Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 04 – Cap. 04 – O Museu Na Capital Real

Era pouco depois do meio-dia quando inesperadamente vi Ginger Camus.

Tendo terminado de recrutá-lo e saindo de sua loja, Aisha, Roroa, e eu decidimos passear pela cidade-castelo de Parnam. Roroa disse que isso era um encontro. Eu estava andando pelas ruas com uma bela garota em cada braço.

— Embora, mesmo sendo um encontro, não estamos realmente vestidos para a ocasião — disse Roroa, meio insatisfeita.

Eu estava vestido com minha roupa padrão para quando saísse em segredo, à moda dos viajantes da União do Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças (estilo Kitakaze Kozou). As duas estavam usando mantos com capuz por cima de suas roupas comuns. Nossos rostos eram de conhecimento público, então estávamos vestidos dessa maneira para não fazermos cena.

— Parece inevitável — disse Aisha —,se formos descobertos, não vamos poder ter nosso encontro.

Roroa mostrou a língua.

— Isso é verdade. Considerando minha posição, eu realmente não posso mostrar meu rosto. Tenho certeza de que muita gente aqui não é tão fã da Amidônia, afinal de contas.

Roroa falou em um tom brincalhão, mas eu tinha quase certeza que ela tinha razão. Embora nossos dois países estivessem pacificamente unidos de uma forma que servia aos interesses de ambos, o Reino de Elfrieden e o Principado da Amidônia já eram inimigos há muito tempo. Esse fato não seria apagado tão facilmente.

Fui dominado por um sentimento que não pude descrever, mas Roroa revelou um sorriso ousado.

— Bem, eu sou uma garota adorável, é apenas uma questão de tempo até que eu tenha as pessoas do reino na palma da mão. Estou mais preocupada com você, querido. Se você não aprender a ser mais sociável, o povo do principado vai te odiar.

— Suponho que você esteja certa… — murmurei. Eu achava a capacidade de explodir a negatividade que Roroa tinha algo incrível. — Não posso agir como você, Roroa, então irei lenta mas seguramente proteger as vidas e bens do povo do principado, fazendo assim com que me reconheçam como seu rei.

— Hee hee — a menina riu, me abraçando —, além disso, se você for visto agindo amorosamente comigo, não acha que isso também deixaria o pessoal do principado à vontade?

Aisha a puxou de cima de mim.

— N-Nós estamos no meio de uma via pública. O que você está fazendo é bem escandaloso!

— Hmph, e o que tem isso? Nós não estamos em um encontro? — enfatizou Roroa. — Que tal você também ficar bem amorosa com ele, irmãzona Ai?

— Eu adoraria não fazer mais que isso, mas… em consideração à Primeira Rainha Primária, Liscia, que nos permitiu sair neste encontro, talvez não devêssemos nos deixar levar, sabe? — apontou Aisha.

Aisha era a Segunda Rainha Primária, enquanto Roroa era a Terceira. Neste país onde a poligamia era comumente praticada pela nobreza, classe de cavaleiros e comerciantes ricaços  (poliandria, embora menos comum, também existia), parecia que respeitar esse tipo de hierarquia entre as rainhas e esposas era a grande chave para evitar problemas que poderiam surgir em casa.

Roroa parecia insatisfeita.

— Sim, mas o querido e a irmãzona Liscia estão prometidos há, tipo, meio ano, né? Eles podem ainda não ter começado a fazer bebês, mas devem ter pelo menos se beijado, certo?

Roroa olhou em minha direção, me forçando a envergonhadamente desviar o olhar. Se eu tivesse que citar as coisas românticas que fiz com Liscia, seria:descansar minha cabeça no colo dela, um beijo na bochecha, dormir um ao lado do outro, e só.

Tendo visto isso em meu comportamento, Roroa olhou para mim com frieza.

— Querido, não vai me dizer que ainda não fizeram nem isso, vai…?

— É que… Bem, como pode ver, tenho estado bem ocupado e…

— Você não se sente mal pela irmãzona Cia, agindo assim com ela? — disparou Roroa.

