Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 07 – Capítulo Extra Bônus – Histórias Curtas

 

O mestre e a Serva não Estão de Acordo

 

Aconteceu na República de Turgis, no sul do continente.

 

Próximo à cidade de Noblebeppu no leste, um jovem garoto macaco da neve chamado Kuu Taisei, filho do atual chefe da República de Turgis, estava cavalgando em um numoth rompendo neve e gelo. Ele estava indo visitar sua amiga de infância Taru, a ferreira, com sua serva Leporina a reboque.

Deitado nas costas do numoth, Kuu olhou preguiçosamente para o céu.

Havia um céu azul e nuvens brancas. Em parte porque o verão estava se aproximando, era um dia claro. No entanto, neste país, quando chegava o inverno, nuvens espessas bloqueavam o céu e nevascas frequentes impediam o ir e vir das pessoas. Isso significava que eles tendiam a ficar confinados dentro de casa, tornando-os ainda mais introvertidos.

Se ao menos esse clima durasse um pouco mais…

Kuu sempre dizia que ser o filho do Chefe de Estado não combinava com ele, mas, também queria mudar a situação neste país. Os invernos aqui eram muito escuros. Ele preferia as coisas claras, com as pessoas sorrindo de alegria. Por isso, se esforçava para pelo menos sorrir, mas não era um problema que ele pudesse resolver sem ajuda.

Se eu soubesse o que fazer, poderia trabalhar duro para fazê-lo… Ele refletiu.

— Pensando sobre algo, mestre Kuu?

O rosto de Leporina entrou no campo de visão de Kuu. Por estar com a cabeça apoiada no colo de Leporina, seu rosto apareceu de cabeça para baixo quando ela olhou para ele.

Kuu e Leporina eram mestre e serva, mas também se conheciam desde pequenos, tornando-os próximos. Muitas vezes brincaram juntos com Taru na juventude e naquela época Leporina era como uma irmã mais velha para os dois por ter um pouco mais de idade. Era por isso que não parecia fora do comum estar descansando a cabeça em seu colo.

— Hm… Estava pensando sobre como fazer alguém… Todo mundo… Sorrir. — Kuu se espreguiçou enquanto respondia.

— Deveria ser simples… Se você apenas fosse aberto com seus sentimentos. Mas é sempre tão indireto que é difícil dizer se ela está levando você a sério.

— Ok? Do que você está falando? — Kuu perguntou, sentindo que não estavam falando sobre a mesma coisa, o que fez Leporina inclinar a cabeça para o lado.

— Hã? Isso não era sobre Taru?

Kuu estava pensando em como fazer as pessoas da república sorrirem, mas Leporina não conseguia imaginar que ele estava pensando em algo tão sério, então, ela entendeu mal e presumiu que ele estava pensando sobre a garota que amava.

Kuu percebeu que Leporina havia entendido errado, reparou que estava pensando em algo estranhamente sério para seu eu alegre de sempre e, como ficou com vergonha de deixar Leporina saber disso, decidiu seguir em frente.

— Hm? Ah, você está certa. Taru tem estado irritada ultimamente. Ela costumava estar um pouco mais disposta a sorrir.

— Você diz isso, mas não era mais honesto com seus sentimentos naquela época também? — perguntou Leporina.

— Hã? Estou sempre dizendo a ela como me sinto.

— Estou lhe dizendo que a maneira que você faz isso é distorcida. Quando éramos pequenos, você deu a ela uma coroa de flores brancas de presente, não foi? Isso deixou Taru feliz, não deixou? Mas ultimamente você tem tentando deixá-la com ciúmes, dando em cima de garotas peludas como ela, certo? Isso está tendo o efeito oposto.

— Okay… Mas se não fizer isso, ela não vai nem olhar pra mim ultimamente. — Kuu disse mal-humorado.

— Eu entendo seu sentimento, mas… — Leporina suspirou.

Ela entendeu muito bem por que os dois estavam em páginas diferentes. Kuu fingia ser um coringa, mas tinha potencial para ser o próximo Chefe de Estado. Taru estava trabalhando para dominar seu ofício de ferreira para não ser deixada para trás por ele. Quanto mais Taru se dedicava ao seu trabalho, mais negligenciava Kuu, e quanto mais obstinadamente Kuu tentava chamar a atenção de Taru, mais teimosa ela se tornava.

Eles são o mesmo tipo de pessoa, você poderia dizer… Em última análise.

