No extremo oeste do Império Gran Caos estava a capital, Valois. Era maior em escala do que a capital do Reino da Friedônia; no topo da colina ficava a residência da digna Imperatriz Maria, o Castelo de Valois.
Por ficar no cume de uma montanha, era difícil para um inimigo atacar, mas foi construído com muito foco no design para realmente ser considerado funcional. Dizia-se que era para demonstrar a outros países que eles eram os maiores e mais poderosos entre as nações da humanidade.
Em uma sala do Castelo de Valois, no escritório de Jeanne Euphoria, um homem e uma mulher estavam sentados frente a frente.
A que estava na mesa era Jeanne, a chefe da casa e um general que também era a irmã mais nova da imperatriz Maria. Diante dela estava o embaixador enviado da Friedônia para residir no Império, Piltory Sarraceno.
Jeanne falou:
— Oh, certo. Você deveria voltar hoje, não é?
— Sim — respondeu Piltory. — Pelo bem da minha esposa, vou tirar uma licença temporária.
Piltory foi enviado para ser o embaixador residente no Império, mas antes de partir, pegou as duas belas irmãs escravas, Anzu e Shiho, para serem suas esposas e as trouxe para o Império com ele. Ele as obteve com Ginger, que ainda era um comerciante de escravos na época.
Eventualmente, a irmã mais velha, Anzu, engravidou. Foi decidido que, em vez de dar à luz em um país estranho, seria melhor na casa da família de Piltory, a Casa dos Saracen.
A fim de devolver Anzu ao reino, Piltory retornaria por um tempo e voltaria ao império imediatamente assim que a deixasse aos cuidados de sua família.
Piltory disse:
— Na minha ausência, Shiho permanecerá aqui para servir como seu elo com o reino.
— Sinto muito — disse Jeanne. — Tenho certeza de que sua esposa prefere ir com você também.
— Não… Minha esposa entende a importância dos meus deveres.
Havia uma aliança secreta entre o reino e o Império. Os embaixadores permanentes que serviam como contatos eram indispensáveis para ambos os lados; era um segredo conhecido apenas por poucos.
Desde que o reino e o Império formaram seu pacto secreto, adotaram um sistema que lhes permitia usar a Transmissão de Voz da Jóia e receptores simples para realizar o equivalente a teleconferências a qualquer momento.
Quando se tratava de assuntos delicados, Souma e Maria conversavam pessoalmente, mas para os de menor importância (como a troca de informações), seus intermediários, Hakuya e Jeanne, conversariam. O papel de Piltory era, principalmente, agendar suas reuniões.
— Ah, certo — disse Jeanne. — Já que vai voltar para o seu país, gostaria de te pedir um favor…
— Um favor?
Jeanne abriu uma gaveta em sua mesa e tirou algo que se assemelhava a uma caixa de madeira bem trabalhada.
— Por favor, dê isso a Sir Hakuya, seu primeiro-ministro.
Com isso, Jeanne abriu a caixa. Dentro havia uma garrafa de vinho de aparência cara com um rótulo sofisticado, embalada com lascas de madeira que provavelmente deveriam absorver qualquer impacto.
— Por acaso acabei conseguindo duas boas garrafas de vinho, então pensei em enviar uma para ele.
— Isto é para o primeiro-ministro? — perguntou Piltory.
— Não está envenenado, garanto. Se você estiver preocupado, pode pedir a um provador de veneno para testá-lo.
— Oh não! Não há nenhuma suspeita que faria isso!
Enquanto observava Piltory correr para se desculpar, Jeanne soltou uma risada alegre.
— Hahaha! Eu sei disso. O segundo em comando do Império está enviando um presente para o segundo em comando do reino. Eu posso entender o porquê de você querer examinar minhas intenções. Mas este é apenas um pequeno agradecimento ao Senhor Hakuya por sempre me ouvir reclamar de minha irmã.
— O-Oh… Se é apenas isso…
Quando Piltory aceitou a garrafa, foi aí que aconteceu.
Houve uma corrida repentina de alguém do lado de fora da sala, e então as portas do escritório foram escancaradas com um estrondo. A mulher que havia invadido a sala segurava um vestido vermelho em uma das mãos e um vestido azul na outra. Era ninguém menos que a imperatriz desta nação, Maria Euphoria.
— Ei, Jeanne! Qual vestido você acha que seria melhor para a transmissão de hoje? — Maria gritou.
Ela empurrou os dois vestidos para a irmã.