— Então você também pensa assim, Roroa! — concordou Aisha — Eu sei que você estava hesitante no início, senhor, já que o noivado foi algo decidido sem seu consentimento ou de Lady Liscia. No entanto, agora, é claro para todos que vocês se amam. Dada a nossa posição, não podemos receber seu amor e afeto antes de Lady Liscia, então, por favor, flerte mais com ela.

Não havia nada que eu pudesse dizer em resposta. Afinal, Aisha tinha visto meu relacionamento com Liscia se desenvolver desde seu estágio inicial.

Roroa estava com os braços cruzados e balançava a cabeça e grunhia de acordo.

— Isso, isso. Então você pode nos recompensar com seu amor quando terminar.

— Eu entendo… — falei — Quando chegar a hora, vou cuidar de recompensar vocês adequadamente.

— Sim, isso é uma promessa — disse Roroa condescendentemente.

Lá estava eu, sendo repreendido pelo meu comportamento por uma garota três anos mais nova… Me senti um pouco patético, mas Roroa riu e acenou com a mão.

— Mas, aqui estamos nós, já em um encontro, então temos que nos divertir.

— Isso mesmo — disse Aisha, concordando —, afinal, Lady Liscia disse que hoje devemos nos divertir.

Elas tinham razão.

— Bem, este é um dia raro — falei —,  há algum lugar onde vocês desejam muito ir?

— Nesse caso, nós… — disse Aisha.

— E também, sem comida até mais tarde.

— Ideia recusada antes mesmo de eu sugerir?! P-Por que isso?! — gemeu Aisha com seus olhos, parecendo os de um chihuahua que foi forçado a esperar.

— Quando eu como com você, fico sempre cheio quando terminamos, e isso torna mais difícil me mover — falei — Prometo que vamos parar em algum lugar para comer mais tarde, então vamos a outro lugar primeiro.

— Ah, certo. Se é assim…

— Dito isso, faz um tempo desde a primeira vez que vim para a capital — disse Roroa, mexendo a cabeça pensativamente —, ainda não sei o que tem por aqui. Há algum lugar que você recomendaria para um encontro, Querido?

— Lugar para um encontro, huh… — murmurei.

No meu mundo, o teatro, o parque de diversões, o zoológico, o aquário, o karaokê e o fliperama seriam ótimas opções, mas não neste mundo. Era essa falta de lazer que tornava os programas de entretenimento da Transmissão de Voz da Joia,  um sucesso.

Bem, se eu estivesse a procura de um lugar para um encontro, excluindo os locais de entretenimento… Ah.

— Aquele lugar pode ser bom — falei.

— Qual, qual? Você pensou em um lugar bom? — perguntou Roroa ansiosamente.

— É uma instalação em que fomos outro dia, na verdade, e acho que deve haver muitas coisas interessantes para ver se formos lá — falei — Embora seja mais uma instituição educacional do que uma instalação de lazer.

— Aprendendo mesmo durante nosso encontro? Que lugar é esse? — perguntou Roroa, inclinando a cabeça.

— O Museu Real de Parnam — falei. Mesmo o nome não sendo tão criativo assim.

— Tão grande?! — Roroa gritou de surpresa quando chegamos à entrada do Museu Real de Parnam e  viu o que estava em exibição ali. Se estivéssemos falando sobre uma exibição massiva em frente ao Museu Nacional da Natureza e Ciência em Ueno, teria sido a baleia azul. Contudo, no Museu Real de Parnam tinha um enorme espécime de esqueleto medindo mais de 10 metros de comprimento em comparação.

— Do que são esses ossos? Parecem com os de um lagarto ou algo assim…

— Essa é a salamandra gigante que estava pela área sob a capital real — expliquei.

— Salamandras podem ser tão grandes assim? Uma da Amidônia cresce até dois metros, no máximo, mas… Espera, essa coisa estava sob a capital real?!

— Sim. Surpreendente, huh? — falei.

