Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 07 – Capítulo Extra 02 – A Estadia de Kuu no Reino

 

No meio do 7º mês, ano de 1,547, Calendário Continental

Os telhados das casas no bairro residencial de Parnam eram uniformemente laranjas.

Se você olhasse para baixo no Castelo de Parnam para ver o centro da cidade, as muralhas do castelo que a cercavam e a pequena montanha perto da cidade pareceriam um vasto mar laranja.

Havia uma figura misteriosa saltando em cima daqueles telhados.

A figura estava correndo enquanto saltava de telhado em telhado, mas então parou para limpar seu suor. Foi em um horário em que o sol estava alto no céu.

O verão havia começado para valer neste ponto, e o reino agora estava enfrentando um dia quente após o outro.

— Cara, está calor. — resmungou a figura. — Nunca é tão quente assim na República.

Era o convidado da República, Kuu Taisei.

Já haviam se passado dois meses desde que o rei Souma da Friedonia tinha formado uma aliança médica com o Chefe de Estado, Turgish Gouran, e a Imperatriz do Império Gran Chaos, Maria.

A fim de ver como Souma reinava e aprender com isso, Kuu veio residir na Friedonia com sua assistente Leporina e sua amiga de infância Taru.

Kuu estava ficando de favor na casa de Souma, mas já que ele não era um vassalo oficial, não tinha nenhum trabalho em particular para fazer, então ficava gastando seu tempo viajando pelo reino para aprender.

Kuu enviava um pedido para visitar e aprender sobre um lugar, e se Souma desse permissão, ficava relativamente livre para olhar ao redor nos limites do Reino. Ele foi a muitos lugares dessa forma, e tinha se registrado como um aventureiro junto com Leporina, fazendo uma pequena quantidade de dinheiro aceitando missões.

Kuu se agachou na borda do telhado, olhando para a cidade de Parnam.

Ainda assim… sei que ouvi do Mano, mas este país é ainda mais incrível do que o esperado.

Havia coisas que ele aprendeu vindo para este país e vivendo por aqui.

As coisas chamativas chamaram sua atenção primeiro. Inicialmente, eram os programas de transmissão da Jóia de Transmissão de Voz. A ideia de usá-las, cujo propósito anterior era apenas para proclamações oficiais, para proporcionar entretenimento para os cidadãos foi incrível.

O programa de canto onde diversas loreleis cantavam, ou aquele de notícias onde Chris Tachyon relatou os eventos e incidentes que aconteceram no país, a previsão do tempo administrada por uma das noivas de Souma, e mais… Eles eram todos novos para Kuu, e atraíram seu interesse.

De todos eles, o programa tokusatsu chamado Silvan, o Super-homem era o seu favorito.

Era uma coisa boa. Ver um herói lutar pelo bem e punir o mal o deixou animado.

Kuu estava tão interessado em Silvan que, quando ele os assistiu filmando o programa no castelo, ele até conseguiu o autógrafo de Ivan Juniro, o ator que interpretou o personagem principal.

Foi incrível que, em uma época como essa, o filho de um Chefe de Estado de uma nação estrangeira estaria implorando pelo autógrafo do ator de um outro país.

Quanto à próxima coisa chamativa que atraiu sua atenção, foram as funções religiosas.

Geralmente, as nações que colocavam muito fervor em suas funções religiosas tendiam a ser monoteístas, mas neste país multi-racial e multi-religioso eram surpreendentemente populares.

Aparentemente desde que Souma emitiu uma proclamação dizendo: “Qualquer religião que se registre no governo será reconhecida como uma religião de Estado”, este país ganhou uma variedade de religiões estatais, e elas tinham vindo para realizar grandes funções religiosas para atrair os crentes.

Além disso, ao transformar essas funções religiosas em eventos nacionais, era até possível que membros de outras religiões e seitas participassem.

O resultado foi que, com exceção dos crentes mais fervorosos, houve um aumento no número de cidadãos envolvidos com várias crenças, e uma relação cooperativa, onde diferentes religiões dariam espaço umas às outras para eventos, foi construída.

Isso porque, se era possível manter várias crenças, não havia necessidade de lutar para roubar os crentes uns dos outros.

Esse tipo de abordagem no estilo “buffet” à religião parecia algo que a adoração comparativamente tolerante da Mãe Dragão poderia permitir, mas o Ortodoxo Lunariano com seu foco na crença em um só deus odiaria.

