Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 04 – Cap. 01 – Preparação para a inovação

O Capitão da Guarda Real, Ludwin Arcs.

Embora tivesse apenas vinte e tantos anos, este excelente homem era o capitão da Guarda Real, encarregado de liderar o Exército Proibido de 40.000 homens em tempos de crise.

Desde que o Exército Proibido do Reino, o Exército, a Marinha e a Força Aérea foram desmantelados e reorganizados como a Força de Defesa Nacional, ele foi visto como o próximo na fila para se tornar o Comandante Supremo. Ele estava atualmente treinando sob a atual Comandante Suprema, Excel, como seu segundo em comando.

Ele era um homem bonito com cabelos louros lisos que vinha de uma boa família. Também era muito popular entre as empregadas que trabalhavam no castelo. No entanto, apesar de tudo isso, nunca houve rumores de que estava se envolvendo com uma mulher, e uma vez ficou perturbado quando rumores estranhos começaram a se espalhar, um de que poderia cortar para o outro lado.

Falando em rumores estranhos sobre Ludwin, houve mais um: o boato de que as finanças de sua família estavam em problemas.

Isso surgiu do fato de que Ludwin, por algum motivo, estava sempre comendo no refeitório com as criadas e guardas que trabalhavam no castelo, como se estivesse tentando manter suas despesas ao mínimo. Ele era de uma boa família, ocupava um cargo importante e recebia um bom salário, então era difícil imaginar; mas de vez em quando Ludwin era visto comendo o pãozinho mais barato que a lanchonete oferecia.

Em resposta a isso, muitas teorias foram apresentadas.

“Ele quer compartilhar as alegrias e tristezas de seus homens comendo as mesmas coisas que eles comem” ou “Por ser econômico, ele está se preparando para um momento de crise” foram algumas das interpretações mais positivas. Mas…

 

 

“Na verdade, talvez ele seja um avarento mesquinho”, disseram alguns, e “Talvez ele tenha uma amante e um filho secreto e todo o seu dinheiro vá para eles”, fofocavam outros.

No entanto, enquanto não se falava de Ludwin fazendo exibições ostensivas de gastar dinheiro, também não havia sinal de que ele estava economizando. Então, para onde estava indo o seu salário?

A resposta a essa pergunta era algo que eventualmente descobriríamos.

– Inicio do 11° Mês, 1.546° Ano, Calendário Continental – Capital Real de Parnam –

Com o outono ficando cada vez mais profundo, os dias foram ficando gradualmente mais frios.

Com os acordos pós-guerra com o Principado da Amidônia concluídos e os nobres corruptos que estavam trabalhando nos bastidores para me atrapalhar internamente afastados, Elfrieden estava desfrutando de uma paz passageira.

Como a ameaça interna dos nobres corruptos e a ameaça externa da Amidônia foram resolvidas ao mesmo tempo, a opinião do povo sobre mim mesmo como rei e Hakuya como primeiro-ministro havia melhorado. Com os nobres que optaram por não tomar partido no conflito com os três duques agora jurando lealdade a mim, fui capaz de rapidamente centralizar o poder.

Era aquela espécie de tarde de outono em que eu podia imaginar que minhas reformas políticas avançariam a passos largos.

Atualmente, estava no escritório de relações governamentais em Parnam, mostrando uma certa coisa para Liscia.

— Olha isso aqui. O que acha?

— É muito… longo, fino e curvo. — Com um olhar curioso no rosto, Liscia olhou fixamente para o que eu estava mostrando a ela.

— Você quer experimentar? — perguntei.

— Posso? Bom, então…

Os dedos finos e brancos de Liscia alcançaram o florete em sua cintura. Então, estreitando os olhos, ela desembainhou a lâmina e a golpeou contra a coisa. No instante seguinte, houve o rangido de metal contra metal e a ponta de seu florete foi cortada e caiu no chão.

Liscia olhou para trás e para frente, da ponta decepada para seu florete, em seguida, gritou de surpresa:

— M-Minha espada?!

Enquanto Liscia perdia a cabeça com o que tinha acontecido, deixei escapar um grande suspiro.

— Por que você golpeou de repente…?

— Bem, você perguntou se eu queria testar! — exclamou ela.

— Eu queria que você segurasse, talvez praticasse alguns balanços… — falei. — Não tenho ideia de por que você de repente tentou cortar…

Liscia às vezes podia ser um pouco boba. Era a influência de seu professor Georg?

— Além disso, você devia saber o que aconteceria quando golpeasse duas lâminas uma na outra, certo? — perguntei.

Os olhos de Liscia vagaram pela sala sem jeito.

— B-Bem, você sabe… Essa é uma katana Dragão de Nove Cabeças, certo? Podemos dizer que eu estava interessada no fio dela…

— Sinceramente…

A lâmina que cortou a espada de Liscia em duas era um tipo de katana, especificamente uma katana Dragão de Nove Cabeças, forjada na União do Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças, um estado marítimo que governava o Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças a leste de Elfrieden.

Tinha um gume único, com uma lâmina fina, estreita e curva. Havia uma ranhura de sangue entre a crista da lâmina e as costas. Isso era detalhe suficiente para deixar claro que, para aqueles que sabem, a katana Dragão de Nove Cabeças se assemelhava muito a uma katana japonesa.

Ao contrário das espadas deste país, que foram feitas para cortar coisas (no estilo ocidental), elas foram especialmente projetadas para cortar empurrando ou puxando. Exatamente o mesmo que uma katana japonesa. O processo de fabricação talvez também fosse o mesmo.

Aquela katana Dragão de Nove Cabeças estava fora de sua bainha e sua lâmina estava exposta, pousada no topo de um porta-espadas com a lâmina voltada para cima. Foi assim que Liscia deu um golpe e perdeu.

Ela agora estava olhando fixamente para a lâmina da katana Dragão de Nove Cabeças.

— Tem uma tecnologia de ponta incrível, hein.

— Tínhamos espadas como essas no país de onde vim e, quando se tratava de poder de corte, eram de primeira classe — falei.

Em um programa que assisti, cheguei a ver uma katana cortando o fluxo de um cortador de água (uma máquina que usava água em alta pressão para cortar as coisas). Deviam ter um poder de corte bastante impressionante.

Liscia deixou escapar um grunhido impressionado.

— Isso é realmente impressionante. Mas o que uma katana Dragão de Nove Cabeças está fazendo aqui?

— Foi um presente da Excel — falei. — Aparentemente, veio de um navio de pesca do Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças que apreenderam.

— Um navio de pesca?

— Tem havido muitos deles ultimamente, pelo que ouvi. Navios do Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças que entram em nossas águas para pescar ilegalmente.

Neste mundo, havia grandes criaturas chamadas de dragões do mar (pareciam plesiossauros monstruosos com chifres de cabra) usados para puxar navios de ferro. Os dragões marinhos eram relativamente dóceis, mas entre as grandes criaturas marinhas deste mundo, também havia algumas ferozes e perigosas, como os tubarões supermassivos chamados megalodons. Como esse tipo de criatura marinha perigosa vivia principalmente no fundo do mar, a pesca era, por necessidade, restrita às águas costeiras do continente e das ilhas.

Ainda havia peixes suficientes para pescar, então não era um grande problema, mas nos últimos anos, o número de navios do Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças que vinha pescar em nossas águas tinha aumentado.

Neste mundo, era comumente aceito que a pesca deveria ser praticada nas águas costeiras do próprio país ou em alto mar (embora isso fosse perigoso, é claro), e pescar nas águas costeiras de outro país era considerado ilegal. Os navios de pesca ilegal podiam ser apreendidos ou afundados sem direito a recurso. E, ainda assim, o número de embarcações de pesca ilegal entrando em nossas águas estava aumentando.

Correlacionando com isso, houve um aumento no número de confrontos entre pescadores.

— Apresentamos uma reclamação formal à União do Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças, mas… não houve resposta — falei. — A frota de Excel está patrulhando nossas águas, mas não parece estar surtindo muito efeito.

— Bem, você está lidando com um estado marítimo — disse Liscia. — Eles têm os melhores construtores navais e timoneiros do mundo.

Ela estava certa. No Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças, treinavam outras criaturas que poderiam puxar seus navios, além dos dragões marinhos usuais. Ouvi dizer que eles eram incrivelmente rápidos. Isso, e porque os navios de pesca eram feitos de madeira e não carregados com canhões, podiam se mover rapidamente. Caso se concentrassem em tentar escapar, um navio militar não poderia alcançá-los.

— Mesmo este navio que apreenderam recentemente só foi pego quando tiveram o azar de encalhar — acrescentei.

— Então por que não perseguimos eles com nossos velozes navios de madeira? — perguntou Liscia.

— Se fizéssemos isso e eles estivessem armados, teríamos grandes perdas, sabe?

— Tem razão…

Era doloroso que, como aqueles na defensiva, havia um mínimo de equipamento que precisaríamos preparar.

Liscia cruzou os braços e pensou profundamente sobre isso.

— Ainda assim, é um pouco estranho. É verdade que, se chegarem às nossas águas costeiras, podem pescar aqui facilmente, mas para chegar aqui têm que viajar em mar aberto onde existem grandes criaturas marinhas, certo? Por que correm esse risco para pescar aqui ilegalmente quando há a chance de serem pegos?

— Vai saber… — falei — Pode estar acontecendo alguma coisa no arquipélago e não temos como descobrir o que é. Quase não obtemos informações sobre os países insulares.

Mesmo que minha unidade de operações clandestinas, os Gatos Negros, se infiltrasse no país para coletar informações, o país era cercado pelo mar, o que dificultava a divulgação de informações. Os mensageiros kuis não poderiam viajar por grandes extensões de mar quando não houvesse lugar para descansar, e uma joia para a Transmissão de Voz da Joia seria grande o suficiente para que fosse difícil de entrar furtivamente. Isso, e havia o risco de perdê-la.

No final, teríamos que recorrer ao envio de gente pelo mar para entregar as informações, mas isso levaria dias. A informação tinha que ser fresca. Mesmo se nossos espiões colocassem as mãos em informações importantes, não faria sentido se não houvesse uma maneira de comunicá-las de imediato.

Eu tinha perguntado àqueles que, como uma de nossas principais loreleis, Nanna, haviam se mudado para cá do Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças, mas descobri que, embora todas as ilhas jurassem lealdade ao Rei Dragão de Nove Cabeças, a situação de vida em cada uma delas era diferente. Embora eu pudesse reunir fragmentos de informações, era difícil formar a situação geral.

— Devo dizer que é mais difícil lidar com um país quando você não sabe o que eles estão pensando do que lidar com um que é claramente hostil — falei. — Eu nem sei se devemos nos preparar para nos defender.

— Verdade…

Liscia e eu destruímos nossos cérebros, mas não chegamos a nenhuma conclusão.

— Bem, não há muito sentido em pensarmos sobre isso aqui… — falei. — Voltando ao tópico da katana Dragão de Nove Cabeças, as katanas do meu mundo eram incrivelmente afiadas, mas tinham a desvantagem de não resistir a impactos e quebrar ou deformar facilmente — falei. — Mas, neste mundo, há magia de encantamento, certo? É assim que esta katana é resistente o suficiente para resistir a alguns golpes.

— Isso a tornaria a melhor em sua classe como lâmina de espada, sim — disse Liscia. — Mas, bem… isso é só para a própria lâmina.

— Hein? O que quer dizer com isso? — perguntei.

— Não lutamos apenas com a força de nossas armas. Todos neste mundo podem usar magia em maior ou menor grau, e a maioria de nós usa magia elemental de fogo, água, terra ou vento. Quando se trata de uma luta, também podemos usar nossas lâminas com esses elementos.

Ah, eu vi isso, pensei. Eu lembrava de Aisha ter usado magia de vento para aumentar o poder de corte e alcance de ataque de sua espada larga, enquanto Hal usou magia de fogo para fazer sua arma explodir quando atirada no inimigo.

