sido quando a sua “sorte” se esgotou.

Castor inclinou sua taça e disse:

— Eu tenho inveja de quem pode voltar para casa em horas como essa. Eu sei que eu mereço, mas… Eu não posso retornar à minha casa na Cidade do Dragão Vermelho. Causaria problemas para Accela e Carl.

Mesmo que tenha uma boa razão para isso, Castor rebelara-se contra Souma, e por isso, seu nome de família tinha sido tomado dele, e estava sob custódia de Excel. Ele tinha sido proibido de encontrar-se com seu filho pequeno que foi permitido que herdasse o nome da família na Cidade do Dragão Vermelho, assim como sua esposa, Accela, que era a que efetivamente estava cuidando das coisas.

Castor concordava que a punição era apenas natural, mas ser incapaz de ver sua esposa e filho ainda o fazia sentir-se solitário.

Vendo a dor de Castor, Halbert, que em certo momento pensara em ficar do lado do ex-General do Exército, Georg Carmine, numa tentativa de se tornar conhecido, não conseguia não simpatizar.

Ele tinha uma pergunta que queria fazer a Castor, que foi forçado a viver longe de sua família.

— Capitão… como sentiu-se quando se casou? Quando assumiu uma nova família?

— Hum? O que é isso, de repente?

— Bem, eu me casarei em breve, sabe?

— Ah, agora que você diz, você vai. Com a garota de orelhas de raposa e a garota dragão vermelho, certo? — Castor deu um sorriso malicioso. — Oho! Se você está aqui, então isso significa que ficou com medo de se casar?

Halbert apenas sorriu ironicamente, nem confirmando nem negando, porque ele estava parcialmente correto.

Castor gargalhou.

— Ah, tenho inveja da sua juventude. Eu me senti da mesma forma quando casei com Accela.

— Hã? Você também, capitão?

— Você achou que eu não estava pensando em nada? — Castor disse provocativamente, e então inclinou sua taça. — Bem, não sou muito de pensar ou me preocupar, mas… naquele tempo, eu idiotamente comecei a pensar em todo tipo de coisa. Como se eu poderia proteger Accela ou as crianças que nasceriam.

Halbert ficou em silêncio.

Ficou surpreso que Castor tinha pensado o mesmo tipo de coisas que ele. Talvez, não importa onde ou quando, as coisas que os homens pensavam antes do casamento fossem as mesmas.

— Então, quando você se casou, o que aconteceu? — perguntou Halbert.

Castor virou o resto da sua bebida e riu desconfortavelmente.

— Tendo entrado no casamento com todo esse ardor… Bem, eu logo vi que estava entendendo a situação errado.

— Entendendo errado?

— A mulher que eu queria defender era mais flexível e resiliente do que tinha dado crédito. Até mais do que eu, talvez. Houve várias vezes em que eu pensei que estava protegendo-a quando o oposto era verdade.

Castor serviu outra taça de vinho a si mesmo.

— Pense. Mesmo que eu tenha feito isso para permanecer fiel as minhas convicções, parti a Casa de Vargas ao meio. Mas quando enviei Accela para ficar com a Duquesa Excel, ela me disse: “Faça o que quiser”, e me apoiou. Então, depois da guerra, ela protegeu a Casa de Vargas. Além disso, embora eu tenha cortado laços, ainda se comporta como minha esposa, mandando cartas me contando sobre tudo que aconteceu recentemente. Francamente… ela é muito forte.

Halbert ficou em silêncio.

— E você, Halbert? — perguntou Castor. — As pessoas que você quer proteger são tão fracas a ponto de você ter que se preocupar com protegê-las?

Halbert fechou os olhos e considerou suas noivas.

Kaede era a amiga de infância dele. Ela tinha sido tímida muito tempo atrás, sempre rápida em se esconder na sombra de Halbert. Ele pensara que precisava protegê-la.

Mas em um certo ponto suas posições tinham mudado. Ela agora era sua superior, e ele lutava sob o comando dela.

Ela tinha um núcleo duro que a permitia repreendê-lo e fazê-lo parar quando ele tentava ir pelo caminho errado também.

