Fuuga indo com seu tigre branco voador na frente, nos dirigimos para Wedan. Quando diminuíssemos nossa altitude, sabíamos que monstros voadores atacariam esporadicamente. No entanto, tinhamos Naden, Ruby e a Cavalaria de Wyvern do nosso lado. No momento que os monstros aparecessem, eles seriam acertados por raios, incinerados ou despedaçados.
Aisha ficou comigo em vez de retornar para a gôndola. Sua presença tranquilizadora perto conseguia me manter calmo.
Com os braços na cintura de Aisha, olhei Fuuga.
Monstros vinham na direção de Fuuga também, mas ele agia como se eles não importassem, nem empunhava sua arma. Todo monstro era golpeado até a morte com um movimento das patas dianteiras de Durga, então ele não precisava lutar com nenhum deles por si mesmo.
Seria pelo menos em parte porque ele confiava em Durga implicitamente, porém ainda era justo dizer que ele possuía incrível coragem para conseguir relaxar nesse campo de batalha.
— Ah, Majestade. — Aisha interrompeu. — Você não tá me apertando meio forte?
Aparentemente eu estava apertando a cintura dela.
— Ah, desculpa. — Eu relaxei os braços um pouco.
Hal e Ruby vieram ao nosso lado para conversar.
— Souma, seu rosto está parecendo meio assustador sabia? — disse Hal.
Ouvindo isso, eu me dei conta pela primeira vez do quão tenso eu provavelmente parecia.
Para me colocar num novo estado mental, bati nas minhas bochechas.
— Desculpa. Quando eu vejo o Fuuga, não consigo evitar não ficar desconfortável.
— Tem algo que o incomoda? — Hal perguntou.
— Eu mesmo não tenho certeza sobre isso…
Era desconforto? Medo? Tensão? Quando eu olhava para as costas daquele homem, crescia dentro de mim uma sensação indescritível. Diferente do puro medo que eu senti quando atacado por Gaius VIII; com se algo desconhecido estivesse lentamente se aproximando. Era uma sensação estranha.
Dando uma olhada no meu rosto, Hal girou a mão que empunhava sua pequena lança.
— Você provavelmente não precisa ficar tão preocupado. Claro, ele é o rei de Malmkhitan, mas esse é só um país da União das Nações Orientais. O homem é forte, então consigo entender porque você está em alerta. Mesmo assim, se ele encarar o reino, não vai ganhar sem problemas.
— Hal….
— Você tem a mim, Ruby, Kaede, a jovem senhorita Aisha, a jovem senhorita Naden e cinquenta mil soldados com você. Pode ficar parado aí e ter confiança — Hal bateu no peito como quem diz: “deixa comigo”.
Talvez ele estivesse tentando me confortar.
Era verdade. Não importava quão poderoso o guerreiro ele fosse, eu não achava que tinha como Fuuga nos enfrentar como um indivíduo. O homem pode ser capaz de causar um estrago sozinho, mas o reino tinha mais de cem vezes os mil soldados dele. Se era só forte, havia várias formas de lidar com ele
Eu sentia, contudo, que ele tinha mais do que aparenta. Se eu desdenhasse dele como rei de um pequeno Estado, isso ia se voltar contra mim de forma dura.
Aisha e Naden interromperam.
— Vou arriscar minha vida para protegê-lo, Majestade — declarou Aisha.
— Bem, eu tenho bastante certeza de que sou mais forte que aquele tigre de qualquer jeito. — Naden acrescentou.
Justo. Eu estava desconfortável. Quando todo mundo disse para deixar com eles, me aliviou um pouco.
— Obrigado Aisha, Naden. Você também Hal. Desculpe por preocupá-los.
— Eu estou dizendo: deixa com a gente! — disse Hal orgulhosamente. — Mas, admito. Isso é meio inesperado.
— Inesperado?
— É, você gosta de caras com talentos incríveis como os dele certo? Normalmente eu esperaria que você quisesse recrutá-lo.
Ele parecia meio chocado.
Eu balancei a cabeça com um sorriso amarelo.
— O que eu procuro são pessoas capazes que estejam dispostas a avançar no meu ritmo. Tem limites para o que posso fazer sozinho, afinal. Quero apoiar um grande número de pessoas altamente capazes, mas… aquele não é um homem que poderia trabalhar a mando de alguém, ou ir no ritmo de qualquer outra pessoa né?
Não tinha a intuição mais forte de todas. Não conseguia olhar para alguém e dizer quão forte era da mesma forma que Aisha e alguns outros podiam. Mesmo assim, no momento que vi o rosto de Fuuga, senti.
“Aquele cara é MÁ NOTÍCIA”
Não era uma emoção ou minha experiência; era algo como um instinto que soava. Um alarme.
