Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 08 – Cap. 12 – O banquete de vitória

 

Era noite, depois do dia das forças combinadas do Reino de Friedônia, o Reino de Lastania e o Reino dos Cavaleiros Dragão Nothung exterminarem dezenas de milhares de homens lagarto que tinham atacado como parte da onda demoníaca.

Na fortaleza próxima ao rio Dabicon estava sendo realizado um banquete em honra da vitória de hoje.

Havia grandes panelas preparadas no pátio da fortaleza e nos campos. Os soldados sentaram em círculos em volta delas, compartilhando licor fornecido por Friedônia e Lastania, aproveitando o tempo.

Suas rações que sobraram tinham sido guardadas para a ocasião, mas alguns homens corajosos ouviram que era possível comer carne de monstro. Eles estavam cozinhando e comendo os restos dos que pareciam mais comestíveis, caídos e mortos do lado de fora.

Os soldados estavam aproveitando tumultuosamente lá fora enquanto estávamos numa sala de jantar especialmente preparada dentro da fortaleza. Presentes estávamos eu, minhas esposas, nossos companheiros próximos e figuras importantes dos três países.

O rei e rainha de Lastania, que tinham sido deixados para trás no castelo de Lasta, viajaram na gôndola de um wyvern e agora estavam aqui. Incidentalmente, por alguma razão, Princesa Tia já estava na fortaleza e me surpreendeu nos cumprimentando com Roroa depois de nosso retorno da batalha.

Dada a cara de Julius como se ele tivesse dado uma mordida em algo ruim, suspeitei que ele já sabia que ela tinha chegado de fininho. Parecia que ela estava o enlouquecendo.

Deixando isso de lado, havia pessoas de Friedônia, Lastania e Nothung tendo conversas agradáveis por todo lado.

Dada a minha posição, pensei que devia falar com vários deles, mas… por enquanto estava preso com Aisha e não conseguia me mexer. No começo do banquete, ela tinha agarrado meu braço forte e não fazia menção de soltar.

Não me incomodou que várias partes macias dela estavam pressionadas contra mim, mas também apertava um pouco forte demais e eu não conseguia me mover.

— Ahm, Aisha? Poderia apertar um pouco menos? — implorei.

— Não quero.

…Bem, aí está.

Pelo que eu tinha ouvido, ela tinha ficado presa assistindo a atmosfera de dois pombinhos de Jirukoma e Capitã Lauren no campo de batalha. “O que exatamente aqueles dois estavam fazendo lá mesmo?”

Acidentalmente, em consideração por Aisha (ou talvez porque lidar com ela seria um saco nesse momento) Roroa estava com Julius e a Princesa Tia. Naden estava com Pai, a quem ela não via fazia um tempo.

Aisha me olhou com olhos como os de um filhote de cachorro abandonado.

— Ahm… não posso? Eu dei o meu melhor na batalha de hoje.

Seus olhos grudaram em mim. Vendo esses olhos, finalmente entendi seus sentimentos.

“Ah, entendi. Ela queria que eu a elogiasse.”

Ela queria minha aprovação. O tipo de aprovação dada de alguém numa posição superior a alguém em uma posição inferior. (Como um pai para um filho). O desejo desse tipo de aprovação vinha da sensação de querer que alguém te mimasse. Aisha queria que eu fizesse isso.

Deve ter algo a ver com o fato de que, enquanto eu dormia na mesma cama que Roroa e Naden na noite passada, ela tinha ficado sozinha do lado de fora, em guarda.

Com a minha mão livre, eu acariciei a cabeça dela.

— Você foi bem, Aisha.

— Hehe. — Aisha finalmente me mostrou um sorriso satisfeito.

Os pais da Princesa Tia, rei e rainha de Lastania, vieram e nos observaram com sorrisos.

— Vocês dois certamente se dão bem. — disse o rei.

— Realmente — a rainha concordou. — Eles são tão inocentes.

“E–Eles viram, hã?”  Me senti um pouco envergonhado, mas o Rei de Lastania me ofereceu uma garrafa de vinho.

— Aqui, Sr. Souma. Madame Aisha.

— Oh, muito obrigado — disse.

— A-Agradecemos muito — concordou Aisha.

Aceitamos o convite do Rei de Lastania para bebermos juntos.

Depois que quatro taças de vinho foram preenchidas, brindamos.

