Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 06 – Cap. 07.2 – A Tempestade

 

Agora, com os dragões colocados no lugar deles, estava na hora de pensar sobre o problema em questão, em como nos livraríamos dessa tempestade.

Em respeito aos dragões totalmente humilhados, deixamos o grande salão, que estava com uma atmosfera que você esperaria encontrar num funeral e fomos para um quarto menor.

Pelo que Naden disse, era tipo um quarto de espera para aqueles que gostariam de ter uma audiência com  Madame Tiamat. Naquele lugar, eu me dirigi aos meus companheiros.

— Naden e eu vimos algo naquela tempestade.

— Viram algo? — Liscia perguntou.

— Só tive um vislumbre de algo sombrio através de um buraco nas nuvens.

— Tem certeza que não estava imaginando coisas?

— Nós ouvimos uma voz também, então estou certo. Eu só captei alguns fragmentos de palavras tipo “você” e “destruir”. Você ouviu também, certo, Naden?

— Eu ouvi sim, mas não consegui entender nada claramente — Ela cruzou seus braços e gemeu em pensamento. — Creio que não estava na nossa língua. Tipo, eu conseguia dizer que eles estavam falando algo, mas não fazia ideia do que era.

— Hm? O mestre conseguiu ouvir, mas Madame Naden não? — Carla perguntou surpresa, inclinando sua cabeça para o lado em sinal de confusão.

— … Poderia intervir por um momento? — Kaede, que estava quieta até agora, levantou sua mão.

Com sua percepção, Kaede trabalhava como secretária do Ludwin, que era visto como o futuro comandante das Forças de Defesa Nacional. Na nossa situação atual, sem Hakuya por perto, ela era alguém confiável quando se tratava de resolver problemas.

— Se eu me lembro bem, você não é deste mundo, certo, senhor?

— Huh? Ah, sim, é isso mesmo.

— No seu mundo, eles com certeza usavam uma língua diferente da nossa. A despeito disso, você entende nossa língua e nós entendemos a sua por causa de um poder estranho.

Isso mesmo. Para ser mais preciso, Liscia e os outros ouviam o japonês que eu estava falando como japonês, mas aparentemente eles conseguiam entender. O contrário também era verdade. Por exemplo, se eu cantasse em japonês, Liscia e os outros entenderiam as letras, mas se Juna me imitasse perfeitamente, ninguém conseguiria entender a letra.

Parando para pensar… eu consigo ler e escrever na língua desse mundo, não?

Misteriosamente, eu conseguia entender o sistema de escrita desse mundo. Eu podia ler e escrever também.

Por outro lado, se eu mostrasse algo para Liscia escrito em japonês, ela não entenderia coisa alguma. Então, isso significava que a habilidade de tradução só funcionava do meu lado. Graças a isso, eu conseguia fazer minha papelada, mas… podia haver outro significado por trás do motivo da tradução funcionar de forma tão diferente para palavra dita e escrita?

Enquanto estava pensando nisso, Kaede perguntou a Naden: — Madame Naden, você e seus companheiros dragões conseguem falar diretamente nas nossas mentes, certo?

— Sim. Mas, nós chamamos isso de falar no coração, ou fala psíquica.

 — Foi aí que eu tive uma ideia — Kaede disse. — Eu acho que a habilidade de Vossa Majestade poderia ser semelhante.

Fazia sentido. Telepatia, hein? Não funcionava diretamente no sentido de ouvir, mas sim na parte do cérebro que processava informação. Talvez a habilidade da Tomoe de falar com animais e demônios funcionava de forma semelhante.

Mas, por que essa conversa surgiu do nada… ? Ah, é.

— É possível que o motivo que eu consegui entender aquelas palavras e Naden não, foi porque um de nós tinha um poder desses e o outro não. É isso que você quis dizer.

— Sim. Essa é a minha suspeita.

— Bom, isso significa que quem estiver naquela nuvem estava usando a língua do mundo do Souma? — Liscia perguntou.

Sim. Era uma possibilidade, não?

Mas Kaede balançou firmemente a cabeça com a sugestão. — Eu acho que não.