O cerne da questão era que ambos eram teimosos. Nenhum dos dois admitiria derrota para o outro, suas tentativas obstinadas de parecerem bons para o outro os colocaram em conflito.

Bem, isso é o que abre espaço para mim, no entanto…

Leporina sempre teve sentimentos por Kuu.

Kuu era aquele com maior potencial para traçar um novo futuro para este país e Leporina quis sempre estar ao seu lado, observando-o. Poderia ser justo dizer que ela ansiava por ele. Ela não iria atrapalhar Kuu e Taru, pretendia animá-los, então ela esperava que pudesse ficar ao lado dele.

Mas mestre Kuu nunca tenta me cortejar…

Para deixar Taru com ciúmes, Kuu estava dando em cima de garotas-fera com orelhas peludas e caudas como a dela. Resumindo, ele estava dando em cima de garotas que eram como Taru. Ainda assim, se era isso o que ele estava tentando fazer, as orelhas de coelho de Leporina também deveriam servir. No entanto, Kuu nunca havia dado em cima dela.

Eu não sou atraente… Mestre Kuu?

Enquanto pensava nisso, Leporina estava inconscientemente dando tapinhas na cabeça de Kuu.

— Ookyah?! — Kuu ficou muito surpreso com isso.

 Isso porque era desrespeitoso para ela, em sua posição como serva, dar tapinhas na cabeça de seu mestre.

Quando Kuu olhou para ela, Leporina estava olhando para longe, sua mente estava em outro lugar.

O que? Leporina… O que você está pensando?

Percebendo que ela havia agido inconscientemente, Kuu optou por não dizer nada. Ele normalmente gostava de ver como suas ações mexiam com as pessoas, mas não queria envergonhá-la apontando seu erro.

Cara, isso me assustou…

A razão pela qual Kuu não deu em cima de Leporina… Era porque se o fizesse, não acabaria só como uma piada. Se fizesse isso com alguém que ele estava conhecendo pela primeira vez, deixariam passar como uma mera brincadeira. No entanto, por causa da sua relação próxima com Leporina, se brincasse de dar em cima dela, isso a machucaria. Quem ele amava era Taru, mas Leporina também se tornou importante. Foi por isso que Kuu nunca tentou cortejá-la.

Então eu gostaria que ela parasse de inconscientemente me tentar…

Leporina suspirou para si mesma. Preciso mostrar mais minha feminilidade…?

Kuu e Leporina, assim como Kuu e Taru, também estavam em conflito por causa do quanto eles se importavam um com o outro.

O numoth continuou, carregando duas pessoas que não estavam na mesma página.

 

Liscia escreve uma carta

 

— Querido Souma, como você está? Ouvi dizer que foi para um lugar frio, então estou preocupada que você possa arruinar sua saúde. O tempo aqui continua a ser…

— Espera, isso está muito formal! — Liscia amassou tudo que havia escrito até formar uma bola e jogou-a no chão.

Este era seu quarto no castelo de Parnam, mas o chão estava cheio de papéis igualmente amassados. Ela estava desperdiçando um grande volume de papel que, embora como nobre pudesse obtê-lo facilmente, ainda era uma mercadoria valiosa, mas era perdoável por hoje, ao menos.

Ela estava escrevendo uma carta para transmitir algo importante para seu noivo, Souma. Mas, sem conseguir colocar em palavras direito, Liscia refletia enquanto segurava sua cabeça.

Souma estava em uma viagem diplomática para a frígida República de Turgis, no sul.

Ela honestamente queria acompanhá-lo, mas por sua saúde ter piorado ultimamente, acabou por ter que ficar e administrar o castelo dessa vez. Então ela foi examinada por Hilde, a melhor médica do reino.

— Princesa, sobre o motivo de seu mal-estar. Você… — Hilde se inclinou e sussurrou seu diagnóstico no ouvido de Liscia.

Ao ouvir a palavra, o rosto de Liscia ficou branco de choque, e então uma sensação de euforia brotou do fundo do estômago. Finalmente, após se acalmar, ela começou a ficar mais e mais incerta.

Aqueles a sua volta entraram em frenesi com seu diagnóstico, mas a própria Liscia agora tinha ordens para descansar e portanto não tinha nada para fazer.

Por enquanto, ela estava pegando sua caneta de pena para informar Souma sobre as novidades, mas estava descobrindo-se incapaz de encontrar um modo de formular as palavras que queria.

