No final do 8º mês, ano de 1,547, Calendário Continental
Aconteceu na Capital Real Parnam, em um dia em que o calor do verão ainda estava longe de desaparecer, no grande salão no Castelo de Parnam, onde os burocratas que lidavam com as finanças trabalhavam (também chamado de sala de finanças).
Em um canto daquela sala havia um conjunto de sofás em uma área de recepção, e estes estavam atualmente ocupados por Roroa Amidônia, a ex-princesa da Amidônia, que agora era uma candidata a se tornar a terceira rainha primária de Souma, e o Ministro das Finanças Gatsby Colbert, ambos com olhares severos em seus rostos.
Havia uma série de documentos na mesa entre eles. Estes documentos eram a fonte de suas dores de cabeça.
— O que faremos, princesa? — Colbert perguntou.
— Não há nada que possamos fazer. — Roroa disse, inclinando-se para trás no sofá e olhando para o teto.
Estranhamente para a sempre alegre Roroa, ela parecia deprimida.
— Certo, eu disse, “Se algum de vocês tem alguma ideia de festival interessante para compartilhar, apenas deixe-nos saber”, também falei aos burocratas para virem com ideias de eventos que pudessem fazer o dinheiro andar. Mas mesmo assim… Essa aqui não é muito ruim?
Roroa olhou para as palavras no documento que ela havia pegado com uma cara de quem havia mordido algo desagradável.
Colbert se sentia exatamente do mesmo jeito.
— Você está certa. Se feito de modo errado, poderia causar um problema maior que abalaria as fundações deste país.
— Eu sei, certo? Sinceramente! Os festivais são feitos para colocar a economia em movimento, por isso quero ideias mais divertidas.
Enquanto Roroa encolhia os ombros e suspirava, Colbert simpatizou com ela. Ele era seu colega desde que ambos estavam no Principado da Amidônia, e também era um especialista em questões econômicas, então sabia exatamente como ela se sentia.
— Então… Nós ignoramos esta proposta? — Ele perguntou.
As palavras atenciosas de Colbert fizeram Roroa hesitar por um momento, mas eventualmente ela se conformou e balançou a cabeça em silêncio.
— Não posso fazer isso, infelizmente. Há um grande número de assinaturas, não? Eu teria receio de ignorá-la.
— … Isso é verdade.
— Além disso, se eu ou você dermos a palavra final sobre fazer um evento ou não, isso pode acabar levando a problemas desnecessários. Nossas posições sendo o que são. — Roroa acrescentou de forma auto-zombeteira.
Incapaz vê-la assim por mais tempo, Colbert animou-se e disse:
— Eu acho que é melhor consultar Sua Majestade neste caso.
— Vamos envolver meu bem neste problema? Eu não quero.
— Bem, se vamos realizar este projeto, vamos precisar da permissão de Sua Majestade, de qualquer forma. É apenas uma questão do quão cedo isso irá ocorrer.
— Bem, sim, você está certo, mas… Sendo eu a pessoa a perguntar isso, e fazê-lo se sentir assim… Ele não vai acabar pensando que sou uma mulher problemática?
As preocupações de Roroa, em algum momento, mudaram para as de uma adolescente.
Mesmo com o seu sentido financeiro único, e ainda que pudesse tomar decisões que estabeleciam o destino do principado, Roroa ainda era uma garota de dezessete anos de idade. Era apenas natural que se preocupasse em como o homem que ela gostava a enxergasse.
Para Colbert, que via Roroa como uma irmãzinha, a atitude dela trouxe um sorriso ao seu rosto.
— Pelo que conheço de Sua Majestade, ele não a tratará mal por algo tão pequeno, princesa.
— Você acha?
— Se você quiser, posso falar com ele eu mesmo.
— … Nngh, acho que sou eu quem precisa fazer isso.
Roroa tomou sua decisão, se levantou, decidiu-se e foi ver Souma.
Enquanto a assistia partir, Colbert torcia por ela em seu coração.
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— “Festival Memorial de Gaius”? — repeti.
Roroa estava em silêncio.
Eu estava cuidando da papelada no escritório de assuntos governamentais novamente, como de costume, quando Roroa chegou e me apresentou um documento que tinha algumas páginas.