— Como pode ter tanta certeza? — Liscia perguntou.

— Seria mais rápido colocar isso à prova. Senhor, eu sei que isso pode ser um pouco incômodo, mas pode me ensinar como vocês cumprimentam um ao outro de manhã na língua do seu mundo? Devagar, por favor.

Quando ela disse isso para mim, eu quebrei a palavra silaba por silaba. — O-ha-yo-u.

Ohayou, é isso? — Kaede perguntou. — Ohayou, princesa.

Liscia parecia surpresa e seus olhos se arregalaram — Estranho demais! Ambos soavam como “Ohayou”, mas eu entendia que significava “Bom dia” quando Souma disse, e quando ouvi da Kaede, parecia como uma língua desconhecida.

— Então… é verdade? — Eu perguntei.

Kaede assentiu — Sim. Eu acho que isso é prova que a pessoa na nuvem não estava falando na língua do mundo que você veio. Se estivessem usando a língua do seu país, Naden teria ouvido eles pronunciarem as palavras “você” e “destruir”, mesmo que ela não entendesse.

Kaede trouxe uma mão para sua boca e falou o que pensava — Vossa Majestade entendeu quem estava na nuvem, mas Naden não. E é difícil pensar que foi na língua do mundo que Vossa Majestade veio. Isso levaria à conclusão de que a pessoa na nuvem falava uma língua que não é a deste continente nem a do mundo de onde Vossa Majestade veio.

Mas o quê? Isso significava que a pessoa na nuvem não era deste mundo, ou do meu mundo, mas de algum outro? Se havia alguém assim lá fora, nós realmente não teríamos meios de saber como lidar com eles.

… Espere, o quê?

Não, não é isso. Eles não precisam vir de outro mundo. Nós já temos eles. Aqui, neste continente, há pessoas usando línguas completamente diferentes…

— Demônios…

Quando eu disse essa palavra, todos engoliram a seco.

A raça misteriosa, diferente dos monstros, que se dizia viver na parte mais profunda do Domínio do Lorde Demônio. O único caso conhecido de diálogo com eles foi uma troca curta entre Tomoe e um kobold. Era algo que só funcionou por causa da habilidade especial dela, então era só o esperado.

Não seria estranho que eles tivessem sua própria língua, completamente diferente da utilizada neste continente e das línguas do meu mundo. Também, se os demônios conseguissem falar, minha habilidade de tradução poderia me permitir entendê-los. Assim como, no meio daquela tempestade, eu fui o único que conseguiu entender o que estava sendo dito.

Minha habilidade não me permite entender os animais, mas talvez eu poderia falar com demônios?

— … Vocês acham que poderia ser esse o motivo da Madame Tiamat ter me chamado de a “chave”?

— É bem provável — Kaede assentiu para mim.

Segurando sua cabeça em suas mãos, Liscia disse: — Suponhamos por um momento… que realmente há um demônio nas nuvens…

— Supor? — Eu perguntei.

— Não quero que você vá, Souma — Liscia disse, encarando meus olhos. — É perigoso demais. Se algo acontecesse com você, nosso país… eu…

Aisha foi a próxima a falar: — É isso mesmo! Eu vou no seu lugar Vossa Majestade, e vou partir aquela coisa má no meio!

Eu estava certo de que ambas estavam preocupadas com minha segurança. Eu sabia quão fraco eu era, então normalmente evitava esse tipo de perigo. Mas, dessa vez, senti que não havia como evitar.

— Se isso pudesse ser resolvido com força marcial,  Madame Tiamat não teria se dado ao trabalho de me chamar aqui. Há muitas pessoas aqui que são mais fortes que eu, no final das contas. Já que não é este o caso, Madame Tiamat deve pensar que essa situação deva ser resolvida através do diálogo.

— Mas…. — Aisha reclamou.

— Eu acho que é uma oportunidade valiosa. Temos sorte do nosso país estar longe do Domínio do Lorde Demônio. Se nós perdermos essa chance, não sabemos quando virá nossa próxima oportunidade de interagir com um demônio.

— Souma… — Ainda preocupada, Liscia pôs uma mão no meu ombro.