Então houve uma batida na porta.

— Sim, entre! — Liscia chamou.

Naden, uma colega noiva que também estava ficando para trás, entrou na sala. — Liscia, você está b-… Espera, está meio bagunçado aqui, hein?

Ela parecia exasperada, olhando para o estado desastroso desta sala com todas as cartas falhas espalhadas pelo chão.

— Ahaha… — Liscia riu sem jeito. — Eu estava escrevendo uma carta para Souma para informá-lo sobre meu diagnóstico, mas… Não está indo bem.

— Eu entendo como você se sente, mas caso se esforce demais, não vai acabar se sentindo mal de novo?

— Estou me sentindo relativamente relaxada no momento.

— Meu deus… — Naden pegou um dos papéis descartados e examinou-o.

— Há apenas uma coisa que você precisa dizer a ele, certo? Por que não escrever isso?

— Mas quando considero como Souma se sentirá ao ler… Realmente não consigo escrever apenas essa única coisa.

— Bem, justo. Tenho certeza que ele vai ficar realmente surpreso. — Naden sentou-se na cama de Liscia. — Tão surpreso que pode vir voando de volta para cá. Não que Souma possa voar.

— Isso não é bom! Souma não terá muitas chances para tomar seu tempo explorando outro país, então preciso escrever para garantir que ele cumpra seu dever nesta carta.

— Você acha que avisá-lo em uma carta será o suficiente para fazer Souma ouvir?

Liscia balançou sua cabeça em resposta à pergunta de Naden. Souma era voltado para a família, e quando um membro dela estava envolvido, seu campo de visão se estreitava. Se fosse informado desse diagnóstico, ela suspeitava que ele voltaria correndo para o país. Escrever que não deveria fazer isso em sua carta provavelmente não iria impedi-lo.

— Vou precisar escrever para Aisha primeiro. — decidiu. Ela escreveria uma carta para Aisha e a faria conter Souma.

Quando Liscia voltou para sua mesa, Naden deu de ombros.

— Acho que podemos ficar tranquilas com isso.

— … Podemos mesmo?

— Hã?

A mão que segurava a caneta de pena de Liscia parou enquanto ela pensava nisso.

— Aisha faz praticamente qualquer coisa que Souma manda. Ela pode segurá-lo com força, mas se ele ordenar seriamente que o solte, acho que ela o fará. Hmmm… Para parar aquele Souma super protetor, preciso convencê-lo de que estou certa, usando a razão.

— V-você vai?

Ao ver Liscia bolar um plano de várias camadas para impedir que Souma retornasse, Naden achou isso um pouco desanimador. No fundo do coração, Liscia certamente queria que ele voltasse para casa rapidamente, mas ela estava firmemente ordenando que não o fizesse para seu próprio bem

Quem você está chamando de super protetor? Você está sendo muito super protetora aqui, Liscia.

No final das contas, eles eram marido e mulher com ideias semelhantes… Não, noivo e noiva com ideias semelhantes.

Naden estava exasperada internamente, mas Liscia continuou resmungando sem perceber.

— Talvez eu não devesse estar no castelo, afinal. Se ele souber que não pode me ver imediatamente aqui ao retornar, acho que isso deve manter seu desejo de voltar para casa sob controle. — Então, algo pareceu ocorrer a Liscia, e ela bateu palmas. — Eu decidi. Estou saindo do castelo.

— Hã?! O que você está dizendo quando deveria pensar que está doente?! — Naden exclamou.

No entanto, Liscia sorriu.

— Eu sei porque estou me sentindo mal agora. Isso vai passar daqui a pouco. Além disso, eu disse que sairia do castelo, mas apenas para descansar no campo, onde o ar é mais fresco. O antigo domínio de meu pai, agora parte da propriedade da coroa, também é esse tipo de lugar.

— Oh! Você só vai descansar, hm..

O alívio de Naden fez Liscia rir.

— É uma boa oportunidade, então vou pedir à mamãe que me ensine todo tipo de coisa enquanto estiver lá. Daqui em diante… Vou precisar desse conhecimento. — Com isso dito, Liscia voltou-se para a escrivaninha. — Agora que está decidido, preciso avisar Souma. Se eu escrever “Você não pode me ver mesmo se voltar agora” ele não forçará sua volta até aqui, tenho certeza. Oh! Vou ter que dizer a Aisha para não deixá-lo voltar também.