No entanto, o chefe do Ortodoxo Lunariano dentro do reino, Bispo Souji Lester, disse:

— Múltiplas Religiões? Eh, certo, por que não?

E com essa declaração, eles foram gradualmente introduzidos no “buffet” de religiões.

Souji era tão ímpio como sempre, mas sua gestão frouxa tinha o apoio dos adeptos do Ortodoxo no reino. Para aqueles que viveram no reino por um bom tempo, mesmo que fosse o centro de sua religião, não ficavam felizes em receber ordens do Estado Papal Ortodoxo sobre todos os tipos de coisas.

Nesse ponto, Souji disse: “Se você manter as coisas em moderação, você pode fazer o que quiser”, e os deixou por conta própria, por isso foi mais fácil para os

crentes.

No reino agora havia diálogos religiosos abertos entre todas as crenças, e elas estavam em um estado requintado de harmonia. Se você fosse à cidade, um fim de semana haveria um festival Lunariano Ortodoxo, e no próximo fim de semana haveria um dia de celebração para os adoradores da Mãe Dragão, e então no próximo os adoradores dos deuses do mar teriam uma cerimônia abrindo os mares… Havia sempre alguma desculpa para um evento ser realizado.

E assim, as pessoas se reuniam onde haviam eventos, e o dinheiro e as coisas se reuniam onde haviam pessoas. A realização de eventos religiosos estava diretamente ligada ao aumento da atividade econômica.

Bem, é fácil olhar para as coisas chamativas, mas o que são realmente incríveis são as coisas que você não vê.

Kuu se levantou e começou a saltar sobre os telhados novamente.

Por baixo, ele podia ver as pessoas deste país a viverem as suas vidas. Ele atravessou uma rua comercial onde as esposas estavam fazendo compras, e depois uma rua de artesãos onde o som de martelos ecoava incessantemente.

Enquanto corria, Kuu teve um pensamento.

A coisa realmente inacreditável sobre este país é como é fácil viver aqui.

O reino ainda tinha esses telhados laranjas, o que lhe deu uma espécie de aparência retrô, mas abaixo disso, tornou-se incrivelmente habitável.

As grandes cidades tinham sistemas de água corrente e esgoto, a coleta de

lixo foi nacionalizada, levando a uma melhoria no saneamento. Apesar de ser uma cidade grande, o ar não era tão ruim, e a água usada para consumo diário não estava contaminada.

Havia uma rede de transporte, e muitas pessoas iam e vinham. O resultado foi uma rede de distribuição de produtos, seus preços estavam estabilizados e a ordem pública era boa porque os militares podiam ser rapidamente despachados em qualquer lugar.

Se uma pessoa vivesse aqui por alguns dias, viver em qualquer outro país começaria a parecer inconveniente.

O único país que poderia competir era o grande poder do oeste, o Império Gran Chaos. A República de Turgis não estava nem perto.

Pai, não podemos apenas ficar parados.

Eles formaram uma aliança médica igual entre os três países, mas a este ritmo, uma grande lacuna se formaria entre eles algum dia. A fim de evitar isso, Kuu iria aprender como Souma governava , e encontrar um caminho de

desenvolvimento para a república.

—  Para isso… Preciso dar uma boa olhada no país do meu Mano Souma!

Expressando sua determinação, Kuu soltou uma risada. Então uma voz fraca veio detrás dele.

—  J-Jovem Mestreee. Espere por miiim.

Quando Kuu parou e olhou para trás, uma garota com orelhas de coelho veio até ele, ofegante. Era a assistente de Kuu, Leporina.

—  Sheesh, você é lenta, Leporina. O que aconteceu com suas pernas saudáveis?

—  Hahh… Hahh… É-É porque você está correndo em cima desses telhados,

jovem mestre. Ao contrário dos macacos da neve como você, os coelhos brancos não estão acostumados a correr em lugares altos. Além disso, existem estradas adequadas, então vamos por elas.

— É mais rápido cortar caminho pelos telhados do que perder meu tempo arrastando meus pés no chão, não é? Estou indo convidar Taru para almoçar. Se não me apressar, a hora do almoço vai acabar.

Kuu estava com pressa porque iria se encontrar com Taru.