— Claro, eu pretendo me manter o mais seguro quanto possível — Eu a confortei. — Nós temos o equipamento que trouxemos do reino. Aisha servirá como minha guarda-costas. Eu quero que todos os outros esperem em terra. Naden, eu quero que você deixe Aisha montar em suas costas também. Tudo bem?

Eu ouvi que os dragões só deixavam que seu parceiro montasse em suas costas.

Naden pensou por um tempo — Hmm, não gosto disso, mas… Aisha é a parceira do meu parceiro, então acho que dá para considerar ela como sendo minha parceira também? Só lembre que ela não receberá minha proteção, então melhor amarrar ela bem, tá?

Carla cruzou seus braços e gemeu. — O parceiro do meu parceiro é meu parceiro também? Parece que eu não poderei ir com você. Não posso voar com essa ventania também. E queria fazer algo para ajudar…

— Não há o que fazer dada a situação — falei. — Aisha, desculpe por te pedir isso, mas me proteja.

— Eu já sou quem te protege, sou sua cavaleira! — Aisha disse, estufando seu peito com orgulho.

Liscia tomou sua mão. — Aisha, cuide do Souma por mim.

— Madame Liscia… sim! Por favor, conte comigo! — Aisha pôs sua mão na de Liscia.

Agora… por enquanto, era só isso, certo? Todos tinham seus papéis… espera, quê? Eu olhei ao redor para meus companheiros e notei algo.

— Onde está o Hal?

— Hum? Agora que você mencionou… ele não está aqui — Liscia olhou ao redor preocupada. Havia apenas seis pessoas no quarto: Liscia, Aisha, Naden, Carla, Kaede, e eu. Onde o Hal foi?

— Sobre isso… — Kaede disse, parecendo não querer falar mais. — Ele precisou fazer alguns preparativos, sabe? Então, ele decidiu faltar à reunião.

— Preparativos? — perguntei.

— Bom, um… pense nisso como um seguro, no caso de algo acontecer — Kaede disse de uma forma que deixava claro que havia mais coisa nessa história.

Talvez Kaede estava preparando algo no caso de uma situação inesperada surgir. Kaede era muito precavida, então se ela estava preparando algo para nos ajudar, era reconfortante.

— Eu não aumentaria muito suas esperanças, sabe… (Hal vai ficar bem? Ele entendeu o que sua proposta significava quando ele aceitou, certo?)

— Hm? Sua voz ficou meio baixa no final — Eu disse.

— … não, não é nada, sabe — Kaede disse, balançando sua cabeça apressadamente.

Eu não entendi muito bem, mas… bom, tanto faz.

— De qualquer forma, todo mundo, estou contando com vocês.

— Então, por que exatamente você está usando essa coisa, Souma? — Liscia perguntou, me encarando com desgosto, enquanto estávamos nos preparando para entrar na nuvem.

Eu estava vestido em um traje kigurumi rechonchudo. Em suas mãos havia uma naginata; passando por seu ombro havia um cordão de miçangas de oração; sobre seu rosto havia uma seda cobrindo dois olhos adoráveis, parecidos com bolotas. Era um dos bonecos Pequeno Musashibo (Grande) que não usava desde aquela vez que bebi com Juno e seu grupo. Esse Pequeno Musashibo foi um dos itens que trouxe do reino, só por precaução.

— Eu te disse que pretendia ficar o mais seguro possível, não? — Abri a parte da cabeça e me virei para Liscia.

Aquele que usei antes era do tipo que você entrava por um buraco nas costas, mas este aqui, a cabeça abria como a tampa de uma panela de arroz. Era notavelmente mais fácil de colocar e tirar do que o modelo anterior. Eu estava trabalhando em melhorias ainda mais simples do que essa até agora.

— Apesar da aparência boba, eu gastei mais dinheiro do que deveria na construção com excelentes materiais, então é mais robusta que uma armadura comum, sabe? É altamente à prova de lâminas, projéteis, resistente ao frio, calor e ácido. Você pode lutar com monstros de dungeon nessa coisa. Meus Poltergeists Vivos funcionam nisso também, então é tranquilo de se mover.