Enquanto pensava que a geralmente energética Roroa parecia terrivelmente reservada hoje, meu olhar caiu para os papéis, e… Havia o título “Projeto de proposta do Festival Memorial de Gaius.”
Gaius… Huh.
Com Gaius… Quer dizer Gaius VIII, certo?
Gaius VIII, o pai de Roroa, e também o príncipe da Amidônia.
O principado de Amidônia havia perdido mais da metade do seu território em uma guerra com o rei, anterior a esta que travamos. A fim de vingar essa humilhação, Gaius começou a instigar problemas dentro do reino e buscar uma oportunidade de vingança. Então, quando eu estava tendo um desentendimento com o ex-general do exército, Georg Carmine, Gaius viu sua chance e liderou as forças do principado para invadir o reino.
As forças do principado passaram pelas montanhas Úrsula, nossa fronteira sudoeste com eles, e sitiaram a cidade central da região produtora de grãos do sul, Altomura. Gaius pretendia tomá-la enquanto Georg e eu estávamos lutando e anexar a região produtora de grãos ao seu país. Eu tinha certeza disso.
No entanto, esta era uma armadilha que Hakuya tinha criado usando uma falsa insurreição de Georg para atrair Gaius. A fim de erradicar os desordeiros de dentro do reino, primeiro precisávamos reduzir a influência de seus apoiadores na família principesca da Amidônia.
Depois de acabar com a falsa insurreição de Georg e colocar os três duques na linha, nós imediatamente declaramos guerra ao principado.
Então, fazendo parecer que eu faria uma invasão relâmpago a Van, a capital do principado, esperei por suas forças que recuaram para defender sua capital em uma planície perto dela.
Então, finalmente, as forças do reino e do principado entraram em confronto fora de Van.
Olhando para o resultado, as forças mais numerosas do reino haviam derrotado as forças do principado que estavam exaustas de sua retirada, mas com as forças de Gaius mostrando séria determinação na batalha.
Mesmo com as forças do principado em um estado de colapso total, Gaius e seus servos mais próximos executaram um ataque suicida para permitir que o Príncipe Herdeiro Julius escapasse, e se fecharam no acampamento principal do reino, comigo nele.
Por causa da minha situação extrema, me forcei a desempenhar o papel de “rei” tão minuciosamente naquela época que eu não tinha sentido nada, mas… Olhando para trás , isso me fez tremer.
No final, devido à ajuda de Carla e uma série de outros fatores, a lâmina da vingança de Gaius nunca havia chegado até mim.
Gaius tinha caído no campo de batalha e eu tinha sobrevivido sem mais incidentes, mas um passo em falso, e teria sido eu a morrer ali.
Gaius parecia o suficiente com um deus feroz do campo de batalha naquele momento para me fazer acreditar que ele realmente era um.
Realizar um Festival Memorial para esse Gaius… Huh.
Enquanto eu ainda parecia pensativo, Roroa abriu a boca, aparentemente tendo encontrado sua determinação.
— Reuniu um bom número de assinaturas na região da Amidônia. Terá passado um ano desde a batalha perto de Van em mais ou menos um mês, não é? Eles estão dizendo que gostariam de ter um memorial para todos os soldados do principado que morreram lá.
— Faz um ano desde aquela batalha… Então é o primeiro aniversário de suas mortes. — Eu disse lentamente.
Roroa estava em silêncio.
Isso significava que seria o primeiro aniversário da morte do pai dela.
Fui forçado a matar seu pai pelo bem do reino. Aconteceu no campo de batalha, e ela nunca gostou dele para começar, então Roroa muitas vezes me disse para não deixar isso me incomodar, mas… Mesmo assim, isso deixou um sentimento desagradável dentro de mim.
Eu já pensava em Roroa como família. Não importava o que acontecesse, tinha de proteger minha família.
Senti que tinha chegado até aqui com isso como minha crença central.
No entanto… Eu havia matado um membro da família de minha família. Este era um fato que nunca iria desaparecer.
Talvez ela tenha ficado preocupada com o meu silêncio, porque Roroa começou a falar com uma alegria forçada…
— Este realmente me pegou. Até mesmo eu não sei o que fazer. Executar um evento como esse tem o risco de incitar seus espíritos patriotas. Mas agora que pedimos propostas de eventos, temos de continuar. E também, há a minha posição como a antiga Princesa da Amidônia para pensar. Se eu ignorá-la, poderia causar ainda mais repercussão.