Ao contrário de Kuu, que era um parasita hospedado no Castelo de Parnam, Taru estava alugando uma casa perto da rua dos artesãos com uma oficina acoplada. Teria sido bom para ela viver no castelo, mas ela sentiu que seria um incômodo transitar do castelo para a cidade todos os dias. Kuu frequentemente aparecia na casa de Taru.

Ele estava prestes a começar a correr novamente… Então parou e perguntou a Leporina:

—  Então, onde mesmo está a Taru?

— Você estava correndo sem saber disso?! — Leporina olhou para Kuu incrédula.

— Não, eu sei onde é a casa dela. Mas ela foi treinar os ferreiros hoje, certo? Eu não sei onde é esse local de treinamento… Como é o nome dele mesmo?

—  É a Escola Vocacional de Ginger. — Leporina respondeu.

A Escola Vocacional de Ginger era liderada por Ginger Camus, o ex-mercador de escravos. Ele ensinou as crianças a ler, escrever e fazer aritmética por um lado, enquanto também era uma instituição acadêmica onde muitos campos de estudo e tecnologias que estavam em seus dias de alvorecer foram pesquisados.

De todos os campos de estudo e tecnologias pesquisados aqui, aqueles

considerados promissores para o futuro foram reconhecidos e, se um número de pesquisadores sobre um assunto pudesse ser garantido, uma nova escola

especializada independente seria criada. Por essa razão, a Escola Vocacional de Ginger foi chamada de “escola para escolas”.

O campo da medicina tinha acabado de se tornar independente, e a antiga

capital do Ducado de Carmine, Randel, era agora o lar de uma escola para médicos e enfermeiros, a Randel Medical School.

Agora que havia pessoal suficiente para ensinar conhecimentos médicos básicos, Brad e Hilde foram liberados de seus deveres de ensino. Eles abriram uma clínica médica na nova cidade de Venetinova, e assim não havia mais nenhuma razão para que eles fossem acorrentados à capital.

A razão pela qual a escola abriu em Randel foi que havia um campo de prática para a Força Nacional de Defesa Terrestre nas proximidades, o que significava um suprimento infinito de soldados com feridas frescas que dariam boas… cobaias de teste.

A propósito, embora Brad e Hilde tivessem retornado ao campo, como eles queriam, ainda eram ocasionalmente chamados para a Randel Medical School para realizar palestras. Embora tivessem deixado suas posições como professores, eles agora eram lendas vivas no mundo da medicina dentro do reino.

Parecia que Hilde continuava se recusando porque estava grávida, mas uma vez que deu à luz e se acostumou a criar seu filho, ela certamente receberia vários pedidos de palestras.

Vamos voltar ao assunto.

A Escola Vocacional de Ginger era o lugar onde Taru ensinava técnicas de ferreiro.

Leporina suspirou e correu na frente dele.

— Acho que não há como evitar isso. Siga-me, jovem mestre.

Boing! Boing! Leporina saltou pelos telhados laranjas. Parecia que, no final, eles estariam indo por cima dos telhados.

— Tudo bem! Desculpe pelo incômodo! — Kuu a seguiu com uma risada.

Com Leporina liderando o caminho, Kuu chegou a um lugar com terrenos

largos cercados por uma parede de tijolos com vários edifícios dentro. Esta era aparentemente a Escola Vocacional de Ginger.

Quando os dois chegaram ao portão, viram uma única empregada varrendo o chão com uma vassoura de bambu. Aquela empregada era uma bela garota cujas orelhas triangulares e cauda fofa eram típicas das raças de Homens-fera.

— Oh! Eu encontrei uma gracinha! — Kuu gritou animado.

— Oh… Isso de novo não. — os ombros de Leporina despencaram.

Kuu gostava de mulheres que tinham partes peludas de homem-fera. Se elas tivessem seios, era ainda melhor.

Foi por isso que ele perguntou a Tomoe: “Você quer ser minha noiva?” na primeira reunião deles, e então começou a tentar conquistá-la. No entanto, ele teria que manter a esperança para o futuro em relação ao departamento de busto.

Nesse ponto, a empregada Homem-fera em sua frente estava verificando todas as suas caixas.

— Oookyakya! Fico imaginando que tipo de Homem-fera ela é. Talvez eu vá cortejá-la agora.

— Ele diz isso, apesar de não ter olhos para ninguém além de Taru. — disse Leporina sob sua respiração.

— Huh? Você disse alguma coisa?

— Não, nada… Ou melhor, irei contar isso para Taru depois, sabia?

