22° dia, 10° mês, 1.546° ano, Calendário Continental
Era meio-dia, no dia seguinte ao que formei uma aliança secreta com o Império Gran Caos.
Jeanne e eu mais uma vez nos encontramos com Julius na sala de audiência.
Como estávamos todos nas mesmas posições do dia anterior, Hakuya, que estava na minha frente e ao lado, deu um passo em direção a Julius e o presenteou com um pedaço de papel detalhando a decisão tomada nas conversas do dia anterior.
— O Exército Real vai deixar Van e voltar para casa, no Reino de Elfrieden.
A expressão altiva de Julius mostrou que ele via isso como uma conclusão natural, mas quando ouviu o que veio a seguir, seu rosto mudou de cor.
— Como condição para isso, o Principado da Amidônia é condenado a pagar as indenizações de guerra ao Reino de Elfrieden — disse Hakuya. — Isso deve estar à parte de qualquer resgate negociado para o retorno de prisioneiros de guerra.
— Isso só pode ser brincadeira! — Julius se virou para Jeanne. — Madame Jeanne! O que significa isso?!
— O significado disso…? — Jeanne deu de ombros. — Ora, acredito que negociei a devolução de suas terras, conforme solicitado, não?
Julius não parecia aceitar o resultado.
— Isso é algum tipo de piada?! Reparações de guerra? Parece até que somos uma nação derrotada!
— Dada a situação atual, é difícil dizer o contrário — disse Jeanne. — Afinal, você perdeu sua capital.
— Não! Ainda não perdemos! — gritou Julius. — Eles ocuparam uma única cidade!
— Então você está livre para fazer o que quiser… — disse Jeanne. — O Império lavará as mãos a respeito do assunto. Você pode manter paz ou fazer guerra, o que quiser.
Julius gemeu, sem palavras.
Vendo sua reação, Jeanne suspirou.
— Quanto à cidade… Tenho muitas dúvidas sobre você poder descartar sua capital como uma simples cidade sendo perdida, mas creio que nos pediu ajuda porque não estava em condições de retomar a cidade sozinho, sim? Nesse caso, você perdeu a guerra. O Império, sob a Declaração da Humanidade, forneceu um meio para você restaurar as mudanças em suas fronteiras. Não podemos intervir ainda mais.
— Mas reparações de guerra… — reclamou Julius.
— Sir Julius. — Jeanne lançou um olhar frio para ele, um que pareceu afastá-lo. — Este assunto deixou minha irmã Maria profundamente triste. Você invadiu um estado soberano, se aproveitando de uma brecha na Declaração da Humanidade, que foi feita para unir toda a humanidade em face à ameaça representada pelo Domínio do Lorde Demônio. Como líderes desse pacto, não podemos deixar isso passar sem contestação.
— Isso foi… nosso soberano anterior, Gaius… — gaguejou Julius.
— Mesmo que fosse — disse Jeanne — você ainda tem responsabilidade por não impedi-lo. Independentemente disso, para garantir que nenhum outro signatário da Declaração da Humanidade se envolva em tais ações temerárias, acredito que duras consequências se farão necessárias. Quero que você sirva de exemplo.
Uwah… Ela está formulando tudo com educação, mas o que está dizendo é, basicamente que “Vou fazer de você um exemplo para manter os demais signatários na linha”, hein?, pensei.
Julius ficou tremendo ali, com as mãos fechadas em punhos, o rosto formando uma máscara contorcida de raiva e angústia.
— E se eu recusar…?
— Já falei — disse Jeanne. — Você é livre para fazer o que quiser. O Império lavará as mãos a respeito do assunto, e o Principado da Amidônia será removido da Declaração da Humanidade.
Julius engasgou graças ao choque.
— Espera! Se você fizer isso, nosso país irá…
— Sim — disse Jeanne. — “Se não são signatários da Declaração, então não será uma violação se os atacarmos.” Ou seja, sua… Perdão, a interpretação de seu pai também será aplicada à Amidônia.
O Principado da Amidônia era cercada por uma nação de cada um de seus quatro lados. A oeste deles estava o estado mercenário de Zem, que professava neutralidade eterna, apesar de despachar mercenários. Ao sul ficava a República de Turgis, um estado não-signatário com uma política nacional de expansionismo para o norte. Ao norte ficava o Estado Papal Ortodoxo de Lunaria, que tinha um conjunto único de valores que diferia de seus vizinhos. E, por último, a leste ficava o Reino de Elfrieden.