Observando a caneta de pena de Liscia dançar alegremente pela página, Naden se encheu de exasperação.

— … Ah, faça o que quiser.

Incapaz de aturar mais isso, Naden saiu da sala

Agora sozinha no quarto novamente, Liscia começou a escrever rapidamente.

— Estou grávida.

 

A história ridícula de Juno

 

— Pensando bem, houve aquela época em que começaram a espalhar rumores sobre o Sr. Pequeno Musashibo como o “aventureiro kigurumi”. — disse Juno de repente.

Juno e eu agora nos encontrávamos uma vez por semana durante uma ou duas horas para conversar. Fazíamos isso desde a primeira vez. Trouxe uma mesa de vidro e cadeiras para o terraço de assuntos governamentais no castelo de Parnam, e estava conversando com ela durante uma refeição leve do Ishizuka Place.

Além disso, as bebidas eram suco e chá, sem álcool. Se ficássemos bêbados, haveria um problema de segurança, sem falar na questão de Juno conseguir chegar em casa corretamente. Era como uma festa do chá da tarde sendo feita a noite.

Juno tomou um gole do chá enquanto relembrava os acontecimentos para mim.

— Havia outras histórias estranhas de fantasmas também.

— Ah, o que seria isso? — Aisha perguntou ao nosso lado. Ela estava enfiando sanduíches na cara enquanto falava.

Todas as minhas noivas sabiam que eu estava me encontrando com Juno, como era apropriado, e as convidava para participar de nossas festas do chá ocasionalmente também. Não queria que ninguém suspeitasse erroneamente que eram encontros românticos e que eu as estava traindo.

Aisha e Juna (e Liscia, mas ela estava fora) pelo menos a conheciam, Roroa e Naden também não eram exatamente tímidas, então elas se acostumaram com Juno rapidamente. No mínimo, tive a sensação de que Juno era quem estava se sentindo tenso.

— E-eu sou Juno, e frequentemente saio em aventuras com Souma… Er, quero dizer, Sua Majestade… Err, não pessoalmente, quero dizer, com seu fantoche…

Essa foi sua auto-apresentação gaguejante para Aisha, mas… Bem, ela pareceu se acostumar com isso depois da terceira vez.

Acabei divagando. Vamos voltar à história de fantasmas que Juno tinha para contar.

— Tipo, “Uma cobra gigante foi vista entrando no castelo à noite”, ou, “Os ossos da salamandra gigante na frente do museu se movendo à noite”.

— O primeiro deve ser Naden. — Eu disse. — Nem uma pista sobre o último, no entanto.

— Você quer dizer o espécime esquelético em frente ao museu real? Ele se move? — Aisha perguntou.

— Não me lembro de ter instalado aquele artifício… — murmurei.

Aisha e eu ficamos perplexos.

— É apenas um boato. — Juno explicou enquanto bebia seu chá. — Eles pensam que “a alma do dono dos ossos ainda reside neles e está fazendo-os mover”, aparentemente. Como um dragão caveira, sabe?

Um dragão caveira era um monstro feito de ossos de um dragão que havia morrido com remorsos persistentes. Os ossos começariam a se mover e espalhariam miasma pela área. Na verdade, se eles morreram com arrependimentos persistentes ou não, se os ossos fossem deixados parados por muitos anos, poderiam espontaneamente se transformar em um.

— Mas esses ossos são uma réplica, entende? — Eu disse. — Enviei o original para ser estudado.

— Oh, suponho que não há como a alma do original estar dentro dele, então. — Disse Aisha.

—  Eu não sei — Juno deu de ombros. — ,só estou dizendo que esse é o boato.

Hmmm… parecia apenas uma história de fantasmas. No outro mundo, havia histórias como “a estátua correndo de Ninomiya Kinjirou” ou “o retrato de Beethoven na sala de música que sorri no meio da noite.” Talvez as pessoas estivessem apenas falando sobre algo se movendo à noite porque pensaram que seria assustador se isso acontecesse.

Enquanto pensava nisso, percebi que Juno estava olhando para mim.

— … O que? — perguntei.

— Oh não. Eu só pensei que a coisa dos ossos pudesse ter algo a ver com você também.

— Não vá colocando toda a culpa em mim. Bem, tenho certeza de que poderia movê-lo com meus Poltergeists vivos, mas não o fiz.