— Urgh… T-Tudo bem só olhar, não?

Kuu fez beicinho. Ele era tão fácil de entender.

Enquanto a dupla de mestre e criada estavam discutindo, a empregada que

estava limpando notou suas presenças. Ela cerrou os olhos como se estivesse desconfiada. Preparando a vassoura em frente ao peito, aproximou-se deles com determinação.

— Que negócios vocês têm a tratar em nossa escola?

— Huh?

Kuu e Leporina, que estavam no meio de uma discussão, olharam para ela com os rostos chocados quando ela os interrompeu.

A empregada deu aos dois uma leve reverência, nunca tirando os olhos deles.

— Meu nome é Sandria, uma empregada a serviço do Lorde Ginger, o diretor da Escola Vocacional de Ginger. Me perdoe por perguntar, mas… Que negócios, vocês têm a tratar nesta escola?

Havia um tom perigoso em sua voz. Como se ela estivesse desconfiada deles, ou com raiva. Kuu não se importou com a atmosfera que Sandria estava exalando, e casualmente deu seu nome.

— Hm? Eu sou Kuu. Esta é minha assistente Leporina.

— É-É um prazer conhecer você. — Ao contrário de Kuu, Leporina sentiu a atmosfera inquieta e deu uma saudação mais hesitante.

Sandria segurou sua vassoura de bambu com um aperto desajeitado e apontou a ponta para a testa de Kuu.

— O que você veio fazer aqui… É isso que estou perguntando.

As sobrancelhas de Sandria estavam franzidas. Essa postura hostil também irritou Kuu.

— O que é isso do nada? É assim que sua escola recebe os convidados?

— Acho que não podemos chamar aqueles que tentam entrar em nossa escola enquanto estão armados de convidados.

— Armados? … Oh, realmente…

Foi então que Kuu finalmente percebeu. Ele tinha um bastão sobre suas costas, e sua assistente e guarda-costas estava carregando um arco e flechas. Sandria deve ter ficado desconfiada de que eles eram bandidos, vindo aqui para atacar a escola.

Os institutos educacionais eram o lugar onde a sabedoria de um país era reunida, e era inteiramente imaginável que eles seriam alvo de bandidos ou agentes de outros países atrás de seus pesquisadores e resultados. Os dois tinham sido descuidados.

Quando Kuu percebeu isso, ele ofereceu o bastão que estava carregando para a empregada.

— Nos desculpe por vir tão de repente e surpreendê-la assim. Estamos aqui apenas para ver alguém.

— Não é o que parece, entretanto. — Sandria disse direcionando seus olhos para trás de Kuu.

Quando Kuu se virou, Leporina havia preparado uma flecha e apontado para Sandria.

— Espere, Leporina?! Por que você está fazendo algo tão ameaçador?!

— E-Eu pensei que meu jovem mestre estava em perigo, então…

Sim, ela imediatamente entrou em crise quando pensou que seu mestre estava em perigo. Esse era o modelo do que um servo deveria fazer, mas… Neste caso, só estava dificultando a conversa.

— Acalme-se! é apenas uma vassoura!

— Fique tranquilo. Esta vassoura de bambu tem algo dentro.

Com um flash, uma lâmina do tamanho de uma faca saltou da vassoura de bambu do lado que ela estava segurando. Sandria pressionou a borda afiada na garganta de Kuu.

— É uma espada camuflada?! Por que uma empregada está carregando algo tão perigoso?!

— Há muitos indivíduos a realizar pesquisas incomuns nesta escola.

— Por favor, não se mexa! — vendo a espada camuflada, Leporina puxou ainda mais a corda de seu arco. — Se mexer um músculo sequer… eu disparo.

 

 

 

— …Muito bem. — a empregada disse. — Eu vou, no mínimo, matar o seu mestre antes disso.

Havia duas mulheres bonitas em cada lado de Kuu se encarando. Se não fossem as armas, esta seria uma situação que qualquer homem teria ciúmes, mas nem mesmo Kuu poderia desfrutar desta situação.

— Vocês duas se acalmem! Ugh, alguém faça algo!

Talvez o grito de socorro de Kuu chegou a alguém, porque um jovem rapaz apareceu.

— Um… San? Que tipo de situação é essa?

Havia um jovem rapaz magro e frágil atrás de Sandria, suas bochechas

estavam se contorcendo enquanto ele olhava para a cena parecendo perplexo.

