Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 07 – Cap. 06 – Um Trunfo Para as Negociações

 

Entregando a vigilância da masmorra aos militares da república, corremos de volta para a cidade de Noblebeppu, onde Roroa e Tomoe estavam esperando. Era lá que as conversas com o pai de Kuu, o chefe da República de Turgis, nos esperavam.

Ficou combinado que as conversas seriam realizadas em uma sala da pousada onde estávamos hospedados, com um número muito limitado de pessoas presentes. Esta foi a maneira encontrada levando em consideração o lado dos Turgis, pois uma reunião maior exigiria mais tempo porque passaria por um processo junto ao Conselho de Chefes. Conseguimos voltar para Noblebeppu no dia das negociações ao meio-dia. Tínhamos ficado na aldeia da montanha perto da masmorra por uma noite depois que os ogros foram exterminados, então partimos pouco antes do amanhecer, mas no final das contas demoramos muito para chegar.

Embora a situação tenha sido explicada para o outro lado, devemos tê-los deixado esperando por um bom tempo.

Quando desci da carruagem em frente à pousada, Roroa e Tomoe saíram da pousada para nos receber.

— Bem-vindo de volta, querido! — Roroa falou. — Você me deixou preocupada!

— Bem vindo de volta. — Tomoe disse. — Estou feliz que você esteja bem, irmão.

— Estou de volta, Roroa, Tomoe.

Quando fiz carinho na cabeça delas, elas murmuraram e sorriram. Ao vê-las assim, fiquei aliviado por ter conseguido voltar são e salvo.

Com a ajuda de Dece, Juno e o resto, pareceu que não houve muito perigo, mas ver aqueles ogros macabros que pareciam ter rastejado para fora do inferno, banqueteando-se com o que parecia ser carne humana, pode ter feito eu me sentir um pouco fraco do coração. Essa foi uma visão traumática, afinal.

— Ufa, estamos aqui. — Ao desembarcar da carruagem, Kuu girou os braços em círculos. — Já é meio-dia, então seu rei e meu velho já começaram as negociações?

Nós, pessoas do reino, olhamos para ele sem expressão, mas…

Oh, certo, todos perceberam rapidamente. Os únicos aqui que não sabiam eram Kuu e Leporina. Eu fiz um sorriso tenso e disse a Kuu.

— Não, ainda não. Afinal, um dos líderes acabou de chegar.

— Huh? O que é isso…

Quando Kuu estava prestes a perguntar, um grupo de cerca de cinco pessoas caminhou em nossa direção. O que os conduzia era um macaco da neve corpulento e de rosto severo.

Ele era uma montanha de músculos. Suas costeletas e barba se fundiam em algo como a juba de um leão branco.

Se Kuu era Sun Wukong, esse homem merecia ser chamado de Rei Macaco. Seu manto branco e capa branca com ombreiras o faziam parecer a pessoa de alta posição que ele era.

Com soldados seguindo atrás dele, o grande homem estava diante de nós.

— Hum? Ei, se não é meu velho. — Kuu disse para o macaco da neve.

— O que aconteceu com as conversas?

Sim, assim como eu presumi, esse grande macaco da neve era o velho de Kuu e também o chefe da República de Turgis.

O homem ignorou Kuu e ficou na minha frente.

— É um prazer conhecê-lo, Rei da Friedônia. Bem-vindo à República de Turgis. Eu sou o Chefe de Estado, Gouran Taisei.

Sir Gouran sorriu e estendeu a mão direita. Ele tinha um rosto severo, mas exibia um sorriso cortês.

Eu peguei em sua mão direita.

— É um prazer conhecê-lo também, Sir Gouran. Eu sou o Rei Souma Kazuya do Reino Unido de Elfrieden e Amidonia.

Juntamos nossas mãos esquerdas com nossas mãos direitas entrelaçadas para um aperto de mão com ambas.

Enquanto nos observava, Kuu ficou boquiaberto como se não entendesse o que estava acontecendo. Eventualmente, ele deve ter trabalhado em sua cabeça, porque seus olhos se arregalaram.

— Queeeeeee?! Kazuma é um rei?!