Deixando de lado o que poderíamos fazer por nós mesmos, se perdessem a proteção da Declaração da Humanidade neste momento, era bem possível que os outros três os engolissem.
Seu governante anterior, Gaius, manteve seu país ao unir-se ao Império, firmando um contrato para manter mercenários de Zem, intimidando o tímido líder anterior do Reino de Elfrieden, Albert, e exibindo seu poderio militar para os países ao norte e ao sul. Ele teve a capacidade de manter uma política externa equilibrada. Será que Julius teria o mesmo talento?
Mesmo que tivesse o talento, o jovem Julius tinha o tipo de autoridade necessário para dar os passos necessários?
A herança de autoridade seria melhor quando feita gradualmente, enquanto o governante anterior ainda estivesse vivo. Gaius, porém, já não existia mais. Julius agora tinha que lidar com o complicado problema de administrar a ameaça externa das potências estrangeiras, ao mesmo tempo que internamente mantinha seus vassalos sob controle. Se, durante esse processo tão importante, seu país fosse removido da Declaração da Humanidade, perderiam a capacidade de confiar na autoridade do Império e logo se veriam em um beco sem saída.
Julius entendia isso, então baixou a cabeça para Jeanne, seu rosto cheio de amargura.
— Vou aceitar o seu plano…
— Sábia decisão, Sir Julius — disse Jeanne.
Ele parecia mortificado, mas eu não podia me permitir demonstrar misericórdia, então não me movi.
Com a questão resolvida, passamos a negociar valores.
Exigimos o valor de dois anos do orçamento nacional da Amidônia, dividindo em pagamentos anuais ao longo de um período de dez anos, com a estipulação de que deveria ser pago em moeda imperial. Em outras palavras, nos pagariam vinte por cento de seu orçamento nacional por dez longos anos.
Julius, é claro, foi contra, mas Jeanne o convenceu (coagiu?) a aceitar. O objetivo era privar a Amidônia, que gastava metade de seu orçamento anual em despesas militares, de seu financiamento militar. Desde que reduzissem os gastos militares, não pensei que seria impossível que pagassem, mas será que a Amidônia seria capaz de fazer isso?
— Madame Jeanne — falei. — Se houver algum atraso no pagamento…
— De fato — disse Jeanne. — O Império apoiará o Reino de Elfrieden em sua anexação de Van.
— Urkh… — Julius parecia frustrado, mas não conseguia dizer nada.
Com isso confirmado, fiz uma proposta.
— Porém, Madame Jeanne, posso vê-los atrasando o pagamento enquanto endurecem as defesas ao redor de Van. Mesmo com o consentimento do Império, ter que tomar a cidade de novo seria um incômodo. Assim sendo, eu gostaria de algo de valor equivalente como garantia.
— Garantia? — perguntou Jeanne.
— Um item que vamos guardar até que as indenizações sejam pagas — falei. — Se as indenizações não forem pagas, tomaremos a propriedade do item. Claro, se as reparações forem devidamente pagas, o item será devolvido.
— Entendo… Então, o que você quer? — perguntou Jeanne.
— Uma joia para a Transmissão de Voz da Joia.
— Quê…! Nosso país só tem uma dessas! — rugiu Julius.
Com o atual nível de tecnologia, não poderiam criar outra. Se isso fosse avaliado como um ativo, provavelmente seria o equivalente a um ano do orçamento nacional da Amidônia.
Mesmo assim, falei:
— Vocês não usam mesmo. Qual é o problema em ficarmos com isso?
— Não fale bobagens! Pretende incitar nosso povo à revolta?! — gritou Julius.
— É uma simples questão de mudar a frequência — falei. — Isso é tudo que você precisa fazer para evitar de receber as transmissões feitas por Elfrieden.
— Urgh… Bem, sim… — Julius parecia angustiado, mas aceitou com surpreendente facilidade.
Vinham usando o conveniente dispositivo para pouco mais do que uma declaração de intenções no início de cada ano, então Julius, o militarista, provavelmente não sabia seu verdadeiro valor. Pode ser que só estivesse levando em conta o valor material. Enquanto eu pensava nisso…
— Senhor. Posso ter a palavra? — disse Hakuya, sussurrando algo em meu ouvido. Quando ouvi o que ele tinha a dizer, franzi a testa.