— Ainda… aff, eu me sinto uma idiota por me preocupar tanto — Liscia disse enquanto segurava sua cabeça.

Uou, nós não fazíamos isso faz um tempo. Quando nos conhecemos pela primeira vez, eu sentia como se Liscia sempre fosse arrastada em qualquer loucura que eu fizesse e ela estava constantemente segurando sua cabeça.

Bom… ela tinha companhia agora…

— Algo está errado — Naden murmurou quando me viu no kigurumi. — Eu sonhei em ter um cavaleiro andando nas minhas costas, então por que eu tenho que deixar essa criatura misteriosa voar comigo? — Ela segurou sua cabeça.

— Não, não, eu não quero ouvir isso de uma misteriosa criatura de verdade como um ryuu.

— Eu vou voar com você usando essa coisa?! Não é bobo demais?!

— …

Dendera, dendera, um ryuu voa pelo mar de nuvens. Em suas costas está um Pequeno Musashibo profundamente satisfeito.

… É. Só de imaginar, eu sinto aquele senso de fantasia misteriosa correndo solto.

— Bo… bom, é uma emergência — falei. — Aguenta essa por mim, por favor.

— Aff… tá bom, entendo.

— Aisha, você está pronta?

— Quando você estiver! — Com sua espada larga de sempre em seu ombro, Aisha assentiu firmemente.

Como voaríamos em uma tempestade, Aisha estava usando uma capa que cobria todo o seu corpo, para repelir a chuva, sobre o seu equipamento.

Agora, então, com nossas preparações finalizadas, estava na hora de partir. Para encontrar quem estivesse naquelas nuvens.

E então, a ryuu voou na tempestade. Em suas costas estava uma elfa negra em uma capa de chuva e uma criatura misteriosa rechonchuda.

O vento uivava em nossos ouvidos.

Naden voava pela tempestade como se não fosse nada, mas o vento e a chuva contra nossos corpos era tão forte como sempre.

— Aisha, você tá bem?!

— Sim! Não está balançando tanto aqui como estava na gôndola!

Diferente de mim, a proteção de Naden não cobria Aisha, então ela estava experimentando toda a força da chuva, vento e gravidade. Era por isso que ela estava sentada na minha frente, amarrada com uma corda, presa ao Pequeno Musashibo. Porém, com o jeito que essa coisa era feita, parecia que ela estava amarrada em um assento de primeira classe.

— Então, você acha que conseguiremos encontrar aquela pessoa misteriosa nessa tempestade? — Aisha perguntou, protegendo seu rosto da chuva com seus braços. — A chuva reduziu demais a visibilidade.

Verdade, procurar por algo nessa chuva seria uma droga.

… Na verdade, agora que já estava usando ele, eu percebi que o kigurumi reduzia muito meu campo de visão. Você poderia pensar que isso deveria ser óbvio, mas por causa da minha habilidade, Poltergeists Vivos, que me deixa ter uma visão aérea das coisas, nunca me incomodou antes. Entretanto, nessa tempestade, eu não conseguia fazê-la funcionar direito.

Quero dizer, sim, eu conseguia ver, mas era como olhar para uma TV velha com recepção ruim. Eu não notei antes porque nunca tentei mover coisas dentro de uma tempestade, mas minha habilidade tem outras fraquezas como essa?

 Sem outra escolha, abri a cabeça da fantasia. Eu levei uma forte rajada de vento na cara, mas se eu não conseguisse usar minha habilidade, teria de depender dos meus olhos. Como Aisha disse, a visibilidade ainda estava horrível, mas pode não ser necessário procurarmos para começo de conversa.

— Se são eles que estão causando a tempestade, só podem estar no centro dela, Naden.

 — Eu sei. Nós chegaremos lá em breve.

Então, do nada, o som do vento e da chuva diminuiu. A tempestade enfraqueceu?

As gotas de chuva acertando meu rosto cessaram agora. O vento ainda estava forte, mas a falta de chuva facilitou as coisas para mim. Ainda assim, estávamos cercados por nuvens.