— Não podemos assumir coisas sobre aquele homem — continuei. — Se eu começasse a pensar que ele estivesse me seguindo, eu poderia me ver subserviente a ele sem me dar conta. Se eu tentasse usá-lo, eu seria usado. Se tentasse andar ao lado dele, me veria sendo arrastado por ele. É o que eu sinto. Não sei como dizer bem, mas acho que nós provavelmente não somos muito compatíveis.
— Não compatíveis, né…
Parecia que Fuuga sentiu algo parecido também. Quando ele olhou para mim, disse que eu poderia puxá-lo para a lama e que sentia que eu vinha de uma estrutura diferente da dele.
Diferentemente de mim, ele não tinha dado sinais disso o incomodar, o que dizia muito sobre a força natural de Fuuga.
Mesmo que estivéssemos sentindo a mesma coisa, eu era fraco. Existia em mim um forte senso de alarme, enquanto Fuuga era forte. Eu não estava deixando uma impressão marcante nele.
Neste mesmo momento Fuuga, que estava indo na frente virou, dando meia volta e retornando para nós. Paramos onde estávamos por um momento e Fuuga apontou para baixo.
— Souma. — Ele disse. — Eu estive assistindo o estado da batalha e parece que os defensores estão prestes a cair no lado oeste. Vou apoiá-los um pouco. Se importa se levá-los só até aqui?
— Entendi. O Castelo de Wedan é só um pulo daqui. Se você quiser, podemos mandar alguns dos nossos também.
Fuuga apoiou sua lâmina crescente no ombro e deu um sorriso caloroso.
— Isso ajudaria. Devemos conseguir acabar com isso rápido.
— Halbert — ordenei. — Leve metade da Cavalaria de Wyvern e apoie o Sr. Fuuga.
— Entendido!
— Vou na frente. — Anunciou Fuuga.
Tão logo disse isso, ele deu um tapa nas costas de Durga, começando sua rápida descida para o campo de batalha abaixo.
— Nós também, então? — começou Halbert.
— Espere Hal! — interrompi.
Vendo-o prestes a seguir Fuuga, senti a incerteza me consumir.
Acenei para que Hal viesse mais perto, fazendo Naden usar sua cauda para trazer seus corpos um para perto do outro.
Com a distância diminuta, disse para Hal, que estava com uma aparência duvidosa:
— Hal, se você sentir que está sendo puxado por Fuuga, lembre-se dos rostos de Kaede e Ruby.
— Hã? Isso valia mesmo a pena me chamar para dizer?
Hal tinha um olhar duvidoso, mas assenti com a cabeça. É importante. Sinto que você é Fuuga são parecidos. Quando pessoas estão próximas daqueles com que são parecidos, elas notam e são atraídas ou repelidas. Elas podem ser arrastadas, em outras palavras.
— Hã? Não tenho certeza se entendo, mas… você está falando sério, certo?
Eu fiz uma cara séria para ter certeza que ele soubesse que eu falava sério.
— Ok. — disse Hal. — Vou manter isso em mente.
— Certo. Ruby, cuida do Hal também.
— Entendido.
— Ei, essa é a minha fala! — gritou Naden indignamente.
Com uma risada em relação à indignação de Naden, Hal e Ruby lideraram por volta de cinquenta da Cavalaria de Wyvern para seguir Fuuga.
— Parece que… estão lutando duro lá embaixo. — comentou Halbert.
Quando ele e seus homens começaram a descida ao chão para seguir Fuuga, as forças unidas da União de Nações Orientais estavam conseguindo segurar o grupo de monstros de algum jeito.
Os soldados da União das Nações Orientais pararam num acampamento, feito para batalhas em campo e rodeado por cercas e abatises1Fileiras de afiadas estacas de madeira com os galhos de árvores apontando para fora., onde arqueiros e magos atacavam com arcos e magia.
Essa era provavelmente uma técnica válida contra monstros que não usavam estratégia ou táticas, atirando-se sem ligar para suas próprias baixas. Eles eram intensamente motivados, entretanto.
As cercas foram derrubadas em alguns lugares.
Os soldados com escudo continuaram se reunindo em torno das brechas, rapidamente fechando-as. As unidades de longo alcance manteriam os monstros sob controle enquanto a cerca era reconstruída.
Eles iriam retomar os ataques de longo alcance atrás delas e enquanto o inimigo estivesse confuso a cavalaria ou outras unidades de alta mobilidade viriam, derrotariam qualquer coisa que tivesse passado e sairiam. O processo que tinha sido seguido repetidamente era esse.
As forças da união estavam compostas das forças armadas de uma variedade de países. Já que todos eles usavam as mesmas táticas, conseguiam coordenar relativamente bem.
Halbert estava impressionado apesar de tudo.
— As forças da união estão indo… Hum?
Uma súbita comoção vinha do campo de batalha.