— É por isso que a capacidade de corte da arma em si não é tão importante — disse Liscia. — Embora, dito isso, tenho certeza de que em uma batalha nos mares, onde tudo, exceto a magia elemental da água, é mais difícil de usar, seriam as mais fortes. A principal forma pela qual as pessoas do Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças lutam no mar é se aproximando rapidamente e abordando seus inimigos, como piratas.

— Hmm… É uma arma adequada para uma nação marítima, hein… — Enquanto ouvia a explicação de Liscia, olhei atentamente para a lâmina da katana. — Mas… Eu gostaria de colocar minhas mãos nessas técnicas de forja.

— Hein? Eu não acabei de dizer que não faz sentido? — perguntou ela.

— Para armas, sim. Mas existem muitos outros usos para lâminas afiadas, não é?

Se produzíssemos facas com um fio bom e afiado em grande escala, eu tinha certeza de que os chefs seriam capazes de produzir pratos mais delicados e saborosos. Se tivéssemos ferramentas mais afiadas, poderíamos ser capazes de usá-las para produzir ferramentas ainda melhores. Depois, havia as aplicações médicas, como bisturis. Achei que isso poderia ser o mais urgente. Na cirurgia, quanto mais afiadas as ferramentas usadas, menos estresse seria colocado no corpo do paciente.

Essa era uma técnica com todas essas aplicações. Eu a queria muito.

— Tecnicamente, também tenho pessoas pesquisando isso aqui, mas… parece que vai demorar um pouco — falei.

Quando se tratava de espadas japonesas, eu sabia que aqueciam, dobravam o ferro e batiam nele. Esse era o tipo de conhecimento geral aproximado que eu tinha. Tamahagane1Tamahagane é um tipo de aço fabricado na tradição japonesa. A palavra tama significa “redonda e preciosa”, como uma jóia. A palavra hagane significa “aço”. Tamahagane é usado para fazer espadas, facas e outros tipos de ferramentas japonesas. ou hihi’irokane; qual era que realmente existia mesmo? Com esse nível de conhecimento, não havia como recriar a espada japonesa.

— Se tivéssemos ao menos relações diplomáticas com eles, pagaria uma boa quantia para que nos transferissem o conhecimento dessas técnicas — ponderei.

— É por isso que você está se perguntando o que a União do Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças está pensando? — perguntou ela.

— Exatamente.

— Parece um problema difícil de resolver — disse Liscia.

Ela poderia dizer isso de novo. A Amidônia tinha clara intenção de invadir, e eu tomei a decisão de combatê-los porque estávamos em uma situação que nos obrigava a isso, mas não poderia manter este país intacto se estivéssemos lutando em guerras com nossos vizinhos enquanto entrava ano e saía ano. Eu queria abrir relações diplomáticas, nem que fosse para evitar um confronto desnecessário.

— Bem, de qualquer forma — falei —, precisamos desenvolver nossas próprias técnicas que outros países não terão. Tecnologia e estudos construirão uma base inabalável para o país.

— Parece razoável, mas você tem alguma ideia específica? — perguntou Liscia.

— As técnicas são criadas por pessoas — falei. — É por isso que não temos escolha a não ser ir atrás de qualquer um que possa ter essas técnicas. Eu também tenho uma pessoa em mente.

— Apenas a pessoa certa? — perguntou Liscia, olhando para mim com dúvida.

Concordei com a cabeça.

— Ludwin estava nos contando sobre isso um tempo atrás, lembra? Ele disse que há um cientista maluco no Exército Proibido. Acho que farei com que ele cumpra sua promessa de algum dia nos apresentar.

Então, no momento em que estávamos conversando sobre isso, soou uma batida e a porta do escritório foi aberta, com o próprio Ludwin entrando correndo.

De repente, ele caiu no chão, abaixando a cabeça a ponto de quase tocar o solo. Não foi uma mesura formal, mas foi bem parecida.

— Vossa Majestade! Sinto muito — disparou ele de repente.

Em resposta, Liscia e eu arregalamos os olhos e falamos simultaneamente:

— Por que você está se desculpando de repente? — questionei.

— Aconteceu alguma coisa, Sir Ludwin? — perguntou ela.

Ludwin ergueu o rosto e falou, escolhendo cuidadosamente as palavras:

— Bem, sabe… conheço alguém que fez algo ultrajante…

— Algo ultrajante? — perguntei cautelosamente.

Será que havia acontecido alguma coisa? Agora, quando finalmente resolvi a montanha de coisas que tinha que fazer depois de receber o trono, algo iria acontecer de novo? Eu estava começando a me sentir um pouco farto disso tudo.

Ludwin perguntou, hesitante:

— Hm… senhor. Será que você se lembra que eu disse que havia uma pessoa que eu queria que você conhecesse?

— Hm? Ahh. Liscia e eu estávamos conversando sobre isso — falei. — O cientista maluco que você conhece, certo? Tenho vontade de conhecê-lo, mas as coisas andam muito ocupadas ultimamente. Sinto muito, não consegui encontrar tempo.

— Não, eu entendo isso completamente. É só que…

Ludwin pareceu hesitante em falar, mas ele se decidiu e continuou.

— A pessoa responsável é essa conhecida.

O feudo Arcs ficava entre a capital real Parnam e a nova cidade costeira de Venetinova.

Era a terra governada pelo Capitão da Guarda Real, Ludwin Arcs, que era o chefe da Casa dos Arcs. Como Ludwin morava no castelo, ele normalmente deixava um magistrado que tomava as decisões em seu lugar.

Quando comparado com os feudos mantidos por outros membros da nobreza e da cavalaria deste país, era um de médio porte. Ludwin havia se destacado na guerra recente, então eu queria transferi-lo para um feudo maior, mas ele tinha sido muito específico sobre seu próprio domínio e recusou obstinadamente. Não vi nenhum motivo para forçar a transferência, então optei por expandir os limites de seu feudo atual para atender às suas preferências.

Liscia, Ludwin e eu tínhamos ido ao feudo dos Arcs em uma gôndola carregada por um dos wyverns da casa real. Tínhamos feito a viagem para verificar os fatos que Ludwin nos contara alguns dias antes.

— Está tudo bem em deixar Aisha para trás assim? — perguntou Liscia.

— Bem, nós temos Ludwin aqui — falei.

Não levei minha guarda-costas para este passeio. Aisha ficou preocupada e fez um alvoroço por causa disso, mas com o Capitão da Guarda Real por perto, imaginei que ficaria tudo bem. Além disso… Eu queria manter isso em segredo, então quanto menos pessoas envolvidas, melhor.

Do ar, o feudo dos Arcs estava pontilhado com as cores do outono pelas folhas que caíram das árvores. Também havia muitos campos e pastagens, então a paisagem que se estendia diante de nós dava uma sensação de tranquilidade.

Isso era baseado apenas em minhas próprias sensações, mas este continente, que era um pouco maior do que a China no Período dos Três Reinos, tinha uma diferença considerável de clima entre o norte e o sul.

Quanto mais ao norte ia, mais quente, e quanto mais ao sul, mais frio. Isso era verdade até mesmo dentro deste país, e nas regiões mais ao sul, a neve já havia começado a cair. O feudo dos Arcs, estando mais ao norte, ainda possuía um clima temperado de outono.

— Gostaria que pudéssemos apenas pegar leve e fazer um piquenique ou algo assim — resmunguei.

— Eu entendo, realmente entendo, mas faremos isso em outra hora, certo? — Liscia me repreendeu gentilmente. — Hoje viemos por um motivo, não é?

— Eu sei, mas, ei, o dia está tão bom…

— Ah, é aqui, senhor — interrompeu Ludwin. — Por favor, nos deixe aqui.

Seguindo as instruções de Ludwin, pousamos a gôndola e desembarcamos na orla de uma pequena floresta. Mesmo depois de sair da gôndola, tudo que pude ver foram as árvores. Nada parecia fora do comum nesta floresta.

Mandei o motorista da gôndola esperar por nós e perguntei a Ludwin:

— É na floresta mesmo?

— Sim — respondeu ele. — Embora, para ser preciso, não seja “dentro”, mas “embaixo”.

— Embaixo? — perguntei.

— Acho que seria mais rápido se eu mostrasse. — Dito isso, Ludwin partiu em direção à floresta. — Agora, senhor, princesa, por favor, sigam-me.

Seguindo Ludwin, Liscia e eu caminhamos lado a lado pela floresta. Como precaução contra criaturas selvagens, eu tinha os bonecos de rato exploradores de área que usei enquanto fornecia socorro à aldeia dos elfos negros, mas não parecia haver nenhum animal selvagem que fosse uma ameaça. Era uma pequena floresta e eu poderia dizer que as pessoas entravam nela com frequência. Com as folhas caídas das árvores, estava claro dentro da mata, o que também proporcionava boa visibilidade.

Se fosse necessário, imaginei que Ludwin e Liscia poderiam lidar com qualquer problema que surgisse.

Ludwin estava à nossa frente, limpando todos os galhos que pudessem ficar em nosso caminho com sua espada e escudo, então tudo que tivemos que fazer foi caminhar atrás dele. Enquanto caminhava sobre as folhas caídas, comecei a entrar de novo no clima para um piquenique. Naturalmente comecei a cantar uma música que combinava com a atmosfera.

— Essa é uma boa música. Qual é? — perguntou Liscia.

— O tema do primeiro filme de um anime de monstros que todas as pessoas do meu país conheceriam — falei.

— A única coisa que sei é que o que você acabou de dizer não faz sentido para mim… — Liscia apenas revirou os olhos, mas de repente assumiu um olhar mais pensativo. Imaginei o que estava acontecendo, mas, no momento seguinte, ela colocou o braço em volta do meu. — E agora? Parece um pouco mais com um piquenique?

Vendo o sorriso tímido de Liscia…

— Agora estou ficando estranhamente suado — falei.

— Por quê?! — exclamou ela.

— Porque você é muito fofa e está fazendo meu coração disparar.

— Huh?! A-Ah. Meu coração também — flertou ela em resposta.

Ludwin parou.

— Este é o lugar, senhor, princesa.

Ludwin se virou, então rapidamente recuei. Só então percebi algo que ainda não tinha percebido. Havia algo grande bem na nossa frente. E era…

— Uma garagem…? — perguntei. Essa parecia ser a única maneira de descrever o objeto retangular.

Estava coberto de musgo, mas parecia feito de algo parecido com concreto e tinha uma veneziana de um lado. Era grande o suficiente para caber um carro comum. Embora às vezes tivesse tecnologias que pareciam muito à frente de seu tempo, este mundo estava em um nível pré-revolução industrial, em média, então essa estrutura parecia fora do lugar.

Enquanto eu reagia com confusão, Ludwin balançou a cabeça.

— Não é uma garagem. Afinal, não é alto o suficiente para uma carruagem puxada por cavalos entrar.

Neste mundo, a suposição comum era de que uma garagem servia para acomodar carruagens. No meu mundo, poderia não caber uma van, mas um carro comum caberia com facilidade. Não que valesse a pena tentar explicar… mas, pensando bem, isso tornava a estrutura deste edifício ainda mais difícil de entender.

— Bem, e o que é? — perguntei, e Ludwin respondeu com toda a seriedade:

— A entrada para uma masmorra, senhor.

Masmorras.

Esses lugares labirínticos tinham sua ecologia única e misteriosa.

Eles também eram o único lugar onde a existência de monstros foi confirmada antes da chegada do Lorde Demônio.

Quando eu estava usando meus Pequenos Musashibos para brincar de aventureiro, tinha ouvido Dece, Juno e outros membros de seu grupo falar delas. Mas aquela de que me falaram era uma caverna, como pode imaginar. Eu não tinha ouvido nada sobre esse tipo de entrada claramente artificial.

