O Império Gran Caos ficava no oeste do continente.
Neste continente, se excluir o Domínio do Lorde Demônio, era este o estado com o maior território. Quando se tratava de população, potencial de guerra, tecnologia e até mesmo qualidade de vida do povo, era um grande império ao qual nenhum outro país poderia se comparar.
Até mesmo o Reino de Elfrieden, que tinha o segundo maior território do continente, era insignificante se comparado ao Império. Se o reino quisesse competir com o Império, mesmo depois de anexar toda a Amidônia, ainda precisaria dobrar a sua força.
Na verdade, esse cálculo só funcionaria se estivessem lutando sozinhos contra o Império. Se também tornassem os países aliados a eles em inimigos, não lhes restaria lugar no continente.
A única área em que o reino poderia competir com o Império era no quão longas eram suas histórias. O Império era mais jovem, embora fosse só um pouco.
Aconteceu no final do Período Caótico. Houve um conflito entre as diversas raças do continente, e muitos países subitamente chegaram ao poder. Ao contrário de Elfrieden, que foi fundado pela união de muitas raças, o Reino Caos da época era governado por um único rei. Ele centralizou o poder, concentrando-o nas mãos da raça humana, e criou o que pode ser chamado de ditadura.
Os estados centralizados são mais poderosos, especialmente em tempos difíceis. Isso ocorre porque as decisões tomadas por um único indivíduo são logo definidas, para que possam tomar decisões rápidas e agir de imediato. No momento em que o Período Caótico estava chegando ao fim, o Reino Caos estava muito acima das demais nações do continente. Entretanto, naquele ponto, era apenas um poder dentre os outros. As pessoas daquela época nunca tinham pensado que aquilo se tornaria o tipo de império enorme que se tornou.
A maior revolução aconteceu há cerca de cem anos, com o nascimento de um indivíduo heróico no Reino Caos.
Manas Caos.
A pessoa que mais tarde viria a ser conhecida como Imperador Caos.
Manas nasceu como o segundo filho do Rei de Caos, mas herdou o trono quando seu pai e seu irmão mais velho morreram na guerra contra o Reino Euforia, um país que existia no noroeste do continente. Quando Manas assumiu o trono, aqueles ao seu redor naturalmente esperavam uma guerra de vingança contra o Reino Euforia.
Porém, Manas não só impediu uma guerra por vingança, como também tomou a filha do Rei de Euforia como esposa, formando um vínculo matrimonial entre as duas nações. Além disso, ele chegou a se renomear como Manas Euforia, para que aqueles do Reino Euforia baixassem as suas guardas.
Houve alguma resistência a isso no Reino Caos, mas Manas era um gênio militar e suprimiu todos os dissidentes.
Como um gênio militar, Manas compreendeu. No momento, a diferença de poder entre o Reino Euforia e o seu próprio reino não era tão grande. Se lutassem em circunstâncias assim, a guerra seria prolongada e serviria apenas para exaurir o país.
Seu plano era primeiro usar o Rei de Euforia, absorver os países menores ao seu redor e, então, uma vez que a diferença de poder estivesse esmagadoramente a seu favor, tentaria, mais uma vez, engolir o Reino Euforia.
Manas, na verdade, absorveu os países menores e, então, quando a diferença de poder era grande o suficiente, invadiu o Reino Euforia, a casa de sua esposa, e o destruiu.
No entanto, talvez por um pouco de arrependimento, mesmo depois de destruir o Reino Euforia, não voltou ao seu antigo nome, Caos, e continuou a usar o nome Euforia. Mesmo no momento atual, a família imperial do Império Gran Caos continuava usando o nome Euforia.
Mesmo depois de destruir o Reino Euforia, Manas continuou com suas guerras de invasão e, antes que percebesse, seu país tinha se tornado uma grande nação que controlava o oeste do continente. Foi aí que o Reino Caos se renomeou como Império Gran Caos.
O surgimento deste enorme país foi motivo de muita preocupação até mesmo para os países que não eram seus vizinhos.
Isso aconteceu algumas décadas depois, mas no Reino de Elfrieden, a razão pela qual o rei antecessor ao antecessor de Souma trilhou o caminho do expansionismo foi por medo da existência do Império.
O mundo já estava em transição para um clima de amistosidade, mas ele devia desejar fortalecer o seu próprio país antes que a ameaça do Império se fechasse sobre ele. Porém, sem o gênio de Manas, quando aquele rei anterior de Elfrieden apoderou-se de metade da Amidônia, seus seguidores, que estavam descontentes com o esgotamento do país decorrente da corrida expansionista, o assassinaram.