O Rei de Lastania bebeu o vinho em um só gole e nos agradeceu alegremente.

— Sabe. Eu sou realmente grato por seus reforços. Se não fosse pelo apoio do Reino de Friedônia, nosso país poderia ter caído. No lugar de meu povo, eu agradeço. Se eu tivesse as habilidades de combate de alguém como Sr. Julius, eu mesmo teria lutado, mas eu fui completamente inútil…

— Não, você está sendo humilde demais — eu disse — A razão pela qual nossos reforços chegaram a tempo é a luta dura de Sr. Julius e das pessoas deste país. Nós apenas ajudamos um pouco a pedido do Império. Em todo caso, tive a impressão de que a família real de Lastania é bem amada pelo povo deste país. Tenho certeza que conseguiu dar apoio emocional ao seu povo.

Pus mais vinho no copo vazio do Rei de Lastania.

— Lidar com o Domínio do Rei Demônio é uma questão que diz respeito a nosso país também — continuei. — Se houver quaisquer movimentos dentro do Domínio do Rei Demônio, ou dentro da União das Nações Orientais, por favor nos contate. Faremos o que pudermos para ajudar.

— Obrigado — o Rei de Lastania curvou a cabeça com um sorriso.

Minhas palavras não eram só da boca para fora. O Reino de Lastania não era apenas um membro da União das Nações Orientais; eles eram aliados do Reino dos Cavaleiros Dragão Nothung a oeste. Eles eram os intermediários perfeitos nas negociações entre nossos dois países, e eu definitivamente queria continuar as relações com eles.

— Ainda assim, esta é certamente uma cena incrível — disse o Rei de Lastania enquanto olhava o salão do banquete. — Aqui temos você, Sr. Souma, representando o Reino de Friedônia, e Madame Sill, uma princesa do Reino dos Cavaleiros Dragão Nothung. Aparentemente, Sr. Kuu também é o filho do líder da República de Turgis, não é? Que todos esses jovens que vão carregar o futuro deste continente estão reunidos aqui, neste pequeno país no canto da União das Nações Orientais… bem, é uma surpresa.

Ele estava certo, havia gente demais. Porém…

— A próxima geração de Lastania também parece que terá um futuro brilhante, não é? — perguntei. — Vocês têm Sr. Julius, Jirukoma e a Capitã Lauren afinal… oh! Sei que é um pouco tarde, mas parabéns pelo casamento de Madame Tia.

— Obrigado — ele disse. — Estou realmente grato que um homem confiável como Sr. Julius faça parte de nossa família. Sabíamos o que Tia achava dele, então não haveria qualquer objeção da nossa parte, mas eu teria sentido hesitação em pedir para alguém que já foi o príncipe herdeiro do Principado de Amidônia ser rei de um país muito menor como este. Parece que minhas preocupações foram em vão, entretanto.

Sorrindo enquanto falava, os olhos do Rei de Lastania estavam focados em Julius, que conversava com a Princesa Tia e Roroa, com o mesmo rosto severo de sempre. Mesmo assim, ainda que o rosto de Julius fosse dessa forma, não tinha nenhum sinal da conversa encerrar, então eles estavam se dando bem o suficiente do jeito deles.

Enquanto eu pensava sobre isso, o Rei de Lastania me olhou.

— Sr. Souma. Ouvi falar que houve inimizade entre você e Sr. Julius. Esses sentimentos ainda representam um muro entre vocês dois?

Ele estava me perguntando isso diretamente. Parecia que esse cara era honesto por natureza. Perguntava puramente pela preocupação do bem estar de Julius, que se tornaria o marido da Princesa Tia. Olhando como o Rei de Friedônia que deveria governar a região de Amidônia, a existência de Julius era um elemento perigoso. Ele estava preocupado que eu me mexesse para eliminar Julius.

Balancei minha cabeça em silêncio.

— É verdade que há inimizade entre Sr. Julius e eu. Para Julius, sou o homem que matou seu pai, então a discórdia entre nós nunca realmente vai deixar de existir.

O rei estava em silêncio.

— No entanto, se qualquer coisa acontecesse com ele, a Princesa Tia ficaria triste. Dito isso, Roroa que gosta dela também ficaria. Eu não quero isso. Também tenho certeza que Sr. Julius não quer me confrontar tanto a ponto de deixá-las tristes.