— Isso é… principalmente para satisfazer seus próprios interesses, não é? — perguntei.
— O que você está dizendo? — perguntou Hakuya. — Conhecimento é sabedoria cristalizada.
— Bem, tá bom… — falei. — Sir Julius.
— O quê…?
— Como garantia adicional, gostaríamos de levar os livros do arquivo deste castelo.
Foi isso que Hakuya propôs. Ficaríamos com a custódia dos livros da Amidônia, que estavam acumulando poeira nos arquivos.
Neste mundo, o papel ainda era precioso e os livros não eram muito distribuídos. Era perfeitamente possível que a Amidônia tivesse livros que Elfrieden não tinha em seus arquivos. Além disso, no caso dos livros, seria possível copiá-los enquanto os tivéssemos em nossa posse.
Julius bufou de desprezo.
— Pois bem. Mas não toque em mais nada. Não vou tolerar você pegando nossas armas ou armaduras.
— Já vendemos um monte delas para arrecadar fundos para a rede de transportes, sabia? — falei. — Gastamos o dinheiro nesta cidade, então, mesmo que você peça para devolvermos, não poderemos fazer isso.
— Urgh. Então não toque mais! — rebateu Julius.
— Muito bem… — falei.
As armas eram mais importantes que os livros, hein? Foi a decisão correta, visto que ele estava cercado por países para os quais não poderia deixar a guarda baixa, mas não parecia entender o quão assustador era que os escritos de seu povo, a cristalização de sua sabedoria, vazasse.
Quando olhei para Jeanne, ela parecia estar pensando o mesmo que eu, já que exibia um sorriso irônico.
Então, resolvida a questão das reparações, decidimos resolver outros assuntos.
— Quero o retorno dos meus soldados que foram tomados como prisioneiros pelo Reino de Elfrieden — exigiu Julius.
— Que seja — falei. — Porém, você terá que pagar um resgate por aqueles que são da alta ou baixa nobreza.
— Entendido…
— Além disso, investigamos e elaboramos uma lista de criminosos de guerra que atacaram aldeias e se envolveram em saques durante a invasão ao nosso país — falei. — Todos os prisioneiros que estiverem nessas listas serão julgados de acordo com as leis de nosso país e, portanto, não podemos devolvê-los.
A medida extrema concebida por Hakuya, usando o monstro fictício conhecido como pierrots flamejantes para induzir as pessoas a evacuarem, conseguiu tirar a maioria das pessoas do caminho das forças amidonianas. No entanto, isso não significava que não houve absolutamente nenhuma vítima.
Os exércitos do principado pareciam ter despachado batedores em todas as direções, e aqueles que tiveram a infelicidade de encontrá-los acabaram mortos. Eu teria certeza de fazer que pagassem pelo sangue inocente de meu povo que foi derramado.
— Também exigiremos que aqueles cujos nomes estão na lista e ainda permanecem em seu país sejam entregues a nós — falei. — Somente quando isso for concluído que começaremos a devolver os prisioneiros.
— Certo… — disse Julius brevemente, aceitando a lista de criminosos de guerra de Hakuya. — A propósito, Roroa está entre os presos a serem devolvidos?
Roroa? Quem?
— Não reconheço esse nome — falei. — Quem é?
— Roroa Amidônia. Minha indigna irmã mais nova. Ela devia estar em Van quando a batalha começou.
— Sua irmã mais nova? — perguntei. — Quando os portões de Van foram abertos, permitimos que qualquer um que quisesse sair assim fizesse. Acho que Margarita foi a única pessoa com alguma posição que permaneceu. Não recebi nenhum relatório de que capturamos um membro da família real.
— Tudo bem… — disse Julius, cessando o assunto como se não fosse de seu interesse.
Sua irmã estava desaparecida, não estava? Ele parecia terrivelmente indiferente a esse fato. Será que não estava preocupado?
— Se você quiser, posso pedir ao meu pessoal para procurar por qualquer um que tenha a visto — ofereci.
— Isso não será necessário.
— Não será? — repeti.