Apresentei minhas dúvidas, mas as masmorras aparentemente adotavam muitas formas.

— Existem todos os tipos de masmorras diferentes — explicou Liscia. — Aparecem em todos os lugares, desde planícies até florestas e montanhas, e até mesmo nas profundezas do mar. Por dentro podem ser como cavernas, ou pavimentadas com pedra como o porão de um castelo, ou até mesmo um espaço bizarro com paredes de metal.

Eu lembrava vagamente que as joias que usamos para a Transmissão de Voz da Joia tinham saído de dentro de uma masmorra. Também tinha ouvido falar de outras peças de supertecnologia saindo das masmorras, então não era estranho descobrir que uma masmorra era feita de supertecnologia… não?

— Ei, espera. Como descobriram masmorras submarinas? — perguntei.

Liscia disse:

— Existem raças que vivem debaixo d’água, e algumas das masmorras submarinas têm ar dentro, então, nesses casos, as pessoas vão até elas dentro de umas coisas grandes parecidas com sinos.

Oh, um sino de mergulho, hein? Era uma espécie de máquina de mergulho em forma de sino, na qual se bombeava ar continuamente enquanto afundava. Eu só os conhecia dos mangás, mas… Eu meio que queria tentar andar em um.

— Bem, então há algum monstro nesta masmorra? — perguntei.

Ludwin balançou a cabeça.

— Não. Você poderia chamar isso de masmorra em ruínas. Os monstros e criaturas lá dentro já foram exterminados.

— Quer dizer que já foi limpa? — perguntei.

— Sim. E agora, é aqui que vive uma pessoa da Casa de Maxwell, uma família de excêntricos que recebeu os direitos desta masmorra em ruínas e a transformaram em um laboratório.

Ludwin se virou e falou em um tubo de metal próximo à entrada:

— Genia! Sou eu! Ludwin Arcs! Você raramente sai, então duvido que não esteja aí, então responda se estiver!

Ele devia estar gritando em um tubo de fala. Também havia alguns deles no navio de guerra Albert. E, espera, quem era essa pessoa que ele estava chamando de reclusa? Essa pessoa chamada Genia (baseado nesse nome, ela era uma garota?).

Então, do tubo de fala…

Bang, crash! Saiu o som de algo caindo, seguido pela voz de uma jovem:

— Ai. Ei, Irmãozão Luu. E aí?

— Não, não é “E aí?” — respondeu Ludwin. — Escutei um estrondo bem alto. Você está bem?

— Fiquei surpresa quando você de repente me chamou, então acidentalmente derrubei algumas coisas — disse Genia. — Bem, não eram produtos químicos perigosos, então está tudo bem.

— Isso não é nada bom — disse Ludwin. — Você sempre faz isso…

— Ahaha, levar um sermão por meio de um tubo de fala é uma experiência nova.

Diante de uma voz que não mostrava nenhum sinal de arrependimento, os ombros de Ludwin caíram. Senti que poderia dizer como o relacionamento deles funcionava apenas pelo que presenciei. Ela fazia coisas malucas e ele a perseguia.

Ludwin balançou a cabeça e tentou retomar a compostura.

— De qualquer forma, hoje trouxe alguns convidados importantes para ver o lugar. Deixe-nos entrar!

— Importantes? — perguntou Genia. — Tá bom. Já vou abrir.

A veneziana fechada começou a subir sozinha. Será que era operada por um interruptor? Isso parecia cada vez mais deslocado deste mundo.

Quando a veneziana ficou totalmente aberta, um conjunto de escadas que descia para o subsolo apareceu. Parecia que essa garagem era realmente apenas a entrada. Sem se importar com a minha surpresa, essa pessoa, Genia, disse com uma voz alegre e cantante:

— Certo, Luu, e meus convidados também, entrem.

Descemos as escadas para o subsolo e logo chegamos a um espaço aberto.

Pelo que Ludwin me disse, esta não era uma masmorra particularmente grande. Era como um grande edifício de seis ou sete andares, apenas enterrado no subsolo. Além do mais, a Casa de Maxwell, dona desta masmorra, havia removido todas as paredes e pisos entre os níveis para garantir mais espaço, então agora era apenas um grande espaço retangular.

A enorme escada que se estendia ao longo das paredes daquele enorme espaço parecia estar na beira de um penhasco íngreme, e isso era muito assustador. Eu gostaria que tivessem pelo menos colocado grades.

As paredes também pareciam ser feitas de metal. Liscia descreveu masmorras como esta como – espaços bizarros com paredes de metal – mas, para mim, era como estar dentro de uma nave futurística. As paredes de metal pareciam emitir uma luz fraca. O jeito que não estava escuro, mesmo estando no subsolo, também parecia futurista.

Internamente, fiquei chocado ao ver essa tecnologia incongruentemente avançada, mas Liscia e Ludwin não pareciam se incomodar com ela. Pelo visto, os dois pensavam que as paredes estavam brilhando por causa de magia ou algo do tipo. Como a magia poderia fazer qualquer coisa, as pessoas deste mundo talvez não tivessem muito senso de admiração.

Enquanto descíamos as escadas, perguntei sobre a Casa de Maxwell.

— Os Maxwells eram a casa nobre que originalmente governava esta área — explicou Liscia. — Deve estar no sangue deles, já que a Casa de Maxwell produziu muitos pesquisadores excelentes e dizem que elevaram muito o nível da civilização deste país. Eles são particularmente bem conhecidos por sua análise de tecnologias descobertas em masmorras. Foram os Maxwells que descobriram como usar receptores simples para a Transmissão de Voz da Joia.

Nossa…., pensei. Então foram os Maxwells que descobriram como usar aqueles receptores simples, hein?

— Espera, como é? — disparei. — Mas eles também são usados pelo Império, não?

— Bem, faz muito tempo — disse Liscia. — Um rei, algumas gerações atrás, vendeu o conhecimento para várias potências estrangeiras.

— Hmm… Bem, acho que é difícil para mim dizer que foi uma escolha — falei.

Ver o vazamento de tecnologia de ponta era assustador, mas se a tecnologia tivesse pouco efeito e outra pessoa fosse eventualmente desenvolvê-la, vender o conhecimento enquanto ainda valia alguma coisa poderia ser bom. Isso, ou trocá-lo por algum outro conhecimento.

— Por essa conquista, receberam esta masmorra em ruínas e as terras ao redor para governar — disse Ludwin. — Porém, os Maxwell, por mais apaixonados que fossem por suas pesquisas, não demonstraram interesse em administrar a terra. Com a compreensão da família real, delegaram a gestão do terreno a nós, seus vizinhos da Casa dos Arcs. Metade do que ganham com a terra é doada para a Casa dos Arcs, enquanto a outra metade serve para sustentar seu estilo de vida e financiar suas pesquisas. Esse é o sistema que adotamos.

— Isso é… de certa forma bem incrível — falei. Administrar as terras de seu feudo era o dever de um nobre. E pensar que estavam negligenciando isso para passar seus dias em nada além de mais pesquisas… — Mas, espera aí, a Casa dos Arcs não sai perdendo nesse negócio?

— Como as contribuições da Casa de Maxwell foram tão grandes, isso foi permitido — disse Ludwin. — Além disso, se as pesquisas deles nos trouxerem novos conhecimentos, o país vai prosperar ainda mais. Embora, dito isso, com o passar dos tempos, as terras dos Maxwell foram incorporadas ao feudo dos Arcs, e agora somos tratados como seus patronos.

Basicamente, embora sua casa pudesse continuar, suas terras foram reduzidas apenas a esta masmorra. E a Casa de Maxwell estava sendo sustentada financeiramente pela Casa dos Arcs.

— Huh…? Você é o chefe da Casa dos Arcs, não é? — perguntei.

— Sim. Eu sou.

— E essa pessoa, Genia, é a única aqui? — perguntei.

— Sim. Genia Maxwell. No momento, ela é a última dos Maxwells.

— Em outras palavras, agora você está pagando para apoiar essa Genia, certo?

— Urkh…

Quando perguntei isso a ele, Ludwin ficou sem palavras. Foi quando me lembrei daqueles rumores de que talvez ele estivesse passando por dificuldades financeiras.

— Não me diga, o motivo pelo qual você come o pãozinho mais barato que a lanchonete tem a oferecer é… — falei lentamente.

— Genia é cinco anos mais nova do que eu e fomos criados como irmão e irmã… — Ludwin começou a olhar para longe. — O valor do auxílio a ser pago à Casa de Maxwell é fixado em uma taxa imutável, mas, bem… Meus pais e os de Genia já faleceram… Isso faz com que cada um de nós seja o único parente que o outro tem… e, bem… Sou um idiota quando se trata das coisas que minha irmãzinha pede, e não posso deixar de usar até o meu próprio salário…

Fiquei sem palavras.

Dei um tapinha no ombro de Ludwin.

Quando chegamos ao fundo, finalmente consegui entender a escala desse espaço.

Até aquele ponto, enquanto as paredes emitiam luz, o centro do espaço estava escuro e eu não tinha sido capaz de ver. Ali, no fundo, o chão também brilhava com a mesma luz fraca, então eu poderia dizer que o espaço foi dividido com o mesmo tipo de divisórias de tecido que seriam vistas em um canteiro de obras.

Primeiro, havia uma divisória enorme que dividia o espaço em duas metades.

No espaço restante, havia uma área de tamanho médio que havia sido dividida, vários objetos em forma de caixa com pano por cima e uma casa de toras (de dois andares).

Imaginei o que estava por trás da enorme divisória, mas vendo uma casa que parecia pertencer a uma floresta dentro deste espaço de metal, parecia uma piada. Essa casa provavelmente foi o espaço de moradia (e de experimentação?) dos proprietários desta masmorra, a Casa de Maxwell.

Ludwin bateu à porta.

— Genia, sou eu. Trouxe convidados, abra, por favor.

Quando Ludwin gritou, uma voz monótona respondeu:

— É pra já! Estou abrindo agooooora.

Então a porta foi aberta e uma mulher de vinte e poucos anos vestindo um jaleco amassado saiu. Ela parecia um pouco desnutrida, mas tinha feições comuns e, se cuidasse de si mesma, provavelmente seria até bonita. No entanto, seu cabelo semi-comprido claramente despenteado estragava tudo.

Esta, presumi, era Genia Maxwell. Os pequenos óculos redondos pousados na ponta do nariz eram exatamente iguais aos que eu esperaria que um pesquisador usasse.

— Ei, Luu. — Genia sorriu. — Que bom que veio. Quem são eles? — Ela inclinou a cabeça para o lado.

Vendo sua reação, Ludwin curvou a cabeça às pressas para pedir desculpas.

— E-Ei, você está sendo rude! Lamento terrivelmente, senhor, princesa! Genia. Esta é Sua Majestade o Rei Souma e a Princesa Liscia!

— Ah, ei… é mesmo — disse ela. — É o mesmo rosto que estou acostumada a ver na Transmissão de Voz da Joia.

Em contraste com o pânico de Ludwin, Genia parecia relaxada. Ela levantou a barra do jaleco como se fosse um vestido e fez uma reverência para nós.

— Não nos conhecemos antes, Vossa Majestade. Meu nome é Genia Maxwell. Bem-vindo à minha casa bagunçada.

Eu não sabia se ela estava sendo respeitosa com aquela saudação ou não, mas pelo menos não parecia estar tentando nos insultar. Ela era um pouco desligada, mas provavelmente estava se esforçando ao máximo para ser respeitosa.

Eu me apresentei:

— Sou o Rei (provisório) de Elfrieden, Souma Kazuya. Esta é minha noiva, Liscia.

— Sou Liscia Elfrieden — disse Liscia.

— Hee hee! Estou ciente — Genia riu. — Humildemente destaco meu prazer em encontrá-lo com boa saúde.