Roroa estava falando rápido, uma coisa saindo depois da outra. Sua eloquência deve ter sido uma representação de seu desconforto.
Ela provavelmente estava com medo de que sugerindo isso como a ex-princesa da Amidônia, causaria desconforto em seu relacionamento com Liscia e comigo. Seus olhos tremeram de desconforto.
Eu não poderia culpá-la. Ela estava presa entre sua família que estava do lado do Reino de Elfrieden e o povo do Principado da Amidônia que ainda a considerava sua princesa.
Não posso deixar Roroa se sentir assim para sempre…
Queria que ela voltasse a rir com seu jeito irritantemente alegre.
— Não vejo o porquê não. Vamos fazer este Festival Memorial de Gaius.
Arrumei a papelada, agi como se não fosse grande coisa e sorri para Roroa.
A expressão dela, que estava um pouco triste, mudou e seus olhos se arregalaram.
— Huh?! Você está falando sério?!
— O nome está bom do jeito que está. — continuei. — Mas não faça um memorial apenas para as pessoas do principado, e sim para todas as pessoas que morreram na guerra. Houve mais do que apenas algumas perdas no lado de Elfrieden quando as forças do principado invadiram, afinal. Faça um evento que honre todos os que morreram na guerra, por favor.
— Tudo bem, mas… Sério? Está realmente tudo bem? — Roroa ainda parecia preocupada. — Meu pai… Gaius VIII era um inimigo do reino, não era?
Me levantei da cadeira e fiquei em frente a Roroa. Coloquei uma mão em sua cabeça enquanto ela olhava para mim com incerteza, e baguncei seu cabelo de uma maneira um pouco rude.
— Whoa, querido, não com tanta força. — ela reclamou.
— Quando você está agindo de forma reservada, me desequilibra. Eu aposto que você esteve pensando, “Eu não quero que ele me odeie por causa da situação incômoda no principado.” ou algo assim, certo?
— Ah!
Parece que acertei em cheio. Roroa piscou repetidas vezes. Eu suspirei.
— Não há necessidade de se preocupar desse jeito. Liscia e os outros ficarão chateados, sabia?
— Bem, eu sou sua noiva, querido! É natural que me preocupe!
— Mas se as posições de vocês fossem invertidas, você ficaria chateada, também, não? — perguntei.
Roroa ficou muito quieta, então eu acariciei sua cabeça de novo, mais gentilmente dessa vez.
— Você não precisa se preocupar. Não era tão incomum no meu país adorar aqueles que vencemos na guerra como deuses quando estavam mortos.
— Não era? — ela perguntou preocupada.
— Sim. Porque os derrotados guardam rancores e arrependimentos quando morrem. A fim de evitar sermos amaldiçoados por tais coisas, acalmamos seus espíritos irados, consagrando-os como as divindades protetoras daquela terra.
Kunitsukami que foi derrotado por Amatsukami, Sugawara Michizane que foi expulso da capital, Taira Masakado que tinha sonhos para a região de Kanto e foi subjugado… Pode ter sido o amor do meu país por uma boa história, mas aqueles que tentaram o seu melhor e falharam foram adorados como deuses e divindades protetoras.
Claro, foi um movimento calculista também. Eles fizeram isso para confortar suas almas trágicas e evitar serem amaldiçoados por seus rancores.
Quando expliquei isso, Roroa piscou de surpresa.
— Estava pensando nisso quando tivemos problemas com o Ortodoxo Lunariano, mas querido, seu país tinha uma visão muito frouxa da religião. É muito secular, pode-se dizer…
— As crenças e os festivais não são assim por natureza? — perguntei.
— Acho que festivais memoriais são mais para os vivos do que para os mortos, para compensar a tristeza de perdermos alguém precioso para nós, ou para nos deixarmos aceitar e seguir em frente.
— … Sim. Talvez você tenha razão.
Roroa finalmente me mostrou um sorriso. Então, talvez tendo conseguido entrar em um novo estado de espírito, ela assumiu uma expressão que combinava seu charme habitual com a astúcia de um comerciante.