Hakuya sussurrou em meu ouvido:
— Ele provavelmente está preocupado com uma crise de sucessão. Minhas investigações indicam que a Princesa Roroa é uma das poucas na casa real amidoniana que tem o apoio dos funcionários civis. Tendo dado tratamento preferencial aos militares, Julius não é popular entre os funcionários civis. Ele deve temer que apoiem Madame Roroa em um movimento contra ele.
— Mesmo assim, com Gaius fora de jogo, ela é uma de suas poucas parentes restantes — sussurrei de volta.
— É algo comum nas famílias reais — sussurrou ele.
— Entendo isso, mas ainda assim… Não quero entender — sussurrei de volta.
As guerras de sucessão não eram algo incomum na história da Terra. Mesmo no Reino de Elfrieden, quando a mãe de Liscia, Elisha, subiu ao trono, o conflito entre seus parentes quase levou à extinção da linhagem real.
Se bem me lembro, Maquiavel em pessoa pediu o expurgo dos oponentes políticos. No entanto… como alguém que conhecia a solidão de perder toda a família, não pude deixar de sentir que ele deveria valorizar mais a sua irmã. Podia ser ingênuo da minha parte, mas era algo de que eu não poderia desistir.
— Ah, isso mesmo — falei. — Mencionei Margarita um momento atrás. Gostaríamos que ela permanecesse no reino. Visto que ela cooperou conosco para manter a ordem em Van, suspeito que você teria dificuldades em decidir o que deveria ser feito com ela.
— General Margarita Maravilha, é isso? — Julius pareceu pensar por um momento. — Se você libertar cinco dos nobres que está mantendo como prisioneiros, posso aceitar isso — disse ele.
Devia ter calculado o valor dela como prisioneira e julgou que, em comparação com uma general com quem não saberia como proceder, uma redução no resgate dos vassalos que eram realmente leais lhe parecia mais benéfica. Pedir cinco pessoas no lugar de uma foi uma decisão astuta.
— Muito bem — falei. — Vou aceitar essas condições.
— Ela era uma boa general, sim, mas boa o suficiente para você a querer tanto…? — perguntou Julius em dúvida.
Sorri de forma irônica. Ele, capaz de julgar apenas o valor das pessoas pelo seu potencial como ativos na guerra, não entenderia o verdadeiro valor de Margarita. Como cantora, como apresentadora, ela tornou-se indispensável na hora de transmitir os programas para a Transmissão de Voz da Joia.
Bem, eu não tinha a obrigação de explicar isso a ele, então fiquei em silêncio.
Com as coisas então praticamente em ordem, declarei o fim das negociações.
Elfrieden receberia indenizações de guerra em troca de sua retirada de Van. A Amidônia retomaria o controle de Van em troca do pagamento de indenizações. O Império havia demonstrado sua influência ao atuar como mediador nessa disputa.
Esses eram resultados com os quais eu poderia ficar satisfeito, por enquanto.
Seria possível dizer que a Amidônia se salvou, que o Império não perdeu nada e que Elfrieden saiu com ganhos adequados.
Com as conversas encerradas, Julius deu meia-volta para se afastar, como se dissesse que não tinha mais nada a dizer para gente como eu, mas gritei para impedi-lo.
— Sir Julius!
— O quê? — retrucou ele, sem se virar.
— Um filósofo político do meu mundo, Maquiavel, disse uma coisa — falei. — Quem adquire um principado com dificuldade, o conservará com facilidade. Aqueles que adquirirem um principado sem dificuldade terão dificuldade em mantê-lo.
— Hein? Como assim? — Julius se virou, olhando para mim.
O olhei diretamente nos olhos e disse:
— Derrotei você e seus homens para tomar Van. Expulsei a vasta maioria da alta e baixa nobreza, expurgando quase qualquer um que poderia ter se tornado um oponente político. É por isso que, se eu tivesse mantido a tomada de Van, provavelmente não teria grandes problemas. Porém… você pode dizer o mesmo? Mesmo que você volte para esta cidade, pode governá-la sem problemas?
— Do que você está falando? — exigiu Julius. — Este é o meu país.
— Mas, até agora, era parte de Elfrieden — falei. — Você a recuperou usando a autoridade do Império, ou seja, as armas de outros. Isso seria o que o filósofo Maquiavel quis dizer com “um principado adquirido sem dificuldade”.