Esta salamandra foi descoberta quando encarreguei a guilda dos aventureiros de exterminar as criaturas selvagens que viviam no labirinto de túneis de fuga sob a capital para que pudessem ser reaproveitados como sistema de esgoto. Ou melhor, aqueles que descobriram foram Dece, Juno e sua equipe. Eu até estive lá para testemunhar, embora através do meu boneco Pequeno Musashibo.

Nem o país nem a guilda imaginavam algo tão grande vivendo sob a capital, então sem nem pensar, acabei colocando Juno e seu grupo em perigo.  Foi bom que tenham conseguido dar um jeito de recuar, mas quando pensei sobre como as coisas poderiam ter dado errado, pensei que havia muito sobre o que refletir.

Agora, sobre aquela salamandra: assim que recebi o relatório de Juno e seu grupo, despachei uma unidade do Exército Proibido para matá-la. Juno e seu grupo lutaram contra a salamandra porque não tinham um mago que pudesse usar magia do tipo água do elemento gelo contra a qual ela era fraca. Quando formamos um grupo focado fortemente em torno daqueles que podiam usar esse tipo de magia, a coisa foi facilmente derrotada. A salamandra morta foi então dissecada e transformada em um espécime esquelético.

— Bem, esta é apenas uma réplica baseada nos ossos originais — acrescentei enquanto tocava o espécime esquelético por toda parte. Afinal, teríamos que nos preocupar com ladrões fugindo com ele se exibíssemos a coisa real por aí. Havia uma placa ao lado que dizia: “Esta é uma réplica em escala de 1:1, então tente tocá-la para sentir o tamanho por si mesmo.”

— Esse tipo de coisa… como devo dizer? Isso desperta minha sede por aventura — disse Aisha, seus olhos brilhando —, acho que os garotos vão gostar de ver.

— Hrm… — resmunguei — Achei que poderia ser uma boa experiência educacional que ajudaria a estimular a criatividade deles, então tentei mostrar os ossos de verdade que guardamos no castelo para o Rou —  (o irmão mais novo de Tomoe) — e as outras crianças da creche, mas eles gritaram com seus olhos quase saindo das órbitas… Depois disso fui repreendido por Liscia.

— O que você fez? — perguntou Roroa, aparentando incrédula.

— Sim, teria sido importante considerar a idade deles primeiro, huh.

— Dito isso, embora estejamos impressionados com o espécime esquelético, o prédio em si também é bem grande e impressionante. Quase como a mansão de um nobre — disse Aisha, olhando para o edifício.

Essa foi uma observação afiada.

— Não, não é “quase como” — falei — A remodelamos usando a estrutura de uma mansão nobre.

— Sério? — perguntou Aisha.

— Sim… executei aqueles nobres influentes que estavam conspirando com a Amidônia e manipulando os nobres corruptos na guerra, lembra? Este edifício pertencia a um deles.

Essa realmente era… uma casa imensa.

O prédio principal era tão grande quanto o prédio da escola de uma universidade com muita história por trás dele, e havia dois anexos que também eram bastante grandes por si mesmos. Havia um jardim bem cuidado, também, e fiquei impressionado com a riqueza que esse nobre havia conseguido acumular enquanto o reino estava com problemas financeiros. De acordo com a investigação de Hakuya, eles estavam recebendo uma parte do dinheiro que os nobres corruptos desviaram.

— Independentemente disso, quando esta mansão ficou vazia depois que o nobre que a possuía foi executado, então foi reformada para servir como o Museu Real de Parnam. Como era um edifício tão grande e impressionante, deixar qualquer um dos meus subordinados morar nele teria provocado ciúmes desnecessários, custando também muito dinheiro para derrubá-lo. Isso funcionou como uma solução perfeita.

— Oh, quando você fala assim, parece que foi preenchido com o rancor dos nobres, e eu não gosto disso… — disse Roroa com o canto da boca tremendo.

— Ah… ah ha ha… — eu ri — Sim, bem, parece que já existem rumores assim. Dizem que a armadura em exibição se levanta e anda sozinha à noite.