Bom, se estivéssemos dentro de uma nuvem, a visibilidade seria como se estivéssemos envolvidos em uma névoa.

Se eu sabia que havia nuvens nos cercando, isso significava que não havia nuvens nesse lugar.

— Isso é…

— Senhor! Para cima! — Aisha disse.

Seguindo suas palavras, olhei para cima e lá…

— Mas que porra… ?

Havia uma massa cinzenta, enorme, flutuando lá. Era mais ou menos um cubo, com cerca de dez metros de lado. Naden, na sua forma ryuu, tinha uns quarenta metros de comprimento, então era improvável que ela conseguisse se enrolar nisso uma vez sequer. Aquele cubo massivo estava ignorando a gravidade e flutuando no céu.

— É isso que você viu, senhor?

— … não sei. Eu só consegui ver sua sombra.

— Mas essa coisa com certeza está no centro da tempestade! — Naden disse, encarando o cubo.

Essa coisa… foi o que causou a tempestade? Kaede levantou a questão e eu sugeri que fosse um demônio, mas essa coisa estava ao menos viva? Independente se eu a julgasse com os padrões deste mundo ou com os do meu, essa coisa era bizarra. Então…

— Por que… você… não… responde…

Eu ouvi aquela voz de novo. Estava fragmentada e era difícil de entender, mas era alta, como a voz de uma mulher, só que tinha algo de errado. A voz estava vindo do cubo?

— Aisha, Naden, vocês entendem essa língua? — perguntei. — Estava falando algo sobre uma resposta.

— Estava, senhor? Não ouvi coisa alguma.

— Eu consegui ouvir algo, mas foi só…

Como esperávamos, elas não conseguiam entender as palavras. Eu repeti as palavras para elas conseguirem entender.

— Tiama… você destruiu… minhas crianças… então por que…

— Vamos ver… “Tiama… você destruiu… minhas crianças… então por que…”.

— Por que você não des… eu não tenho… nada…

— “Por que você não des… eu não tenho… nada…

— Certamente, parece que isso tem algo para falar com Madame Tiamat — Aisha disse.

Eu concordei com a ideia. Mas, Madame Tiamat sabia mesmo algo sobre essa coisa? Parando para pensar, ela não previu essa tempestade?

Poderia ser que… esse objeto já entrou em contato com Tiamat antes? Enquanto eu pensava, a qualidade da voz mudou do nada.

— Mesmo depois… ainda… não respo…

— “Mesmo depois… ainda… não respo…”.

A voz que eu ouvi era neutra, sem qualquer entonação. Mas, pela escolha das palavras, sentia algo parecido com raiva. A imagem da situação não estava clara, mas parecia que a coisa estava fazendo duras críticas.

— Acho que entendo e não entendo ao mesmo tempo — Aisha disse, balançando sua cabeça de um lado para o outro. — Eu queria que ela viesse e falasse claramente.

Naden estava pensando isso também. — “Você” está se referindo provavelmente a Madame Tiamat, certo? Isso significa…

— Espera! O cubo ainda está falando algo — interrompi Naden e me foquei em escutar.

— Nesse caso…

— “Nesse caso…” — repeti.

— Eu… vou destruir… o mundo das suas crianças.

— Quê?!

— O que foi, Souma?! O que ela falou?! — Naden gritou, mas eu não consegui expressar em palavras na hora.

Eu vou destruir o mundo das suas crianças.

Se Naden estava certa e o “você” aqui era Madame Tiamat, então suas crianças eram Naden e os dragões, e o mundo onde viviam era Dracul. A voz pretendia destruí-lo? Ele deixou bem claro que era um aviso de sua intenção destrutiva.

Não… era pra ser algo que nós poderíamos resolver com uma conversa?

— Eu… destruir. Para que você… me destrua…

— O QUÊ?!

“Eu vou destruir. Para que você me destrua…” Foi isso que eu entendi.

Destruir a fim de ser destruído? A dona da voz não queria destruir Dracul, mas sim fazer com que Madame Tiamat o destruísse por fazê-lo? Em outras palavras, a tempestade estava sendo produzida pelo desejo de ser aniquilado do dono da voz.