Nas histórias, existem aqueles que se tornaram príncipes com o respaldo de parentes ou de países poderosos. Entretanto, para aqueles que dispararam para o topo dependendo do poder desses apoiadores, perder o apoio era o mesmo que perder toda a fortuna.
Um exemplo disso seria como o homem que Maquiavel considerou seu príncipe ideal, César Borgia da Itália, caiu após a morte de seu apoiador, o homem que era seu pai e o papa, Alexandre VI.
Ou como, na época da Contenção Chu-Han, quando Xiang Yu lutou contra Liu Bang, o fazendeiro que havia sido colocado ao lado de Xiang Yu como um herói, e que tinha nascido com origens humildes para ser nomeado Rei dos Chu, acabou morrendo ao ser considerado inútil.
Tendo tomado a autoridade do Império emprestada para reivindicar sua própria capital, Julius com certeza seria desprezado por seus oficiais e pelo povo da Amidônia. E Gaius VIII, temido por seu poderio militar, já não existia mais.
Julius, que era inteligente, mas que carecia de intensidade, conseguiria manter seus oficiais sob controle? Ele seria capaz de servir ao povo de Van melhor do que eu, e conquistar sua confiança?
— Quem adquire um principado sem dificuldades deve trabalhar muito para mantê-lo — falei. — Antes de começar a falar sobre rancores, sugiro que trabalhe duro em políticas que irão beneficiar o seu povo.
— Isso não é da sua conta. — Deixando minhas palavras de apoio desprezadas de lado, Julius foi embora.
Jeanne deu de ombros e revirou os olhos.
Me aproximei de Jeanne e apertei sua mão.
— Essas conversas têm sido muito frutíferas. Dê os meus cumprimentos à sua irmã.
— Com certeza — disse Jeanne. — Cuide-se também, Sir Hakuya. Algum dia devemos reclamar de nossos respectivos mestres enquanto bebemos.
— Isso parece bom — disse Hakuya. — Terei um barril à sua espera.
Bom, o que isso deveria significar? Teriam reclamações suficientes para precisar de um barril inteiro? Quando olhei na direção dele, Hakuya descaradamente desviou o olhar.
Vendo isso, Jeanne soltou uma risada jovial.
— Espero que, da próxima vez que nos encontrarmos, estejamos do mesmo lado. Por favor, algum dia também fale pessoalmente com minha irmã.
— É claro — falei. — Estarei ansioso pelo dia em que poderei conversar com Madame Maria.
Trocamos um aperto de mão firme.
Assim que a retirada foi decidida, o resto foi rápido.
Como havia sido decidido que devolveríamos Van, ficar mais tempo só serviria para desperdiçar nossos fundos de guerra. O Exército Real retirou nossas tropas de Van com tanto esplendor quanto haviam feito quando entramos pela primeira vez pelos portões. O pequeno número de soldados amidonianos estacionados perto de Van estava em número esmagadoramente menor, e o Exército Imperial ainda estava por perto, mantendo uma vigilância apertada de ambos os lados, então não precisávamos nos preocupar com perseguições.
Eu estava no meio da procissão, igual a quando chegamos, montado em um cavalo cujas rédeas estavam sendo puxadas por Aisha, com Liscia em outro cavalo ao meu lado. Quando entramos no castelo, os olhos das pessoas enquanto olhavam para o Exército Real estavam cheios de medo. Porém, as coisas mudaram um pouco.
Não tínhamos feito um anúncio oficial, mas as pessoas que ladeavam a rua exibiam uma expressão de incerteza. Quando viu aqueles olhares, Liscia estava com uma expressão de dúvida no rosto.
— Por que será que todo mundo está assim? — perguntou ela. — Eu entenderia se estivessem aliviados, já que estariam felizes por serem libertados, ou felizes por nos ver finalmente mortos…
— Provavelmente… estão preocupados — falei. — Preocupados com a possibilidade de cair sob o domínio da Amidônia de novo.
— Preocupados? Por as coisas estarem voltando a ser como antes? — perguntou Liscia.