Ludwin enterrou o rosto nas mãos, incapaz de assistir. A tentativa de linguagem educada dela foi tão ruim que ela parecia uma palhaça.

— Se você não está acostumada com isso, não há necessidade de se basear na formalidade — falei. — Fomos nós que aparecemos sem avisar. Sinta-se à vontade para falar da maneira que for mais fácil para você.

— Tem certeza? Bem, então é isso que vou fazer.

— G-Genia! — exclamou Ludwin.

 

 

Ludwin começou a protestar contra a mudança repentina de Genia para um tom mais tranquilo, mas levantei a mão para detê-lo.

— Está tudo bem. Somos os únicos aqui.

— M-Mas… quando se considera o porquê de virmos aqui… — gaguejou Ludwin.

— Ah, podemos deixar isso para depois — falei. — No pouco tempo que conversamos, fiquei mais ou menos convencido de que ela não é do tipo que trama algo nefasto. Antes disso, acho que estou mais interessado em ouvir mais sobre ela.

— E-Entendo… — Ludwin parecia desanimado.

Genia soltou uma risadinha.

— Bem, não adianta ficar o dia todo na porta. Entrem! Mesmo em uma casa como esta, posso pelo menos servir café.

Ela nos levou para uma espécie de sala de estar. Quando nos sentamos à mesa, Genia apareceu com quatro canecas de café. Ela aparentemente não tinha creme ou açúcar.

Quando terminou de servir o café a todos e se sentou, ela se apresentou mais uma vez.

— Mais uma vez, sou Genia Maxwell. Sou a chefe da Casa de Maxwell, a dona desta masmorra, e também uma pesquisadora, cientista e inventora. Ah, eu também sou tecnicamente uma maga do Exército Proibido. Estava originalmente no desenvolvimento de armas, mas fiz algumas coisas, sabe…

Tudo começou como uma auto-apresentação relativamente tranquila, mas Genia começou a divagar depois de algum tempo.

— Você “fez algumas coisas”…? — perguntei. — O que você fez?

— Ela criou algo ultrajante. — disse Ludwin com uma carranca.

Genia explicou rapidamente:

— Ei, você sabe como as guerras estão sempre devastando a terra? Bem, para ter certeza de que a terra estará cheia de vegetação após a batalha, eu fiz umas flechas com sementes de plantas de crescimento rápido embutidas nelas.

— Plantando árvores no campo de batalha?! Essa ideia não está meio deslocada?! — exclamei.

Ah. Mas, embora essa não fosse uma ideia que deveria ter saído do departamento de desenvolvimento de armas, parecia um pouco frágil como razão para expulsá-la. Enquanto eu pensava nisso, Genia parecia estar perdida em pensamentos.

— Hrm… Acho que foi uma boa ideia, mas talvez tenha sido um erro encantá-las com magia elemental de luz para encorajar o crescimento. Elas começaram a crescer incrivelmente rápido, sabe. Ahaha… Nunca pensei que o único tiro de teste que eu dei iria engolfar o campo de treinamento e o laboratório anexado a ele em um mar de árvores.

— Foi você? — gritou Liscia de surpresa.

Parecia ter acontecido antes de eu chegar neste mundo, mas podia ser um incidente bastante conhecido.

Sim… Pude entender como ela foi expulsa.

Genia estava rindo disso, mas Ludwin estava segurando a cabeça com as mãos.

— Bem, de qualquer forma, eu não gostava muito da atmosfera no departamento de desenvolvimento, então tudo bem para mim, sério — disse Genia. — Eles estão todos indo na mesma direção. Não seria melhor se fossem mais livres na maneira que pensam?

— Não, no seu caso, acho que você foi um pouco livre demais — falei.

— Não, não, acho que uma cultura ou civilização superior só pode nascer da busca livre por ideias — insistiu ela. — Se você me perguntar, vou dizer que o desenvolvimento é uma explosão!

— Essa é a única coisa que não queremos deixar explodir!

Por favor, deixe a arte ser a única coisa que pode explodir. Digo, se o que quer que você esteja desenvolvendo explodir, é só um acidente.

Agora não era apenas Ludwin; Liscia parecia exausta só de ouvir.

— É como ter três Soumas aqui.

— Hein? Isso significa que lidar comigo é tão exaustivo quanto lidar com ela? — perguntei.

— Desde que ficamos noivos, você tem me deixado aos trapos — disse ela. — Mas… ultimamente, comecei a sentir que isso não é tão ruim assim.

— Ahaha! — disse Genia provocativamente. — Fico feliz em ver que o futuro casal real é tão próximo.

Liscia ficou vermelha e olhou para o chão.

— Estávamos em um clima bom, e agora você estragou tudo — reclamei.

— Sinto muito por isso — disse Genia. — Bem, de qualquer maneira, isso é tudo que há a dizer sobre mim. A propósito, Vossa Majestade, ouviu que tipo de pedigree a Casa de Maxwell tem?

— Sua casa se destacou por estudar artefatos descobertos em masmorras, certo? — perguntei.

— Exatamente! — declarou Genia com um estalar de dedos. — Minha família pesquisa artefatos de masmorras há muito tempo. Essas são coisas que vão muito além do que a tecnologia deste mundo pode replicar, e nós as estudamos por gerações. E, assim, no longo tempo que passamos pesquisando, vagamente chegamos a ver uma certa coisa.

— Uma certa coisa? — perguntei.

— É um princípio deste mundo, separado da magia.

Um princípio separado da magia? — pensei. O que é isso?

— Ouvi dizer que você tem usado a Transmissão de Voz da Joia. — Genia deu um sorriso significativo e perguntou: — Você entende que tipo de coisa isso é?

— Se bem me lembro… é um artefato das masmorras, preenchido com a magia das sílfides e ondinas. A joia é uma ferramenta para enviar imagens e sons que capta… certo?

— Sim — disse Genia. — Essa é a resposta que cerca de 99% das pessoas que sabem sobre a Transmissão de Voz da Joia dariam, tenho certeza. Mas há dois erros nesse entendimento.

— Erros?

Genia assentiu solenemente.

— Eles são encontrados na masmorra. Essa parte está certo. O erro número um é a parte do “preenchido com a magia das sílfides e das ondinas”. Você disse como se fosse um dado adquirido, mas já viu uma sílfide ou uma ondina?

— Bem, não, eu não vi, mas… Não sou deste mundo, mas elas não deveriam existir aqui? — perguntei.

— Certo, então vamos perguntar à princesa ao seu lado. Princesa, você já viu um espírito?

Liscia apressadamente balançou a cabeça.

— E-Eu nunca vi um. Digo, espíritos são lendários. Mas magia, e magicium, a substância básica usada para produzi-la, é considerada um presente dos espíritos. Eles têm que estar em algum lugar, certo?

— Isso não é o suficiente para provar a existência deles. — Genia deu de ombros, parecendo consternada. — Agora entende, Vossa Majestade? Talvez você, como alguém que não é deste mundo, possa realmente ser mais capaz de entender, não? Porque existe esse poder misterioso chamado magia neste mundo, é mais difícil para as pessoas verem a verdade. A neve cai e o gelo se forma nos rios no inverno, depois derrete quando fica mais quente na primavera. Esse tipo de coisa óbvia é simplesmente escondido pela magia.

Isso era… algo que também percebi. Eu estava anteriormente pensando nisso:

— Como a magia pode fazer qualquer coisa, as pessoas deste mundo podem não ter muito senso de admiração.

— Tudo que é misterioso ou milagroso é reverenciado como o poder da magia ou pequenos espíritos que não podemos ver — disse Genia. — Enquanto não resolvermos essa coisa chamada magia, o maior mistério de todos, não podemos negar completamente essas teorias absurdas. Isso é um baita saco.

A carranca no rosto de Genia depois que ela disse isso provavelmente não era apenas por causa do gole de café que tomou.

— Essa é a verdade — continuou ela. — Enquanto estudávamos a joia descoberta na masmorra, tivemos a chance de descobrir que, se usássemos magia elemental de água e de vento nela, ela capturaria o cenário ao redor e o projetaria através dos receptores que também foram descobertos. A parte sobre sílfides e ondinas foi apenas uma explicação que alguém deu depois, pensando que isso talvez fosse possível devido às bênçãos dos espíritos.

— Então, não existem sílfides ou ondinas? — perguntei.

— Também não posso ir tão longe ao ponto de descartar isso. Elas podem estar lá fora, em algum lugar. Digo, nós literalmente temos um país chamado de Reino Espiritual de Garlan. Mas, no momento, não tenho prova definitiva da existência delas.

Bem, também era impossível provar a inexistência dessa coisa. Mas isso era algo enorme.

Achei que este era um mundo de espadas e feitiçaria, como o tipo que se vê em um RPG. Não, bem, eles tinham espadas e feitiçaria. É por isso que presumi que não seria estranho que espíritos também existissem. Poderia dizer que simplesmente me convenci disso?

— Bem, e quanto à besta divina que disse para proteger a floresta dos elfos negros? — perguntei.

— Ah, essa serve — disse Genia. — Bestas divinas definitivamente existem, ou existiram em algum momento. Mas eu não poderia afirmar se há ou não uma na floresta.

— E aquela existe?!

— Bem, a maior besta divina de todas, a Mãe Dragão, realmente existe na Cordilheira do Dragão Estelar. Sim, sim, posso entender por que você está confuso. A linha entre as coisas que existem e as que não existem é vaga neste mundo. Esse é outro fator que torna difícil ver a verdade.

— Minha cabeça está começando a doer — reclamei.

— Está tudo bem? — Liscia colocou a mão em meu ombro, preocupada.

Coloquei minha própria mão em cima da dela e respondi:

— Estou bem. — Mas… internamente, não estava nada bem. No decorrer de alguns minutos, perdi minha compreensão deste mundo.

Havia magia, mas eu não sabia se existiam espíritos ou não; mas essas coisas chamadas bestas divinas existiam… nada mais fazia sentido para mim. Eu precisaria coletar uma lista de mais coisas que existiam e não existiam, então comparar as duas antes de ter uma vaga noção de como era este mundo. Era assim que eu estava começando a me sentir.

— Voltando ao assunto, aqui está o segundo erro — disse Genia. — Bem, eu já disse muito para vocês, mas é a parte de que “a joia é uma ferramenta para enviar imagens e sons que ela capta”. Como eu disse antes, a “função de transmissão” da joia é algo que descobrimos por acidente quando tentamos usar a magia de água e de vento nela. Em outras palavras, só usamos a joia para transmissão.

— Quê?! — exclamei.

Então, ela quis dizer… a joia não era apenas uma ferramenta para transmitir sons e imagens?

— Por exemplo, a humanidade usa a roda d’água em uma ampla variedade de aplicações — disse Genia. — Não são apenas para irrigação; também as usamos para debulhar e pulverizar o trigo e também para fiar. Mas, se alguém que nunca tinha visto uma roda d’água antes visse uma roda girando, você não acha que presumiriam que era uma ferramenta para fiar?

— Isso faz sentido — falei lentamente.

Porém, se ela tivesse usado um exemplo com mais aplicações, teria sido mais fácil de entender. Por exemplo, imagine se alguém neste mundo descobrisse um telefone celular e, acidentalmente, descobrisse que ele tirava fotos enquanto estava mexendo nele. As pessoas neste mundo pensariam que os telefones celulares eram câmeras. Da mesma forma que pensávamos no Transmissor de Voz da Joia como uma câmera de TV…

— Bem, então… o que realmente são essas joias? — perguntei.

— Então. Nós sabemos um pouco. — Genia deu à minha pergunta hesitante uma resposta clara e confiante. — São o que comumente se chama de núcleo de masmorra.

Núcleos de masmorras.

Diziam que eram a parte mais importante de uma masmorra, mantendo a ecologia única do labirinto em seu nível mais profundo.

Digo que diziam, já que era apenas a dedução de alguém.