Quanto olhou na direção das vozes, pôde ver algo se aproximando dos defensores no lado oeste.
— Aquilo é… um rinoceronte? — se perguntou Halbert.
— Rinocerontes eram tão feios assim? — franziu Ruby.
Tinha uma enorme criatura abaixo parecida com os rinocerontes como os usados para levar carga no Reino. Ruby tinha razão, no entanto. Esse rinoceronte era bem diferente daqueles do Reino. O chifre na mandíbula superior estava desfigurado, seu corpo vergava como se apodrecido e sua carne estava exposta em alguns lugares. Talvez devíamos chamá-lo de rinoceronte zumbi então.
Haviam vários desses rinocerontes zumbis indo em direção ao acampamento no lado oeste.
A comoção era os gritos dos soldados aterrorizados.
— Isso não é bom. — disse Halbert preocupado. — Não sei se está vivo ou morto pela aparência, mas se bater no acampamento com um corpo grande daqueles vai passar facilmente. É uma ameaça até para muros de fortalezas.
— Você está certo. — disse Ruby. — Precisamos pará-lo.
Quando Halbert estava prestes a dizer para sua Cavalaria de Wyvern: “vamos interceptar”, ele viu Fuuga indo na frente e empunhando a sua lâmina crescente.
Fuuga chutou os estribos na barriga de Durga, o tigre branco, fazendo seu parceiro avançar em direção ao rinoceronte zumbi.
— Ah! Ei! Droga! — gritou Hal. — Nós vamos também!
Halbert e seus homens se apressaram em seguir. Quanto ao Fuuga enquanto isso…
— Ha ha ha! Eis um alvo que vale a pena abater!
Sim, ele manteve Durga correndo em frente com alegria.
Bem no momento que o rinoceronte zumbi estava prestes a bater no acampamento do lado oeste quebrando as cercas e abatises, Fuuga caiu bem em cima dele.
— Aqueles caras do reino do sul estão assistindo! Vamos dar um show de verdade a eles!
E a lâmina crescente de Fuuga começou a brilhar com eletricidade.
Fuuga avançou com Durga e quando eles pousaram nas costas de um dos rinocerontes zumbis que ameaçava o acampamento, ele balançou a espada para baixo nas costas do rinoceronte.
Kerbang!
Houve um som parecido com o ar sendo rasgado e um raio atravessou o rinoceronte zumbi. O raio abriu um grande e fumegante buraco de seis metros de profundidade nas costas do enorme rinoceronte.
Difícil dizer se o rinoceronte zumbi estava vivo ou morto para começo de conversa, entretanto fazer um grande buraco no seu corpo parecia matá-lo. A súbita perda da vida fez com que ele caísse e escorregasse no chão com a inércia.
Até mesmo os aliados de Fuuga estavam chocados e surpresos com o ataque.
Os defensores que viram o clarão do raio mais de perto ficaram sem palavras. A princípio e quando finalmente voltaram a si, estavam loucos de alegria por um inimigo poderoso ter sido derrotado e celebrando ruidosamente.
Halbert e seus homens estavam tão surpresos quanto.
— E pensar que um humano poderia disparar um choque elétrico no nível de Naden… — comentou Ruby.
— Aquilo não é só um raio. — disse Hal. — É poderoso daquele jeito porque tem a habilidade de luta de Fuuga por trás também. Mas mesmo assim é uma proeza inumana.
Halbert percebeu que suas mãos empunhando a Lança das Cobras Gêmeas ficaram cobertas de suor. Ele estava terrivelmente tenso. Parecia que era seu instinto mais do que sua cabeça reagindo à forma com que Fuuga lutava. Ele tinha calafrios.
Não era a primeira vez que ele ficava impressionado pela habilidade de combate de outra pessoa. Quando ele lutou com Aisha, que estava desabafando depois que Souma a deixou para trás, Halbert aprendeu quão assustadora ela era quando saia do controle, entretanto era a segunda futura esposa primária de Souma e uma aliada. Ela pode ter ido com tudo, mas eles não tinham realmente tentado matar um ao outro.
Por outro lado, como rei de uma outra nação, não era garantia que Fuuga estaria sempre do lado deles. Dependendo da situação, Hal poderia um dia ter que lutar contra ele. Se chegasse a isso, eles seriam contra quem o poder de Fuuga se voltaria. Quando isso acontecesse, ele poderia pará-lo?
Enquanto Halbert e seus homens o observavam com expressões tensas, Fuuga levantou a voz:
— Eu sou Fuuga Haan, rei de Malmkhitan! Cuidarei dos grandes! Oficiais da união, liberem sua força!
Quando a voz alta de Fuuga ecoou pelo campo de batalha, os soldados encorajados levantaram suas vozes num grande grito de guerra. Seu medo dos rinocerontes zumbis foi completamente eliminado pela confiança na proeza de batalha de Fuuga.