Ainda havia situações onde Halbert precisaria protegê-la, mas ela não era uma garotinha que precisava ser protegida o tempo todo.

Já Ruby era uma garota adorável e uma dragão vermelho poderosa.

Se Ruby se envolvesse numa luta na sua forma de dragão, ela poderia queimar seus inimigos de longe até virarem carvão com um ataque de fogo. Ela era uma garota forte, sem dúvidas aí. No entanto, ele sabia que ela podia ser vulnerável emocionalmente. Ele não esquecera os olhos machucados dela de quando eles se conheceram.

Kaede era uma garota que não era apenas fraca; ela tinha fortes também. E Ruby era uma garota que não era só forte; ela tinha fraquezas também.

Quando pensou nas duas, Halbert se deu conta de algo.

Hã? Nenhuma delas são garotas que precisam ser defendidas constantemente?

Recordando-se agora, nenhuma delas era tão fraca que ele precisasse se preocupar se poderia protegê-las ou não.

Na verdade, porque ele estava angustiado sobre isso assim, apesar de quão ocupadas estavam antes do casamento, deixaram ele ir por necessidade.

Se alguém estava sendo protegido aqui, era Halbert.

Entendendo as coisas errado… Ele está certo.

Com isso, Halbert sentiu como se todas as suas preocupações tivessem desaparecido.

Sua inquietação a respeito de Fuuga fora aliviada falando com Souma, e Castor o ajudara a perceber que sua preocupação sobre se ele poderia proteger os outros era uma má compreensão da situação.

Parecia que ele não precisava ter se preocupado com nenhuma das coisas que o angustiavam.

Halbert sorriu ironicamente.

—…Capitão?

— O que é?

— Casamento é… Ter uma esposa é uma coisa boa?

Castor riu envergonhado.

— Bem, é claro que é. Ela pode ser meio chata às vezes, porém. Eu estava te contando sobre Accela agora, mas em suas cartas, ela sempre escreve: “Não está bebendo demais, não é?” e “Está cuidando da sua aparência?” Me faz querer dizer: “Quem é você? Minha mãe?”

— Mas isso não é bom? — perguntou Halbert. — Significa que ela o ama, certo?

— Eu sei disso, mas é cansativo ser perguntado várias vezes. Bem, não ter que ouvi-la resmungando pode ser uma vantagem de não poder voltar para casa.

Assim que Castor disse isso… aconteceu.

Toc, toc, toc.

— Hum? Não estava esperando ninguém hoje. Castor inclinou a cabeça na direção da porta. — Entre!

A porta estava em silêncio, e ninguém mostrou qualquer sinal de que entraria.

Castor levantou-se, desconfiado, e foi abrir a porta…

— Ah?! — gritou ele.

Ele fechou essa porta tão rápido que houve um ‘bang’ alto e ressoante. Seja lá o que ele vira do outro lado, Castor estava suando muito.

— Ahm, não era um convidado? —perguntou Halbert, em dúvida sobre o que estava acontecendo, mas Castor não respondeu.

Enquanto Halbert se perguntava o que houve, dessa vez, a porta abriu sozinha.

— Céus — disse uma mulher indignada. — Fechando a porta na minha cara assim do nada? Isso não é horrível da sua parte?

A pessoa dizendo isso era uma mulher sozinha.

Ela era uma linda mulher de cabelos azuis com chifres e uma cauda. Halbert pensou que fosse a Duquesa Walter por um instante, mas olhando melhor, tinham alguns detalhes diferentes.

Para começar, os chifres da Duquesa Walter eram pequenos como os de um cervo, enquanto os dessa mulher eram chifres únicos. Além disso, ela tinha um par de asas de dragão nas costas que Duquesa Walter não tinha.

Olhando para ela, Castor finalmente conseguiu se forçar a responder:

— A–Accela?! Porque está aqui?!

A linda mulher de cabelos azuis era a filha de Excel e esposa de Castor, Accela.

Ela era uma filha nascida de Excel e seu segundo marido, que tinha sido também um dragonato (mas ele havia adoecido e morrido numa idade muito jovem para um dragonato).