A coisa importante era nossa vontade de não deixar os outros tristes. Esse sentimento era algo que Julius e eu tínhamos em comum.

— Mesmo que, em algum ponto no futuro, chegue uma hora em que Sr. Julius e eu tenhamos interesses em conflito, tenho certeza que nós dois vamos agir para evitar a guerra, que seria o pior resultado — disse.

Falando em outras palavras, podemos não conseguir ser amigos, mas se possível, não queríamos lutar. Algum momento tínhamos acabado nesse tipo estranho de relacionamento.

Minhas palavras devem ter o confortado, porque o Rei de Lastania pegou minha mão e sorriu com lágrimas nos olhos.

— Sinceramente espero que ambos os nossos países possam prosperar juntos.

Nos separando do casal real de Lastania, Aisha e eu fomos até onde Naden estava. Ela falava com Pai e Sill. Hal, Kaede e Ruby acomodavam-se ao lado deles.

Quando nos aproximamos, Sill foi a primeira a notar.

— Ora, Sr. Souma! Ouvi falar das suas conquistas nessa questão de Madame Naden.

Dizendo isso, Sill estendeu sua mão direita.

Madame Sill não era tão escura quanto um Elfo Negro, mas a pele marrom clara e o cabelo loiro bem curto dessa mulher com cara de menino a distinguiam. Ela provavelmente tinha uns 20 anos. Seus braços expostos eram finos, mas musculosos, e ela tinha o corpo de uma competidora de atletismo.

Peguei a mão de Sill e cumprimentei-a firmemente.

— Não, não. Não fiz nada demais. Essa vitória pertence ao povo deste país pela dura luta que travaram e o trabalho duro de cada pessoa envolvida.

— Você está sendo humilde — disse Sill. — Você é que decidiu enviar reforços para este país. Sou grata. Normalmente, enviar reforços para aqui seria nosso dever como aliados, mas demorou para resolvermos os efeitos da onda demoníaca nas nossas próprias terras, por isso nossa chegada foi atrasada.

A onda demoníaca tinha afetado uma grande área afinal. Maria estava lidando com ela a oeste também.

— Como era a onda demoníaca que atingiu o Reino dos Cavaleiros Dragão Nothung? — perguntei.

— Fomos atacados por uma grande variedade de monstros ao mesmo tempo. Nenhum deles era especialmente forte, e eles foram facilmente reduzidos a cinzas, mas eram numerosos. Foi uma situação bem difícil. Tinham tantos deles que, do ar, não dava para ver o chão embaixo dos monstros.

— Isso é… exaustivo até de ouvir.

Se tantos viessem de uma vez só, este país não teria chance.

A força invasora só tinha sido parada perto do rio porque era quase inteiramente composta de homens-lagarto.

— A propósito — disse —, Madame Sill. Você e Pai são…

— Ah, Sr. Souma. Soube que você e Pai se conhecem, e podem falar normalmente juntos. Me tornei a parceira de Pai. Não precisa usar linguagem formal comigo.

— Ok — disse. — Você também pode fazer como for melhor pra você.

— Oh, ótimo. Odeio falar formalmente. Faz meus ombros enrijecerem.

Tendo dito isso, Sill fez questão de girar o ombro direito em círculos. Parecia que um tom mais masculino que combinava com sua aparência de menino era o padrão dela.

Um garoto numa roupa parecida com um macacão branco bonito, mas andrógeno e com olhos pequenos como contas, começou a falar comigo.

— Há quanto tempo, Souma.

Este era presumivelmente Pai em forma humana, mas ele dava uma impressão bem diferente de antes.

Tinha ouvido falar que até formarem um contrato, dragões mantinham um estilo mais unissex, e que formar um contrato com um cavaleiro homem faria deles mais femininos, enquanto formar um contrato com uma cavaleira mulher faria deles mais masculinos, mas nesse momento ele era completamente um otokonoko¹.

Enquanto meus olhos arregalaram em surpresa, Naden tombou a cabeça em confusão.

— O que houve, Souma?

— Ah! Não… Eu só estava pensando “Uau, Pai realmente é um cara agora”. O contrato do cavaleiro dragão pode mudar uma pessoa tanto assim? Estava surpreso.

