Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 04 – Cap. 00 – Prólogo – A Corrida do Rei

– 20º dia, 11º mês, 1.546º ano, Calendário Continental – Capital Real Parnam –

A temperatura estava um pouco fria naquele dia claro de outono.

É dito que o outono é a estação para comer, ler e para fazer arte, mas para mim, o outono era a estação dos esportes.

— Vamos, mais três voltas! Levante mais essa perna! Concentre-se nos bíceps das pernas! — berrou Owen.

— Urgh… — Soltei um gemido.

Eu estava correndo em volta do campo de treinamento dos guardas do castelo por mais de meia hora enquanto meu conselheiro e educador, Owen Jabana, gritava comigo com sua voz gutural. Para algumas pessoas isso pode não parecer muito, mas para um cara que gosta de ambientes fechados como eu, estava sendo muito difícil. Se eu estivesse seguindo meu próprio ritmo suave, seria mais fácil, mas enquanto caminhava tropeçando, fui submetido ao encorajamento autoritário de Owen.

— Gahaha! Músculos nunca vão trair seu trabalho duro! — gritou ele. — Mente sã, corpo são. E é claro, a política saudável também reside no corpo de um governante saudável! Agora, teste seus limites! Force mais os músculos da panturrilha!

— E-Eu não gosto de… forçar… — Consegui falar.

Desde que coloquei Owen no comando do meu treinamento, ele começou a me arrastar para o campo de treinamento sempre que sobrava tempo. Então, eu seria submetido a um cronograma de treinamento de corrida, balanços, batalhas simuladas com ele e muito mais. Pelo visto, o objetivo era me treinar ao mesmo nível de um guerreiro.

Com a corrida terminada, desabei e deitei de costas no chão.

— V-Você está bem? Senhor? — Aisha parecia preocupada enquanto me oferecia uma toalha.

— E-Eu acho que… vou morrer. — Quando eu disse isso, aceitando a toalha e enxugando o suor, Owen riu.

— Eu tenho um firme controle de quando se tornaria perigoso, então não vai acontecer nada sério. Aprendi como usar seu excesso de energia nos últimos dias. Você deve estar preparado para correr por mais dez minutos.

— Tenha um pouco de misericórdia… Tenho deveres a cumprir depois disso — murmurei.

— Então você não se moverá, que tal descansar seu corpo enquanto faz seu trabalho administrativo?

— Estou pedindo para você me dar um tempo porque vou ficar com sono se fizer isso! — falei.

Admito que, mesmo que meu corpo principal adormecesse, as partes de minha consciência que estavam divididas em meus Poltergeists Vivos permaneceriam acordadas, então seria apenas uma perda do poder de trabalho de um homem, mas isso ainda me esgotava muito.

— Hmm, senhor? Se isso é tão difícil, talvez você não deva se esforçar… — disse Aisha, preocupada.

No entanto…

— O treinamento físico é importante — disse Liscia categoricamente. Ela havia chegado em algum momento. — Precisamos de Souma para nos mantermos saudáveis. Além disso, Souma não se importa tanto quanto mostra.

— O quê? Isso é verdade? — perguntou Aisha.

— Souma morava com o avô em seu antigo mundo, não é? — perguntou Liscia. — Eu diria que a razão pela qual ele não desiste, mesmo com todas as suas lamentações, é por Sir Owen lembrar seu avô, não acha?

— Bem, isso pode ser um dos motivos… — admiti.

Quando vi o velho alegre, não pude evitar… sabe. Meu avô não era um machão musculoso como Owen, mas era verdade que isso me lembrava os velhos tempos.

— Então, você veio aqui para me falar sobre alguma coisa, Liscia? — perguntei.

— Isso mesmo — disse ela. — Hakuya estava procurando por você. Ele disse algo sobre um relatório importante.

— Entendi… — falei. — Você ouviu o que ela disse, Owen. Você vai ter que me liberar.

Owen deu de ombros em resignação.

— Muito bem, então continuaremos quando você terminar de ouvir esse relatório importante.

— Você está planejando continuar, hein…? — Achei a ânsia enérgica do velho um pouco cansativa.

Quando voltei ao escritório de relações governamentais, Hakuya estava esperando por mim com uma expressão composta no rosto.

— O relatório é sobre a operação clandestina que discutimos? — perguntei.

Hakuya curvou-se educadamente.

— Sim. O trabalho avança em ritmo acelerado. Está indo bem… Acho que pode-se dizer isso.

— Hmm? Tem algo te incomodando nesse assunto? — perguntei. Senti que havia algo estranho na maneira como ele falou.

Hakuya ficou pensativo.

— Acho que está indo bem demais. Sinto como se houvesse outra mão além da nossa no trabalho. Se houver, é possível imaginar uma situação em que o resultado se transforme em algo que não esperávamos.

— Eu gostaria de evitar surpresas, mas… é tarde demais para parar — falei.

— De fato.

Não importa o quanto meu inteligente vassalo e eu planejássemos, a situação nunca foi exatamente como imaginamos. Na guerra anterior, o acontecimento de imprevistos foi garantido. Por isso sempre tivemos que estar preparados. Para que, independentemente do resultado que nos aguardasse, pudéssemos reagir.

— Não podemos mudar o plano — falei. — Avance com cautela, mantendo um olhar atento sobre a situação.

— Entendido. — Hakuya fez uma reverência.

Estiquei meus braços e pernas.

— Bem, então… acho que vou voltar para o campo de treinamento. Se eu demorar muito, Owen não vai me deixar descansar depois.

— Apesar de todas as suas reclamações você ainda vai querer mais, entendi. — Hakuya revirou os olhos.

Eu ri ironicamente e disse:

— Bem, acho que você poderia dizer que estou me preparando para qualquer imprevisto.