Fuuga mergulhou no inimigo em busca do seu próximo alvo.
— Priorizem eliminar esses rinocerontes apodrecidos! — Halbert deu ordens a Cavalaria de Wyvern e se dirigiu à batalha.
O tamanho de um rinoceronte zumbi dificultava interceptá-lo com forças em terra, mas um ataque concentrado das chamas dos Wyverns podia facilmente derrubá-lo. Halbert derrotou dois deles com as chamas de Ruby também.
Uma vez que todos os rinocerontes zumbis foram derrotados e a segurança do acampamento garantida, Halbert foi procurar Fuuga.
— Há há ha! — uma risada barulhenta soou.
Seguindo o barulho, Halbert encontrou Fuuga e Durga no meio da horda de monstros, com Fuuga balançando sua lâmina crescente enquanto corriam em frente através da “terra arrasada”.
Num campo de batalha cheio de sede de sangue, Fuuga não só não estava tenso, como parecia estar se divertindo completamente. Não havia um monstro que pudesse impedir o avanço daquele “homem-fera”.
Então coisas começaram a pular e se reunir em torno de Fuuga.
Boing! Boing!
Eram soldados montados em criaturas parecidas com bodes. Traziam espadas de um só gume com formato de lua crescente e arcos com um formato único. Esses eram motivo de orgulho do reino de Malmkhitan de Fuuga, a cavalaria saltadora.
Quando a cavalaria saltadora se reuniu em torno de Fuuga, eles começaram a seguí–lo em batalha. Com esse grande número reunido em torno de si, a habilidade de Fuuga atravessar o inimigo disparou.
Fuuga na vanguarda desse grupo, eles corriam indo e voltando pelo campo de batalha, atropelando o inimigo como se um furacão tivesse passado.
Fuuga estava aproveitando mais do nunca, mas a cavalaria de Malmkhitan estava lutando desesperadamente pelas suas vidas. Apesar disso, nenhum deles deixou a linha de batalha.
Halbert observava as forças de Fuuga à distância.
“Deve ser difícil acompanhá-lo. Mas… ninguém para de o seguir”.
Halbert achava que podia entender a forma como aqueles homens da cavalaria se sentiam.
“Tenho certeza… que eles se orgulham”.
Orgulhavam-se de seguir Fuuga enquanto ele avançava pelo campo de batalha e de poder lutar ao lado de Fuuga, que mostrou a eles sua proeza avassaladora no combate.
A forma como ele lutava era como algo de uma lenda heroica. Ele pulava na frente de inimigos poderosos como se fosse o que devesse fazer e os abatia. Lutando ao lado dele, seus aliados provavelmente conseguiam saborear a sensação de serem personagens numa história dessas.
Fuuga tinha esse esplendor. Abaixo de um comandante tão glorioso, eles lutaram ao seu máximo. Poderia haver maior orgulho como guerreiro?
“Se eles conseguem lutar daquele jeito, tenho certeza… que não terão arrependimentos, não importa quando morram”. — Refletiu Halbert.
“Se eles conseguem lutar por um comandante desses… não terão arrependimentos, mesmo que percam suas vidas. Serão capazes de aceitar que sua morte tem sentido e sorrir ao partir.”
Era por isso que os soldados seguindo Fuuga estavam desesperadamente tendo dificuldade de acompanhá-lo. Eles buscavam queimar suas vidas nas ardentes chamas vermelho escuras dele.
Quão… Quão brilhante sua radiância.
“Se ao menos eu pudesse ser daquele jeito também…”
— Hal idiota! – gritou Ruby.
— Argh?!
Hal franziu ao ouvir a voz de Ruby ecoar alto em sua cabeça.
Ele estava surpreso. Halbert tremeu e quase derrubou as lanças que carregava. Antes que pudesse se recuperar da confusão, a voz de Ruby soou em sua cabeça novamente.
— Não deixe ele te levar junto! Lembre-se do que Souma disse!
“O que Souma disse? Pensando bem… ele disse algo antes de irmos, não é…?”
Halbert tentou lembrar das palavras. Se ele bem lembrava, eram…
“Se você sentir que está sendo levado pelo Fuuga, lembre-se dos rostos de Kaede e Ruby”.
“Os rostos de Kaede e Ruby?”
Halbert fechou os olhos, duvidando do que estava fazendo e imaginou os rostos.
Primeiro, o rosto de Kaede. Ela esteve ao seu lado desde que eram crianças. Tinha sempre sido tímida, mas ultimamente sua amiga de infância com orelhas de raposa aprendeu a se expressar mais claramente.
Seguidamente, o rosto de Ruby. Ela veio da Cordilheira do Dragão Estelar para ser sua noiva. Normalmente era irritadiça, mas na verdade ela era uma garota dragão bem solitária e feminina.