— Claro — disse Roroa.

— Mas, sabe, usar qualquer pessoa e qualquer coisa que pudermos é uma daquelas coisas que nosso país faz.

— Espero que você não precise usá-la como uma casa mal-assombrada…

Uh, sim, é verdade. Eu realmente também espero que não.

— Enfim, vamos entrar. Também é bem incrível por dentro — sugeri, e lá fomos nós.

Se eu tivesse falado com o responsável, eles teriam apenas nos deixado entrar, mas para passarmos por visitantes regulares, pagamos entrada para três pessoas.

A primeira coisa a nos cumprimentar lá dentro foi uma linha de armaduras. Essas eram as armaduras usadas pelos antigos comandantes da Guarda Real. Elas não eram mais usadas ​​e estavam apenas juntando poeira, então aproveitei a oportunidade para tirá-las do depósito e doá-las ao museu.

Elas deviam ter atraído Aisha como guerreira, porque ela estava olhando para todas com admiração.

— São antigos, mas quando você tem tantas assim alinhadas, vira um show e tanto, né?

— Espere aí, Querido, o que é um museu, afinal? — perguntou Roroa.

— Huh? Essa parte ainda não ficou clara para você? — perguntei.

Parando para pensar, quando estabeleci o Museu Real de Parnam, Hakuya disse: “Eu não conhecia essa ideia, mas parece uma instalação interessante. Eu gostaria muito de dar uma checada por mim mesmo”, não disse?

Em outras palavras, este foi o primeiro museu a ser construído em nosso reino, e era natural que Roroa e os outros não soubessem o que era. Será que tinha algum museu no Império?

— Em termos mais simples, um museu é uma instalação que reúne várias obras, faz com que os acadêmicos as estudem e permite que o público em geral as veja na forma de exposições — falei —, o objetivo da instituição é aprofundar o conhecimento de quem vem ver sua coleção, mas é divertido ver todas as novidades em exposição. As pessoas iam a lugares assim lá no mundo de onde eu vim.

— Hmm… Então é como colocar o tesouro real em exibição para o público? — perguntou Roroa.

— Sim — falei —, é exatamente isso. A coleção contém coisas de literatura ou valor artístico, bem como os esqueletos e espécimes preservados de animais, que tem seu valor na ciência da natureza.

Então, enquanto eu explicava, notei um conjunto de armadura familiar na coleção.

— Esta não é a armadura que o Capitão da Guarda Real estava usando? — Aisha também percebeu e perguntou.

Verdade. Embora estivesse de costas para nós, essa armadura de prata parecia bastante com a de Ludwin.

Mas, isso é estranho. A única armadura que deveria estar em exibição aqui é a armadura que o estado forneceu aos ex-capitães da Guarda Real. Se bem me lembro, a armadura de Ludwin foi comprada por ele, com seu próprio dinheiro…

Do nada, aquela armadura se virou para nós.

— Whoa! — gritei.

— Oh, sinto muito… — disse Ludwin — Espera, huh? É você, Vossa Majestade?

Huh? Então é ele mesmo?! Enquanto eu ainda estava chocado com a aparição inesperada do próprio homem, Genia mostrou seu rosto, por trás dele.

— O que você tá fazendo, Irmãozão Luu? — perguntou ela.

— E a Genia também está com você — falei —, vocês dois estão em um encontro?

Ludwin respondeu “Não”, com uma expressão enjoada no rosto.

— Você disse que a Guarda Real e os guardas cuidariam da segurança daqui, então estamos aqui para uma reunião sobre as rotações de turno.

— Ah, entendo — falei —, sinto muito pelo problema.

Como havia um bom número de objetos valiosos no local, fui forçado a reforçar a segurança. As pessoas que gerenciavam a segurança também precisavam ser confiáveis, então decidi deixar isso para a Guarda Real e os guardas cujos trabalhos já incluíam vigilância e defesa.