Se o núcleo da masmorra fosse destruído ou interrompido, o ambiente dentro dela (a temperatura, a umidade e todo o mais) e sua ecologia entrariam em colapso, transformando-a em uma masmorra em ruínas. Embora criaturas selvagens possam aparecer para viver em uma masmorra em ruínas, nenhum monstro aparecerá depois desse ponto, então foi assumido que esses núcleos eram centrais para a função de uma masmorra.

A propósito, os aventureiros deste mundo ganhavam a vida explorando masmorras, mas seu objetivo final era limpar as masmorras parando esses núcleos.

Como eu tinha acabado de ouvir, núcleos de masmorras eram usados como joias da Transmissão de Voz da Joia. Se os recolhessem, poderiam vendê-los ao estado por fama e uma fortuna imensa. No entanto, quanto mais perto chegavam do ponto mais baixo da masmorra, mais poderosos eram os monstros que apareciam. Em todo o continente, era apenas a cada poucos anos, ou décadas, que uma masmorra era limpa.

Era por isso que aventureiros comuns como Dece e Juno ganhavam a vida protegendo mercadores e caravanas de bandidos e feras, ou matando monstros que saíam de masmorras ou do Domínio do Lorde Demônio. Mesmo se aventureiros ocasionalmente explorassem masmorras, a maioria o fazia para vender materiais dos monstros que derrotavam por lá, ou para vender os artefatos que poderiam, em raras ocasiões, encontrar. (Não havia nada conveniente, como baús de tesouro.)

Vamos voltar a falar sobre os núcleos das masmorras.

Até que o núcleo da masmorra fosse interrompido, ele continuaria a dar à luz a monstros ferozes de algum lugar. Até este ponto, ninguém havia aparecido com um núcleo sem pará-lo. Isso porque ninguém queria ver a superfície cheia de monstros como resultado de mover um núcleo funcional, indo contra todo o bom senso.

Em outras palavras, os núcleos das masmorras só foram estudados em um estado quebrado.

No meu exemplo anterior do telefone celular, seria como se a pessoa que estivesse usando ele tivesse conseguido consertar apenas a função da câmera e o estivesse usando para isso. Nesse caso, é possível pensar que pesquisar em busca de outras funções seria uma boa ideia, mas… Aí está algo a se considerar.

Telefones celulares não cospem monstros.

Se soubesse que o telefone celular tem uma função de autodestruição que explodiria tudo ao seu redor, alguém procuraria por quaisquer outros recursos que ele tivesse?

Essa era uma das razões pelas quais as pesquisas sobre os núcleos das masmorras não avançaram.

— Porém, com o nível de tecnologia deste mundo, reiniciar o núcleo de uma masmorra depois de interrompido é impossível — disse Genia. — Digo, nem sabemos como isso funciona. — Ela encolheu os ombros, olhando para sua caneca. — Posso entender por que as pessoas querem explicar isso com magia, eu acho. É o medo do desconhecido. É assustador ter algo que você não consegue ver ou explicar, então as pessoas tentam forçar uma explicação para entender e compreender. Não, só para sentir que entendem, sabe?

— É por isso que fazem disso um trabalho de mágica ou milagres — falei.

— Exatamente. Ah, fico feliz que nosso rei seja do tipo compreensivo — disse Genia. — Se este fosse o Estado Papal Ortodoxo Lunar, eu poderia ter sido jogada na prisão ou, pior, queimada na fogueira por falar assim.

— Queimada na fogueira… — Achei que ela devia estar exagerando, mas Genia parecia absolutamente séria.

— Há uma tendência neste mundo de pensar na magia como a graça de deuses ou espíritos — disse ela. — Essa tendência se torna mais forte com a força da fé da pessoa na religião. Esse país é uma teocracia. Os deuses ou espíritos são a própria fonte de sua autoridade. Eles não podem reconhecer a existência de qualquer pesquisa… ou pesquisador, se isso puxasse a cortina daquele mistério divino.

— Você pode estar certa — falei.

Em países com muito fervor religioso, aqueles que tentam descobrir as leis da natureza às vezes são reprimidos. Aqueles que dão explicações contra os ensinamentos da fé podem ser tratados como hereges e, no pior dos casos… mortos. Até Galileu foi forçado a retratar sua teoria.

Que tolice…

— Este país não vai acabar assim — falei. — Não irei permitir.

— Fico muito feliz em ouvir isso. — Genia colocou as mãos no colo e sorriu amplamente. — Então, aqui está a coisa sobre nós, pessoas da Casa de Maxwell. Pensamos que poderia haver outro princípio neste mundo além da magia, e o temos estudado. É verdade que algumas das funções do núcleo da masmorra foram trazidas de volta à vida com magia, mas quando imaginamos como o núcleo da masmorra foi criado, pensamos que deve ser um produto da engenharia ou matemática. Não é o poder dos milagres; se investigarmos a fundo, acreditamos que há uma verdade funcional a ser encontrada. Por conveniência, chamamos esse princípio separado de “superciência”.

— Superciência… — murmurei.

— Abreviamos como Su-Ci.

— Ah, nossa… não encurte assim — falei.

— E assim, nosso clã, como pessoas que estudam a superciência, se refere a nós mesmos como supercientistas. — Genia estufou o peito com um orgulho nada irônico.

— Ouvi de Ludwin que você é uma cientista maluca — comentei.

— Prefiro não ter um título idiota como esse.

— Não vejo diferença! — lamentei.  “Super” era legal, mas “maluca” não? Eu não entendi muito bem a lógica dela.

Genia disse:

— Pois bem… — e se levantou —, eu gostaria que este rei, que parece que vai se tornar um simpático apoiador meu, visse minhas invenções.

— Sim, é para isso que viemos aqui — falei. — Por favor, me mostre.

— Entendido — disse ela alegremente. — Acho que tenho a coisa certa. Poderia vir comigo?

Genia se levantou e saiu da casa. Aparentemente, a invenção que ela queria me mostrar estava lá fora. Nesse caso, poderia estar atrás do divisor que vi no nível inferior.

— Sinceramente… — murmurou Ludwin para si mesmo e seguiu atrás de Genia, então ficamos apenas eu e Liscia deixados para trás na casa.

— Se há uma coisa a dizer sobre ela, é que é diferente — disse Liscia com um sorriso irônico.

Ela devia estar se referindo a Genia. Eu concordava amplamente com essa opinião, mas estava começando a ter certas expectativas otimistas em relação a ela.

— Mesmo assim, ela pode ser o tipo de pessoa talentosa que estamos procurando. — Mantive meus braços cruzados enquanto expressava meus pensamentos. — Quando vi a visão imponente do Exército Imperial em Van, percebi que não podemos deixar as coisas como estão. Eu me virei com coisas que já existiam até agora, mas daqui para frente, precisaremos ser capazes de inventar e criar coisas que ninguém viu antes. Para criar novas tecnologias revolucionárias, adotá-las e fazer o tempo avançar. Se não o fizermos, este país nunca será capaz de ficar ombro a ombro com o Império.

— Você está certo… — disse Liscia.

— Então, finalmente encontrei um método para avançar para uma nova era.

— Um método? — questionou Liscia.

Balancei a cabeça firmemente em resposta.

— Na história da humanidade, apareceram aqueles que estavam à frente de seu tempo. Eles têm o dom da previsão, quebram noções estabelecidas, e apenas um deles pode ser suficiente para mudar a história. Embora, em muitos casos, estejam perdidos no fluxo do tempo ou acabam eliminados pela seleção natural.

Por exemplo, considere o “gênio universal”, Leonardo da Vinci.

Da Vinci é famoso por sua pintura, a Mona Lisa, mas deixou desenhos para um número surpreendente de invenções. Dizem que até havia projetos para um tanque, uma roupa de mergulho e um helicóptero. Deixando de lado a viabilidade deles, se aquelas suas invenções tivessem sido pesquisadas adequadamente, a história da Europa poderia ter mudado dramaticamente.

Além de suas invenções ultrajantes, ele também havia produzido desenhos anatômicos precisos do corpo humano. Em uma época em que a igreja cristã exercia grande influência, comprou os cadáveres e os retalhou de maneiras que poderiam ser consideradas blasfêmias pela igreja, tudo para aprender sobre a estrutura do corpo humano. Se esses desenhos anatômicos tivessem se espalhado, sem dúvida teriam levado a grandes avanços na medicina. No entanto, ele os selou por muito tempo, temendo o poder da igreja, e por isso não pôde contribuir para a ciência médica.

— Esse tipo de pessoa é dito pelas gerações posteriores como tendo “nascido antes de seu tempo” — falei. — No entanto, o que aconteceria se o governante da época visse essa pessoa pelo que ela era, a protegesse e lhe desse uma posição importante? Então, e se, não apenas a pessoa no poder, mas o povo como um todo, pudesse ser levado a reconhecê-los pelo que eram? Você não acha que isso poderia levar a um grande avanço?

— Quer dizer, fazer os tempos se ajustarem à pessoa que está à frente deles? — perguntou Liscia.

— Exatamente! — falei. — Embora eu não esperasse que você entendesse na primeira tentativa.

— Eu não tenho andado com você por meio ano à toa, sabe — disse Liscia com uma risada, mas então rapidamente assumiu um olhar pensativo. — Mas, por esse raciocínio, não deveria ser você quem lideraria, Souma? O nível tecnológico do seu mundo estava muito à frente deste, não estava?

— Bem, eu posso entender por que você diz isso, mas… Sim, não posso — falei.

— Por que não?

— É porque meu mundo não está mais adiante no caminho que este vai eventualmente seguir.

Meu antigo mundo não tinha magia.

Eu sentia que a tecnologia deste mundo estava em todo lugar por causa da existência de magia, mas essa era a forma de avanço deste mundo. Algumas peças de tecnologia, como as joias da Transmissão de Voz da Joia, já eram superiores à tecnologia do outro mundo. Este mundo provavelmente seguiria por um caminho diferente do meu.

— Se eu interferir quando não deveria, há o risco de acabar atrasando o desenvolvimento — falei. — É por isso que acho melhor se o progresso deste mundo for impulsionado principalmente por seu próprio povo.

— Entendo o que você está pensando. — Foi o que ela disse, mas o rosto de Liscia não parecia satisfeito com a minha explicação. Ela parecia ao mesmo tempo zangada e triste.

Enquanto eu me perguntava o que estava acontecendo, ela pegou minha mão e apertou com força.

— Entendo o que você está pensando, Souma. Mesmo assim, há partes que não posso aceitar.

— Por exemplo…? — perguntei.

— A parte sobre “as pessoas deste mundo!” Você também pertence a este país, Souma! — Liscia puxou minha mão e a colocou contra sua bochecha. — Foi meu pai quem te arrancou do seu velho mundo, então eu, como filha dele, posso não ser a melhor para dizer isso, mas… o que você acabou de dizer me deixou incrivelmente triste.

— Ah, hm… sinto muito — falei.

— Por favor, nunca mais se separe de nós. — Com lágrimas enevoadas se formando nos olhos de Liscia, ela me parecia insuportavelmente adorável.

— Tá bom. Não vou mais dizer isso. — Peguei a mão que ela não estava segurando e fui colocá-la em sua outra bochecha.

— Eiiiii, Vossa Majestadeeee — chamou Genia do lado de fora. — Depreeessaaaa.

De repente, saímos de nosso mundinho, Liscia e eu nos entreolhamos e rimos com um constrangimento embaraçoso.

Genia nos conduziu até a área de tamanho médio que havia sido dividida.

Sim, a divisória era alta o suficiente para que eu tivesse que erguer a cabeça para ver tudo, mas mais do que qualquer coisa, eu estava curioso para saber o que estava por trás da divisória enorme que separava metade deste espaço. Parecia ter mais de vinte metros de altura. Ela não ia me deixar ver o que estava por trás?