— Nesse caso, querido, já que você não se importa de aprovar o Festival Memorial, se vamos fazê-lo, que seja um grande evento. Era para isso que estávamos recolhendo propostas para começar. Eu gostaria que um monte de gente se reunisse e movimentasse a economia.
Roroa sorriu como se fosse uma criança me atormentando por algo.
Era muito típico dela iniciar uma negociação comercial assim que seu humor melhorasse. Isso me deixava um pouco irritado, mas… Era melhor do que vê-la desanimada.
— Um festival memorial que tem um evento vistoso, huh… — ouvindo isso, lembrei-me de um do outro mundo.
— Que tal fazermos “Tourou Nagashi”?
— Toronagashi? — Roroa inclinou a cabeça para o lado.
Irei manter em segredo que achei fofo quando ela fez isso.
— É uma maneira de se despedir dos mortos com fogo. No meu mundo, a beira dos mares e rios tinha uma associação com a morte. Como o rio Sanzu que separou este mundo do próximo… Por exemplo.
— Ohh. Também temos essa ideia neste mundo. Há um grande rio entre este mundo e o outro, e você precisa de um barqueiro para atravessá-lo.
Ohh, também é assim neste mundo, huh? Se me lembro bem, a água é como a morte e a beira d’água é a fronteira entre a vida e a morte.
Associações existiam no Oriente e no Ocidente no outro mundo. Parecia que era o mesmo aqui.
Surpreendentemente, isso poderia ser uma compreensão fundamental que todos os seres vivos tinham.
— O Tourou Nagashi envolve deixar barcos com ofertas à deriva no rio, que está associado à morte, para confortar os espíritos. — Eu disse. — É absolutamente como algo tirado de uma fantasia, vendo todas aquelas luzes à deriva no rio.
— Uau, parece bonito, mesmo apenas ouvindo você falar sobre isso!
Então Roroa agarrou a mão que eu tinha descansando em sua cabeça com as duas mãos.
— Vou usar essa ideia! Vamos fazer essa coisa de “Toh-Roh Nagashi” no Festival Memorial! Agora que está decidido, não posso perder tempo aqui! Vou pedir ao Sr. Colbert para analisar os números!
Com isso dito, Roroa levantou para sair do quarto… E parou na porta.
Então, virando-se, ela me deu um sorriso suave.
— … Obrigada, querido. — disse ela em uma voz melodiosa, depois saiu da sala com vigor.
Ao contrário de sua chegada, eu podia ouvir seus passos altos ecoando à distância.
— É assim que eu gosto de ver minha Roroa… — murmurei.
Seus passos ecoando pareciam uma representação de sua energia, e eu os amava.
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Tendo se decidido, Roroa agiu rápido.
Ela imediatamente montou um orçamento com Colbert, e começou a trabalhar no Festival Memorial.
Eu estava ocupado com meus deveres políticos nesse meio tempo, então, a única coisa que fiz para contribuir com o Festival Memorial foi convencer Hakuya de que estava tudo bem honrar Gaius, nosso antigo inimigo.
Por causa disso, deixei a maior parte dos preparativos para Roroa e seu povo.
… Agora que penso sobre isso, pode ter sido um erro.
No meio do 9º mês, ano de 1,547, Calendário Continental
Eu pisquei e olhei fixamente.
— O que é isso…?
Estávamos na margem de um grande rio perto de Van, a capital do antigo Principado da Amidônia.
Olhando para a frota naquele grande rio, eu sussurrei isso apesar de não querer.
Não foi exagero chamá-la de frota. Havia dezenas de pequenos barcos rápidos decorados com cores deslumbrantes, e eles brilhavam no rio à noite.
— O que? É o Toh-Roh Nagashi, não é? — Roroa perguntou com um olhar tranquilo em seu rosto.
— Os barcos com lanternas estão flutuando no rio, exatamente como você estava dizendo, querido.
— Não, não, estes são muito grandes…
Oops. Eu nunca disse nada sobre o tamanho, disse?
Só lhe disse para enviar barcos com lanternas rio abaixo. Eu quis dizer barcos de um tamanho que você pudesse levar em suas mãos, mas da maneira que eu expliquei, não poderia culpá-la por pensar que eu não me referia a barcos pequenos.