— Não, mas uma boa porcentagem dos rumores estranhos até agora tem algo a ver com você ou com alguém do seu pessoal.

— Simplesmente não consigo ver nenhum sentido em fazer um exemplar esquelético se mover. Ninguém faria algo tão inútil como… Ah!

Havia uma pessoa. Aquele que está na linha tênue entre gênio e idiotice, que criou Mechadra sem ter como movê-la.

 

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Mais tarde, quando pedi a Ludwin que a levasse ao escritório  de assuntos governamentais para interrogatório, Genia respondeu sem qualquer sinal de culpa:

— Ohh, eu fico contente que alguém tenha notado.

Eu sabia que tinha que ser ela.

— A configuração em si é simples, entende. Coloquei um material emborrachado nos ombros e outras articulações. A amostra está em um local que recebe muita luz solar, de modo que o material se expande com o calor durante o dia, depois esfria e se contrai à noite. Isso faz com que os ângulos do braço e tal  mudem. Se você verificar de hora em hora, verá que está se movendo, embora só um pouco.

Se as pessoas ficassem olhando o tempo todo, a mudança era muito sutil para notar, mas o artifício era tal que, se alguém visse a amostra do esqueleto pela manhã e olhasse para ela novamente à noite, pensaria “Hã? É diferente de quando eu vi pela manhã, não é?”

Para que ela fez isso?

— A verdadeira identidade do fantasma estava na linha tênue entre genialidade e idiotice… — murmurei.

— Genia… Por que você faz essas coisas? — Ludwin apertou sua própria cabeça pensando sobre as travessuras bizarras de sua noiva.

— Hã, é, aguente firme, Ludwin.

 

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— Eu sabia que tinha que ser alguém ligado a você. — Disse Juno exasperadamente quando, mais tarde, contei a ela como as coisas haviam acontecido.

— Não posso negar isso, mas não posso aceitar a maneira que você diz isso como se fosse minha culpa.

— Mas você quem está empregando aquela esquisita, certo?

— Bem, sim, mas…

Enquanto eu ainda estava incapaz de dar desculpas, Juno gargalhou.

— Você disse que queria ouvir sobre o que está acontecendo na cidade do castelo, mas de onde estou, parece que as coisas mais interessantes estão acontecendo ao seu redor. Não parece que você jamais ficaria entediado.

— Bem, não, nunca fico entediado. — Admiti. — Só estou inundado de trabalho todos os dias.

— Isso é bom, não é? Me tornei uma aventureira porque odiaria viver uma vida chata, mas me parece que talvez você possa viver uma vida sem tédio, não importa o trabalho que escolha. É tudo uma questão de como você lida com isso.

— Oh, você está pronta para desistir da vida de aventura agora?

— Não seja tolo. Esta vida combina comigo. — Juno disse mostrando a língua.

Eu ri. Foi realmente divertido conversar com alguém que normalmente vivia um estilo de vida completamente diferente do meu.

— Oh! — ela disse. — Agora que estamos no assunto, acho que me lembro de outro boato que estava circulando!

— … O que é desta vez?

— Tem essas coisas correndo muito rápido pelos telhados da cidade. Houve silhuetas como de um macaco, um coelho e um cervo, ou lagarto, eu ouvi.

— …

Essas eram obviamente pessoas que eu conhecia. Sinceramente… Nunca faltou assunto.

O cuidado de Juna

 

—… Huh? — Juna engoliu seco.

Em uma fonte termal na cidade de Noblebeppu na República de Turgis, quando Juna e Souma estavam juntos no banho ao ar livre, Souma de repente começou a cair.

— Q-querido? — Juna segurou a cabeça dele em seus braços enquanto ela caía em direção a seus seios fartos.

Olhando para ele, estava vermelho como um polvo cozido. Os sintomas de alguém que ficou tonto com o calor.

— O-oh, não! Precisamos tirá-lo da água, agora! Juna puxou Souma para fora da água e o arrastou até o vestiário.

Tendo servido como comandante dos fuzileiros navais, Juna podia carregar Souma sozinha.

Quando o fez, suas partes íntimas ficaram claramente visíveis, mas ela não tinha tempo para se preocupar com isso agora.

Juna o carregou até o vestiário, vestiu suas roupas e foi chamar alguém… E então ela percebeu que estava nua também. Embora  tivesse que se apressar como uma mulher solteira, ela não podia deixar nenhum homem além de seu noivo Souma ver sua carne nua.

