— Olhe! Souma. — Naden chamou. — Só tem fumaça saindo dali!
— Ei! Você está certa.
Quando olhei para frente, vi o que Naden na sua forma ryuu estava falando. Tinha realmente fumaça no terreno inóspito se espalhando ao pé da montanha.
Provavelmente era poeira levantada por uma batalha. A areia dançava no ar pelas incontáveis pessoas e monstros que corriam rasgando o chão. Isso significa que o Castelo de Wedan estava naquela montanha?
De acordo com o relatório de Kagetora; incontáveis monstros… basicamente um monte deles… estavam descendo sobre Wedan. Explicando: existiam vários monstros de grandes e pequenas espécies atacando. Uma contagem precisa era impossível na atual situação.
A respeito da área que eles cobriam, como visto pelo ar, era aparentemente o mesmo que um exército. Por volta de 60000 soldados. As 30000 tropas da União de Nações Orientais que o Duque Chima tinha atraído, usando seus 6 filhos altamente capazes, estavam segurando os monstros por enquanto.
Embora os monstros tivessem uma vantagem numérica avassaladora, as forças da União lutavam em formação, focando em defender. Apesar de não partirem para ofensiva, faziam um bom trabalho. Os monstros só atacavam na força bruta, facilitando a defesa.
Quanto aos reforços que estávamos trazendo do Reino de Friedônia, contabilizavam 50000 unidades. Se conseguíssemos performar um movimento de pinça junto com as forças da união, Kagetora previa que poderíamos exterminar a horda de monstros rapidamente.
A parte importante era o timing do movimento de pinça. Para obter uma vitória rápida, precisávamos coordenar com as forças da união.
Para ter uma reunião a respeito, eu estava montado nas costas de Naden com um grupo da Cavalaria de Wyvern. Liderado por Hal e Ruby nos defendendo, íamos para Wedan, a capital do Ducado de Chima.
A informação que tínhamos é de que não havia possibilidade de Wedan cair por enquanto, então não precisávamos performar um ataque do céu com as Dracotropas como tivemos em Lasta, então podíamos pousar no Castelo de Wedan normalmente.
As preparações para permitir isso (que incluíam desabilitar temporariamente os lança-flechas repetidores antiaéreos) tinham sido feitas pelos Gatos Pretos, ao chegar antes de nós.
— CQ. CQ1Em inglês o termo soa foneticamente como (Ci Qiu) “Seek You” que é usado por radioamadores para quando querem contactar alguém distante sem saber se receberão resposta. O termo em português é “Chamado Geral”, mas as letras CQ permanecem como código internacional.. — Eu disse, falando no tubo de comunicação, saindo da gôndola que Naden carregava. — Está aí, Kaede?
— Sim, sim. Estou aqui. O que significa “cê quê”? — Kaede respondeu imediatamente.
Naden carregava uma gôndola debaixo da barriga e dentro estavam Aisha, Juna, Tomoe, seu guardião Inugami, Kaede, e o par oriundo de Turgis que nos forçaram a levá-los, Kuu e Leporina.
— Oh… não se preocupe com isso. — Eu disse. — Então de qualquer jeito Kaede, tem uma nuvem de poeira adiante. Tudo bem assumir que aquele é o campo de batalha no Ducado de Chima?
— Vejamos… é. Sabe, eu acabei de conferir no mapa. Parece que o castelo do Ducado de Chima fica localizado no meio da montanha que você vê diante de nós.
— Compreendo. Entendi, obrigado.
Fechei o tubo de comunicação quando pude ver uma cidade se estendendo na metade da pequena montanha ao oeste. O castelo parecia com o de Castor na Cidade do Dragão Vermelho. Fazia uso efetivo do terreno, mesmo que uma força grande os cercasse, era uma fortaleza que não cairia facilmente.
— Souma! — Naden gritou de repente dentro da minha cabeça. — Toma cuidado! Tem algo vindo rápido na nossa direção!
— Algo numa altitude elevada dessas?