No entanto, com esse tamanho, já não era mais um Tourou Nagashi, estava mais perto de outro evento chamado Shourou Nagashi, ou a Procissão do Barco Espiritual.
Aquela da famosa canção de Masashi Sada que o meu avô gostava. O barco espiritual em Nagasaki é exibido em terra, mas ouvi dizer que há lugares onde ele é realmente colocado em um rio.
Sim… Ouvi histórias engraçadas de pessoas que ouviram a música Shourou Nagashi e pensaram que era sobre Tourou Nagashi, mas nunca pensei que veria o oposto.
— Além disso, você também investiu bastante trabalho nos designs de todos os barcos. — acrescentei.
Os barcos pequenos e rápidos no rio foram todos pintados em cores super chamativas. A maioria tinha algum tipo de símbolo.
Alguns eram como barcos vikings, enquanto outros foram projetados como Naden em sua forma Ryuu ou um Pegasus, e havia ainda outros em forma de melões, rabanetes, ou outras frutas e legumes.
Havia até mesmo barcos com bandas a bordo, e todos eles estavam tocando músicas alegres.
A procissão de luzes e música alegre me lembrou do desfile elétrico em um determinado parque de diversões temático do reino.
— Parece muito divertido, mas isso não parece um Festival Memorial.
— Do que você está falando? — Roroa perguntou com um olhar de exasperação. — É parcialmente sua culpa que acabou assim, não é, querido?
— Minha culpa?
— Isso mesmo. Quando você estava ocupando Van, você ensinou às pessoas daqui o quanto a liberdade de expressão pode ser divertida, não foi? Desde então, Van tem sido uma cidade das artes.
— Ouvi dizer que era melhor do que eles resistirem, por isso nunca pensei muito nisso…
— Por causa disso, muitos jovens artistas de todo o reino se reuniram aqui. Essa frota bizarra é um produto da paixão transbordante desses artistas.
— … É mesmo?
E pensar que minha intervenção resultaria nisso.
Não importa o que fizéssemos, sempre havia um resultado, bom ou ruim, mas esse resultado não era o fim. A influência do que havíamos feito continuava após o resultado. Isso continuaria enquanto houvesse pessoas para fazer as coisas. Quando pensei nisso, a cena bizarra à minha frente me comoveu.
— Se Gaius pudesse ver isso, ele ficaria furioso. — comentei.
— Meu velho, é, aposto que sim…
Lembrando o rosto severo de Gaius, Roroa e eu sorrimos ironicamente.
Ele me fez temer pela minha vida durante a nossa luta, mas agora só permanece em minhas memórias. O clima ficou um pouco sombrio, então decidi mudar de assunto.
— Então é por isso que você preparou essa coisa, também?
— Os outros são todos muito chamativos. — disse Roroa
— Você quer que o barco em que estamos deixe um impacto também, não é?
— Mesmo assim… Você precisava usar o Roroa Maru?
De fato. Estávamos atualmente no convés do navio de transporte Roroa Maru.
Se continuássemos usando o Little Susumu Mark V para navegar sobre a água o tempo todo, as ondas que ele criava causariam estragos nos pequenos barcos ao nosso redor.
Havia várias mesas com comidas deliciosas no convés, e também uma Jóia de Transmissão de Voz para transmitir meu discurso de abertura.
— Nyahaha, é quase certo. — Roroa disse com uma risada alegre.
— Se vamos fazer os soldados cuidarem da segurança do transporte, de qualquer forma, é melhor ter um navio grande.
Será uma boa demonstração para o navio de transporte anfíbio também.
Roroa estava rindo, mas Colbert, que estava encarregado das finanças, deveria estar surtando. Quanto mais espalhafatoso ela fazia o evento, mais preparativos precisava fazer para realizá-lo, afinal.
Ignorando, olhei ao redor da área.
Juna e Tomoe estavam ao lado do navio, se divertindo apontando para a frota e rindo.
— Esta cena parece algo tirado de uma fantasia. — murmurou Juna.
— É muito bonito, não é, Juna? — Tomoe concordou.
Paradas ali em uma noite em que o calor persistente do verão desaparecia, com o rio escuro e os lindos navios de fundo, este par que consistia em uma bela mulher e uma garotinha produziram uma imagem bem agradável.