— É exatamente por isso — falei. — Estão preocupados, Nossas vidas voltarão a ser como eram antes? — Encarei as coisas enquanto falava. — Os residentes de Van estavam sendo oprimidos pela Casa Principesca da Amidônia. Quando era um assunto natural, isso provavelmente não os incomodava, mas estando sob nossa ocupação, aprenderam que não precisavam viver daquela forma. Ao contrário da Casa Principesca, dei a todos a liberdade para expressar seus sentimentos e ideias. É por isso que, com a nossa partida, estão preocupados com a possibilidade do retorno de Julius e seus seguidores resultar na volta da repressão.
Porque, bem… provavelmente era isso mesmo. Uma vez que Julius entrasse em Van, ele naturalmente começaria a tomar controle da atmosfera relaxada.
Liscia olhou para as pessoas enfileiradas nas ruas com pena.
— Agora que sentiram o gosto da liberdade, não podem mais voltar às suas velhas vidas… É como um vício, não é?
— Acho que é uma forma adequada de definir as coisas, mas… não poderia encontrar algo um pouco melhor? — perguntei.
— É um fato, não é? — perguntou ela. — Mas é o país deles, certo? Suas mentes podem mudar com tanta facilidade?
Falei:
— No meu velho mundo existe um provérbio: “O governo opressor é mais feroz do que um tigre.” Nesse caso, acho que eu diria: “A tirania é mais repugnante do que um invasor.” As pessoas não se movem de acordo com códigos éticos e morais. Se o país é benéfico para eles, o defenderão de ameaças estrangeiras, mas se outro país for melhor para eles, trabalharão ativamente para abrir os portões de seus castelos.
Quando falei isso, Liscia suspirou.
— Quando estou caminhando ao seu lado, só vejo como as pessoas agem em momentos difíceis.
— Já se cansou disso? — perguntei.
— Vamos nessa! — Liscia e Aisha gritaram.
Aisha, por algum motivo, se juntou a isso.
— Por que você também disse isso, Aisha?! — explodi.
— Se Vossa Majestade caminhar ao meu lado, nenhum caminho será difícil! — declarou ela com orgulho.
Mas quanta lealdade. Se ela continuasse assim, ganharia um apelido como “O Cão do Rei”.
Olhando para Aisha, Liscia soltou uma risadinha.
— Me sinto da mesma forma. Se estiver com você, sinto que posso aceitar qualquer realidade.
— Entendo… — falei. — Bem, vamos voltar.
Voltar para o nosso país, onde estão todos esperando.
Uma semana depois…
Quando Jeanne retornou ao Império Gran Caos e chegou ao castelo na capital imperial, foi imediatamente convocada por sua irmã, a Imperatriz Maria, sem nem mesmo um minuto para recuperar o fôlego. Embora um tanto exasperada, se arrastou até o escritório de assuntos governamentais de Maria, onde encontrou sua irmã parada no meio da sala, esperando por ela.
Normalmente, nessa hora, ainda teria burocratas trabalhando sem parar, mas, desta vez, Maria devia ter dispensado todos, já que estava sozinha por lá. Com um sorriso suave no rosto, sua elegância ali portava um toque de sua majestade como imperatriz.
Jeanne levou uma das mãos ao peito, curvando-se para Maria.
— Irmã. Acabo de retornar da capital principesca, Van.
— É bom ter você de volta, Jeanne — disse a Imperatriz. — Como foram as coisas?
— Surgiram alguns problemas, mas correu mais ou menos como esperávamos — falou Jeanne. — O Reino de Elfrieden retornou Van e o território circundante ao Principado da Amidônia.
— Excelente — disse Maria. — Você me serviu bem. Que bom… — Maria bateu palmas e sorriu. — Assim encerramos o modo de trabalho. Bem-vinda de volta, Jeanne!
Maria saiu do trono e correu para abraçar sua irmã.
— I-Irmã?! — O abraço repentino a jogou em um redemoinho de pânico e confusão. — O que é isso, tão de repente?! Esta é uma conduta inadequada para uma Imperatriz, sabe?!
— Bem, eu estava sozinha, não pude te ver por tanto tempo — reclamou Maria. — Todos que não são da família me dão o tratamento de Sua Majestade Imperial, e nossa outra irmã está confinada em seu laboratório, igual sempre!
— Não me vem com essa! Você não é mais uma criança!
Mesmo enquanto protestava, Jeanne afagou as costas de Maria. Ela estava ciente da solidão e do fardo pesado que sua irmã tinha que carregar como Imperatriz, então não queria afastá-la.