— Souma! — Naden me chamou, fazendo com que eu acordasse de meus pensamentos.

— Ah!

— Se recomponha! Você é o único que consegue entender o que essa coisa fala, tá bom?!

— Desculpa. Parece que essa coisa está tentando destruir Dracul, porque ela quer que Madame Tiamat a destrua.

— Quê? Ele quer ser destruído, mas está destruindo a terra de outra pessoa? Eu admito que não entendo o desejo de ser destruído, mas o objetivo e o método não estão um pouco incoerentes? — Aisha parecia confusa.

Até eu não entendia o motivo.

— Bom, independente do que, essa coisa veio até Dracul para ser destruída. Mas Madame Tiamat parece recusar, talvez por uma boa razão. Aparentemente, essa é a causa dessa coisa criar essa tempestade. Parece que ela pensa que se colocar as crianças de Madame Tiamat… ou seja, os dragões… em perigo, Madame Tiamat será forçada a destruir ela.

— São muitos “parece” e “aparentemente”, não acha?

— Ei, não é como se eu pudesse fazer muito mais. Tenho pouca informação.

Provavelmente, Madame Tiamat sabia de todos os detalhes, mas como Hakuya disse antes, ela não possui a “autoridade” para me dizer mais, então ficou por aquilo mesmo.

O motivo de Madame Tiamat escolher não destruir esse cubo, poderia ter algo a ver com essa “autoridade”, também?

— Eu… destruir. Então… você… destruirá…

A voz repetiu aquelas palavras de novo. Então, por volta de vinte esferas pequenas saíram da parte de cima do cubo cinza. Bom, eu disse pequenas, mas só em relação ao cubo mesmo. Em termos de tamanho, cada uma tinha cerca de um metro de diâmetro. Aquelas esferas não flutuaram e foram puxadas pela gravidade.

Vendo isso, Naden perguntou em pânico: — Ei, Souma, aquelas… ?

— Sim. Não parecem nada bom para mim também.

Incontáveis esferas misteriosas apareceram depois dela falar sobre destruição. Eu tinha um mal pressentimento sobre isso.

— Naden! Consegue destruí-las sem se aproximar?!

— É para já!

*Roaaaaaaaaaaar!*

Naden rugiu, liberando um ataque elétrico nas coisas que despencaram do céu. O golpe se dividiu conforme avançava, perfurando as esferas no céu. Então.

*Boooom!*

No momento em que a eletricidade as acertou, aquelas esferas liberaram um cintilo branco azulado e aumentaram de tamanho para se tornar bolas de luz. Seguida da luz, nós ouvimos um estrondo e a pressão do vento que nos acertou depois do fato nos mostrou bem claramente quão forte foram aquelas explosões.

Eu sabia… aquelas esferas negras eram bombas!

Aisha se virou para mim, como se tivesse se lembrado de algo. — Isso não é nada bom, senhor! Liscia e os outros estão lá embaixo!

— Eu sei. Naden, estou contando com você! Destrua todas aquelas esferas, não importa o que!

— Era minha intenção desde o início!

Enquanto voava pelo céu, Naden liberou golpes elétricos um após o outro, destruindo as esferas uma após a outra. Mas havia esferas demais.

— Madame Naden! Eu vou te ajudar! — Aisha desamarrou as cordas e se levantou. — Senhor, me segure, por favor!

— As… assim?! — Eu tirei meu torso do traje e abracei os quadris de Aisha. Ao mesmo tempo, controlei o Pequeno Musashibo, fazendo com que ele segurasse os calcanhares de Aisha. Ela, que estava de pé nas costas de Naden, preparou sua espada larga.

— Agora, senhor, mantenha sua cabeça baixa, por favor!

— Cla… claro.

— Aqui vou eu… Hahhhhhh! — Com um grito de guerra, Aisha balançou sua espada larga.

A ventania que eu vi antes ao vê-la treinar com Liscia começou, partindo uma das esferas no meio. Então, com um golpe lateral, um corte diagonal da esquerda, outro da direita. Com cada balançar da espada larga de Aisha, uma ventania afiada voaria, partindo uma das esferas.