Enquanto isso, nas mesas do convés…
— Munch, munch, munch.
— Nom, nom, nom.
Aisha e Naden estavam devorando a comida nas mesas.
Eram negócios, como de costume para Aisha, mas Naden era do tipo que não conseguia resistir a boa comida, também. Tecnicamente, elas deveriam ser minhas guarda-costas, mas… Ah, bem, elas dariam um jeito.
Com um sorriso irônico para os dois, Roroa disse:
— Seria legal se a irmãzona Cia pudesse ter vindo também.
— Eu considerei chamá-la, mas não podemos fazer ela se esforçar. — eu disse.
O bebê na barriga de Liscia parecia estar crescendo constantemente. No entanto, este era um período crucial, então eu não queria fazê-la viajar uma longa distância e causar estresse desnecessário.
— Além disso, em sua carta, Liscia insistiu: “Roroa é a estrela de hoje, então certifique-se de ser um acompanhante adequado para ela.” Por isso irei garantir de ficar ao seu lado o tempo todo hoje.
— Nyahaha, isso é a cara dela, tudo bem.
Roroa estava com um sorriso irônico misturado com um pouco de felicidade.
— Então… Meu rei, que tal começarmos este espetáculo?
— Você tem meu apoio, minha princesa Roroa. — respondi pegando na mão que ela me ofereceu.
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— Em breve fará um ano desde aquela batalha.
A voz de Souma ecoou através do rio escolhido para o evento. No palco montado a bordo do Roroa Maru, ele estava dando o discurso de abertura do Festival Memorial de Gaius exercendo seu papel como rei.
Roroa estava perto dele, ficando ao seu lado.
Tendo os dois ali em harmonia, eles representavam a solidariedade entre o Reino de Elfrieden e o Principado da Amidônia, que se uniram para se tornar um único estado.
Esta cena estava sendo transmitida por toda a Friedônia através da Joia de Transmissão de Voz. Souma continuou com suas declarações.
— Muito sangue foi derramado por ambos os países neste conflito, vidas foram perdidas. A paz que temos agora repousa sobre esses sacrifícios. Para garantir que não nos esqueçamos disso, decidimos realizar este Festival Memorial de Gaius para refletir sobre a dignidade do falecido Sir Gaius.
Souma pausou por um momento, estabilizando a respiração antes de continuar.
— Até hoje me lembro. Na fase final da batalha, quando ele me atacou corajosamente com seus servos mais próximos, Sir Gaius mostrou uma figura heróica, não afetada e sincera. Estas são palavras que foram feitas para descrever um personagem como ele. Embora tenha sido derrotado, ele foi uma verdadeira manifestação do espírito do povo da Amidônia. Deixe-me dizer isso definitivamente. Eu temi Gaius VIII!
O rio ruidoso ficou quieto. Todos pararam para ouvir o que Souma iria dizer.
— A maneira como ele avançou lutando, perseguindo sua vingança contra o Reino de Elfrieden, quase o fez parecer uma divindade feroz. Para alguém do Reino, ele era uma pessoa particularmente difícil de lidar. No entanto, não posso rejeitar essa tenacidade de sua franqueza. Porque não há dúvidas de que sua tenacidade foi para o bem de seu povo. Foi para fazer o Principado da Amidônia crescer. Para um guerreiro como Sir Gaius, tenho certeza de que este era o único caminho disponível para ele.
— Ohh, Príncipe Gaius! — Uma pessoa na multidão exclamou.
— Sua figura galante está gravada em meus olhos! — Outro gritou..
— Você manteve seu orgulho como um guerreiro! Pode haver felicidade maior?
As lamentações dos ex-oficiais do principado podiam ser ouvidas dos barcos.
As políticas de Gaius tinham priorizado o fortalecimento das forças armadas, e não havia escassez de fardos para o povo do principado, mas certamente ainda havia aqueles que respeitavam sua dignidade.
Cada pessoa tinha seus lados bons e ruins. Ele não estava mais entre nós, então por que não deixá-los fechar os olhos para suas falhas e discutir carinhosamente suas boas memórias? Não havia necessidade de continuar a chicoteá-lo quando ele já estava morto.
Sabendo que esta era a parte mais desafiadora, Souma levantou a voz.