— Sinto muito, senhor, por favor, aguarde um momento. — Com isso dito, Juna rapidamente se vestiu e correu para conseguir alguém.

Seus companheiros estavam todos bêbados ou estavam fora, então Juna conseguiu ajuda da equipe da pousada para carregar Souma para o quarto onde eles estavam hospedados. A equipe da pousada concordou com sua suposição, dizendo “O calor provavelmente o atingiu.”. Então ela decidiu deixá-lo deitar e se refrescar por enquanto.

Agradecendo a equipe quando eles saíram, Juna deixou Souma descansar a cabeça em seu colo com um pano frio em sua testa enquanto ela abanava seu rosto.

Enquanto olhava para o rosto inconsciente de Souma, Juna abaixou os olhos se desculpando.

— É porque… Demorei muito para encontrar minha resolução, talvez?

A verdade era que Juna estava pronta para entrar no banho assim que Souma entrou.

No entanto, quando chegou a hora de fazê-lo, ela de repente ficou envergonhada.

— Foi… Foi embaraçoso para mim também… — Ela murmurou.

Juna corajosamente agiu como seus sentimentos mandaram. “Eu não me importo de ser vista nua se for por você”. Mas ela era uma jovem donzela e vê-lo nu e se deixar ser vista nua deixou seu coração disparado o tempo todo.

Por ter hesitado, o tempo de Souma no banho durou mais que o dela, deixando-o tonto com o calor.

A verdade é… Eu não tenho muita compostura a mais por ser a mais velha, senhor. Juna pensou enquanto olhava para Souma com os olhos fechados.
Souma e suas outras noivas tendiam a olhar para Juna como uma irmã mais velha, mas, de certa forma, ela estava tentando agir de forma mais madura do que era. Quando sentiu que essa era a visão ideal dela que as pessoas tinham, ela não pôde deixar de tentar ser isso.

Ultimamente, Souma começou a entender esse aspecto dela, então começou a falar com ela como se tivessem a mesma idade em toda oportunidade que estavam sozinhos,  como tinham sido agora, mas…

O fato é que, Aisha e Naden deveriam ser mais velhas do que eu.

Embora esses dois membros das raças longevas fossem teimosas sobre não revelar suas verdadeiras idades, elas provavelmente viveram muito mais que Juna e o resto. Ela estava um pouco insatisfeita porque, apesar disso, elas a tratavam como se ela fosse mais velha. Sim, isso tinha a ver com a alta idade mental de Juna, mas…

Juna removeu o pano da testa de Souma e deu um tapinha nele.

— Oh, mas ser capaz de ouvir as reclamações de Sua Majestade pode ser uma vantagem dessa posição.

Juna lembrou o que Souma havia dito no banho.

Ele disse que aprendeu muito sobre Kuu e os outros antes de aprender sobre a república. Se chegasse um momento em que precisasse se tornar hostil à república, ficava preocupado em não ser capaz de dar a ordem para lutar. Mesmo enquanto todos os outros estavam soltos na festa, Souma estava pensando em seus deveres como rei.

Preocupar-se sem deixar ninguém saber.

Naquela época, também… Você estava se preocupando com as coisas.

Ela se lembrou daquela noite em que a guerra com os nobres corruptos e o principado da Amidonia se aproximava. Juna tinha, a pedido de Liscia, cantado uma canção de ninar para um Souma insone.

Você não mudou desde então. Eu gosto disso.

Deve ter havido muitas vezes desde então que ele foi forçado a tomar uma decisão como rei. A razão pela qual Souma agora não sabia o que fazer era porque, mesmo depois dessas decisões, ele não havia perdido sua bondade natural.

Ele era rei, mas incapaz de se tornar um rei completo. Isso era quem Souma era.

Isso pode ser uma fraqueza, e foi apenas na frente de Juna que Souma pôde expor bem essa fraqueza. Na frente de suas outras noivas, ele sempre acabava tentando ser durão.

— Acho que você faria um ótimo trabalho em satisfazer um menino que está tentando se impor. — dissera Liscia na época.

Quando Souma estava na frente de Juna, ele estava disposto a mostrar um lado comparativamente mais fraco de si mesmo. Isso fez com que uma doce sensação de superioridade sobre as outras noivas se espalhasse por seu peito. Sentindo isso, ela pensou: Desculpe, pessoal.