Aisha sempre foi um pouco decepcionante em sua vida diária, mas no campo de batalha ela era confiável, a guerreira mais poderosa do reino.

Com Naden e Aisha trabalhando juntas, as esferas do cubo eram explodidas ou cortadas. Entretanto, elas continuavam a cair, uma depois da outra.

— Isso não tem fim — Aisha gemeu.

— Mas, se pararmos, elas vão destruir tudo lá embaixo — Naden disse.

— Não podemos avançar, nem recuar. Seremos vencidas pelo cansaço se as coisas continuarem assim.

Aisha estava certa. Merda! Se apenas pudéssemos entrar em contato com as pessoas lá embaixo, poderíamos avisá-los do perigo e pedir que evacuassem. Eu deveria ter trago um Braço Fabricado para servir de transmissor… bom, chorar sobre o leite derramado não vai ajudar.

 — Droga, o que a gente faz? — Eu olhei para o cubo, quebrando a cabeça.

Então, aconteceu.

Eeeeei….

Eu ouvi uma voz vindo de algum lugar. Era diferente da voz que ouvi até o momento. Dessa vez, era a voz de um homem.

Eeeeeeei! Soumaaaaa!

A voz estava vindo… debaixo?

Quando me inclinei na lateral de Naden para olhar, eu vi um dragão vermelho vindo na nossa direção em uma velocidade incrível. Suas asas estavam dobradas e ela estava em um formato parecido com uma flecha. Espera, não estava voando meio rápido demais sem bater suas asas?

Além disso, Halbert estava nas costas dela, segurando como se sua vida dependesse disso.

— Hal! — Eu gritei.

— Ruby?! — Naden gritou ao mesmo tempo.

Ruby passou por nós com Halbert em suas costas. Os dois continuaram subindo como um foguete, mas eventualmente perderam a inércia e começaram a cair de costas. Suas asas não estavam abertas… ah, era isso! Porque se ela as abrisse, o vento atrapalharia, hmm!

— Naden!

— Eu sei!

Naden ficou debaixo de Ruby e pegou ela. Daí, ela se enrolou em Ruby e a segurou no lugar. Ruby parecia aliviada quando disse: — Esse método de voar… não é bom para o coração.

— Ruby, como você…?

— Deixa o papo furado para depois! Não podemos deixar essas coisas chegarem no chão!

Com essas palavras, Ruby inalou profundamente e soltou o lança-chamas conhecido como respiro do dragão. As chamas se espalharam como num maçarico, torrando as esferas e fazendo elas explodirem.

Quando ela viu isso, Naden girou seu corpo jogando choques elétricos em todas as direções. Com isso, o respiro de Ruby começou a girar como os ponteiros de um relógio, inflamando as esferas em uma área ainda maior.

A área ao nosso redor estava cheia de chamas, eletricidade e explosões brilhantes. Começou a irritar os meus olhos.

Ao fazer todas as esferas explodirem de uma vez, isso nos deu um tempo até o próximo grupo cair.

— Então, como você está aqui, Ruby? — Naden perguntou a Ruby, que estava um pouco ofegante, quando as coisas se acalmaram. Agora que ela mencionou, não conversamos sobre dragões alados não conseguirem voar nessas fortes correntes de ar?

— Eu pedi a cooperação dessa pessoa… e fiz umas coisas malucas para chegar aqui — Ruby disse enquanto tentava recuperar o fôlego. Esticando seu pescoço longo, ela usou seu focinho para apontar para suas costas.

Por “essa pessoa”, ela quis dizer o Hal?

— Hal, mas que porra você fez…? — Eu perguntei, me sentindo muito cansado.

Hal apontou para trás dele. — Souma… você trouxe isso, não? Nós usamos para… voar até aqui.

O que Hal estava apontando enquanto dizia isso era o Dispositivo de Propulsão Maxwelliano preso nas costas de sua sela, o Pequeno Susumo Mark V Leve.

Meus olhos se arregalaram.

Então, era disso que Kaede estava falando!

 


 

Tradução: Worst

Revisão: CastroJr

 

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