Quando Maria a soltou, foi se sentar na magnífica cama instalada em um canto do escritório e deu uns tapinhas no local ao seu lado, incentivando Jeanne a também se sentar.
— Ora, ora, que tipo de cavalheiro Sir Souma era? — perguntou Maria ansiosamente.
Ao ver a irmã com os olhos brilhando, igual uma criança importunando os pais por uma história de dormir, Jeanne sentiu a dor de cabeça chegando. Contudo, parecia improvável que ela seria dispensada antes de falar sobre isso, então Jeanne desistiu e decidiu contar o que aconteceu durante as conversas.
— Tudo bem — Jeanne cedeu. — Primeiro, deixe-me contar o que aconteceu quando fui fazer o reconhecimento de Van…
Ela explicou o curso dos acontecimentos desde o momento em que se encontrou com Souma em uma esquina da cidade até o acordo para formar um pacto secreto. Enquanto Jeanne contava a história, a expressão de Maria rapidamente mudou. Ela pareceu aliviada quando soube que Souma não estava chateado por ter sido invocado, e que entendeu a intenção delas.
Quando ouviu que Souma disse que “Monstros e demônios podem ter a mesma relação que este continente chama de humanidade e animais”, mostrou uma expressão de surpresa e incerteza.
Quando ela soube que algo chamado pão de espaguete, que comeram durante a conferência, era delicioso…
— Jeanne, isso não é justo! — gritou Maria, fazendo beicinho e ficando com raiva.
Já fazia algum tempo que Jeanne não via sua irmã tão animada ao falar. Ela provavelmente estava animada.
A maior explosão de emoção surgiu quando Jeanne falou sobre o pacto secreto, a proposta de Souma de que o Império defenderia o oeste, enquanto o reino defenderia o leste. Quando Maria ouviu isso, se jogou na cama enquanto segurava a barriga e ria.
Jeanne ficou surpresa com a reação da irmã.
— Irmã. Não acho que isso seja motivo para risada, não é?
— Hehehe… S-Sinto muito. Isso é tão engraçado — disse Maria enquanto enxugava as lágrimas que se formaram nos cantos de seus olhos de tanto rir.
— Engraçado? — perguntou Jeanne, incrédula.
— Digo, pensa bem — falou Maria. — Não faz muito tempo, tínhamos que mostrar consideração especial para com aquele país, já que decaíram muito, mas, em algum momento, se tornaram um aliado de confiança que pode cuidar do lado oriental do continente por nós. Sinto que fui enganada pela ilusão de alguma fada.
— Bem… é verdade, os eventos estão correndo em um ritmo incrivelmente rápido — disse Jeanne.
— Sim. Sim, é exatamente isso, Jeanne. — O sorriso de Maria de repente sumiu, seu rosto completamente sério. — Ei, Jeanne. Lembra da definição de um herói no reino?
— Isso estava nos relatórios, sim — disse ela. — Se bem me lembro… era “Aquele que lidera a mudança de uma era”, certo?
— Sim — disse Maria. — Não “Aquele que derrota o Lorde Demônio” ou “Aquele que conquista o mundo”, mas “Aquele que lidera a mudança de uma era.” Souma foi convocado como um herói, mas tudo que ele faz é trabalho administrativo, então algumas pessoas duvidam que ele seja mesmo um herói.
— É verdade, ele não parece muito com o que esperaríamos de um herói — disse Jeanne. — Afinal, ele não parecia tão forte.
Maria balançou a cabeça.
— Isso mesmo. Acho que ele está bem longe do que imaginamos como um herói. Mas e se evitarmos ser apanhadas por essa imagem e, em vez disso, avaliá-lo como “Aquele que lidera a mudança de uma era”? Quando se pensa na velocidade com que as coisas estão mudando, você não pensa que os tempos também estão mudando?
Ao ouvir isso, Jeanne engoliu em seco.
Maria se levantou e foi até o parapeito da janela.
— Ele parece uma pessoa mais interessante do que eu esperava. Ah, espero poder falar pessoalmente com ele em breve.
Olhando para o céu oriental, Maria sorriu suavemente.
Tradução: Taipan
Revisão: Sonny Nascimento (Gifara)
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