— Hehe, é assim que nós dragões somos — disse pai com um sorriso amarelo. — Aposto que Naden e Ruby também ficaram mais femininas desde seus contratos, certo?

— Hum? Naden não parece tão diferente… ei Hal, a Ruby mudou?

Ele estava próximo, então pensei em perguntar.

Hal fez um “hum” e tombou a cabeça para o lado.

— Agora que você diz, comparada à quando formamos o contrato, ela passou a se destacar em todos os lugares cer- Ai!

Ruby pisou no pé e Kaede bateu na cabeça dele com seu bastão.

Eu sei que é minha culpa por perguntar, mas faltou delicadeza, então me dei conta de que Naden estava tocando no próprio peito. Ela andou até Ruby, colocou a mão do peito dela e apertou.

Ah! — Ruby ganiu, soltando um gemido sexy. — Ei, espere?!

Naden permaneceu quieta e caiu de joelhos imediatamente

— De onde veio essa diferença…?

A causa de tudo isso, Pai, estava com uma cara de que se sentia mal por isso.

— Ah! Ahn… Sinto muito…

Aisha disse à Naden abatida:

— Não se preocupe. Você só está começando.

Mas ouvir isso da esposa que mais se destacava nesses lugares, provavelmente era só colocar o dedo da ferida. Hora de uma mudança brusca de assunto.

— Amm… entendi que Pai é um homem agora, mas nesse caso quem dá à luz é… — comecei.

— É, serei eu. Acho — Sill disse, enchendo o peito e respondendo como se não fosse nada. — O custo do contrato de cavaleiro dragão é a prosperidade dos descendentes. Sou humana então os filhos serão ou humanos ou dragonatos, já que não posso dar à luz a um dragão.

Eu tinha ouvido de Naden que dragões nasciam como um grande ovo, mas mesmo os pais não sabiam quando ele ia chocar. Não era possível que um ovo de dragão se formasse dentro do corpo de um humano então era provavelmente um fato que ela não poderia dar à luz a um dragão.

Sill riu alto.

— Bem, quando um dragão dá a luz a outro dragão, o ovo precisa ser depositado na Cordilheira do Dragão Estelar, então eles não podem cuidar dele. Pai pode estar insatisfeito, mas eu fico feliz que eu vou conseguir criar meus filhos com ele.

— Não estou insatisfeito. Também estou feliz que vou poder cuidar de nossos filhos — disse Pai com vergonha.

Estava falando mais como um garoto agora também.

Formavam um casal estranho, uma mulher máscula e um otokonoko efeminado, mas parecia que se davam bem, então bom para eles.

Olhando os dois, eu disse sem pensar:

— Com certeza têm uns cavaleiros dragão estranhos por aí.

Naden, Hal e Kaede, todos interromperam para dizer:

— Olha quem fala!

Eles meio que tinham razão.

Tendo nos separado de Naden e dos outros, Aisha e eu observamos Tomoe, Inugami, Kuu e Leporina se divertindo falando e rindo enquanto fomos ver Poncho, Serina, Komain e Jirukoma em seguida.

— Sr. Poncho — disse Lauren. — Como foi sua primeira vez se encontrando com Madame Komain?

— Minha irmã está fazendo um bom trabalho trabalhando para você? — perguntou Jirukoma.

— Hã? Ah, sim — disse Poncho. — Ela é bem confiável, sim.

Parecia que Poncho estava sendo interrogado por Lauren e Jirukoma. O resultado estava sendo assistido por uma Komain trêmula e uma Serina exasperada.

— Qual é exatamente a situação aqui? — perguntei.

— Ora, Majestade. Acredito que é exatamente o que parece — Serina disse como se não fosse nada.

Não tive certeza o que ela queria dizer…

— Então, Sr. Poncho? Realmente não está vendo ninguém? — perguntou Jirukoma.

— Você se tornou um nobre agora, então não têm muitas pessoas que expressaram interesse em casar com você? — Lauren demandou.

— S-Sim, Sr. Jirukoma, Madame Lauren. É verdade, têm-se falado muito nesse sentido, mas eu acho que eu não tenho muita sorte, então não estou vendo ninguém, sim.

Parecia que Jirukoma estava tentando extrair os detalhes da vida amorosa de Poncho.