— Está tudo bem, senhor. — Ela murmurou. — Vou esconder suas fraquezas.

Juna falou as mesmas palavras que havia falado naquela vez, com uma consciência de seus próprios sentimentos que não mudaram desde então… Não, que ficaram ainda mais fortes desde então. E então…

— … Juna? — Parecia que Souma havia acordado.

— Oh! Você estava acordado?

Juna explicou que ele havia desmaiado nas fontes termais e o carregou até aqui com a ajuda do pessoal da pousada.

Quando ele descobriu que ela havia dado uma boa olhada em várias partes dele enquanto estava inconsciente, Souma deu um sorriso forçado e constrangido. Eles estavam desfrutando de um momento tranquilo juntos depois disso, quando…

— A propósito, Aisha e os outros voltaram? — Souma perguntou de repente.

Internamente, Juna estava um pouco irritada. Nossa… Finalmente temos algum tempo sozinhos juntos, e ele está pensando em outras pessoas.

Ela queria preencher os pensamentos de Souma com nada além dela. Para que…

— Para que possamos fazer coisas assim. — Juna pressionou seus lábios nos de Souma

Seus olhos surpresos só viram Juna. Satisfeita, Juna soltou uma risadinha travessa. Seu sorriso tinha poder suficiente para encantar qualquer um que o visse.

— Devemos manter o fato de tomarmos banho juntos nosso segredinho por um tempo? — Juna perguntou encantadoramente e Souma não conseguia mais desviar o olhar dela.

 

Guardiões do Deus da comida

 

A sala de espera da mansão do governador da nova cidade de Venetinvoa no Reino de Friedonia estava hoje, como todos os dias, repleta de mulheres ambiciosas, confiantes em sua beleza, com o objetivo de se tornarem as esposas do ministro da agricultura e florestas, Poncho Ishizuka Panacotta.

— Vou assumir a posição de esposa chefe, com meu lindo rosto.

— Hmph! Serei eu quem conquistará o coração de Sir Poncho.

Cada mulher que esperava acreditava ser aquela que se casaria com a riqueza.

E, no entanto, entre elas, uma mulher tinha uma expressão severa no rosto.

Ela tinha cerca de vinte anos de idade, não menos bonita que as outras mulheres arrogantes, mas tinha um olhar desesperado e quase trágico em seu rosto enquanto olhava para as mulheres ao seu redor.

Esta batalha… Não será tão fácil de vencer.

Olhando para as mulheres entusiasmadas ao seu redor que estavam aqui para discutir um casamento em potencial, a mulher juntou as mãos e entrelaçou os dedos.

Ela também havia inicialmente acreditado que poderia facilmente seduzir um homem como Poncho com seu lindo rosto. No entanto, o que a separava das outras mulheres era que ela havia feito um trabalho minucioso de coleta de informações antes desta reunião, a fim de garantir que sua presa não escapasse dela. Assim, ao coletar informações, aprendeu rapidamente como esse encontro seria difícil.

É revelador que, apesar do número de reuniões que ele teve, ninguém conseguiu garantir um noivado com Poncho.

Embora muitas mulheres acreditassem que Poncho seria facilmente seduzido, ninguém ainda havia conseguido essa tarefa. Ela tentou perguntar as que falharam sobre suas histórias, mas como se houvesse algo escandaloso em suas histórias, nenhuma das mulheres disse uma palavra sobre isso.

No entanto, havia apenas uma coisa que ela havia aprendido em tudo isso. Uma empregada que trabalhava na casa de uma dessas mulheres ouviu sua patroa murmurar algo:

— Poncho tem um guardião aterrorizante.

Um guardião. Lembrando-se dessa palavra, a mulher sentiu seu corpo ficar tenso. Não havia nenhuma dúvida sobre isso. Aquele que rejeitava as possíveis candidatas a casamento de Sir Poncho era esse guardião, ou o quem quer que fosse.

Mas se eu souber de antemão que existe tal pessoa, posso tomar contra-medidas.

Ela estava apostando neste encontro.

Vou casar bem e mudar meu destino!

Não que ela tivesse pura afeição por Poncho. Ela simplesmente tinha uma ambição maior que a das outras mulheres ao seu redor.

— Você está tentando se tornar a esposa de Sir Poncho? — uma voz perguntou de repente.

— Hã?