Para evitar sermos atacados, estávamos voando a uma altitude maior do que os monstros podiam alcançar.
Hal trouxe a grande dragão vermelho Ruby até nosso lado.
— Souma. Parece que Ruby sente algo.
— Sinto algo intensamente poderoso abaixo. — explicou Ruby telepaticamente.
— É. Naden disse isso também. — Eu assenti com a cabeça. — Devemos tomar cuidado Hal.
— Certo. Todo mundo! Pareee!
Ouvindo a ordem berrada de Hal, Naden comigo, Hal, Ruby e os cavaleiros de Wyvern pararam de avançar e mantiveram a posição.
Diferente de Naden, que flutuava com algum poder do qual não entendíamos, Ruby e os Wyverns levantavam voo com suas asas. Para manter a posição, precisavam batê-las ruidosamente. Era exaustivo. Eles não podiam flutuar por muito tempo num mesmo lugar.
— Está vindo! — Ruby nos avisou.
Olhamos para baixo. Tinha algo vindo… algo veio pulando em nossa direção.
Num instante, um gigantesco tigre branco se aproximou.
— Espera! Não é meio grande? — gritei.
Ele devia ainda estar longe, mas eu podia distinguir o formato claramente. Duvidei dos meus olhos e senso de distância no início. Conforme se aproximava, percebi que era bem maior do que esperaria de um tigre. Devia ser tão grande
quanto um numute (criatura parecida com mamutes de Turgis). Olhando de perto, as patas felpudas nas pernas dianteiras e traseiras faiscavam com eletricidade. Ele estava pulando no ar com aquelas pernas. Eu só tinha que aceitar essa criatura.
— Como um tigre pode voar sem asas?! — Naden gritou.
— É você que diz isso, Naden?! — Ruby devolveu exasperada.
Bem, já que Naden podia voar sem asas, não era tão estranho que um tigre pudesse saltar pelo céu… Eu acho?
Eu percebi então que alguém estava montado no tigre branco.
Essa pessoa era um homem bem constituído que vestia roupas de couro vermelho com uma armadura de prata brilhante por cima, junto com um elmo em formato de tigela incrustado com cristais na cabeça.
Ele provavelmente não era humano. Tinha um par de pequenas asas com pontas pretas como as de um grou, uma arma como a Lâmina Crescente do Dragão Verde do Romance dos Três Reinos nas mãos e um grande arco cravejado em ouro pendurado na cintura.
“O que é essa sensação opressora?”
Seu físico corpulento, o comando de sua montaria, a arma que usava. Tudo dizia quão incomum este homem era.
Hal preparou sua arma dizendo:
— Tome cuidado Souma! Algo parece anormal aqui.
Assenti com a cabeça:
— Entendi.
De acordo com Owen, meu instrutor nas artes marciais, eu era “um pouco melhor que um novo recruta”. Mesmo assim, senti algo nesse homem que me deixava nervoso, então Hal devia estar ainda mais tenso.
— Hã? — começou Naden.
— O que é, Nad… que?!
Ao momento que Naden soltou um grito de surpresa, algo vermelho bloqueou de repente meu campo de visão.
Eu cambaleei em choque, mas olhando melhor, era a tanga vermelha de Aisha. Parecia que ela tinha saído da gôndola abaixo e subido aqui.
— Ei! Isso é perigoso! – apressadamente fiquei de joelhos, abraçando Aisha na cintura. — É mais que imprudente vir aqui sem uma corda de apoio.
— Não temos o luxo de ficar discutindo, Majestade. — Ela devolveu. — Aquele homem é perigoso.
Ela não tirou os olhos dele.
Ele era tão bom ao ponto dela, de longe a melhor guerreira de nosso país, tinha que ser tão cautelosa?
Quando Aisha conheceu Jeanne, alguém que até Juna tinha admitido que não era páreo para ela, ela não tinha sido tão cautelosa.
Em todo caso, eu prendi meu cinto ao de Aisha usando um robe com encaixes metálicos, deixando ela segura se escorregasse, pelo menos.