Halbert imaginou como as duas veriam a forma como ele estava agora. Na sua imaginação, as expressões delas estavam um pouco preocupadas.
Os olhos de Halbert arregalaram em choque silencioso. O que ele estava pensando?
Queria ele lutar até seu limite, como Fuuga e seus homens?
Queimando num vermelho escuro brilhante enquanto sua vida pegava fogo?
Ele tinha pensado que se sua vida pudesse queimar daquele jeito, ele não teria arrependimentos mesmo se morresse? Mesmo que isso significasse deixar Kaede e Ruby para trás?
— Nem ferrando! – Halbert gritou aos céus.
— Eeeh?! – Ruby vacilou.
Halbert usou a empunhadura da lança na sua mão direita para bater na testa o mais forte que podia. O incrível baque que resultou disso mostrou que ele não tinha se segurado. Sua testa sangrou um pouco.
Vendo Halbert sangrando de repente, Ruby entrou em pânico:
— O que está fazendo? Está tudo bem?!
— Sim, estou bem. — disse Halbert olhando para os céus. Algo quente desceu pelas bochechas.
— Ahn? Hal, você está chorando…
— Estou bem. Eu… estou bem agora, Ruby.
Ela o encarou muda.
Halbert limpou o sangue e lágrimas antes de olhar para frente.
Sério… O que ele estava pensando? Ele tinha sido seduzido pela habilidade de Fuuga, começando a se convencer que sua vida era dele para fazer o que quisesse.
Ele até tentou expulsar da cabeça aqueles que devia proteger, aqueles que estavam tentando protegê-lo.
Era verdade. Ele tinha inveja da vida que Fuuga e seus seguidores levavam.
“Mas essa é uma vida que eu só poderia viver se fosse só eu.”
Halbert já tinha duas esposas, Kaede e Ruby. Elas tinham sido gentis o suficiente para amá-lo e por fim, tornarem-se sua família. Não tinha nenhuma vontade de impor uma forma de viver que iria queimar as vidas de Kaede e Ruby também.
Como guerreiro, ele admirava vidas que inflamavam intensamente, como fogos de artifício, mas ele queria que aqueles que amava vivessem felizes cheias de sorrisos, ainda que simples e não era algo que podiam fazer se estivessem seguindo Fuuga.
Se Hal era o mesmo homem que tinha sido antes de conhecer Souma, obcecado com a própria glória, ele podia ter sido puxado, mas ele era diferente agora.
“Tenho algo mais importante agora do que fazer meu nome!”
Halbert firmou compromisso consigo mesmo, jurando que jamais cometeria o mesmo erro novamente. Então, apontando a lança curta para a batalha, disse:
— Vamos lá, Ruby! Vamos acabar com isso e voltar para a Kaede juntos!
— Ahn?! Certo!
Parecia que a determinação de Halbert tinha passado para Ruby, ao abrir largamente suas asas.
O cavaleiro dragão vermelho então desceu no campo de batalha.
Após nos separarmos do grupo de Fuuga e Hal, nos dirigimos a um planalto mais elevado que a Cidade de Wedan, construída oposta a uma pequena montanha. Íamos em direção ao Castelo de Wedan, o lar do Duque de Chima.
Uma intensa batalha de ida e volta estava se desenrolando no campo de batalha abaixo de nós. Eu estava um pouco preocupado que Hal, indo atrás de Fuuga, deixasse levar pela aura do outro. Ruby, todavia, estava com ele. Provavelmente ficariam bem.
— Majestade, veja! – apontou Aisha.
— Hum?
Quando olhei na direção que ela apontou, havia um soldado balançando uma bandeira em cima do muro do castelo.
— Vejamos… Ele está sinalizando para pousarmos no pátio. — Contou Aisha, pegando o detalhe com sua excelente visão de longo alcance.
Seguindo as ordens do Castelo de Wedan, pousamos no pátio com metade da Cavalaria de Wyvern que mantivemos como guardas.
Deixando no chão a gôndola onde estavam Tomoe e os outros, Naden voltou a sua forma humana e pulou no chão com Aisha. Nesse momento, um homem de meia idade apareceu rapidamente de dentro do castelo, andando em nossa direção com um sorriso relaxante.
— Ora, ora. É o Sir Souma Kazuya, o rei de Friedonia.
Com os braços bem abertos, um homem de bigode estilo Kaiser2Imperador em alemão. Aqui ele se refere ao estilo de bigode que cobre os lábios superiores. nos deu as boas-vindas com uma reação exagerada.
Ele tinha um peso e altura médios e seu cabelo preto estava ficando grisalho, fazendo ele aparentar ter uns 50 anos de idade.