— Então, deixem-me declarar aqui! Deixem o rancor há muito tempo mantido pela família principesca afundar profundamente, juntamente com Sir Gaius! Herdarei seu “amor por seu povo”! Irei proteger a Princesa Roroa por toda a minha vida, e proteger as vidas e propriedades do povo deste país, independentemente de eles virem da Região de Elfrieden ou da Região da Amidônia! Se eu me desviar desse caminho, e fazer qualquer coisa para fazer a Princesa Roroa ou seu povo chorar, Sir Gaius sem dúvidas voltará dos mortos e ficará em meu travesseiro me amaldiçoando até a morte! Para evitar isso, pretendo cumprir meus deveres como rei da melhor maneira possível!
Quando Souma declarou isso, altos aplausos podiam ser ouvidos dos barcos.
Parecia que ele tinha satisfeito os corações do povo da Amidônia.
O rei dos vitoriosos estava dando um discurso ao povo derrotado.
Se ele fosse arrogante, eles iriam contra-atacar, e se ele fosse muito fraco, eles o desprezariam.
Souma teve que ter cuidado com esse discurso de abertura, ele conseguiu fazer isso concentrando-se na dignidade de Gaius.
Enquanto se sentia aliviado internamente, ele encerrou sua declaração.
— Certo, aqui finalizo esse discurso de abertura! Não há reino ou principado agora! Deixem o rancor e a tristeza afundarem com Hades e os mortos! Esta noite, vamos lamentar as mortes e celebrar as alegrias de viver juntos! Agora, bebam, comam e cantem! Lembrando Gaius e todos aqueles que nos deixaram! Anuncio a abertura do Festival Memorial de Gaius! — Com as palavras de Souma, o maior grito de comemoração de hoje pôde ser ouvido.
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— Você não acha que está enaltecendo meu velho um pouco demais? — Roroa perguntou com um sorriso malicioso quando meu discurso de abertura terminou.
As pessoas já estavam se divertindo no rio.
Nos barcos reluzentes haviam pessoas bebendo, contando histórias, ouvindo os músicos tocarem e Juna e suas loreleis estavam cantando. Não existia Elfrieden ou Amidônia agora, e o objetivo inicial de lembrar os mortos foi esquecido. Mas estava tudo bem. Porque deveríamos estar comemorando. Os vivos precisavam celebrar a alegria da vida com tudo o que tinham agora.
— Om, nom, nom, nom!
— Whoa, whoa, Aisha, — Naden exclamou.
— Não é um pouco demais de uma vez só?
— Urgh… — Aisha bateu no peito como se estivesse engasgando com alguma coisa.
— Viu? Eu te falei. Tomoe, traga um pouco de água. — Naden disse enquanto cuidava de Aisha.
— C-Certo, Naden!
Isso pode ser eu comemorando um pouco demais. Eu encolhi os ombros exasperado, descansando minha mão na cabeça de Roroa.
— Pode ter havido algum exagero, mas não havia mentira no que eu disse. Sir Gaius agiu da maneira que ele achava que era melhor para este país.
Nossos caminhos podem não ter convergido, mas eu tinha certeza de que ele viveu sua vida do melhor jeito que pôde. E como um colega governante, havia momentos em que eu podia simpatizar com ele.
Então, pelo menos, eu protegeria Roroa e este país, seria a prova de que ele havia existido.
Eu passaria as coisas que eu tinha herdado dele para a próxima era.
Enquanto eu reafirmava minha vontade de fazer isso, Roroa sorriu para mim.
— Quando disse que me protegeria para sempre, também…?
— Claro que falei sério.
— Mweheheh. Eu realmente te amo, querido.
Roroa enrolou os braços em volta do meu pescoço e deu um pulo, plantando um beijo em meus lábios.
Ow! Ela ficou muito empolgada e nossos dentes bateram. Enrolei meus braços na cintura de Roroa, e ela foi suspensa no ar. Era uma posição estranha para um beijo.
Quando Roroa afastou o rosto do meu depois de um tempo, ela me deu seu melhor sorriso de hoje até então.
— Você prometeu, então eu não vou deixá-lo ir se você não cuidar bem de mim por toda a vida, querido.
Tradução: Nao
Revisão: Pride
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