Enquanto eu pensava nisso, Genia ergueu as mãos e disse:

— Venha, golem.

No momento em que ela o fez, a terra inchou em um ponto onde o solo ficou exposto. Eventualmente, dois gigantes, cada um com cerca de três metros de altura, apareceram. Esses gigantes de terra começaram a avançar com passos pesados.

— Esta é a sua magia, Genia? — perguntei.

— Sim — disse ela. — Minha magia é criar golens da terra e manipulá-los. Eles não podem fazer nenhum trabalho delicado, mas têm poder. Eu os uso muito quando se trata de carregar coisas.

— Manipulando bonecos de lama… — comentei. — Isso é muito parecido com a minha própria habilidade, huh. É do tipo da escuridão?

— Não. É do tipo da terra — disse ela. — Porque eu só posso manipular a terra. Ser capaz de movê-los como bonecos provavelmente cai na manipulação da gravidade. Além disso, as quatro categorias principais, luz e escuridão, são apenas algo que as pessoas inventaram para tornar mais fácil de entender. Eu não penso nelas como sendo limitações estritas.

— Então no que eu deveria acreditar…? — murmurei.

Desde que cheguei neste lugar, minha compreensão deste mundo foi constantemente abalada. Quando se tratava de fenômenos desconhecidos para as pessoas da Terra, se as pessoas deste mundo diziam que algo era óbvio, presumi que deveria ser; mas agora estava me dizendo que esse não era necessariamente o caso. Não era um desconhecido conhecido, mas um desconhecido desconhecido. Deste ponto em diante, talvez tivesse que abordar todos os fenômenos a partir de uma posição de dúvida.

— Bem, deixando isso de lado, é isso que eu queria que você visse — disse Genia, indicando algo. Os golens derrubaram o divisor que o cobria.

Quando vimos o que saiu lá de dentro, Liscia e eu ficamos perplexos com a total incompreensibilidade daquilo. Diante de nossos olhos, havia um objeto que parecia ter o tamanho de um prédio de dois andares. Se eu fosse descrevê-lo da maneira mais fácil de entender…

— Um D*son ridiculamente grande? — disparei.

— Hm? O que é isso? — perguntou Genia.

— Ah, não importa. Só estou falando comigo mesmo.

Não, ainda assim, a única coisa que eu conseguia ver era um Dy*on gigantesco.

No que diz respeito à silhueta, o torso era como um kokeshi; uma daquelas bonecas japonesas curtas de madeira sem braços, mas a cabeça era um grande anel. Não estava claro à primeira vista para que poderia ser usado, e a forma como parecia ser algum tipo de objeto de arte era o mesmo. No entanto, preocupava-me que apenas a parte em contato com o solo estivesse firmemente fixada no lugar…

Perguntei a Genia:

— O que é isso?

— É o “Pequeno Susumu Mark V.“

Que nome idiota! — pensei. Espera, Mark V?!

— O quê, então há mais quatro dessas coisas ?! — questionei.

— Isso?! Depois de ver, é isso que chama sua atenção?! — exclamou Liscia.

Enquanto observava nossas reações de surpresa, Genia sorriu com satisfação.

— Bem, sabe, com todas as explosões e outras coisas, os Pequenos Susumu Mark I ao IV não existem mais.

— Isso é tão perigoso?! — lamentei.

— O Mark V é seguro — aifrmou ela. — Este… é o produto final.

Dito isso, Genia iniciou uma explicação do Pequeno Susumu Mark V.

— Suspeito que você já sabe, mas os grandes navios deste mundo são movidos pelo vento ou puxados por dragões marinhos, certo? Este Pequeno Susumu Mark V é um substituto para aqueles dragões marinhos, sabe. Quando conectado à quilha, um desses dispositivos pode impulsionar o navio para a frente com potência equivalente a um dragão marinho.

— Ah..! Quer dizer que é um sistema de propulsão! — gritei.

Como uma hélice de parafuso ou um motor, hein?

Quando eu disse isso, Genia sorriu e colocou a mão na seção do torso do Pequeno Susumu Mark V.

— O problema dessa máquina é que ela pode sugar o que quer que esteja na frente do anel e, depois, forçá-lo para fora pela parte de trás. Quando opera no mar, ele pega a água do mar e a expele pela retaguarda. Essa pressão da água criará propulsão suficiente para mover um navio de guerra de ferro.  — Em outras palavras, era como se houvesse uma hélice invisível no espaço vazio no meio daquele anel.

— Hm? Se ele sugar o que quer que esteja na frente dele, o que aconteceria se você o usasse aqui e agora? — perguntei.

— Você é muito perceptivo, pelo que vejo — disse ela. — Em terra, ele pode sugar o ar e expeli-lo pela retaguarda. Vamos tentar um experimento?

Genia fez os golens prepararem um grande tecido. Então, com a gente de pé a uma distância de cerca de vinte metros, os golens a seguraram entre eles como uma tela de cinema.

— Agora, observadores, o Pequeno Susumu Mark V vai sugar o ar do nosso lado e depois expelir do outro lado. Testemunhem o seu poder com seus próprios olhos.

— Ah! Genia, espera um…! — Ludwin tentou detê-la apressadamente, mas Genia não se importou.

— E clique — disse ela em um tom monótono, então apertou algum tipo de botão. Em um instante…

Bowahhhhh!

Houve um ruído alto repentino quando uma rajada de vento nos levou para longe.

— Whoa?! — exclamei.

—Eek! — exclamou Liscia.

— Bwah! — riu Genia.

— De novo nããããão! — lamentou Ludwin.

A súbita e poderosa rajada de vento nos jogou contra a parede.

Espera… E-Este vento, é muito forte! — gritei em minha mente. A pressão do vento me prendeu à parede e eu não conseguia me mover. Parecia que Liscia e Genia estavam no mesmo barco.

Até Ludwin rastejar em direção à máquina com grande dificuldade, pressionando o mesmo botão para pará-la, ficamos presos contra a parede como um bando de espécimes de inseto. Quando finalmente fomos libertados daquele vento, Genia riu e mostrou um sorriso seco.

— Opa, foi mal. Parece que misturei a parte da frente e a de trás. Já que dei uma forma altamente eficiente, com todos os resíduos removidos, é difícil distinguir a frente da traseira.

— Se você sabe disso, tome precauções… — murmurei.

— Eu disse que sinto muito, senhor — disse ela descaradamente. — De qualquer forma, acho que você agora sabe o quão poderoso esse Pequeno Susumu Mark V é, certo?

— Eu literalmente experimentei em primeira mão… — falei sarcasticamente, mas era mesmo uma máquina incrível.

Se não tivesse sido firmemente afixada no chão, a própria máquina poderia ter explodido. Ah… foi por isso que os Marks I ao IV explodiram ou estragaram? Enquanto eu estava descobrindo aquele pequeno detalhe estranho, Genia deu início a uma explicação entusiástica de como o sistema funcionava.

— O segmento do anel é feito de um metal especial e tem uma versão modificada de um encantamento para desviar a energia esculpido nele. Este encantamento foi baseado em uma versão falhada do encantamento para anular a magia que o Corpo de Armaduras Mágicas do Império usa, sabe.

“Originalmente, era um encantamento para desviar a magia. Desviá-la era bom o suficiente para o Corpo de Armaduras Mágicas, mas as outras tropas atrás deles ainda sofriam danos, então eles pararam de pesquisar isso. Esse encantamento fracassado chamou minha atenção.

“Se ele era capaz de desviar a magia, pensei que deveria estar exercendo alguma influência na maneira como o magicium funcionava. Dizem que o magicium existe tanto na atmosfera quanto na água. Sendo esse o caso, se eu pudesse aplicar uma direção a ele, talvez pudesse criar algo que iria sugá-lo e cuspi-lo. Se eu pudesse concentrar a força de expulsão, talvez pudesse criar um sistema de propulsão… Bem, essa era a ideia.

“Isso porque mover o magicium no ar e na água é o mesmo que mover o próprio ar e a água. E então, coloquei uma versão modificada desse encantamento em um anel de metal, e foi assim que completei o Pequeno Susumu Mark V, que suga o magicium e o expele quando você passa energia por ele! “

Fiquei boquiaberto.

Genia foi muito articulada em sua explicação, mas no momento em que ela começou a falar sobre magia de encantamento, foi além da minha capacidade de julgar se o que disse era verdadeiro ou falso. Porém, dado que o experimento foi exatamente da maneira que Genia estava dizendo, imaginei que ela estava certa… provavelmente.

— Você entendeu isso, Liscia? — perguntei.

— Nadica de nada.

Parecia também ser um assunto difícil para as pessoas deste mundo.

Percebendo que não tínhamos sido capazes de seguir sua explicação, Genia se forçou a sorrir e encolher os ombros.

— Bem, como eu estava dizendo antes, contanto que você entenda que um desses dispositivos pode fazer o mesmo trabalho que um dragão marinho, já está bom o suficiente.

O homem que estava segurando a cabeça com as mãos para cima, Ludwin, falou:

— Mas isso não é meio inútil? Digo, você gastou recursos consideráveis apenas para construir este dispositivo, não é?

— Sim. Bem, seria fácil manter dez dragões marinhos por um período de dez anos… — disse Genia.

— Se substituir apenas um, então não serve, não é? — perguntou Ludwin. — Além disso, ao contrário dos dragões marinhos, ele não pode fazer curvas fechadas.

— O-O que você está dizendo? Você não consegue ver o que esta invenção trará?! — gemeu Genia.

— O que isso vai proporcionar? — perguntou Ludwin.

Ele parecia confuso, mas eu tinha que concordar com Genia nesse ponto.

— Ela está certa. É realmente uma invenção incrível, Ludwin.

— V-Você também, senhor? — perguntou ele.

— Basta pensar — falei. — Se um deles pode fazer o trabalho de um dragão marinho, então, aplicando alguma matemática simples, dez deles podem fazer o trabalho de dez dragões marinhos, certo?

— Suponho que sim…

Como Ludwin não pareceu entender o que eu queria dizer, expliquei de uma forma que fosse mais fácil para ele entender.

— Bem, você pode realmente ligar dez dragões marinhos a algo? Achei que até mesmo uma configuração de dois dragões como o nosso navio de guerra, o Albert, era incomum, não?

— Bem… Sim, é isso mesmo. Mesmo se você pudesse ligar dez dragões marinhos a algo, seria impossível fazer todos eles seguirem a mesma ordem. Mesmo em outros países, acho que três é provavelmente o limite.

— Em outras palavras, mesmo seu uso sendo limitado a navios, com essa máquina, poderíamos mover navios ainda mais massivos do que qualquer outro. Por exemplo… imagine um navio de carga com cinco desses instalados. Isso revolucionaria o transporte.

Isso permitiria o envio de grandes quantidades de carga de uma só vez, sabe. Eu queria absorver a Amidônia porque mais da metade da fronteira do país era com o mar. A nova cidade que estávamos construindo como um ponto focal para o transporte marítimo também estava em fase de conclusão, portanto, poder fortalecer nossa capacidade de transporte marítimo seria incrível.

— I-Isso faz muito sentido… — gaguejou Ludwin. Parecia que ele tinha entendido como essa invenção era incrível.

Perguntei a Genia:

— Você disse algo sobre passar energia por ele primeiro, certo? Qual é a fonte de energia?

Desde que cheguei neste mundo, não tinha visto um único gerador elétrico, nem mesmo uma máquina a vapor. A fonte de energia para algo mecânico como isso seria magia, conforme o esperado?

— Bem, senhor, instalei isso dentro dele. — Genia tirou uma espécie de caroço do bolso do jaleco e passou para mim. Embora coubesse na palma da minha mão, o cubo de cristal preto como azeviche era mais pesado do que parecia. (Era parecido com segurar um peso.)

— O que é isso? — perguntei.

— É um tipo de cristal comumente chamado de minério de maldição.