— Você não deve, mestre! — Sandria gritou, parecendo estar em pânico pela primeira vez.

Seu nome era Ginger Camus. Apesar de sua juventude, ele era o diretor da Escola Vocacional de Ginger.

Ginger havia acabado de chegar para convidar Sandria para almoçar com ele, mas entrou em pânico ao ver a situação perto do portão.

Sandria tinha uma vassoura com uma faca na ponta apontada para um menino que parecia um homem-fera macaco, enquanto uma garota que parecia ser uma homem-fera coelho mantinha seu arco puxado e apontado para Sandria. Ginger ficou surpreendido com a cena perigosa, mas…

— P-parem, por favor! — ele gritou.

No momento seguinte, seu corpo estava se movendo. Ginger se colocou entre Sandria e a arqueira para bloquear a linha de fogo, e mesmo aterrorizado, ele conseguiu abrir os braços e gritar com Kuu e Leporina:

— Esta é uma escola sancionada por Sua Majestade o Rei Souma! Por favor, pare com esta afronta violenta a ela!

— Como. Eu. Continuo. Dizendo. Isso é tudo um mal-entendido…

— Mestre?!

Interrompendo Kuu, Sandria jogou de lado sua espada de vassoura, abraçou Ginger, e se girou para mudar suas posições. Ela acabou expondo suas costas para Leporina, que ainda estava mirando com seu arco.

— Espere, San?! Isso é perigoso! — Ginger gritou.

— Eu vou proteger você, mesmo que isso custe minha vida, mestre.

Havia Ginger que estava preocupado com Sandria, e ela que estava arriscando sua própria vida para protegê-lo. Era uma cena que mostrava num instante como eram seus sentimentos um pelo outro.

Tendo-lhe sido mostrada essa cena, Kuu coçou a bochecha quando lhes disse:

— Uhhh… Desculpe interromper quando vocês estão todos animados, mas não estamos aqui para atacar o lugar. Ei, Leporina. Estou livre agora, então por quanto tempo você vai continuar segurando esse arco?

— Huh…? Ah! Sim, senhor!

Ela estava tão focada em sua tarefa que só agora percebeu que seu mestre havia sido libertado. O arco foi rapidamente abaixado e a flecha devolvida para sua aljava.

Com uma risada, Kuu virou-se para Ginger e Sandria, dizendo:

— Desculpe por fazer uma cena. Eu sou Kuu Taisei. Sou da República de Turgis, mas atualmente estou ficando de favor na casa do meu Mano Souma. Bem, pense em mim como o irmão mais novo dele. A orelhas de coelho aqui é minha servente, Leporina.

— P-prazer em conhecê-los. Oh, e peço desculpas pelo incômodo. — Leporina curvou sua cabeça.

Ginger conseguiu tirar Sandria dele de alguma forma, e ficou na frente de Kuu.

— Um conhecido de Sua Majestade, então. Eu sou Ginger Camus, o encarregado de administrar esta escola. Esta é minha secretária, Sandria.

— Eu sou Sandria. — Ela levantou um pouco a bainha de sua saia e fez uma reverência.

Sua descompostura de antes parecia uma mentira, e ela tinha um olhar em seu rosto como se nada tivesse acontecido. No entanto, deve ter se sentido envergonhada por dentro, porque suas bochechas estavam um pouco vermelhas.

Ainda assim, o único aqui que notaria isso era Ginger, que estava junto com ela há muito tempo.

Kuu sorriu e apertou a mão de Ginger.

— Prazer em conhecê-lo, Ginger. Você tem uma boa subordinada que cuida bem de seu mestre.

— Sim. Ela é uma parceira confiável.

— Acho que não posso roubá-la para mim, huh. A aparência dela é exatamente o meu tipo, no entanto.

— Huh?!

Esta conversa repentina de levá-la embora e como ela era o tipo de Kuu fez Ginger entrar em pânico.

Em comparação a ele, Sandria não parecia nem um pouco nervosa.

— Lamento informar que já dediquei meu corpo, meu coração e cada gota do meu sangue ao meu mestre.

— Whoa, San, O que você está dizendo?! — Ginger exclamou.

— Nem é preciso dizer que se meu mestre me ordenar a passar a noite com ele, estou preparada para aceitar e fazer isso.

— Não diga coisas que me façam parecer uma pessoa ruim! Eu nunca pediria nada disso!