Esses vestidos eram babados, tinham saias curtas, expunham a barriga e acentuavam o peito. Do tipo que, se Souma os visse, diria:
— Sério, trajes de idol? — e inclinar a cabeça em confusão.
Jeanne bateu com as mãos na mesa.
— Irmã! Estou com um visitante!
— Oh meu Deus. Se não é o Senhor Piltory, bem-vindo — disse Maria com um sorriso suave, imperturbável pelos gritos de Jeanne.
Diante da aparição repentina da chefe de estado do Império, a mente de Piltory travou por um momento, mas quando ele voltou a si, endireitou-se e a saudou.
— Sim, Vossa Majestade Imperial! É meu mais humilde prazer… encontrar-me em sua… estimada companhia?
Tendo se deparado com a intromissão bizarra de uma imperatriz carregando dois vestidos de idols, a resposta de Piltory foi um desastre, e dada com muitas pausas.
Vendo a reação de Piltory, Maria deu uma risadinha e falou:
— Não precisa ficar tão tenso. Você é um dos vassalos do Senhor Souma, então não precisa ser tão formal comigo. Vamos, relaxe, relaxe.
Dito isso, Maria deu a ele um sorriso que faria derreter o coração de qualquer um que o visse.
Enquanto isso, Jeanne tinha uma expressão no rosto como se tivesse mordido algo amargo.
— Você é muito desleixada! O que a imperatriz desta nação pensa que está fazendo, correndo pelos corredores carregando roupas tão chamativas e extravagantes!
— Ah, mas esse é um trabalho que estou fazendo para as pessoas, sabe? — Maria disse com um sorriso provocador. — É para a transmissão de programas de entretenimento usando a Transmissão de Voz da Jóia. Proporcionar um momento de descanso para as pessoas que trabalham tanto todos os dias… Acho que é uma ideia maravilhosa que o Senhor Souma teve.
Ao ouvir o mestre a quem servia ser elogiado, Piltory se endireitou mais uma vez.
— E-eu estou feliz em ouvir isso.
Jeanne, por outro lado, levou a mão à testa, balançando a cabeça como se dissesse:
— Oh, meu Deus…
— Mesmo que seja verdade, certamente não há necessidade de você se tornar uma lorelei1Original: Lorelei = lenda alemã de uma empregada que se jogou no rio reno em desespero por um amor infiel, sendo transformada numa sereia que atraía pescadores para a destruição. Contexto: Distração pela beleza..
— Mas houve um grande número de pedidos para eu cantar, não houve? — perguntou Maria.
— Bem… sim, mas…
O conceito de lorelei foi algo que Souma trouxe para este mundo. Para explicar rapidamente, o que era chamado de ídolo na Terra era chamado de lorelei aqui.
Agora, se você perguntasse o que um ídolo precisa, seria um rosto bonito e carisma. Também era bom ser habilidoso no canto e dança, mas se alguém tivesse uma aparência acima da média (isso tinha que ser um dom natural) e o charme para atrair as pessoas, era o suficiente para ser um ídolo.
Mas, se perguntasse quem no Império tinha o rosto mais bonito e o maior carisma, a primeira resposta seria, sem dúvida, Maria Euphoria. E Maria também era uma cantora e dançarina talentosa, então tinha tanto potencial que até mesmo se tornar uma idol de primeira classe poderia ser mais do que apenas um sonho para ela. Seu talento até rivalizava com o de Juna.
Por conta disso, houveram muitos pedidos do povo para ouvi-la cantar, recentemente o apelido popular de Maria — Santa do Império — passou a vir acompanhado de ‘Cantora e Dançarina’.
— Eles te chamam de Santa Cantora e Dançarina do Império… — Jeanne disse exasperada.
— Você está bem com isso?!
— No que me diz respeito, a parte de ‘Santo’ é a que eu poderia prescindir. Se eu tiver que ser chamada de alguma coisa, gostaria que fosse a Imperatriz Cantora e Dançarina Maria.
— Isso não é uma questão de gosto, sabe… — Jeanne deixou cair os ombros.
Oh, entendo. Então, esse é o tipo de coisa que o primeiro-ministro a ouve desabafar… Piltory pensou enquanto observava Jeanne, achando-se estranhamente satisfeito com a resposta.
—Alguns dias depois, na época em que Souma foi levado para a Cordilheira do Dragão Estrela—
Piltory estava de volta a Parnam, a capital do Reino da Friedônia, dentro do escritório do primeiro-ministro Hakuya Kwonmin no Castelo de Parnam.