Espera, então Poncho ainda não conseguia achar uma noiva? Poncho era um servo que eu tinha contratado pessoalmente, então ele era visto como tendo um futuro promissor. Por causa disso, uma grande variedade de pessoas, de nobres,  classe dos cavaleiros, a comerciantes influentes tinham se encontrado com ele sobre um potencial casamento, mas… ele realmente não tinha conseguido com nenhum deles?

Lauren trouxe essa pergunta para mim.

— Mas pelo que Lorde Jirukoma me diz, você é bem popular no reino.

Eu pensei que podia deixar o fato de que ela estava se referindo a ele como Lorde Jirukoma em vez de Sr. Jirukoma passar sem comentário. Pela forma como Aisha reagia estando perto deles, podia basicamente adivinhar o que tinha entre eles por mim mesmo.

— Muitas pessoas o respeitam pelo seu papel em acabar com a crise de comida em Elfrieden e Amidônia, e você é visto como tendo um futuro promissor — Lauren continuou. — Tenho dificuldade em imaginar que as mulheres o deixassem em paz, sabe?

Exatamente. Poncho era incrivelmente popular no Reino de Friedônia. Na região de Amidônia, ele estava até sendo “deificado” como o “Deus da Comida”. No entanto, esse tipo de movimento poderia antagonizar o Estado Papal Ortodoxo Lunariano, então queria que parassem.

Poncho sacudiu a cabeça vigorosamente.

— V-Você está me dando muito crédito, sim. Talvez seja a minha aparência? Quando vêm falar sobre casamento, as pessoas dão meia volta assim que me veem, sim.

— Hã? Elas dão? — Lauren perguntou confusa.

Hã? Pessoas estavam indo embora assim que viam Poncho? Claro, ele era gordinho, mas tinha um rosto amável, e não era do tipo que você acha desagradável à primeira vista.

As mulheres têm que ter visto quão gordo ele era nas transmissões de qualquer jeito, então se isso era o suficiente para elas não o suportarem, elas podiam não ter combinado de se encontrar com ele para começo de conversa.

Além disso, Poncho tinha um futuro promissor. Se essas eram mulheres enviadas por nobres, para quem casamentos estratégicos eram segunda natureza, elas podiam fechar os olhos para um certo nível de defeitos e dar o seu melhor para que Poncho gostasse delas.

Obviamente não queria que uma oportunista dessas se tornasse a esposa de Poncho. Por isso que tinha deixado Serina com ele como sua assistente, ficando de olho.

Eu olhei na direção dela.

— Então, me diga a verdade. Como estão indo encontros de casamento de Poncho?

Serina pressionou o dedo indicador no queixo e tombou a cabeça para o lado.

— Mais ou menos, como Poncho disse. Mesmo as pessoas que vêm pensando em seduzir Sr. Poncho vão embora assim que veem seu rosto. É bem grosso deles, realmente.

Serina não tinha perdido a sua expressão calma de sempre, mas ela parecia indignada por algum motivo. Se era como ela dizia, então era ainda mais incompreensível que ele não conseguisse um casamento.

Enquanto pensava isso, de repente minha manga foi puxada. Virei para ver que era Komain.

Komain me levou um pouquinho longe e sussurrou para mim:

— Ouça… tenho algo para dizer sobre isso…

Seus olhos estavam vagando, e ela falava timidamente.

— Am… é sobre o porquê de Sr. Poncho não conseguir um casamento.

Então, Komain me contou sobre os encontros para discutir um casamento arranjado que ela testemunhou enquanto estava em Venetinova. Era verdade que várias ofertas chegavam a Poncho, e muitas mulheres pareciam erroneamente acreditar que podiam seduzi-lo com seus rostos bonitos. No entanto, na hora do encontro, Serina sempre estava de pé ao lado de Poncho.

Serina devia em termo de personalidade, mas aos olhos, ela era uma beldade graciosa. Diante do seu lindo rosto, aquelas mulheres arrogantes rapidamente batiam em retirada.

Mesmo que elas aguentassem isso, soubesse ela ou não, Serina tinha uma aura incrivelmente intimidadora em relação àqueles que perseguiam Poncho, e fazia com que até aquelas que fossem atraídas por ele com boas intenções recuassem com medo.

Komain, que tinha passado por essa intimidação, dizia que era comparável à de um lobo selvagem.

— Serinaaaa… — murmurei.