— Agora, Kuu, você está sendo rude com o Sr. Souma. — Seu pai o repreendeu.

— Não, a culpa é minha por não ter dito nada. — Eu disse. — Desculpe por não ter te contado, Kuu. Meu nome verdadeiro é Souma Kazuya. Pelo menos entrei em contato com seu Chefe de Estado sobre isso.

Uma vez que pedi desculpas por manter isso em segredo, Kuu soltou um suspiro.

— Pensando bem… o cara que eu esbarrei na oficina do Taru era o rei de um país vizinho…

— Eu poderia dizer o mesmo. — respondi. — Quem esperaria que o filho do Chefe de Estado deste país viesse cavalgando em um numoth enquanto eu estava conversando sobre negócios com Taru?

Falar sobre esta circunstância casualmente agradável só fazia restarrir ironicamente..

Gouran, que estava nos observando, deu uma gargalhada.

— Para ser justo, sou o mais confuso de todos. Quem esperaria que meu próprio filho estivesse trabalhando com um rei estrangeiro? Além do mais, parece que você nos ajudou a subjugar os monstros que saíram de uma masmorra. Agradeço-lhe cordialmente em nome do meu povo.

Gouran baixou a cabeça. Eu podia sentir que ele era parente de Kuu por aquela postura direta dele.

— Por favor, levante sua cabeça — Eu disse. — Os monstros das masmorras são uma ameaça para toda a humanidade. São como um desastre natural, então é próprio que eu ofereça ajuda, independentemente de acontecer no reino ou na república.

— Bem, estou grato por ouvir você dizer isso… Oh?

Sir Gouran notou Roroa, que estava ao meu lado, e piscou.

— Perdoe-me. Por acaso você seria a princesa Roroa da Amidônia?

— Sim, Lorde Gouran. Eu sou Roroa Amidônia. — Roroa levantou a bainha de seu casaco e fez uma reverência.

Por um momento, aquele gesto foi tão refinado que precisei questionar se era realmente Roroa. Ela reprimiu sua gíria comercial usual e respondeu educadamente porque ele era o representante de uma nação?

Para nós, que conhecíamos a Roroa de sempre, ela parecia um tanukizinho se fazendo de inocente, porém…

— Você sabe quem sou, Lorde Gouran? — Roroa adicionou.

— Não nos conhecemos diretamente, mas você me lembrou sua mãe.

— Minha mãe? — Roroa inclinou a cabeça para o lado.

Se bem me lembro, a mãe de Roroa faleceu quando ela era pequena, não foi? Me lembro disso porque, quando fizemos o funeral de Gaius, ele foi enterrado no túmulo da família principesca, onde sua esposa já havia sido enterrada.

Com uma risada calorosa, Gouran continuou.

— Quando eu era jovem, havia apenas escaramuças menores, mas cruzei lâminas com os militares de Amidônia em várias ocasiões. Nesse processo, reuni informações sobre o país. Você sabe, Sir Gaius foi um adversário temível. Nada poderia ter sido mais problemático.

— Eu… Eu entendo… — Roroa lutou para dar uma resposta adequada.

Houve um desentendimento entre ela e seu pai. Quando alguém ria e contava coisas sobre ele que podiam ser elogios ou insultos, ela não devia ter ideia de como responder.

Sir Gouran continuou apesar da reação de Roroa.

— Ouvi dizer que sua mãe era uma pessoa tão alegre que poderia rir do rosto severo de Sir Gaius. Também ouvi falar sobre como você se casou, e seu país com você, com o rei Souma. Você deve ter herdado a ousadia dela.

— O-obrigada… — Roroa respondeu, enquanto me lançava um olhar que gritava, Querido, ajude-me!

Parecia que ela estava incomodada por ele trazer à tona tópicos estranhos aos quais era difícil para ela responder, e aparentemente fazendo isso sem más intenções.

Ao contrário de Roroa, porém, fiquei impressionado com Gouran. Mesmo vivendo nesta terra fechada, ele não foi negligente em coletar informações sobre o mundo exterior.

Bem, tirando isso, Roroa estava quase chorando, então resolvi ajudá-la.

— Sir Gouran, devemos começar as negociações agora?