Tendo deixado sua esposa grávida, Anzu, com sua família, veio ao castelo para uma visita de cortesia antes de retornar ao Império. No entanto, agora, descobriu-se que Souma estava em uma visita diplomática à Cordilheira do Dragão Estrela, então ele veio visitar Hakuya, que estava cuidando das coisas na ausência de Souma. Piltory parou em frente à mesa onde Hakuya estava sentado, com uma saudação.
— Agora, então, primeiro-ministro, partirei para o Império mais uma vez.
— Estou grato pelo seu empenho. Porém, tenho certeza que você preferiria estar ao lado de sua esposa… — disse Hakuya com uma expressão fria, que admitia certo sentimento.
Pode ter soado seco, mas Hakuya foi quem recomendou que ele voltasse ao reino quando soube que sua esposa estava grávida, em primeiro lugar.
Souma vinha abordando a questão da higiene urbana e atualmente estava realizando reformas médicas centradas em Hilde e Brad, de modo que este país agora se tornou “o melhor país do continente para dar à luz”.
Hakuya também providenciou que Hilde e seu pessoal cuidassem da gravidez de Anzu. Além disso, ele também forneceu transporte de gôndola wyvern de ida e volta à nova cidade, Venetinova, onde Hilde estava.
Portanto, mesmo que ele fosse frio, Hakuya o tratava bem, e Piltory era grato por isso.
— Não… estou bem ciente da importância dos meus deveres — respondeu Piltory, pensando: tive uma conversa semelhante com Madame Jeanne outro dia.
Então Hakuya se levantou de seu assento e se dirigiu a uma prateleira. Pegou uma caixa de madeira dela, colocando-a sobre a mesa.
— Já que você viajará para o Império, tenho um item que gostaria de entregar para Madame Jeanne.
— Você quer que entregue algo? — Piltory inclinou a cabeça para o lado interrogativamente.
Hakuya abriu a tampa da caixa. Dentro, havia um espelho caro com desenhos impressionantes esculpidos nele.
Ao lado do espelho havia um orifício no qual se encaixaria outro espelho do mesmo tipo, mostrando que o primeiro era uma de duas peças de um conjunto.
— Recebi um bom vinho outro dia, então estou enviando este presente em troca. É meu pequeno sinal de agradecimento a Madame Jeanne por sempre me ouvir reclamar de Vossa Majestade.
— Reclamando… Você também, primeiro-ministro?
Jeanne disse que reclamou para Hakuya sobre sua irmã mais velha. Será que Hakuya fazia o mesmo também?
Enquanto Piltory ponderava sobre isso, ouviu alguém correndo pelo corredor, então uma batida superficial antes que a porta da sala fosse escancarada. Quem entrou era a filha do antigo rei e a candidata a se tornar a primeira rainha primária de Souma.
Quando ela entrou na sala, a princesa Liscia não prestou atenção a Piltory enquanto entregava apressadamente uma carta a Hakuya.
— Hakuya, recebemos outro mensageiro kui de Carla! ‘Será difícil para nós três parar o alvo! Solicitando reforços imediato!’, diz!
— Urgh… De novo? — A expressão fria de Hakuya suavizou ligeiramente. — Muito bem. Prefiro não aumentar o número de testemunhas, por isso não posso enviar reforços, mas vou mandar a Força Nacional de Defesa trabalhar para isolar a área. Vou colocar uma ordem de mordaça na região também. Se isso ainda assim piorar… pode levar a opiniões ruins sobre a futura segunda rainha primária, afinal.
— Vou deixar isso com você.
Com isso, a princesa Liscia saiu da sala tão rápido quanto havia entrado. Quando Hakuya colocou a mão na cabeça e se recostou na cadeira, Piltory perguntou hesitante:
— Hum … O que aconteceu?
Hakuya deu a ele um sorriso seco.
— Oh, nada… Só mais uma coisa que poderei reclamar com Madame Jeanne.
Pela maneira como ele disse isso, provavelmente houve algum problema envolvendo o rei Souma.
Piltory teve uma espécie de premonição.
Em algum momento num futuro próximo, Hakuya e Jeanne beberiam a mesma marca de vinho, em copos idênticos, juntos por meio de suas telas de transmissão de voz da Jóia. Eles reclamariam de seus respectivos mestres, Souma e Maria, para acompanhar a bebida.
Piltory imaginou aquela cena ao retornar ao Império.
Tradução: moist
Revisão: CastroJr
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