 

 

— E eu estou aqui para configurar o sistema de segurança que o irmãzão Luu me pediu para instalar — acrescentou Genia —, há lugares onde tenho feitiços de disparo automatizados se alguém chegar perto, então não tente ir a qualquer lugar que não deveria.

— Assustador… — falei.

O sistema de segurança da incrível cientista Genia… A parte assustadora era que eu não conseguia prever o que poderia acontecer. Eu imaginava algo como uma das engenhocas complexas que se veria em Viva Pitágoras. Algo que expulsaria os infratores pela porta da frente.

— A propósito, você está em um encontro, senhor? — perguntou Ludwin.

— Estamos sim. — Roroa deu um salto, envolvendo-se em volta do meu braço.  — Somos nós três: Querido, a irmãzona Ai, e eu.

Ludwin olhou para nós, confuso.

— Vocês três? Mas… Ah! E-Entendi. Bem, s-se divirtam.

Com isso dito, Ludwin pegou Genia e se retirou na mesma horas.

Parecia que ele queria dizer algo… Ou era coisa da minha cabeça?

— De qualquer forma, vamos? — sugeri às outras duas e continuamos.

Ao longo do caminho Aisha parou e olhou para trás uma série de vezes. Tinha algo a incomodando?

— Aisha? — perguntei.

— Não, não é nada… — Ela se envolveu ao redor do meu braço.

Será que uma das armaduras realmente começou a se mover, e Aisha tinha notado e se assustado… ou qualquer coisa assim? Fiquei preocupado e estava prestes a perguntar, quando Roroa puxou minha manga.

— Ei, ei, Querido. Por que não há nada mais além de ossos em exibição aqui?

Quando Roroa me perguntou isso em um tom um tanto aborrecido, olhei à minha frente e vi uma caixa de vidro cheia de esqueletos remontados de várias criaturas. Do ponto de vista de uma pessoa moderna, isso era algo comum em museus de história natural, mas para as pessoas deste mundo, poderia parecer bem errado.

— Parece algo que compõe rituais bizarros prestes a acontecer ou algo do tipo — completou ela.

— Ha ha ha! Não é isso — falei —, esse museu coleta e exibe itens históricos, livros, e esqueletos de espécimes de criaturas vivas preservadas, também tem outros itens interessantes sobre a ciência da natureza. O que temos aqui são os ossos que escavamos por acaso enquanto tentávamos construir lagoas de sedimentação. Os que terminaram de pesquisar ficam em exibição. Não são apenas esqueletos de animais; alguns são de monstros.

— Esqueletos de monstros… Isso está certo? Existem monstros que não são nada além de ossos, sabia? — disse Roroa.

— Bem… pelo que os pesquisadores me disseram, esse tipo de esqueleto de monstro precisa de magia em seus ossos e, uma vez que a magia acaba, viram apenas ossos comuns — falei —, mas não entendo isso muito bem.

Eles foram certificados como seguros por um mago profissional, então eu imaginei que estava tudo bem.

Provavelmente…

— Mesmo assim, com certeza há muitos ossos — comentou Aisha —, este é um cervo gigante? — ela suspirou de encanto pelo fóssil que parecia uma versão ainda mais maciça do alce irlandês. —,eu nunca tinha visto um cervo tão grande antes, nem mesmo na Floresta Protegida por Deus. Ver uma criatura como esta que certa vez viveu perto da capital é surpreendente.

— Sim — falei —, uma das melhores partes dos museus é como eles agitam a nossa imaginação.

— Sim, também vejo algum encanto nisso — disse Roroa, olhando para os restos fossilizados de uma enorme criatura semelhante a um búfalo de água. — Eu me pergunto qual seria o preço mínimo por uma criatura como esta. Você poderia obter muita carne com isso, mas não acho que seria tão saborosa. Embora, desse tamanho, não são muito úteis para a agricultura, tenho certeza.  Acho que a carne realmente é a melhor parte deles…

— É nisso que você está pensando?! Em como vendê-los?!