Ginger estava em pânico. Isso pareceu agradar Sandria de alguma forma.

Olhando para Ginger sendo provocado por sua empregada, Kuu se viu simpatizando com ele.

— Eu não sei como dizer isso, mas… É difícil para você, também, huh?

Agora que Kuu pensou nisso, ele se sentiu como seu mano, Souma, que também era o rei deste país, havia momentos em que ele não conseguia enfrentar suas noivas. As mulheres sendo mais fortes do que os homens seria uma parte do caráter nacional deste país?

Ela é muito sádica, então eu não conseguiria perguntar se gostaria de ser minha esposa, como fiz com a pequena Tomoe… Espere, huh? É isso que ela quer?

Ela estava tentando evitar que Kuu se interessasse por ela sendo deliberadamente sádica com Ginger? Então Kuu não tentaria roubá-la dele?

Considerando a lealdade que ela demonstrou usando-se como escudo para proteger Ginger, isso não estava fora de questão.

Kuu pensou isso enquanto olhava para os dois, mas…

— Mestre… você vai me manter ao seu lado por toda a vida? — perguntou Sandria.

— Claro. Você é uma parceira importante para mim. Não posso dirigir esta escola sozinho, afinal. Então… Por favor, não saia do meu lado.

— Essas não são bem as palavras que eu queria ouvir, mas… é claro que vou ficar ao seu lado, servindo-o sempre. Mestre.

Uma correção, pensou Kuu. Parece que boa parte era apenas a personalidade de Sandria.

Ginger parecia meio cabeça-de-vento, então ele conseguiu se esquivar sem

reconhecer as intenções dela, mas se a empregada tivesse dito isso a Kuu, ele teria entendido, e ela o teria pego bem ali.

— Essa é uma empregada assustadora. — Kuu disse a Leporina em voz baixa.

Ela riu em resposta.

— Isso só mostra o quão importante Ginger é para ela. Você viu essa demonstração de devoção, jovem mestre? Se for pelo homem que ama, uma mulher pode se tornar tão calculista quanto precisar.

— É assim que funciona? Tenho um pouco de medo de garotas agora. — Kuu suspirou. — Graças a Deus minha criada é muito simples.

— Oh, eu não teria tanta certeza sobre isso… — disse com um sorriso travesso. — Você acha que qualquer garota simples poderia servir como sua guarda-costas? Pode não pensar nisso quando olha para mim, mas o Mestre Gouran me considera muito, sabe?

Leporina estufou o peito com orgulho. Embora ele estivesse sendo pressionado pelo peitoral que usava, quando ela fez essa pose, era claro que tinha mais do que Taru.

Por um instante, Kuu quase olhou, mas o tamanho do peito dela mexeu com ele da maneira errada, e ele se forçou a desviar o olhar.

—  Hmph… Bem, eu reconheço sua habilidade com o arco, pelo menos.

— Não é só o Mestre Gouran, sabe? Também sou amiga de infância de Taru, e nos damos muito bem. Quando a hora chegar, estou confiante que nós dois podemos nos dar bem.

— … Quando que hora chegar?

— A hora é a hora. — Leporina evitou a pergunta com seu habitual sorriso fraco.

Aquele sorriso fez as costas de Kuu tremerem.

Isso porque, enquanto ele sempre teve a impressão de que estava arrastando Leporina por aí, ela se tornou uma pessoa importante em algum momento. Se Leporina se cansasse dele, isso prejudicaria seu relacionamento com Taru, de quem também era próxima. E neste ponto, ela se tornou uma presença tão confiável para ele que ele nunca sonharia em substituí-la por outro servo.

Enquanto Kuu ainda estava confuso, Leporina começou a rir.

— Hee hee, estou só brincando. Você sempre me deixa irritada, então eu queria te provocar um pouco. Desculpe.

— M-Me provocar?

— Sim. Não precisa se preocupar com o que eu disse agora.

O-Oh, então é assim… é?

Kuu estava quase satisfeito, mas havia uma pequena parte dele que não podia aceitar.

Leporina disse a ele que estava apenas brincando, mas a posição dela não mudou. Kuu não sabia nada sobre as histórias da Terra, mas isso deve ter sido como Sun Wukong se sentiu na palma da mão de Buda.

E, na verdade, Kuu não sabia o que Leporina estava realmente pensando.