Fiquei sem saber o que fazer. Tinha dito para Serina impedir que mulheres estranhas chegassem perto dele, mas não esperava que ela impedisse todas as oportunidades de casamento.

— Aliás… me desculpe — Komain confessou num sussurro. — Eu posso ter me juntado a Madame Serina dando essa aura de intimidação recentemente.

— Hã?! Porque você…

— É porquê… am… me desculpe. — O rosto de Komain estava vermelho forte, e sua voz estava parecendo que ia sumir de tão baixa.

Vendo-a tão envergonhada a ponto de querer se esconder num buraco… eu consegui inferir a situação.

Cocei minha cabeça.

— Bem, acho que tudo bem se for você. Tenha certeza de assumir a responsabilidade, ok?

— Você acha que… eu consigo?

Komain parecia insegura, então pus a mão no ombro dela.

— Por ora, diga para ele como se sente e converse sobre. Poncho é tímido e não tem autoconfiança, então duvido que ele pensaria que alguém poderia ter sentimentos por ele. Mesmo assim, ele é um cara legal, então tenho certeza que responderá ao seu afeto com sinceridade.

— S-Sim. Vou fazer isso. — Komain fechou o punho enquanto assentia com a cabeça.

Pela aparência dela, ela ficaria bem. Mesmo que todas as outras oportunidades falhassem, eu poderia ficar aliviado se uma garota confiável casasse com ele.

“Se tem um problema… é que Komain é de um berço comum.”

Embora o casamento em si não fosse um problema, os nobres influentes que queriam que garotas com que tivessem laços sanguíneos se tornassem a esposa principal poderiam atrapalhar. No momento, Komain não tinha o poder para calar a boca deles.

Eu podia resolvê-lo temporariamente fazendo Komain ser adotada por uma família nobre influente, mas… isso colocaria a própria Komain na mira, e seria um fardo para ela. Isso significava que só tinha uma medida que podia tomar agora.

— E quanto a Serina? Se ela tá liberando essa aura intimidadora, acha que ele tem uma chance com ela? — perguntei.

Serina vinha de uma boa família que tinha fornecido empregadas e servos para a família real por gerações. Em termos de linhagem, a dela era equivalente a nobres influentes. Se eu fizesse de Serina a esposa principal, podia calar a influência das outras famílias.

Mas…

— Hmm… — Komain tombou a cabeça para o lado. — Acho que tem algo aí, mas sinto que ela mesma não tem consciência. Não nego que pode ter tido algo assim no meu caso também, mas o motivo pela qual Madame Serina se interessou por Sr. Poncho é a comida que ele faz. Por isso não sei se a própria Madame Serina sabe se seus sentimentos são românticos, ou meramente um resultado de sua fome.

— Esse é um desenvolvimento inconveniente… — sussurrei de volta.

Porém pensando melhor, antes disso, a calma Serina só tinha mostrado interesse em garotas fofas para quem pudesse direcionar suas tendências sádicas, como Liscia e Carla. O primeiro homem por quem ela demonstrava interesse era Poncho.

Serina sempre fez seu trabalho sem problemas, mas era justo dizer que ela tinha pouca experiência nessa área.

— Como se sentiria com Serina sendo a esposa principal, Komain? — perguntei.

— Eu… Eu cheguei depois dela, então não tenho reclamações… ficamos mais próximas no tempo que estivemos juntas, e eu não sei as maneiras de suas famílias nobres, então seria reconfortante que Madame Serina lidasse com tudo isso.

Não tinham problemas do lado de Komain então. Nesse caso, era só uma questão dos sentimentos de Serina.

— Desculpa, mas você poderia lidar com a Serina para mim? — sussurrei. — Se tiver algo entre eles, quero que você a faça ficar mais consciente disso.

— O- Ok. Verei o que posso fazer.

Komain se comprometeu fortemente a ajudar. Provavelmente podia deixar isso com ela.

Mesmo assim, as relações entre homens e mulheres eram estranhas e complicadas. Sentia que esse tipo de coisa exigia pensar mais do que simples negociações políticas. Tendo deixado o assunto de Poncho para Komain por ora, pude ver Roroa, Julius e Princess Tia falando, então Aisha e eu fomos lá.

Roroa e Princesa Tia tinham rapidamente se tornado amigas e estavam conversando tão felizes quanto duas irmãs. (Elas também seriam cunhadas em breve).