— Carne, certo? — perguntou Aisha com uma fome perceptível

— Ah, cara — murmurei —, agora a Aisha está imaginando como devem ficar assados

B-Bem, não era como se todos tivéssemos que ter a mesma reação ao ver as mesmas coisas. Fazer um alvoroço enquanto olhávamos as exposições também era divertido. Mesmo tendo que fazer isso sutilmente.

— Huh? — murmurei.

Quando parei na frente do que pareciam ser os ossos de humanos antigos, algo se destacou para mim. Com um esqueleto humano e um esqueleto de homem-fera em exibição lado a lado, pude ver algumas diferenças. O esqueleto do homem-fera tinha ossos mesmo na cauda, ​​bem como longos dentes caninos.

— O que houve, senhor? — perguntou Aisha. Então tentei explicar, sem realmente entender o que eu queria dizer.

— Não, quando eu os vejo lado a lado, é um mistério pra mim, sabe.

— Um mistério, você diz?

— Sim. Tipo, como evoluíram até isso?

Estive estudando ciências humanas, então não era especialista em biologia, mas pelo menos conhecia a teoria da evolução. Os seres humanos evoluíram de ancestrais semelhantes aos macacos, e aqueles ancestrais semelhantes aos macacos evoluíram de criaturas semelhantes aos ratos, ou algo assim.

Então, de onde evoluíram os diversos homens-fera, elfos e outras raças? Na verdade, a teoria da evolução se aplicava a este mundo? Embora isso tenha ocorrido em parte porque não houve muita busca por eles, não encontramos fósseis de cem milhões de anos atrás, como os dinossauros na Terra, então era possível que as coisas tivessem uma origem bem diferente por aqui…

— Querido, Querido! — A voz de Roroa me trouxe de volta do mar de pensamentos em que havia caido para a realidade.

— Huh? Ah! O que foi, Roroa?

— Nossa — disse ela —, supostamente estamos em um encontro aqui, então você não pode simplesmente ignorar as garotas com quem está e fechar a cara.

— Ahh… Desculpa, sinto muito.

É verdade, essa não era a hora de me perder em pensamentos e negligenciar Aisha e Roroa. De qualquer forma, havia muito pouca evidência para eu chegar a alguma conclusão.

— Bem, vamos passar para o próximo? — perguntou ela.

Com Roroa me puxando pelo braço, Aisha e eu a seguimos com sorrisos irônicos em nossos rostos.

Quando saímos do andar com a exibição das criaturas, subimos as escadas, em seguida estavam os vários implementos da civilização.  Ferramentas que pessoas de muito tempo atrás usaram estavam alinhadas em exibição. Armas antigas, armaduras, implementos agrícolas e até mesmo papel amarelado que parecia tão velho quanto era.

— Sobre o que se trata esse andar? — perguntou Roroa.

— Há algum tempo, a fim de conseguir dinheiro para os recursos da guerra para o Império e para financiar minhas reformas, reorganizei o tesouro do castelo. Na época, os tesouros eram classificados em três categorias: Categoria A (itens com valor histórico ou cultural), Categoria B (itens sem valor histórico ou cultural, mas com valor monetário) e Categoria C (itens relacionados à magia ou que de outra forma requerem cuidado na forma como devem ser usados). Vendemos apenas o material da Categoria B, e a maior parte do material em exibição aqui foi classificado como Categoria A. Resumindo, este é o “Piso da História”.

Roroa franziu a testa.

— Valor histórico ou cultural, é… Até mesmo este papel velho e amarelado também tem?

— Naturalmente — falei. — Esta é uma carta enviada por um ex-rei a um de seus subordinados. As cartas são uma parte íntima da vida das pessoas. Elas são um recurso valioso para obter informações sobre a época em que os escritores delas viveram.

— Eu entendo que isso é valioso, mas eu não sairia do meu caminho apenas para ver isso aqui no museu — disse ela.

— Bem, que tal esta aqui? — perguntei. — Esta é uma carta de amor vergonhosa escrita por um nobre de muito tempo atrás para sua amada, junto com a resposta gentilmente decepcionante que a senhora mandou de volta.