— Oh, desculpe, fui rude. — Sir Gouran disse e assumiu uma expressão extremamente séria. — Sei que as conversas estavam marcadas para hoje, mas entre subjugar os ogros e viajar, você deve estar cansado. Por favor, relaxem por hoje, e vamos realizar as negociações amanhã.

— …Bem, tudo bem. — respondi. — Eu ficaria grato se pudéssemos fazer dessa maneira.

Não queria apressar as negociações. Queria que tivéssemos nosso tempo. E era verdade que eu estava cansado. Então decidi aceitar a oferta atenciosa de Gouran.

Nós ficaríamos na pousada, e Sir Gouran e sua comitiva ficariam na vila onde Kuu estava hospedado perto daqui.

Então, amanhã, reservaríamos esta pousada inteira para fazer a reunião.

Agora, era aqui que tudo seria decidido.

Naquela noite, usei a joia que havia trazido em segredo para contatar Hakuya na capital Parnam. Quando expliquei a situação em Turgis…

— Honestamente… o que você estava pensando? — Ele perguntou exasperado. — Deveria ser impensável para o rei de uma nação sair matando ogros.

Essa foi a primeira coisa que saiu da boca de Hakuya.

— Bem, eu pensei que tinha que…

— Parece que uma repreensão de Lady Liscia é inevitável neste momento. — Ele continuou.

— Urkh… A Liscia também está? — perguntei hesitante, mas Hakuya balançou a cabeça.

— Não. Lady Liscia já foi descansar nos domínios de Lord Albert.

— Graças a Deus… não quero preocupá-la agora.

Ela estava carregando nosso filho em seu ventre. Eu não podia me dar ao luxo de preocupá-la indevidamente.

Mas realmente foi uma pena não poder ver o rosto de Liscia, nem ouvir sua voz. Eu queria agradecê-la diretamente por ter nosso filho. Isso me fez sentir como um pai morando longe da família por causa dos negócios.

Hakuya parecia exasperado.

— Se você sabe disso, quero que seja prudente. Você será pai em breve, Sua Majestade.

— Vou levar isso a sério…

Não havia mais nada que eu pudesse dizer em resposta. Tive que ser honesto comigo mesmo e refletir sobre isso. Dito isso, porém, se eu encontrasse uma situação semelhante no futuro, realmente não saberia se poderia ser prudente ou não.

— Então, como está indo o plano do seu lado? — perguntei.

— Já recebi anuência da outra parte. Os preparativos estão completos, mas… o que você pensa sobre Sir Gouran, Majestade?

— O que você quer dizer com isso, exatamente?

— Você acha que as conversas serão um sucesso ou não?

Pensei um pouco sobre isso. Lembrei-me do que tinha visto de Sir Gouran hoje.

— Ele parece abrasivo, mas também pude ver um lado mais sensível dele. Ele parece um guerreiro, mas isso não é tudo que existe para ele. Se o subestimarmos, ele se aproveitará disso. Ele não é o chefe de uma nação à toa.

— Majestade… para que as negociações ocorram sem problemas, você queria demonstrar o poder de nossa nação, correto?

— Para formar relações amigáveis, quero mostrar a eles os méritos de formar uma aliança conosco e os deméritos de nos tornar inimigos. Mas, pelo que parece, ele não vai se intimidar com nada. Essa é mais uma razão pela qual o truque que você criou será útil.

Eu sorri.

— Por favor, não vá às negociações amanhã com esse olhar em seu rosto. — Hakuya suspirou exasperado.

 

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Enquanto isso, nessa mesma hora, o Chefe da República Gouran e seu filho Kuu estavam na sala de estar de sua villa em Noblebeppu, conversando sobre Souma e seus companheiros enquanto bebiam.

— Quando você estava trabalhando com aquele rei, qual era a sua opinião sobre ele?— Gouran perguntou enquanto inclinava uma taça de leite fermentado.

— Ele é estranho. — Kuu riu. — Ele parece fraco, mas há algo nele que você simplesmente não consegue entender, acho que poderia colocar assim?

Gouran inclinou a cabeça para o lado com as palavras de seu filho.