Julius observava as duas com um olhar tranquilo.

— Oh, querido! — Roroa acenou vigorosamente para nós, e então veio e rapidamente se enrolou no braço oposto ao que Aisha agarrava —, oh, querido. Nossa irmãzona é uma fofura.

— Irmãzona? — repeti.

— Já disse para não me chamar de irmãzona — Princesa Tia protestou. — Você é a mais velha, Roroa! Isso é um exagero!

“Oh, ela é a noiva do irmão mais velho, então isso faz dela a irmã mais velha, hã.”

Vendo Tia ficar chateada, Roroa gargalhou.

— Oh, só tava pensando quão revigorante é ter uma irmã mais velha que é mais nova do que eu.

— Pensando agora, você chama Liscia de Irmãzona Cia, não? — perguntei.

— Com certeza.  Sinto que irmãzona Cia, irmãzona Ai e irmãzona Juna são todas como minhas irmãs mais velhas. Nadie é mais como uma amiga, porém.

— Então, você pode me chamar de Ti, ou algo assim — Princesa Tia sugeriu.

Porém, Roroa disse “de jeito nenhum” e balançou a cabeça.

— Gosto de ver minha irmãzona ficar toda envergonhada, então vou continuar te chamando de irmãzona.

— Ahh!

Incapaz de continuar observando, Julius interveio dando um peteleco na testa de Roroa.

— Roroa. Não provoque Tia demais.

— Ai! — Roroa se curvou para trás exagerando a dor.

— Lo-Lorde Julius! — Princesa Tia se escondeu atrás da manga de Julius para esconder seu rosto, que estava vermelho de vergonha.

Roroa pôs a mão na testa que doía enquanto mostrava a língua para Julius.

— O que, irmão? Só estamos nos divertindo como irmãs, ok?

— É sua culpa por rapidamente passar dos limites. Eu acho que sua alegria sem fim é uma virtude, mas se você não levar em consideração hora, lugar e a pessoa com quem está, você só vai irritar as pessoas.

— Au… querido, irmãzona Ai. Meu irmão mais velho está abusando de mim. — Roroa se esfregou em mim com uma voz bajuladora.

— Não, Julius está completamente certo aqui, né? — disse.

— Concordo com Sua Majestade — Aisha acrescentou.

— Vocês estão me traindo?!

Roroa fez um gesto de cair para trás tão exagerado que se esse fosse um mangá, teria sido acompanhado por um efeito sonoro.

Vendo Roroa reagir exageradamente, Princesa Tia deu uma risadinha, e ver seu sorriso fez o rosto de Julius relaxar um pouco também.

Roroa realmente era incrível. Eu concordava com Julius: a alegria dela não era irritante, mas na verdade fazia todos ao seu redor sorrirem.

Os cinco de nós falamos juntos por um tempo, e então Julius disse:

— Souma. Poderia ter uma palavra com você?

Princesa Tia parecia preocupada por um instante, mas Roroa pôs suas mãos nos ombros da princesa, assentiu com a cabeça e elas nos deixaram a sós.
Aisha, Julius e eu deixamos a sala onde o banquete estava sendo organizado e fomos para um quarto pequeno.

— Aqui está bom — disse.

Quando entramos na sala, minha guardacostas Aisha mostrou alguma consideração e esperou de costas para a porta.

Era provavelmente uma posição para ela poder ouvir bisbilhoteiros, ao mesmo tempo que pudesse lidar com Julius caso ele tentasse algo suspeito.

Julius despejou na minha taça vinho da única garrafa que trouxemos conosco do salão do banquete.

Quando terminou de despejar, eu fiz o mesmo para ele.

Erguemos nossas taças juntos e dissemos em uníssono “À vitória”, batendo-as.

Quando tínhamos bebido todo o vinho em nossas taças, Julius sorriu pretensiosamente:

— Jamais imaginaria que chegaria um dia em que bebêssemos juntos.

— Eu digo o mesmo — disse reenchendo as taças —, e é um brinde à nossa vitória compartilhada também.

Bebendo com Julius… hã.

— Pensando agora, Serina ganhou rápido de você numa competição de bebida em Van, não? — acrescentei.

— Essa… é uma memória amarga. Aquela empregada estava no banquete hoje também, não estava? No momento que a vi, aquelas memórias desagradáveis voltaram.