Embora tivesse o sorriso de um gentil idoso, que me lembrava o pai de Liscia, Sr. Albert, senti algo suspeito vindo dele também. Eu tinha certeza que, de todos os homens em nosso reino, o que mais se parecia com ele era o Sebastian do Veado Prateado, ou o Lorde Weist de Altomura.
Além disso, atrás do homem havia uma linda mulher com uma espada longa nas costas. Ela parecia ter uns 20 anos de idade, seu longo e lindo cabelo que estava amarrado no nível da cintura impressionava.
Por cima do Hakama3É um tipo de vestimenta tradicional japonesa. Cobre a parte inferior do corpo e se assemelha a uma calça larga., ela vestia uma armadura que parecia com aquela usada no Japão antigo. Já que ela parecia ser uma pessoa com mais familiaridade com artes Marciais, lembrou-me de Komatsuhime de Shinshu Ueda, ou da amante de Kiso no Yoshinaka, Tomoe Gozen, duas pessoas similares do outro mundo.
O homem com o bigode de Kaiser pegou minha mão com as dele e ajoelhou-se ao chão à minha frente com um joelho apenas. A mulher o acompanhou e curvou a cabeça. Fui surpreendido pela rapidez com que isso aconteceu.
Ele segurou minha mão em reverência sobre sua cabeça e disse:
— Já fui informado pelos seus subordinados. Não podia estar mais agradecido por ter vindo nos prestar assistência.
— Eu de fato sou Souma. — disse. — E você é?
— Perdoe-me pelo atraso em me apresentar. Sou Matthew Chima, governante do Ducado de Chima.
Oh! Esse cara com o bigode de Kaiser era o Duque de Chima? Ele estava agindo tão servilmente. Eu tinha imaginado, mas… é, agora que ele disse, era meio convincente.
A razão pela qual o sorriso gentil de idoso dele pareceu suspeito era devido ao fato do rosto dele como chefe da família que tinha sobrevivido por meio de politicagens astutas estar aparecendo.
— Por favor levante-se, Senhor Matthew. — Disse eu. — Somos governantes de nossas respectivas nações, somos iguais.
— Não, não. Meu país é pequeno. Mesmo com a União das Nações Orientais. Você é rei da grande nação ao sul, está muito acima de mim.
— C-Certo…
“I–Isso é difícil…”
Era muito difícil lidar com alguém que estava sendo tão humilde e fazendo questão de me colocar acima de si mesmo. Ouvir elogios quando eu não tinha ideia do que realmente sentiam não era nem um pouco confortável. Já que ele estava sendo amigável, não podia tratá-lo mal. Era assim que Gaius VIII tinha se sentido quando Weist ajoelhou diante dele?
— Não deve ser fácil falar dessa posição. — disse eu. — Por favor levante-se! Você também!
— Oh, esqueci de apresentá-la. Esta é minha filha, Mutsumi.
Ao levantar-se, Matthew pôs a mão nas costas dela enquanto falava.
Mutsumi Chima, essa era a Mutsumi de quem a Madame Maria tinha dito ser a mais popular dos filhos do Duque de Chima?
Ela era uma beldade com aparência inteligente, verdade. Senti que entendia porque tantos lordes a queriam para eles.
Mutsumi se levantou, curvando-se a mim em seguida.
— Sou Mutsumi Chima. Obrigado por enviar tropas para nos ajudar. Você parece ter bons subordinados, Sr. Souma. É bem reconfortante.
Ao dizer isso, Mutsumi olhou de relance a minha esquerda e a direita.
As que estavam ao meu lado eram Aisha e Juna. Se ela estava olhando para elas e chamando-as de “boas subordinadas”, então provavelmente era uma guerreira boa o bastante para saber quão fortes eram seus oponentes apenas olhando. Parecia que a sua reputação como mulher abençoada com sabedoria e bravura não era um exagero.
Madame Mutsumi. — disse eu — É verdade que elas atuam como guarda costas, mas elas também são minhas esposas. A da esquerda é Aisha e a da direita é Juna.
— Sim, senhor. Sou Aisha Usgard.
— Juna Doma. É um prazer conhecê-la.
— Oh! Perdão. Sou Mutsumi Chima.
Ela rapidamente se desculpou por tratá-las como servas comuns antes de dar um aperto de mãos, então…
— Souma.
Virei, sentindo uma puxada na minha manga. Naden estava me olhando emburrada. Os seus olhos incomodados diziam: “Sou sua esposa também então me apresente direito!”
— Aham… e esta é Naden. — Disse rapidamente. – Ela também é minha esposa.
— É um prazer conhecê-la. — Disse Mutsumi.
Enquanto apertava a mão de Naden, ela encarou os chifres:
— Chifres e uma calda escamosa… Por acaso você é da raça das serpentes do mar?
Naden encheu o peito pequeno e bufou:
— Não. Sou um dragão da Cordilheira do Dragão Estelar.