— Claro, isso é interessante, mas… Você não acha que esse nobre deve estar fazendo um berreiro em seu túmulo? — Apontou ela.

— Você deve estar certa…

Embora fosse academicamente valioso, ainda assim estávamos exibindo algo que o próprio homem provavelmente gostaria de esquecer.

Roroa cruzou os braços e falou consigo mesma: — Mas, cartas e ferramentas, é tudo um pouco simples demais. Você não tem uma atração principal do tipo que faria todo mundo querer ver?

— Tenho algo exatamente assim para te mostrar — levei Roroa e Aisha à frente de uma certa vitrine. Quando elas viram…

— Fwah?! — Ambas explodiram de surpresa.

Era uma armadura legal e bonita, feita de prata e ornamentada com ouro.  Tinha sido alumiada com graciosidade, fazendo brilhar quase ofuscantemente. As braçadeiras, as botas e até a espada e o escudo tinham todos o mesmo desenho, e a couraça e o escudo exibiam o brasão da casa real de Elfrieden de uma forma que não poderia enfatizá-lo ainda mais.

— Esta é a principal atração deste museu — falei, apontando para ela como um guia turístico normalmente faria —, o equipamento completo do Primeiro Rei Herói.

Era o equipamento do primeiro herói que diziam ter sido convocado de outro mundo, assim como eu, e que construiu o Reino de Elfrieden. Estava em exibição bem na nossa frente. Aliás, esse era o artefato genuíno. Se tentássemos fazer uma réplica, ela pareceria barata e sua produção também seria bem cara.

Aisha e Roroa arregalaram os olhos diante tal visão lendária.

— Que equipamento lindo… — murmurou Aisha.

— Você disse que… Esse é o verdadeiro tesouro nacional, não é?! — disparou Roroa.

— Bem, acho que podemos dizer isso.

— Está tudo bem mesmo em colocá-lo em exibição em um lugar como este? — disse Roroa, segurando as têmporas enquanto falava, mas eu ri.

— Olhei para isso, e o único encantamento que tem é um que aumenta a resistência à magia do usuário em um nível ridiculamente alto. Algo como a armadura que o Corpo de Armaduras Mágicas do Império usa. Já que é a armadura do Rei Herói, seria problemático deixar qualquer um além de mim usá-la, e também não existem muitas chances de eu usá-la. Se fosse apenas para sentar e acumular poeira no tesouro real, imaginei que tê-la em exibição aqui seria um uso mais eficaz para ela.

Se mais pessoas viessem ao museu para vê-la, isso ajudaria a cobrir os custos de funcionamento do museu. O problema seria mantê-la em vigilância, mas é para isso que eu tinha uma unidade de elite do Exército Proibido no destacamento de segurança.

Depois de me ver explicar tudo isso confiantemente, Roroa suspirou.

— Minha nossa… A irmãzona Cia não teria um ataque se soubesse disso?

Ah…! Sim, é verdade. Esses itens poderiam ser considerados a “cara” do país.

— B-Bem, não é como se eu estivesse vendendo ou algo do tipo — falei. — Estou fazendo um bom uso disso aqui, então não vejo necessidade de sair e ir contar sobre isso para Liscia…

— Hm… acho que provavelmente é tarde demais para isso — disse Aisha se desculpando, no momento em que senti um toque em meu ombro.

— Huh?

— Sooouuuma?

Quando me virei, Liscia estava atrás de mim com um sorriso no rosto.  Atrás dela estava Juna, com as mãos juntas como se dissesse que estava arrependida.

— O-O que vocês duas estão fazendo aqui? — gaguejei.

— Eu disse que deixaria Roroa ficar contigo hoje, mas nunca disse que não iria seguir vocês em segredo — disse Liscia, em um tom que fazia parecer que ela não tinha feito nada de errado e tinha o direito de ficar chateada comigo.

— Sinto muito. — Adicionou Juna instantaneamente. — Nós supostamente só íamos vigiá-los das sombras…

Elas estavam nos seguindo o tempo todo?!