Por causa disso, apesar de sua aparência ser parecida com a de Excel, ela tinha as características de uma dragonata.

Accela virou o que parecia um sorriso falso para Castor.

— Ah, minha nossa? É estranho uma mulher vir visitar seu marido?

— Ah! Não, cortamos laços para evitar que você fosse responsabilizada por associação, então você não é minha esposa mais, é?

— Você foi julgado, não foi? Então, qual o mal em refazer nossos laços?

— Esse não é o problema… Quer dizer, eu estou proibido de entrar em contato com você ou o Carl, sabia?

Accela deu uma risadinha.

— Sim, você não pode fazer contato do seu lado. No entanto, não tem problema em eu vir visitá-lo.

— Hã?! É assim que funciona?

— Lembre-se. Você fez um trabalho brilhante capturando um navio do Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças, não foi? Sua Majestade está realmente contente em poder saber o que está acontecendo no Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças, e em reconhecimento do seu feito meritório, ele me deu permissão para vir visitar você.

— E-Ele deu…? Fico feliz em vê-la, Accela.

Castor tentou manter as aparências dizendo isso, mas Accela notou imediatamente a garrafa de vinho bebida pela metade deixada na mesa.

Os olhos dela se estreitaram, e ela encarou Castor de perto.

— Bebendo enquanto o sol ainda está de pé, é? Eu não te disse, repetidamente, nas minhas cartas para praticar moderação e cuidar da sua saúde?

— I–isso… Eu estava fazendo isso para aprofundar meus vínculos com meu subordinado aqui.

— Aprofundando seus vínculos com seus homens — disse Accela sarcasticamente. — Sim, havia algo sobre isso nas cartas da Mamãe. Você e seus homens estão frequentando um estabelecimento onde você pode beber com mulheres, ela disse. O que exatamente é isso, se me permite?

— Isso também… ahm… Não pude recusar.

Incapaz de suportar o olhar fixo de Accela, Castor tentou desviar os olhos, mas Accela agarrou o rosto com as mãos e puxou-o bruscamente para encará-la novamente.

— Me olhe nos olhos e me responda. Você não fez nada de que você sentiria culpa, fez?

— Não, não! …Eu posso ter olhado um pouco, mas não fiz nada que eu tenha que me sentir mal de você descobrir!

— Você não parece estar mentindo.

Accela, aparentemente satisfeita com essa resposta, soltou Castor… apenas para puxá-lo para um beijo.

Castor ficou chocado a princípio, mas por fim colocou os braços em volta da cintura dela e segurou-a próxima dele.

Eles dividiram um beijo tão apaixonado que Halbert, que foi forçado a assistir, ficou vermelho vivo.

Quando Accela finalmente afastou o rosto, havia um leve sorriso nos lábios dela.

— Fico feliz em vê-lo de novo, Castor.

— …Eu também, Accela.

Castor tinha um sorriso natural agora. Havia uma atmosfera calorosa em volta deles.

Halbert, que havia assistido com uma cara perplexa, voltou a si e percebeu que estava atrapalhando. Ele se esgueirou pela parede para a porta, fechando-a atrás de si enquanto ia embora de forma a não os incomodar.

— Agora, já que eu vim até aqui, posso limpar seu quarto para você? — perguntou Accela. — Você não tem roupa suja acumulada, tem? Seus subordinados não vão gostar de você se seus aposentos estiverem sujos, sabe?

— E-Ei. Não mexa com a minha mesa tanto! Vou tirar a roupa suja eu mesmo, ok?

Ele podia ouvir esse tipo de conversa entre marido e mulher do outro lado da porta. Estava claro que ele deveria dá-los um tempo sozinhos.

Halbert recuou da porta, indo embora pelo corredor.

Vendo os dois, meio que me faz querer ver a Kaede e Ruby.

Andando cada vez mais rápido, por fim ele começou a correr.

Halbert não estava mais confuso.

Vou voltar! Para aquelas duas!

A jornada de Halbert terminou e ele retornou para Randel, onde as pessoas que ele amava estavam esperando.

 


 

Tradução: Enzo

Revisão: Merovíngio

 

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