Sem tempo para ficar aliviado, o homem no tigre branco avançou, sua arma apontada na nossa direção e gritou alto:
— Eu pergunto a vocês! Para qual propósito vocês vem a essa terra?
Era uma voz forte e mais jovem do que esperava. Pelo olhar dele esperava que fosse um guerreiro experiente, mas era o rosto de um jovem homem, no meio dos seus 20 anos que espiava debaixo do elmo.
— Meu nome é Fuuga Haan! Rei de Malmkhitan! — ele declarou.
Mesmo diante de um ryuu, um dragão e por volta de 100 membros da Cavalaria de Wyvern, o homem que se apresentou como Fuuga me perguntou sem nenhum sinal de medo. Eu pude perceber que ele era realmente ousado e tinha uma incrível garra. Não é à toa que Aisha estava cautelosa.
— Nós de Malmkhitan viemos a Wedan para responder ao chamado de ajuda do Duque de Chima! — Berrou Fuuga. — Vendo que vocês trouxeram Wyverns, um dragão e uma outra montaria que não me é familiar, não tem como serem parte da União de Nações Orientais. Novamente, eu pergunto a vocês, a que negócios vem a este campo de batalha?!
Virei para o tubo de comunicação e perguntei:
— Kaede. Conte-me sobre Malmkhitan.
— É um país de médio porte na União de Nações Orientais. Um estado nômade da estepe, ouvi dizer.
— Então aquele homem é o rei de uma nação, certo?
— Ele se chama de rei, imagino que deva ser…
Nesse caso, eu e ele somos de mesmo status.
Levantei a voz para que Fuuga pudesse me ouvir:
— Senhor Fuuga! Somos do Reino de Friedônia ao sul! A pedido do Império Gran Caos, viemos ajudar o Ducado de Chima. Ouvimos estar sofrendo os efeitos da onda demoníaca!
— Reforços? Ah, eles são aliados.
Por alguma razão, o ombro de Fuuga caiu em desapontamento.
Apoiando de novo sua lâmina crescente no ombro, ele se aproximou num passo relaxado. Quando ficamos perto o suficiente para que pudéssemos discernir os rostos um do outro, vi que ele era bonito, com olhos afiados.
— Ah, são aliados? — Eu repeti. — Porque você parece desapontado com isso?
Fuuga riu ironicamente.
— Ultimamente só lutei com peixes pequenos e é entediante. Eu fiquei todo animado pensando que finalmente encontrei um inimigo que valia a pena lutar, mas você é um aliado, logo não podemos né?
Mesmo enquanto dizia isso, Fuuga estava olhando Aisha e Hal. Eles o encararam de volta. Cautela nos rostos.
Naden, a ryuu preta, e Ruby, a dragão vermelha enquanto isso estavam encarando o tigre que pulava nos céus e Fuuga montava. Todos eles rugiram baixo, expondo as presas para intimidar.
Parecia um confronto entre velhos inimigos. Sempre vinha aquela imagem de dragões e tigres não se dando bem também
Eu não disse nada.
O ar estava pesado. O homem se apresentou, porém a tensão não se dissipou.
Fuuga aparentava ser o único não afetado por tal atmosfera. Ele olhou para mim.
— Eu estou certo em assumir que você nessa coisa preta está no comando dessa força?
— Peço perdão pela demora em me apresentar. — disse eu. — Sou o rei provisório do Reino de Friedônia, Souma Kazuya.
Fuuga piscou.
— Você é um rei? Preciso tratar todos vocês formalmente então?
— Se você é um rei, isso nos faz iguais. — disse eu. — Porque não fazer como desejar?
— Ha ha! Isso é um alívio! Não sou bom com coisas formais. Você pode falar normalmente também. Não precisa me tratar com um título.
— …Ok, Fuuga.
A forma como ele não ligava para nossas posições e como falava francamente era similar a Kuu. No entanto, no caso de Kuu, essa grosseria era compensada pelo seu charme pessoal, enquanto neste homem, mesmo que não tivesse nenhum charme, tinha o poder para fazer parecer natural se comportar assim. Ele possuía o que eu chamaria de carisma natural do qual ele convencia não apenas a si mesmo, mas também aqueles com quem falava.