HmO jovem mestre parece não ter entendido o que eu quis dizer com “quando a hora chegar”. Enquanto o confuso Kuu olhava furtivamente para ela, Leporina sorriu ironicamente. “Hee hee, eu nunca faria nada que você não fosse gostar, Mestre Kuu. Eu sei muito bem como você e Taru se sentem. É por isso que quando a hora chegar, estou confiante de que posso me dar bem com Taru. Eu não vou ficar no caminho de vocês dois, então não me trate mal, também. Tudo bem, Mestre Kuu?”

Leporina deu a Kuu um sorriso perturbado.

Percebendo esse sorriso, Kuu pensou, Eek… Cara, eu não entendo garotas, afinal

Ele sentiu que podia entender um pouco os sentimentos de Souma.

— O que há de errado, mestre estúpido? — Taru perguntou a Kuu, que tinha um olhar estranho em seu rosto enquanto eles estavam comendo.

Quando Kuu explicou a Ginger e Sandria que ele tinha vindo para convidar Taru para almoçar, eles sugeriram que todos fossem juntos, e os cinco foram para a lanchonete dentro da Escola Vocacional de Ginger.

Kuu riu desajeitadamente e disse a Taru:

— Bem, você sabe… Muita coisa aconteceu… — E olhou para Leporina que estava ao lado dele.

Kuu, Taru e Ginger estavam sentados à mesa, enquanto Leporina e Sandria

estavam atuando como serventes. Acabou com eles em posições como se fosse uma reunião, mas Kuu e Ginger foram capazes de ter uma conversa estimulante sobre suas respectivas circunstâncias.

— Entendo. — disse Ginger. — Você é o filho do Chefe da República de Turgis. Mesmo que ela não soubesse, San… a nossa Sandria… foi muito rude com você.

Quando Ginger abaixou a cabeça, Kuu riu.

— Não se preocupe com isso. Em parte, a culpa é minha por aparecer sem hora marcada.

— O mestre estúpido estava apenas sendo estúpido. Não há necessidade de se curvar para ele, Senhor Ginge., — Taru disse com um olhar desolado em seu rosto.

Taru estava sendo impiedosa com Kuu como sempre, mas seu comportamento fez os olhos de Ginger se arregalarem.

— Você é uma artesã, não é, Taru? não está sendo um pouco casual demais com o filho do seu Chefe de Estado?

— Hm? O mestre estúpido é apenas o mestre estúpido. Isso é tudo.

— Ela é minha amiga de infância, sabe. — disse Kuu.

— Não precisamos fazer cerimônia. Quero dizer, ela gosta de mim o suficiente para me seguir para este país… Gwah!Kuu tentou colocar o braço em volta dos ombros de Taru, mas Taru deu uma cotovelada nele.

Ela desviou o olhar, e em um tom afiado e disse:

— O mestre estúpido não tem nada a ver com isso. Eu vim aqui a pedido do Rei Souma.

— Ouch… Sinceramente, você com certeza não consegue ser honesta consigo mesma.

— Você que é honesto demais com seus desejos.

Vendo a animada troca entre Kuu e Taru, Ginger entendeu mais ou menos o relacionamento deles e sorriu ironicamente.

— Ahaha… Acho que entendi.

Kuu mastigou um pouco de pão enquanto perguntou a Ginger:

— Então, Taru está se dando bem aqui?

— Sim, as pessoas em nosso departamento de técnicas de serralharia estão felizes em ter um artesão talentoso por aqui.

— As pessoas aqui são apaixonadas por seus estudos. Eles têm um longo caminho a percorrer, mas acho que eles vão dominá-lo eventualmente. — Taru disse com um olhar sério em seu rosto enquanto bebia seu chá.

Foi comovente para Kuu, que raramente via Taru elogiar alguém, ver aquele rosto.

— Vocês tem até mesmo um departamento de técnicas de serralharia…? — Ele disse admirado. — Que outras pesquisas vocês fazem aqui?

— De todos os tipos, na verdade, — Ginger respondeu. — Desde ciências até tecnologias variadas. Estudamos uma ampla série de tópicos, de coisas como agricultura que sabemos serem importantes, até coisas que à primeira vista não são tão relevantes assim. Por exemplo, temos até um recém-criado Departamento de Dungeonologia.

— Dungeonologia?