Quando se virou para olhar para a pessoa que de repente falou com ela, havia uma linda garota com o cabelo trançado. Sua pele era levemente bronzeada e seu vestido de cores vivas ficava bem nela. Essa garota estava aqui para discutir um casamento em potencial também?

—… Sim. Isso é errado? — A mulher ambiciosa disse cautelosamente, mas a garota com tranças balançou a cabeça.

— Oh, não. Eu só tinha a sensação de que você era diferente das outras mulheres. Achei que você poderia amar Sir Poncho.

— O mundo da nobreza não é tão simples que você possa se casar por mero amor. — disse a mulher ambiciosa, desviando os olhos da aparentemente inocente garota de tranças. — Tanto meus pais quanto meu irmão mais velho são nobres medíocres, mas de boa índole. Não há esperança de que eles aumentem seus domínios, e só posso ver um futuro em que eles eventualmente acabem em dívida com alguém, então me casarei com uma casa que pode arcar com essa dívida. Eu não quero isso.

— …

— É por isso que quero me casar com Sir Poncho, que é tão promissor, e construir um futuro para mim! — Ela não sabia por que estava sendo honesta sobre tudo isso, mas os olhos puros da garota a faziam querer ser sincera.

A garota de tranças olhou para ela com uma expressão gentil.

— Entendo. Acho que é uma sensação maravilhosa.

Um momento depois, a mulher ambiciosa foi chamada por uma das criadas da casa Panacotta.

Finalmente, era a vez dela para uma reunião!

Enquanto caminhava pelo corredor, conduzida pela criada, ela passou por uma das mulheres que se vangloriava confiantemente na sala de espera. Para onde foi essa confiança agora? Seu rosto estava contorcido e ela estava correndo com pressa.

Aww, ela deve ter sido derrubada por aquele guardião, pensou a mulher ambiciosa. Preciso me preparar para isso…

Por fim, quando ela foi levada ao escritório de Poncho, encontrou o suposto guardião. De pé, atrás de Poncho, com um sorriso tranquilo, estava uma criada incrivelmente bela.

— Hã?

A intensa onda de intimidação desencadeada por aquela bela criada fez com que suas pernas parecessem que poderiam congelar de medo.

M-mas… eu não vou desistir! Ela conseguiu suportar aquele olhar de algum modo.

E então, ela ouviu uma voz gentil atrás dela.

— Perdoe-me.

Alguém entrou no meio de sua reunião?

Quando ela olhou para trás surpresa, lá estava a garota que estava na sala de espera antes. A garota aproximou-se de Poncho e postou-se atrás dele, oposta à bela criada.

Nesse momento, a ambiciosa mulher percebeu o que havia acontecido e seus joelhos fraquejaram.

— Oh! Você está bem? — Poncho perguntou preocupado. — Sim?

Ela não conseguia nem levantar o rosto para responder à pergunta dele.

Eu estava sendo observada… Todo esse tempo… Desde o momento que entrei na sala de espera…

Não havia dúvidas de que a garota de tranças estava ligada a Poncho. A missão da garota deve ter sido sondar as intenções das que estavam na sala de espera. Por ter reunido informações e aprendido sobre o guardião ao lado de Poncho, a mulher ambiciosa tornou-se complacente.

Não… não me diga que haviam dois protetores…

Enquanto ela se ajoelhava, esmagada, duas pernas ágeis entraram em seu campo de visão.

Quando ela olhou para cima, a bela criada de antes estava lá.

— Eu ouvi a situação de Komain, sua coragem e habilidades de coleta de informação são excepcionais. Que tal? Você trabalhará como uma criada no castelo? — Com essas palavras, Serina estendeu a mão para a mulher que estava atordoada em silêncio.

— Muitos nobres de alto escalão vêm e vão do castelo. Você pode encontrar alguém que seja bom para você, sabia?

A mulher ambiciosa percebeu uma oportunidade e não hesitou em pegar a mão de Serina.

— Ah! Eu farei isso!

Como resultado de Serina recrutar pessoas que pareciam ser úteis dessa maneira, Poncho ainda não havia encontrado uma noiva, mas a força doméstica do castelo estava ganhando pessoal e se expandindo.

Além disso, embora seja uma uma fuga do tema principal, esta mulher ambiciosa iria, no futuro, conhecer o filho de um grande nobre enquanto trabalhava no palácio, se aposentaria depois de casar com ele, mas…  Isso é uma história para outra hora.

 


 

Tradução: Pucci

Revisão: Pride

 

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