— Você disse minério de maldição?! — disparou Liscia.

— Você sabe o que é isso, Liscia?! — perguntei no mesmo tom.

— Você não precisava dizer assim… — murmurou ela. — Neste mundo, também usamos magia para extrair minério. Magia de água para cavar, magia de terra para reforçar túneis, magia de vento para fornecer ar e magia de fogo para derreter metais. Mas quando estamos perto de um veio de minério de maldição, por algum motivo, perdemos a capacidade de usar magia. Além do mais, se tentarmos nos forçar a usá-la…

Liscia fez um gesto no qual rapidamente abriu o punho fechado e disse:

— Boom.

— Explode?! — gritei. — Explosões dentro de uma mina não são perigosas?

— É uma verdadeira fonte de frustração para os mineiros — disse Liscia. — Se eles estão cavando uma mina e atingem um veio deste material, não podem mais cavar. Neste mundo, pensamos na magia como uma bênção dos deuses e espíritos, então este minério que torna a magia inutilizável é uma rocha amaldiçoada que não pode aceitar suas bênçãos. Basicamente, é por isso que o chamamos de minério de maldição. O problemático é que ele é comumente encontrado no subsolo de Elfrieden — acrescentou Liscia com ar de zombaria.

O Reino de Elfrieden era um país com pouca riqueza mineral. Por causa de seu terreno quase nivelado, era possível obter uma quantidade razoável de ferro, mas ouro e outros metais preciosos não eram comuns. Se houvesse grandes quantidades de minério de maldição jogadas nessa mistura, isso tornaria o próprio processo de mineração difícil. Com certeza, havia muitas coisas que eu ainda precisava aprender…

Enquanto eu pensava nisso, Genia estava com um sorriso ousado.

— Este minério é amaldiçoado? Você não deveria dizer essas coisas bobas, princesa. Você poderia dizer que este país foi abençoado pelos deuses por ter tanto deste minério enterrado no subsolo!

Genia acenou com os braços com uma reação exagerada.

— É porque olhamos para isso através do véu de mistério que temos ideias infantis como ele ser amaldiçoado. O minério de maldição não está tornando a magia inutilizável. Ele está absorvendo a energia dela. Pense bem. Se não podemos usar magia perto do minério de maldição, e se usarmos, ele explode, de onde você acha que saiu essa energia explosiva? Não é mais natural pensar que, por estar absorvendo a energia da magia, explode quando supera seu limite de tolerância?

Hrm… Então, basicamente, o minério de maldição era como uma bateria recarregável que estava absorvendo a energia da magia? Então, se fosse sobrecarregado, explodiria.

Que sensação de inquietação era essa…? Estávamos, agora, testemunhando algo incrível? Algo grande o suficiente para mudar o mundo?

Então Genia disse algo incrível:

— Então, consegui extrair a energia do minério de maldição, uma vez que ele absorveu a energia mágica. É isso que eu uso para alimentar este dispositivo.

— Quê?! — gritei.

Suas palavras enviaram um arrepio pela minha espinha. Se isso fosse verdade, realmente era como uma bateria!

Ainda havia muita coisa que eu não conseguia entender, mas eu podia entender o quão incrível era o segredo do minério de maldição, e quão incrível era a mulher que o descobriu. Este era um mundo sem eletricidade, ou mesmo máquinas a vapor. Se pudéssemos adquirir uma tecnologia de armazenamento de energia antes de qualquer outro país, este país teria grandes avanços. Na verdade, era um negócio grande o suficiente para que mesmo ficar mais poderoso do que o Império não fosse apenas um sonho.

Então, ao mesmo tempo, o perigo desse poder passou pela minha cabeça.

Primeiro, havia as superstições em torno do minério de maldição. Se as pessoas descobrissem que estávamos pesquisando minério de maldição, que não tinha recebido as bênçãos dos deuses, neste mundo supersticioso, poderiam ficar desconfiados de nós.

Se fosse apenas dentro do país, poderia ser capaz de esclarecer às pessoas com o tempo, mas com certeza faria um inimigo de teocracias como o Estado Papal Ortodoxo Lunar. Para uma nação governada pela doutrina religiosa, qualquer coisa que pudesse minar uma parte de seu dogma (mesmo que fosse de uma variedade supersticiosa) levaria ao declínio de sua autoridade. Eles nunca poderiam aceitar isso.

Além disso, se eles descobrissem que uma terra sem muita fé possuía uma tecnologia como essa, com certeza exigiriam que a entregássemos. Pelo que Liscia disse, parecia que também havia uma quantidade considerável de minério de maldição neste país. Se não tomássemos cuidado, os países vizinhos poderiam nos invadir por nossos recursos.

Parecia que eu poderia formar uma aliança secreta com o Império, e a ameaça representada pela Amidônia havia finalmente sido removida; mas se esse tipo de situação surgisse, este país seria varrido do mapa. Embora essa tecnologia tivesse o potencial de nos tornar a maior potência do continente, ela também tinha o risco oculto de destruir totalmente este país.

Eu mal consegui falar.

— E agora, o que faço…?

— E-Espera, Souma?! Qual é o problema? — gritou Liscia, me apoiando.

— Sinto muito… — falei. — Eu estava imaginando algo de alto risco, alto retorno e comecei a não me sentir tão bem.

— Imaginando algo? — perguntou Liscia.

Expliquei minhas imaginações para Liscia e os outros. Enquanto ouviam, os rostos de Liscia e Ludwin empalideceram. Eles deviam ter sentido o mesmo medo que eu.

No entanto, Genia era a única que parecia imperturbável.

— Por que se preocupar? Só precisamos terminar a pesquisa antes que os outros países possam começar a nos almejar e, em seguida, crescer e ficar tão fortes que não poderão dizer qualquer coisa contra nós.

— Você está excessivamente otimista sobre isso, mas acho que é a única maneira, hein… — falei. — Ainda assim, precisamos prosseguir com isso em sigilo absoluto…

Nesse caso, a custódia de Genia seria um problema. Nesse ponto, ela era tão vital para o bem-estar deste país quanto Tomoe. Eu não podia deixá-la fugir para outro país ou ser sequestrada, e queria deixá-la nas mãos de alguém em quem pudesse confiar. Ela parecia totalmente devota aos estudos, mas ainda tinha vinte e poucos anos; uma jovem na flor da idade. Eu queria evitar uma situação em que algum nobre percebesse sua importância e tentasse mexer com ela.

Nesse caso…

Acenei para Liscia e sussurrei em seu ouvido o que eu estava pensando. Então, depois de ter sua opinião sobre isso, me virei para o belo capitão da Guarda Real, que estava olhando para mim com um ar de dúvida.

— Ei, Ludwin… — falei.

— Sim? Pois não, senhor? — perguntou ele.

— Diga-me, você ama a Genia?

Ludwin ficou visivelmente abalado.

— O-O que é isso, do nada?! Senhor!

— Isso é importante — falei, dando ao confuso Ludwin uma resposta séria. — Dependendo de como você se sente a respeito de Genia… e de como ela se sente ao seu respeito, vou precisar mudar a forma como lido com as coisas aqui.

Genia era uma pessoa muito importante para este país neste momento. Se possível, eu queria que ela se casasse com alguém próximo a mim, para que fincasse raízes profundas neste país. Era por isso que… se Ludwin estivesse preparado para fazer isso, seria ótimo; mas se não, eu teria que bolar outros planos.

Antes de propor essa ideia, sussurrei:

— Ei, Liscia. Estou pensando que deveria casar Genia com Ludwin. Como mulher, você acha que a Genia gosta dele?

— Eu diria que existem cerca de 60% de chances… — sussurrou ela em resposta. — Ela provavelmente quer.

— Essa não é uma resposta muito clara — sussurrei. — Por que tanta incerteza?

— Garotas são difíceis de ler. Mas acho que você não precisa se preocupar, sabe? Genia é filha da nobreza. Se o rei comandar, ela não vai recusar.

— Você pode estar certa, mas… não quero forçar ninguém se não for preciso.

— Entendi… Bem, como você acha que Sir Ludwin se sentiria sobre isso? — sussurrou ela.

— Eu diria que existem 99% de chances dele amá-la.

— Você parece terrivelmente certo disso.

— Caras são fáceis de ler quando se trata dessas coisas — sussurrei.

Todas aquelas coisas que sussurramos de um lado para o outro foram em segredo.

Agora, Ludwin talvez tivesse percebido que eu estava falando sério, já que seus lábios estavam franzidos. Ele devia estar pensando na melhor forma de responder.

Nesse ponto, a outra parte envolvida inclinou a cabeça para o lado e perguntou:

— Eu vou ser a esposa do Luu? — disse ela em um tom tão relaxado que ninguém pensaria que era uma decisão que a afetava.

— Se você se casasse com Ludwin, Genia, ficaria chateada? — perguntei.

— Nah. Isso não me aborreceria de forma alguma. — Genia disse isso com tanta clareza e facilidade que foi quase decepcionante. — Afinal, sou mulher. Sempre pensei que eventualmente gostaria de sair com alguém, e também estava pensando que gostaria que esse alguém fosse o Luu. Mas, com o Luu sendo tão popular com as mulheres quanto ele é, eu não via problemas em esperar até que ele encontrasse uma esposa adequada e, em seguida, tê-lo me tomando como sua terceira esposa ou algo assim.

Ludwin arregalou os olhos diante da confissão de Genia, mas Liscia parecia ter encontrado algum motivo para simpatizar, já que estava assentindo enfaticamente.

Quando Ludwin voltou a si, disse com um olhar aflito:

— Senhor, peço que me perdoe por ir contra sua opinião — e então me refutou —, mas não importa o quão importante Genia seja para este país, de repente amarrá-la ao casamento parece um pouco demais…

— Você vai dizer isso para nós dois? — perguntei maliciosamente.

O rei anterior, Sir Albert, havia me dado sua filha Liscia para me tornar o rei deste país. Por outro lado, do ponto de vista de Liscia, ela havia sido feita minha noiva para me manter como o rei deste país. Embora nosso relacionamento tivesse começado dessa forma distorcida, agora que tínhamos superado muitas provações e tribulações, estávamos ligados por um vínculo absolutamente inquebrável.

Dei um tapinha no ombro de Ludwin.

— Tendo passado por tudo isso, deixe-me dizer: a forma como o relacionamento começa não é o problema. É como vocês dois passam o tempo juntos depois disso que é importante, não acha? Além disso, você já tem todo o tempo que passou com ela como amigos de infância, não é?

— Senhor… — murmurou Ludwin.

— Você precisa de outro empurrão? Se você tomar Genia como sua esposa, você pode chamar sua casa de Maxwell-Arcs — falei. — Dessa forma, o nome da Casa de Maxwell continuará existindo. Além disso, a Casa Real cobrirá todas as despesas do seu casamento. Além disso, o país vai cobrir nove décimos das despesas com a pesquisa de Genia a partir de agora… A Casa dos Arcs não precisará carregar esse fardo sozinha.

— F-Fico muito grato pela oferta, mas… ainda temos que continuar financiando um décimo dela? — perguntou ele.

— Se eu não obrigar vocês mesmos a pagarem pelo menos um pouco, sinto que não haverá limite para a quantidade de dinheiro que ela investirá — expliquei. Não importa o quão útil seja a invenção, eu não poderia permitir que Genia abalasse a economia do país para construí-la.

Quando lancei um olhar frio para ela, Genia olhou para o outro lado e assobiou inocentemente.

Quando viu isso, Ludwin disse:

— Entendo… — e riu ironicamente —, então você quer que eu mantenha um controle firme sobre as rédeas dela.

— Ou para se tornar um cavalo de trabalho que pode suportar despesas maiores, suponho — falei.

— Temo que esse seja o resultado mais provável — disse ele ironicamente.

— Tudo bem, Ludwin — falei. — Genia já disse a parte dela. Agora acho que é a sua vez, não é?