— Então… quem é ele, afinal?

— Como eu disse, não sei. Ele provavelmente é um rei que governa pela caneta, não pela espada. Kazuma… não, Souma parece fraco, e ele realmente não é forte, mas tem uma boa coleção de subordinados ao seu redor. Aquela elfa negra especialmente. Ela está em uma classe própria. E mesmo que Souma pareça estar totalmente aberto, se você cometer o erro de tentar colocar a mão nele, seus subordinados deixarão pilhas de corpos espalhados.

— Hm… — Gouran ponderou. — Ele é um rei amado e protegido por seus vassalos, então?

— Oook … eu sinto que é mais do que apenas isso. Ele é inteligente, então não será imprudente, mas não é como se ele fosse completamente sem coragem. Não importa o quanto ele confiasse em seus subordinados, um cara fraco não decidiria me acompanhar em uma tarefa perigosa como subjugar aqueles ogros tão facilmente, certo? Se ele pode colocar sua própria vida na balança, isso é prova de que ele passou por sua própria parcela de provações.

— Dizem que ele derrotou um militar como Gaius VIII, afinal de contas. — Gouran assentiu.

Desencadeada pela ascensão de Souma ao trono, uma guerra eclodiu entre o Reino de Elfrieden e o Principado de Amidônia. Pelas histórias que ouviram, a guerra foi uma vitória esmagadora para o reino, mas Gaius mostrou seu orgulho como guerreiro até o fim.

Embora a guerra tivesse sido decidida e suas tropas tivessem se dividido e se espalhado, o príncipe herdeiro Julius havia escapado, enquanto o próprio Gaius havia ido com seus lacaios pessoais e atacado um grande exército, chegando a poucos passos de torcer o pescoço de Souma.

Mesmo na derrota, Gaius manteve seu orgulho de guerreiro.

Aqueles que perdem uma guerra sempre são difamados no final. Os vencedores espalham essas histórias para demonstrar a retidão de suas próprias ações.

No entanto, no caso de Gaius, porque sua filha Roroa ia se casar com Souma, e estava sendo feita uma tentativa de unificar os dois países, Souma nunca falou mal dele, e ele não tinha uma reputação imerecida.

Deixando de lado as opiniões das pessoas sobre sua atuação como príncipe soberano, a reputação de Gaius como guerreiro estava sendo defendida por uma filha que não se dava bem com ele e seu noivo que o havia combatido como inimigo. Se isso era um artifício da história ou uma ironia, cabia ao indivíduo decidir.

Aqui estava o que Gouran pensava.

Talvez ao enfrentar Gaius, Souma tenha ganhado uma coragem que não combinava com seu próprio corpo fraco.

Se assim for… Gaius deixou para trás uma lembrança incrível.

Quer Gouran desejasse ou não, os fios do destino continuaram a envolvê-lo. Enquanto sentia o fluxo do tempo, ele olhou para Kuu, que estava bebendo leite fermentado na frente dele.

Será que me envolver com Souma trará alguma mudança no meu filho idiota? Isso pode ter um grande significado para a república…

Gouran bebeu o resto de seu leite fermentado e tomou sua decisão.

 

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A noite caiu e era o dia da reunião.

Reservamos o grande salão da pousada onde estávamos hospedados, onde Gouran e eu sentamos um de frente para o outro. Era o lugar que havíamos usado para a festa antes, então não havia mesas ou cadeiras. Sentamos de pernas cruzadas em almofadas de cores vivas dispostas sobre o carpete.

Ao meu lado estavam Juna e Roroa, que não precisavam mais esconder suas posições, e Kuu estava sentado ao lado de Gouran.

Atrás de nós estavam Aisha e o resto dos membros do nosso grupo, com exceção de Tomoe, e atrás de Gouran e Kuu estava um grupo de soldados deste país liderados por Leporina.

Cada um desses grupos ficou atento e guardou seus respectivos líderes.

Curvei-me ligeiramente e olhei diretamente para o rosto de Sr Gouran.

— Primeiro, permita-me agradecer por organizar esta reunião.