Eu percebi que Fuuga estava encarando meu rosto atentamente.
— … Tem algo no meu rosto? — perguntei desconfortável.
— Hum? Ah não, eu só estava pensando. Você parece manso, mas tem mais do que isso em você. Não sei, é como se eu não tivesse entendimento total de você como pessoa.
“Uma imagem completa de mim? Não entendi. Não me achava tão impressionante. Ao menos não ficaria de frente a esse homem grande sozinho.”
Fuuga coçou o queixo e cruzou os braços pensativo.
— Nunca na minha vida pensei que alguém fosse assustador, mas por alguma razão minha intuição me diz que eu não devo mexer com você. Sinto que você me puxaria para a lama se eu fizesse isso sem cautela.
— Você está me dando crédito demais. — disse eu. — Pode parecer estranho eu mesmo dizer isso, mas eu sou fraco.
— Você é o rei de um grande reino ao sul, não é?
— Eu só estou me dando bem porque meus companheiros me apoiam.
— Esses seus companheiros estão reunidos em torno de um cara que se chama de fraco, certo? Sinto que você vem de uma estrutura diferente de mim.
Fuuga e eu ficamos falando assim.
Devia ter sido uma conversa sem significância, mas eu senti um calafrio na minha coluna o tempo inteiro. Parecia que estávamos medindo o alcance de ataque um do outro.
Fuuga estava tentando entender se valia a pena ter cautela de mim. Eu estava fazendo meu melhor para não deixá-lo em guarda. Senti tanta pressão assim na diplomacia com outro país antes?
— Sou… Alteza! — Hal me chamou, acabando com esse clima. — Ruby e Naden ainda estão bem, mas os Wyverns estão perto do limite.
Os Wyverns estavam ficando exaustos. Afinal, falamos muito tempo.
— Fuuga. — eu disse. — As 50000 tropas do Reino de Friedônia estão vindo para apoiá-lo. Quero discutir com o Duque Chima, podia nos escoltar até ele?
Ele deu uma risada alegre.
— Claro! Se recebermos tanto apoio podemos eliminar os monstros em pouco tempo. Durga e eu vamos na frente, então sigam-nos!
“Seria Durga o nome do tigre branco, talvez?”
Fuuga e Durga se viraram e voaram pelo céu, nos guiando enquanto nós os seguíamos.
Talvez por cautela com Fuuga, Aisha não retornou à gôndola e permaneceu nas costas de Naden comigo segurando-a pela cintura.
Eu sussurrei para Aisha:
— Quão forte é aquele cara?
— Mais forte que eu, muito provavelmente. E pensar que tinha um homem como ele na União de Nações Orientais…
Eu quase duvidei dos meus ouvidos. Essa era Aisha, que tinha surpreendido Hal, Kaede e Carla quando fui levado à Cordilheira da Estrela do Dragão. Aisha estava dizendo que alguém era mais forte que ela. Foi uma surpresa para mim que alguém assim existia.
Eu estava sem palavras no momento que Aisha deu um suspiro súbito.
— Se eu lutasse com aquele homem agora, estaríamos em apuros. Se fosse só ele, Sr. Halbert e eu talvez conseguíssemos cuidar dele juntos, mas a forma como ele trabalhava em conjunto com aquele tigre faria as coisas difíceis. O Sr. Halbert tem Madame Ruby, mas sem um contrato entre nós, Naden e eu não conseguiríamos coordenar isso bem.
— Aquele tigre também. Eu realmente tenho um mau pressentimento sobre isso… — acrescentou Naden telepaticamente.
Ouvindo as duas abertamente expressando cautela, bati nas minhas bochechas e me concentrei novamente.
Gravei então o nome dele na minha memória. Fuuga Haan. Parecia que era um homem que merecia cautela.
Tradução: Enzo
Revisão: Merovíngio (Lopez)
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