— S-Sim, senhor!

Ludwin e Genia ficaram de frente um para o outro.

Ele tinha adotado um tom vermelho-brilhante, mas as bochechas de Genia podiam ter ficado um pouco mais rosadas que o normal. Embora Ludwin fosse o mais alto dos dois, se pudesse comparar, com ele congelando de tensão, eles pareciam da mesma altura. Imaginei se ele ficaria bem, dado o quão tenso parecia estar, mas aquele era o bonito Capitão da Guarda que havia liderado um exército de dezenas de milhares de tropas. Ele rapidamente se recompôs.

— Genia. Você será minha esposa?

— Tem certeza Luu…? — perguntou ela. — Não acho que sou uma esposa de material tão nobre, sabe?

— Eu sei — respondeu ele. — Mesmo assim, quero ter você ao meu lado para sempre.

— Você tem gostos estranhos… Mas, claro. Tá bom. Cuide bem de mim, Querido.

Então, os dois apertaram as mãos.

Tive que pensar: você não deveria abraçá-la em vez disso? Mas…, bem, isso era mais a cara deles. Pareciam felizes, então eu não diria nada. Fiquei feliz pelo assunto ter sido resolvido sem problemas.

— Uff… Está tudo resolvido? — perguntei.

— Não, senhor… — No momento em que tentei relaxar, Ludwin disse isso com um olhar profundamente preocupado. — Ainda não.

Ele parecia tão feliz apenas um momento atrás. O que aconteceu naquele instante?

— Eu tinha esquecido até agora, também, mas… Você esqueceu por que viemos aqui hoje? — acrescentou Ludwin, seu rosto ainda parecendo preocupado.

Ah… pensando bem, ele estava certo. Eu tinha esquecido completamente, mas não tínhamos feito a visita para ver as invenções dela.

Foi quando Ludwin bateu na cabeça de Genia com o punho.

— Ai?! — gemeu ela. — Luu, não quero violência doméstica quando acabamos de ficar noivos.

— Sua idiota! — gritou ele. — Ouça, peça desculpas a Sua Majestade junto comigo!

Dito isso, Ludwin agarrou a cabeça de Genia e a pressionou contra o chão. Ele então se curvou o suficiente para que sua cabeça também batesse no chão. Não era exatamente o mesmo, mas era o estilo duplo de reverência deste país.

Ludwin se desculpou enquanto abaixava a cabeça de Genia.

— Minha… noiva fez algo verdadeiramente ultrajante desta vez…

— Ai, isso dói, Luu — reclamou ela. — Você está puxando o meu cabelo.

— Genia, fique quieta! Eu humildemente, muito humildemente, imploro, senhor, tenha misericórdia.

Não, ele não precisava se desculpar com tanto fervor… Não fiquei tão incomodado com isso, sabe.

— Ludwin, Genia, vocês dois, levantem a cabeça. Não estou particularmente procurando encontrar falhas por aqui.

— Senhor… Obrigado! — gemeu Ludwin.

— Ahh, mas estou curioso sobre isso. — Sentei-me, olhando Genia diretamente nos olhos e perguntei: — Diga-me, Genia? Por que você pegou aqueles ossos de dragão?

Todo mundo deve lembrar, isso aconteceu cerca de meio ano atrás.

Quando cavamos um buraco para uma lagoa de sedimentação como parte do processo de instalação de um sistema de água em nossas principais cidades, descobrimos um grande número de ossos de monstros. Entre eles, um conjunto completo de ossos de dragão gigante tinha acabado de aparecer e desaparecer.

Como eu tinha ouvido falar que dragões que morreram enquanto guardavam rancor podiam voltar como dragões de ossos, fiquei preocupado com isso por algum tempo. Se fosse esse o caso, entretanto, o dragão de ossos teria espalhado seu miasma. Dado que Parnam permaneceu em paz e quieta, essa possibilidade parecia improvável.

Minha suspeita seguinte foi de que alguém os havia roubado, mas eu não tinha a menor ideia do motivo pelo qual fariam isso. Se ainda tivessem magia, poderiam ser úteis como um catalisador mágico ou um ingrediente para fabricar equipamentos, mas aqueles ossos tinham sido totalmente drenados e não possuíam esse valor. Na verdade, era exatamente porque não havia nada a ser feito com eles que eu os mantinha em um depósito para, eventualmente, exibi-los em um museu. Então, no final, as pessoas disseram que um colecionador deve ter fugido com eles.

Embora fosse um caso estranho, nada de muito importante foi levado, então ele havia gradualmente desaparecido da minha memória… ou teria, se a verdade não tivesse surgido à tona no outro dia.

Havia um certo pedaço de papel misturado com os documentos de trabalho de Ludwin. Dizia simplesmente: “Caro Luu, vou pegar os ossos do dragão, cuide dos problemas, por favor, valeu, falou. Genia.”

Sim. Quem pegou os ossos do dragão foi Genia.

Ela aparentemente usou os golens para carregá-los. Suponho que se possa dizer que a maneira como ela entregou apenas uma folha de papel dizendo que o faria, depois foi em frente e fez sem esperar resposta, foi bem a cara dela. Esse papel foi entregue enquanto as coisas estavam uma verdadeira bagunça, então ele se misturou com alguns outros documentos.

Outro dia, quando aquele papel foi finalmente descoberto, sabendo que sua amiga de infância era a criminosa, Ludwin foi prostrar-se diante de mim para se desculpar. Agora, neste momento, para confirmar a localização dos ossos, fomos juntos para visitar o laboratório masmorra de Genia.

E, assim, finalmente descobrimos para onde foram os ossos perdidos, mas…

— Quêêê?! — gritamos de surpresa.

Os ossos haviam mudado completamente… ou melhor, pareciam totalmente diferentes.

Quando questionada sobre onde estavam os ossos, Genia nos levou para dentro da tenda que cobria metade desse enorme espaço. Quando entramos, meus olhos quase saltaram do crânio ao ver aquele dragão mecânico gigante com seu corpo metálico e brilhante. No momento em que vi aquela coisa que só servia para ser chamada de dragão mecha, o tema principal de Godzilla vs. Mechagodzilla com seus sons graves e pesados começou a tocar na minha cabeça.

Não, não era tão grande e tinha apenas vinte metros de altura, no máximo, mas sua forma estava muito longe de qualquer coisa que parecesse real.

Enquanto eu ficava lá parado, estupefato, Genia orgulhosamente começou a explicar:

— Eu chamo esse bebê de “Dramecha”. Coloquei armadura e peças de criaturas selvagens e monstros em cima do esqueleto de um dragão, em seguida, joguei algumas peças misteriosas encontradas em uma masmorra para dar corpo a ela e fazer meu próprio dragão mecânico.

 

 

Genia estava explicando alegremente em um tom monótono, mas… Não sei. Os materiais dos monstros e partes misteriosas das masmorras não estavam me dando nada além de uma sensação ruim.

Liscia ainda estava boquiaberta e Ludwin parecia que ia desmaiar.

Perguntei a Genia:

— Essa coisa não vai explodir, certo?

— Ahaha — riu ela. — Não tem como isso acontecer.

Então Genia se aproximou de Dramecha, tocando levemente na parte inferior de seu pé.

— Quero dizer, ele nem se move.

— Hein? Não? — perguntei.

— Claro que não — disse ela. — Acho que a parte de fora já está completa, mas falta o sistema de controle, que é importante para enviar pedidos para todas as peças. Do jeito que está… é só um espantalho incrível.

O que você é, o cara do “Vou te mataaaaaaaaaar!!”…? — pensei, fazendo uma referência que ninguém iria entender.

Analisei a situação atual. Ela havia feito um dragão mecânico, e isso estava muito bom, mas o programa e os circuitos para operá-lo não existiam. Aparentemente, era algo que ela havia construído para estudar o funcionamento das articulações das criaturas vivas, e nunca teve a intenção de que se movesse. Mas, bem, por mais que isso devesse ser esperado para o nível de tecnologia deste mundo, quando Genia estava envolvida, meu senso para isso ficava entorpecido, sabe.

Genia estava movendo uma das partes da garra do pé do Dramecha para cima e para baixo com uma mão.

— Olha, ele se move suavemente. Mesmo sem energia, você pode fazer isso se mover.

— Sim, isso é incrível — falei. — É incrível, mas… para o que você fez essa coisa…?

Segurei minha cabeça entre as mãos. Achei que isso provavelmente me causaria problemas com a Cordilheira do Dragão Estelar.

Claro, talvez o colocaríamos em exibição no museu com os humanos ancestrais. Mas se começássemos a incorporar um em uma máquina, as pessoas começariam a traçar um limite. Afinal, isso poderia ser interpretado como profanação de cadáveres. Se eles descobrissem que um dos corpos de sua espécie estava sendo usado assim, os dragões poderiam atacar.

Quando eu voltar, vou escrever uma carta de desculpas para a Cordilheira do Dragão Estelar, pensei. Dependendo da resposta deles, vamos desmontar a coisa e enterrar ou mandar de volta para eles.

Enquanto eu estava jurando para mim mesmo, as palavras de Genia: “Do jeito que está… É só um espantalho incrível”, passaram pela minha cabeça.

Um espantalho… Um boneco usado para proteger os campos… Um boneco?! Não me diga…

Tentei tocar a ponta do dedo do pé do Dramecha. Então, usando o Poltergeists Vivos, transferi uma de minhas consciências para ele. Quando o fiz, com um enorme som de metal rangendo… o Dramecha começou a se mover.

Whoa?! Eu consegui controlar isso?!

— Espere, Vossa Majestade?! Você fez alguma coisa? — exclamou Genia. Até ela ficou surpresa com essa reviravolta nos acontecimentos.

Quando olhei para o Dramecha estendendo os braços como um monstro de um filme kaiju, depois começando a fazer ginástica pelo rádio, segurei minha cabeça com as mãos.

Sério, o que eu faria com essa coisa? A habilidade de mover um dragão de ferro poderia ser vista como uma ameaça pelos outros países?

— Mas, mesmo que você possa mover o dragão de ferro, terá alguma utilidade em batalha? — perguntou Liscia.

Eu voltei aos meus sentidos. Agora que ela mencionou, se tudo que pudesse fazer fosse se mover, um dragão de ferro não seria um grande trunfo de batalha. Com seu corpo grande e volumoso, seria o alvo principal. Se a cavalaria wyvern focalizasse seu bombardeio aéreo e sopro de dragão nele, seria feito em pedaços em um instante.

— O Dramecha tem armas? — perguntei.

— Claro que não — disse Genia. — Mesmo eu não sou tão caprichosa a ponto de instalar armamentos em algo que nunca pensei em mover.

— Eu não colocaria isso no passado… — murmurei.

Se fosse esse o caso, seria realmente inútil. A melhor coisa que pude pensar em fazer com ele foi instalá-lo em algum lugar como o Odaiba G*ndam e usá-lo para atrair turistas. Provavelmente deixaria outros países cautelosos conosco, mas não tinha absolutamente nenhuma utilidade. Essa era a pior de todas as coisas. Que enorme elefante branco.

Concluindo, todas as informações sobre o Dramecha foram declaradas ultrassecretas e, até que eu recebesse uma resposta da Cordilheira do Dragão Estelar, deveriam ser mantidas em segredo. Será que ele chegaria a ver a luz do dia?

Quanto a Genia, que produziu a coisa perigosa, nós a movemos para um laboratório construído especialmente para ela, perto da capital. Mesmo neste momento, ela estava trabalhando em pesquisa e desenvolvimento por lá. Assim que o país começou a fornecer a ela a maior parte do financiamento para sua pesquisa, isso apenas a estimulou a trabalhar mais.

Acho que em breve vou enviar alguns remédios de dor de barriga para Ludwin…

 


 

Tradução: Wesley Fera

 

Revisão: Professor Princesa

 

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