— Um dragão?! Você formou um contrato de cavaleiro dragão com um dragão, Sr. Souma?
— É bem… porém somos um dragão e cavaleiro não ortodoxos. — Contei à Mutsumi surpresa, sorrindo ironicamente.
No momento em que ele soube que eu tinha formado um contrato com um dragão, eu senti que o sorriso do Sr. Matthew ficou um pouco acentuado.
— Meu Deus! Formar um contrato com um dragão sem nem ser do Reino dos Cavaleiros Dragão Nothung! Essa é uma conquista verdadeiramente heroica. Estou impressionado.
— Uh não, ouça. O meu contrato com Naden é bem atípico, e…
— Não seja modesto. Ora, eu tenho inveja daquelas sortudas o suficiente para se casarem com você. Esperava que minhas filhas pudessem se casar com um homem como você, sabe.
— Urgh…
“Opa, amigão! Não tão perto!”
Ele estava sendo estranhamente agressivo agora e estranhamente ansioso para jogar sua filha em cima de mim.
Juna sutilmente se enrolou no meu braço.
Enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo, Juna sussurrou para que só eu pudesse ouvir:
— Cuidado. Tenho certeza que Sir Matthew quer uma conexão com você, Majestade.
“Uma conexão… Ah, uma linha direta, né?”
Quando Matthew Chima enviou um pedido de ajuda com a onda demoníaca atual, ele expressou sua intenção de enviar seus 6 filhos habilidosos para serem vassalos ou parceiros de casamento em resposta a quão duro cada um trabalhasse.
Embora fosse um atrativo para chamar reforços, também era uma maneira de colocar seus filhos a serviço de poderosas facções, ou entrar nelas pelo casamento, de forma a aumentar a sua própria influência
Na perspectiva de Senhor Matthew, eu como rei provisório da maior potência no lado leste do continente era o melhor partido que ele poderia querer. Não importava como, queria aproveitar essa oportunidade para estabelecer um canal direto de comunicação.
Se possível, ele claramente queria que eu casasse com a filha dele e me tornasse um parente.
Por isso tentava promover Mutsumi, o partido mais popular com os outros lordes, para mim.
— Eu realmente não gosto dos métodos dele. — sussurrei de volta para que só Juna pudesse ouvir.
Usar o noivado com a filha como uma ferramenta. Não deveria ser diferente do que o rei anterior, Sr. Albert fez, mas dessa vez parecia bem mais desagradável.
O Sr. Albert fez o que fez tanto pelo meu futuro quanto pelo de Liscia. Ele desejou nossa felicidade do fundo do coração e não usando-a como uma ferramenta política.
Juna sussurrou para mim novamente:
— Entendo como se sente, mas sem a habilidade de realizar negociações assim, tenho certeza que seria difícil para ele manter sua independência numa área com tantos países só por meio de diplomacia.
— Acho que você está certa. — Murmurei.
Podia existir alguns países e terras onde só era possível sobreviver por meio de dissimulação e duplicidade. Era verdade que eu não gostava dos métodos dele, mas se esse era o segredo do sucesso do país, não queria ser crítico.
— Mesmo assim, é um incômodo quando ele é tão agressivo. — Resmunguei. — Juna, poderia ficar perto de mim por um tempo? Deve ser mais difícil ele falar em casamento quando minha esposa está presente.
— He he, taí um papel com vantagens. — Ela riu. — Que bom que fiquei.
Ela falava isso com uma risada maliciosa. Juna estava tão fofa que não a encarar adoravelmente era impossível pra mim.
Enquanto falávamos, houve um bater de asas repentino. Olhando para cima, vi um tigre branco, um dragão vermelho e incontáveis Wyverns descendo no pátio.
Fuuga, Hal e os outros haviam retornado.
— Ha ha ha! Honestamente, não tinha nenhum inimigo digno no meio deles. — Anunciou Fuuga.
Diferente de Fuuga, que erguia sua lâmina crescente em alegre celebração do seu retorno triunfante, Hal segurava a rédeas de Ruby com uma expressão exausta no rosto.
Olhando de perto, tinha um ferimento recente na testa de Hal. O que aconteceu no campo de batalha? Eu perguntaria para ele depois?
Fuuga pulou de Durga, o tigre branco, vindo em nossa direção a passos largos.
— Duque Chima, eu fui e derrotei os inimigos grandes onde ameaçava um colapso.
— Oh, excelente Sr. Fuuga! Você trabalha com a intensidade de um poderoso deus!
— Isso não é nada. Enquanto estivermos aqui, este país não pode perder.
Com isso, Fuuga piscou para Mutsumi.
Ela sorriu, juntou as mãos diante de si e se curvou.
— Fico feliz em vê-lo retornar sem ferimentos depois de dispersar nossos inimigos. Estou impressionada com suas habilidades. Não tem medo, Sr. Fuuga?