— Não tem de quê. — Ele disse. — Não é sempre que se tem a chance de falar com o rei de um país vizinho. Gostaria muito de usar esta rara chance de falar abertamente sobre coisas que serão benéficas para nossos países.

Sr. Gouran devolveu minha leve reverência e me olhou diretamente nos olhos.

Nós dois éramos os líderes de nossos respectivos países, então nenhum de nóspoderia se curvar profundamente de uma forma que implicasse que um era superior ou inferior ao outro.

Gouran virou-se e olhou para o lado.

— Ainda assim… estou surpreso. E pensar que você traria uma coisa dessas para cá…

Ele estava olhando para uma Joia de Transmissão de Voz. O cristal maciço que também usei para me comunicar com Hakuya ontem ocupava um canto da sala.

Sir Gouran franziu a testa.

— Isso é uma Joia de Transmissão de Voz, correto? Isso está sendo transmitido em algum lugar?

— Não, isso é apenas para fins de comunicação. — respondi. — Não estou transmitindo isso para as pessoas.

— …Entendi.

— Você também tem joias neste país? — perguntei.

— Apenas uma. Gostaria de ter mais, mas eles são feitos de núcleos de masmorras. Infelizmente, limpamos apenas uma masmorra neste país.

— Entendi…

Com certeza era inconveniente que houvesse apenas um núcleo de masmorra.

O país tinha uma quantidade bastante grande de terra, então eu gostaria de ter um para transmissão e outro para comunicação, pelo menos.

Se tivéssemos algum de sobra, estaria disposto a vendê-los ou trocá-los, mas dos cinco núcleos de masmorra que tínhamos atualmente, um era usado para transmissões do castelo, um para comunicação com o Império e três para programas de transmissão. Infelizmente não tive como ajudar.

Bem, com essas gentilezas deixadas de lado, mergulhei no assunto em questão.

— Agora, Sir Gouran, tenho uma proposta para você…

— A ”aliança médica”… Eu acredito.

Antes que eu pudesse dizer isso, Sir Gouran cruzou os braços e gemeu.

— Tratamentos que não dependem de magia de luz… Realmente é fascinante. Médicos, é como se chamam? Para este país, onde é difícil até de andar ao ar livre no inverno, seria muito significativo poder estacionar permanentemente uma pessoa que pudesse realizar tratamentos em cada aldeia. Além disso, você diz que eles podem tratar doenças que a magia de luz não pode. Eu gostaria muito de ter isso.

Sir Gouran parecia impressionado. Pareceu que não estávamos começando mal.

Mas então a expressão de Gouran ficou severa.

— No entanto, há coisas que não entendo aqui. Por que você traria isso para nós? Estudar o assunto sozinho não permitiria que seu país se tornasse mais poderoso?

Olhos suspeitos. Ele estava tentando descobrir se eu tinha segundas intenções.

Quando me perguntou isso, por um momento, pensei em como a imperatriz do Império Gran Chaos poderia responder. Ela pode dizer: “A medicina não conhece fronteiras”.

Aquela pessoa, que não era uma santa autoproclamada, mas tinha sido proclamada santa por outros, era do tipo que pensava no que era melhor para o mundo inteiro, e então esse tipo de palavra lhe convinha.

Para mim, por outro lado, esse tipo de idealismo não se encaixava bem. Sempre pensei primeiro no benefício do meu próprio país. Não achei isso ruim, mas se alguém como eu dissesse: “A medicina não conhece fronteiras”, as palavras podem soar vazias.

Então eu olhei nos olhos de Sir Gouran enquanto respondia.

— Isso é… Para praticidade.

— Praticidade?

— Sim. É verdade, seria melhor estudá-lo apenas no meu país. No entanto, isso levaria muito tempo e dinheiro. A medicina não é um assunto que um país possa estudar completamente por conta própria. Se eu tentasse fazer tudo com um país, não teria tempo, pessoal ou financiamento suficientes.

O que eu precisava demonstrar era o benefício realista de dividir a pesquisa. Se  pudesse provar que seria benéfico tanto para o reino quanto para a república, poderia fazer as coisas andarem.