— Hahaha! Aquela empregada chefe nossa é temida pela princesa de uma nação e pela filha de um ex-general da Força Aérea.

— … Tem certeza que ela é só uma empregada?

— Eu mesmo não tenho certeza disso às vezes — admiti.

Estávamos jogando conversa fora sobre coisas sem importância quando, de repente, Julius fez uma cara séria.

— Sou realmente grato pelos reforços que você trouxe.

— Ficam me dizendo isso — disse. — Já me agradeceram o suficiente.

— Mesmo assim. Se você e Roroa não tivessem vindo nos ajudar, eu poderia não ter conseguido proteger Tia. E por isso, obrigado. — Julius se curvou profundamente.

Vendo quão diferente a atitude de Julius estava em relação à antes, dei um tapa no seu ombro com um sorriso irônico.

— Você diz isso como se tudo tivesse sido resolvido, mas as dificuldades de verdade para este país começam agora, certo? Vocês perderam mais do que alguns homens na batalha até agora, certo? Conseguem se recuperar?

— Nós iremos! Protegemos as mulheres e crianças. A população crescerá, e nós podemos construir um futuro. Além disso, depois da guerra, nossa população e território vão crescer.

— Seu território também?

Na União das Nações Orientais, o ganho ou perda de território são decididos no parlamento. Há muitas terras que perderam seus lordes na onda demoníaca, então terra será redistribuída. Quando essa hora chega, os países que se comportaram mal falhando em enviar reforços proporcionais ao poder de sua nação terão seu território tomado, e países que se distinguiram o ganharão.

“Hmm… então esse era o sistema da União das Nações Orientais, hã. Era como uma união de várias nações, mas também era como um único Estado feudal.”

Julius deu um sorrisinho.

— Nós temos a conquista de ter segurado dezenas de milhares de homens lagarto até que reforços pudessem chegar. Podemos esperar ser regados com honras depois da guerra.

— Ei, você está começando a se parecer como era antes — disse —, se a Princesa Tia pudesse vê-lo agora, isso não a preocuparia?

— Isso não seria bom. — Julius bateu nas próprias bochechas. — Bem, felizmente partes de monstros vendem por um preço alto. Há corpos de monstros e homens lagarto largados por toda parte. Os comerciantes virão para negociar por elas, então não devemos ter problema com finanças.

— Hahaha! Agora você soa como a Roroa.

— Eu sou o irmão dela afinal.

— Você é… oh! Ah é. Sobre os corpos de homens lagarto, se importaria se levássemos alguns de volta conosco? Gostaria de estudá-los.

— Eles serão usados para financiar a reconstrução, então seria um problema se você levasse muitos.

— Eles são estritamente para pesquisa, então dois de cada categoria geral devem ser o suficiente.

— Não vejo problema com isso — assentiu com a cabeça —, leve o que quiser.

O tempo passou lentamente.

Julius olhou para o vinho na sua taça enquanto falava.

— Agora que o Reino dos Cavaleiros Dragão Nothung está aqui, este país ficará bem. Souma, o que vai fazer? Voltar para o Reino de Friedônia?

— Adoraria, mas…

Julius deixou sua taça, encarando na direção da porta.

— Ah! Quem vem aí?

Ele tinha percebido alguém? Porém, Aisha, que estava na porta, parecia despreocupada.

Um pedaço de papel branco dobrado foi passado por baixo da porta.

Tendo entendido a situação, pus uma mão na manga de Julius.

— Acalme-se, Julius. Se Aisha não está ficando pronta para lutar, significa que, seja quem for, era um dos nossos. Certo?

Aisha disse “Sim”, assentindo com a cabeça. Então ela pegou o papel debaixo da porta e me deu.

— Majestade, é um relatório de Kagetora e seus homens.

Era uma carta de Kagetora, o líder dos Gatos Pretos, a unidade secreta de inteligência que respondia diretamente ao rei.

Eu tinha deixado os Gatos Pretos investigando todas as nações na união.

Peguei a carta e verifiquei seu conteúdo e… olhei para o teto e soltei um suspiro.

— Parece que não vou voltar para o reino tão cedo…

— Estava começando a sentir que não poderia estar presente quando Liscia desse a luz, e era deprimente.

 


 

Tradução: Enzo

Revisão: Merovíngio (Lopez)

 

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