Aisha assentiu com a cabeça parecendo entender:

— Então, a presença que eu senti era mesmo vocês duas.

— Aisha?! Se você notou, devia ter me dito…

— Souma! — gritou Liscia.

— S-Sim?!

No momento seguinte, era hora de Liscia me dar um sermão. Estaríamos causando problemas para os outros visitantes se fizéssemos isso na frente da exposição, então fomos até um canto do jardim, e ela me fez ajoelhar em sua frente no gramado enquanto me dava um sermão.

O que eu achava que estava fazendo com os tesouros nacionais? Como pude ser tão ousado, eu, que fui convocado como um herói, colocar o equipamento do herói em exibição como uma curiosidade? Eu precisava ter mais consciência do meu papel como um rei!  Ela continuou e continuou.  Liscia era séria até demais, então não suportava quando eu não fazia essas coisas direito.

— Hm… Lady Liscia, não é como se Sua Majestade quisesse fazer algum mal — expôs Aisha

— Ele fez isso em benefício de seu país, então deixe essa passar — adicionou Roroa.

— Este é o dia de Lady Roroa ter um encontro, então acho que você já deu sermões o bastante… — murmurou Juna.

Aisha, Roroa e Juna intervieram, então o sermão foi mais curto que o normal. Sim, seus sermões geralmente eram bem mais longos.

— Sinceramente, desta vez vou deixar passar, em consideração a vocês três, mas… Escute, Souma — retrucou Liscia —, alguns dos nobres que se preocupam com a autoridade odeiam coisas assim. É por isso que você precisa me consultar adequadamente antes de fazer esse tipo de coisa. Se eu, como alguém da Casa Real de Elfrieden, der permissão, você não perturbará os nobres desnecessariamente.

— Sim, madame… — falei humildemente —, eu realmente sinto muito.

Ela estava tão certa que não havia nada que pudesse ser dito em resposta. A razão pela qual Liscia me deu um sermão por tanto tempo era que ela realmente se importava com meu bem-estar. Eu sabia disso, então aceitei de bom grado.

Terminado o sermão, Roroa bateu palmas duas vezes.

— Agora, podemos voltar ao nosso encontro, certo?

— Ah! Desculpe, Roroa — exprimiu Liscia com culpa —, desculpe por ter vindo mesmo depois de ter dito que deixaria vocês saírem sozinhos.

— Hmm, bem, não é como se eu não entendesse como vocês duas se sentem.  Não há muito que eu possa fazer sobre isso agora que você está aqui, de qualquer maneira, então vamos ficar juntas. — Roroa envolveu-se em torno do braço de Liscia, bajuladoramente. — Temos uma grande multidão aqui, que tal algumas comprinhas?

— Isso soa muito bem — concordou Liscia.

— Que tal fazermos o Souma levar as nossas compras como punição?

— E-Estou começando a ficar com fome, sabe — reclamou Aisha.

— Hee hee! Então, por que não vamos ao Café Lorelei primeiro? — Juna riu baixinho

— Parece bom.

Antes que eu pudesse perceber, nossos planos para a tarde haviam sido decididos sem que eu pudesse dizer uma palavra.

 

Quando confrontado por essas garotas poderosas, mesmo sendo rei ou herói, eu não era páreo para elas.

— Vamos lá, Souma, temos que nos apressar — anunciou Liscia, segurando minha mão.

— Ainda há mais diversão, Querido — acrescentou Roroa, agarrando a minha outra mão.

De alguma forma, enquanto elas me puxavam pelos braços, senti como se estivesse vendo exatamente como seria o futuro equilíbrio de poder entre nós.

A propósito, discutimos a questão do equipamento do herói mais tarde e decidimos exibi-lo apenas uma vez por ano e por um tempo limitado. Isso significava que não precisaria de tanta segurança como tinha planejado, e o evento pareceria algo especial, e eu gostei disso.

 


 

Tradução: Tavin

 

Revisão: RedBaron

 

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