— Não, é tudo para que eu possa ter você como minha esposa. — Fuuga sorriu. — Aposto que tenho que me esforçar mais ainda.
“Ele estava do nada declarando que faria dela sua esposa?! Que ousado!”
Os olhos de Mutsumi se arregalaram por um momento quando ele disse isso, mas ela logo deu uma risadinha e sorriu.
— Você é um homem honesto.
— Se quero algo, eu digo. Se eu digo, torno meu desejo realidade. Esse é o meu credo. — disse Fuuga cheio de confiança.
“Se ele quisesse algo… né”. Ele era do tipo que vive fiel a seus desejos e achava força nisso, fazendo ser fácil de ler. Eu teria medo se nossos interesses se chocassem. Quando esse homem decidia algo, duvido que ele recuasse.
Bem nessa hora, ouvi vozes atrás de nós.
— Eeeh!
Virando de costas, vi Hal abraçando Kaede e Ruby, que estava de volta a sua forma humana. Ele realmente estava segurando-as.
Kaede estava balançando os braços surpresa.
— E–Ei, Hal?! O que pensa que está fazendo do nada?
Kaede continuou a protestar, mas Hal não soltou nenhuma das duas.
— …Desculpa. — disse ele.
— Hã? — ela perguntou, parecendo confusa.
— Por ter quase esquecido de vocês duas, mesmo que por um instante… Eu realmente sinto muito. — disse Hal gravemente.
Parecendo que tinha entendido algo disso, Kaede gentilmente deu tapinhas nas costas de Hal.
Ruby estava silenciosamente deixando ele fazer o que quisesse também.
Eu esta quieto. Algo realmente deve ter acontecido no campo de batalha. Bom, contanto que aquelas duas estivessem com ele, ele ficaria bem.
Mesmo quando você padece pronto para cair, se tiver alguém ao seu lado que se importa com você, consegue continuar. Eu mesmo tinha passado por isso muitas vezes a esse ponto. Sentindo esse calor, você consegue reafirmar o que deveria estar protegendo.
Bati palmas, tentando colocar as coisas nos trilhos.
— Sr. Matthew. Os reforços chegarão amanhã. Gostaria de discutir os preparativos.
O Sr. Matthew assentiu ansiosamente.
— Ah, claro! Não temos tempo para jogar conversa fora aqui para sempre. Vamos ao castelo. Venha, Sr. Fuuga. Todos, por aqui!
Com isso, Sir Matthew começou a nos guiar.
Antes que chegássemos no interior do castelo, dei instruções para cada um dos meus companheiros que estavam presentes.
— Aisha, Juna, Naden, Hal, Kaede, Ruby. Vocês seis virão comigo. A Cavalaria de Wyvern deve esperar mais ordens aqui. Kuu e Leporina, fiquem à vontade, mas…
Direcionei meu olhar ao par de mestre e servo de Turgis.
Kuu cruzou os braços atrás de sua cabeça e riu.
— Enquanto o irmão tá tendo conversas de guerra, talvez a gente dê uma olhada na área. Certo, Leporina? Vou com você, mas não dê muito trabalho para as pessoas aqui, certo? — Leporina o repreendeu.
— Ookyakya! Eu sei disso!
Parecia que eles iam perambular por Wedan. Eles vieram junto por vontade própria, então provavelmente estava tudo bem.
— Faltam Tomoe e Inugami. — disse. —Inugami, quero que contate Kagetora. Pode ser depois que apresentarem seus quartos, mas posso deixar isso com você?
— Entendido. O que fazer com a guarda de Senhorita Tomoe no meio tempo?
— Ah, é… O que faremos…?
— Eu vou ficar bem. — disse Tomoe rapidamente. — Por favor cumpra seu dever, Senhor Inugami.
Inugami parecia preocupado, mas Tomoe sorriu ao dizer isso.
“Segurando a responsabilidade sozinha, hã?” Estava um pouco preocupado, mas ela provavelmente ficaria a salvo dentro desse castelo.
— Bem, pode esperar no seu quarto, então? — perguntei.
— Entendi. — disse Tomoe, pondo a mão rapidamente na testa numa continência. Que fofa.
Limpei a garganta para não ficar gamado nela, e me virei aos outros.
— Então, podem começar a cumprir suas ordens.
No meu comando, cada um partiu para realizar seus deveres.
Começamos a andar seguindo Sr. Matthew, mas… nesse ponto, estávamos negligenciando algo…
— …Hee hee.
Estávamos negligenciando o fato de que a cauda de Tomoe estava balançando enquanto ela olhava a área com fascínio.
Nossa querida irmãzinha estava na idade de ser curiosa.
Tradução: Enzo
Revisão: Merovíngio (Lopez)
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