— Sim. O estudo de masmorras, que existem em todo o continente, e são um

lugar onde monstros existem fora do Domínio do Lorde Demônio. Nós gravamos e categorizamos a configuração delas e os monstros que residem dentro . Foi estabelecido com o patrocínio de Sua Majestade e nomeado por ele, que queria saber mais sobre monstros.

— Meu Mano Souma?

Se Souma estava envolvido, tinha que haver alguma intenção significativa por trás disso. Monstros, huh… Kuu desenvolveu um olhar pensativo em seu rosto, mas Ginger continuou sem perceber isso.

— Cooperamos com a guilda de aventureiros e pedimos aos aventureiros ativos que nos contem suas experiências para nossos estudos. Ocasionalmente, temos aventureiros novatos usando o ginásio aqui, e temos aventureiros veteranos vindo para treiná-los… Embora, por alguma razão, San se junte a eles no treinamento.

— Como alguém que lhe serve, Lorde Ginger, quero ter pelo menos o mínimo de conhecimento sobre autodefesa. — respondeu Sandria de maneira descarada, fazendo Ginger sorrir ironicamente.

— Então é por isso… — Kuu sentiu como se aquilo finalmente fizesse sentido.

Seus movimentos quando ela colocou aquela espada de vassoura em sua garganta foram algo que um aventureiro lhe ensinou.

Kuu cruzou os braços e se inclinou para trás em sua cadeira. Dungeonologia, huh? Até mesmo isso é alvo de pesquisa acadêmica neste país.

Bolsa de estudos. Para Souma, cuja política enfatizava particularmente a importância da pesquisa básica, a Escola Vocacional de Ginger era uma

representação clara disso. Eles estavam construindo uma pilha de pesquisas simples e possivelmente inúteis. No entanto, mesmo que essas pesquisas fossem vistas como inúteis, não era sem sentido. Essa pilha de pesquisa acabaria por se tornar uma força motriz para o desenvolvimento deste país.

Em suas interações com Souma, Kuu chegou ao ponto em que ele poderia pensar dessa maneira. É um país ainda mais incrível do que parece. Não podemos deixar que eles nos superem.

Então algo ocorreu a Kuu.

— Ei, Ginger. Esta escola, eu e Leporina podemos frequentá-la também?

— Mestre estúpido? — Taru perguntou.

— Jovem mestre? Do que você está falando de repente?

Taru e Leporina inclinaram a cabeça para o lado, mas Kuu apenas ignorou e fez seu pedido para Ginger.

— Por favor. Eu quero aprender todos os tipos de coisas neste país também. Tendo recebido um pedido tão sincero, Ginger coçou sua bochecha.

— Erm… Nós não rejeitamos ninguém que queira aprender, mas você vem de outro país, certo? Sinto muito, mas acho que você vai precisar da permissão de Sua Majestade.

Kuu levantou-se com um olhar de alegria em seu rosto.

— Entendi! Vou pedir autorização ao meu Mano agora mesmo!

— Huh?! Agora?!

— Aproveite enquanto você ainda tem chance, eles dizem! Vamos, Leporina, vamos andando!

— C-calma aí, espera, jovem mestre!

Kuu foi embora, e Leporina correu atrás dele. Os dois desapareceram como uma tempestade, e Ginger foi deixado perplexo.

— O que eu posso dizer? Ele é uma pessoa muito decidida, não é? — Ginger disse no final.

— É sempre assim. — Taru disse enquanto bebia calmamente o chá que Sandria havia servido para ela.

— Ah, Mestre Kuu… Você é realmente idiota.

No entanto, quando ela sussurrou aquelas palavras, ela estava sorrindo só um pouquinho.

Alguns dias depois

— Certo, Leporina, vamos estudar no Departamento de Dungeonologia hoje. Eu ouvi que podemos ver relíquias de Dungeons fornecidas pela Casa de

Maxwell.

— E-eu já entendi, então pare de me puxar. Geez.

Na Escola Vocacional de Ginger, estava Kuu, que vinha frequentando com entusiasmo desde que recebeu autorização de Souma, além de Leporina, que ele estava arrastando junto, mas que não parecia se importar com isso, e…

— Ah, mestre estúpido, você é tão idiota.

Lá estava Taru, observando os dois de longe, com os cantos da boca levemente voltados para cima.

O que eles estudariam neste país, e no que isso contribuiria na República de Turgis?

Isso, não saberíamos por enquanto.

 


 

Tradução: Black Lotus

Revisão: Pride

 

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