— É por isso que, como propus a Kuu, quero que a república produza equipamentos médicos e os exporte para nós. Despacharemos os médicos que podem usar esse equipamento. Se isso puder ser realizado, o campo da medicina deverá progredir muito em nossos países.

— Isso é verdade. Parece que ambos os países têm lucro. — Gouran deu um grande aceno de cabeça.

Isso… ia funcionar?

— Bem então…

— No entanto.

Parecia que as coisas estavam se encaixando, mas então Sir Gouran fixou um olhar severo em mim.

— Isso pode realmente ser chamado de uma troca igual?

— … O que você quer dizer?

— Ouvindo sua proposta de uma aliança médica, pensei bastante sobre isso de minha parte. Pode parecer avançado, mas, para simplificar, acho que é apenas um desenvolvimento na maneira como os médicos e médicas tratam seus pacientes.

— … Você está certo. — admiti.

Ele não estava enganado. Tínhamos conseguido cortar muito do processo por causa da existência da raça de três olhos que podia ver microorganismos, mas os médicos eram apenas um desenvolvimento adicional do curandeiro ou curandeiro que preparava infusões medicinais.

— Nesse caso, é algo que podemos entender também. — Sir Gouran disse.  — Basicamente, o reino treina ”curandeiros ou curandeiras incríveis”, e espera-se que nosso país crie as ”ferramentas incríveis” que eles usam, certo? Se isso fosse tudo com o que estávamos lidando, tenho certeza de que você poderia chamar de justo, mas há mais um elemento: as infusões medicinais que o curandeiro ou a curandeira usam.

— Infusões médicas… Você quer dizer drogas?

— Cada um de nós segura um cartão, o ”médico” e o ”equipamento médico”. No entanto, o cartão ”drogas” está flutuando no ar. Ainda não podemos pegar este cartão para nós. Se o reino aceitar essa carta, o equilíbrio de poder mudará amplamente a seu favor.

Drogas, huh.

Era verdade que, no reino, a raça dos três olhos havia desenvolvido o tríocido (um antibiótico), que foi extraído de uma subespécie de gelin capaz de viver até em pântanos venenosos.

Este país era muito frio e os géis líquidos congelavam, então eles não moravam aqui. Não seria possível para eles desenvolvê-lo por conta própria.

Naturalmente, eles seriam dependentes de importações. Se o reino tivesse o controle dessas importações, seria fácil que mais fundos fluíssem para o reino.

Para ser honesto, eu não tinha pensado sobre isso até que foi apontado.

Obviamente, eu havia considerado o elemento drogas, mas não esperava que a república suspeitasse disso.

Ainda assim, agora que pensei sobre isso, era natural que fossem. Eles estavam abordando essas conversas com muita determinação própria. Eles pensariam desesperadamente sobre o que poderia ser desvantajoso para seu país e tentariam apagá-lo.

Por estar pensando tanto em seu próprio país, Sir Gouran descobriu esse elemento das drogas.

Ele deve ser um bom governante… Bem, neste caso, seus medos são injustificados.

Eu mentalmente encolhi meus ombros. Não era como se eu estivesse evitando deliberadamente o tema das drogas para lucrar no futuro. Eu virei minhas palmas para Sir Gouran.

— Não há necessidade de se preocupar. Essa carta não está mais nas mãos do reino, sabe.

— Hm? O que você quer dizer?

— Juna. Traga aquela coisa para fora.

— Sim, Majestade.

Juna trouxe uma coisa em forma de tábua que cabia em seus braços e a colocou na frente da jóia para que todos pudessem vê-la.

Era um simples receptor de Joia de Transmissão de Voz. E projetada naquele simples receptor estava uma linda mulher solteira. Quando eles viram aquela mulher, os olhos de Sir Gouran e Kuu se arregalaram.

— Pa-pai! — Kuu chorou.

— Sim…

— Hee hee, sinto muito por ter surpreendido vocês.

A mulher na tela sorriu, então curvou-se levemente para Sir Gouran e os outros.

— É um prazer conhecê-lo, chefe da República de Turgis, Sir Gouran Taisei. Eu sou a Imperatriz Maria Euphoria, do Império Gran Chaos.

 


 

Tradução: Takeshi

Revisão: Pride

 

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