Depois disso, o reino viu uma guerra de sucessão entre seus herdeiros (os três duques da época não quiserem se envolver, então se isolaram em seus ducados) que levou à quase eliminação da linhagem real.
No final, a jovem que mais tarde seria a mãe de Liscia sobreviveu às provações, herdou o trono e conseguiu fazer as coisas se acalmarem no reino ao tomar Albert como seu marido.
Voltemos a falar sobre o Império.
O Império se tornou uma grande potência e procurava unificar o continente, mas a figura central de tudo isso, Manas, faleceu aos cinquenta anos, quando poderia ter feito ainda mais. Correram boatos de que foi assassinato, mas a verdade é que foi uma doença. Nem mesmo um homem tão grande como aquele poderia derrotar a doença.
Com a morte de Manas, a situação do Império começou a parecer duvidosa. Quando um país é construído em torno de uma personalidade forte, muitas vezes acaba se fragmentando quando ela é perdida. Também existiam exemplos disso na Terra. Houve o império de Alexandre, o Grande1Ele foi um importante rei da Macedônia, que viveu no século 4 a.C. Em apenas 33 anos de vida, Alexandre, o Grande – também conhecido como Alexandre Magno ou Alexandre III -, formou um enorme império, que ia do sudeste da Europa até a Índia. Por isso, ele é considerado o maior líder militar da Antiguidade., o Império Mongol2O Império Mongol dos séculos XIII e XIV foi o maior império de terras contíguas da história e o segundo maior império em área, perdendo apenas para o Império Britânico., a Dinastia Qin3Foi uma dinastia que governou a China entre 221 a.C. e 206 a.C., e que normalmente figura nos livros de História como a primeira dinastia burocrática ou protoburocrática da história da China. de Qin Shi Huang4Qin Shi Huang Di, foi rei do Estado chinês de Qin de 247 a.C. a 221 a.C., e posteriormente tornou-se o primeiro imperador de uma China unificada, de 221 a.C. a 210 a.C., reinando sob a alcunha de Primeiro Imperador. e muito mais. Quanto mais rápido uma nação se expande, maior é a probabilidade de que se fragmente antes que passem três gerações. Com o Império Gran Caos não foi diferente.
O segundo imperador, em parte graças aos leais associados de Manas continuarem vivos, governou com mão de ferro. Porém, no momento em que o terceiro imperador subiu ao trono, aqueles apoiadores leais já tinham falecido.
Em parte porque era um país centrado em humanos, não possuíam vassalos de outras raças, como Excel, que servia à família real há gerações. Assim sendo, o terceiro imperador iniciou novas invasões na tentativa de ganhar o apoio de seus vassalos. Ele devia querer mostrar às pessoas dentro e fora do país que poderia continuar o trabalho de Manas e unificar o continente.
Entretanto, a guerra que estourou há sessenta anos acabou virando uma guerra mundial, com vários países se exaurindo, como resultado. O Império não foi exceção. Com os custos inesperadamente altos da guerra arruinando o país, danificou o apoio que tentava estabelecer.
Aconteceram várias guerras civis no Império, e o terceiro imperador morreu pelas mãos dos rebeldes durante a quarta dessas guerras. Ironicamente, foi na verdade graças às perdas causadas pela guerra que o terceiro imperador começou, na tentativa de continuar o trabalho de unificação, que fez com que o mundo mudasse para uma atmosfera mais colaborativa.
O quarto imperador, que herdou um império em desordem, abandonou a política expansionista e se concentrou na política interna. Podia ser considerada uma decisão sábia, mas ele foi considerado passivo demais e passou a ser desprezado pelos lordes do império.
Quando o quinto imperador assumiu o trono, o Império já tinha perdido a sua força de impulso e imaginavam que logo tudo se desintegraria. No entanto, cerca de dez anos atrás, aconteceu algo completamente inesperado.
O aparecimento do Domínio do Lorde Demônio.
O avanço repentino desses exércitos de aberrações fez com que o Império perdesse o antigo território do Reino Euforia, junto com muitos de seus outros territórios nortenhos. Porém, a ameaça era a mesma para todos os países, levando a apelos para que a humanidade se unisse diante da situação.
E então, voltaram-se para a maior e mais poderosa nação, o Império, em busca de liderança. Como resultado, o Império conseguiu evitar a ameaça de ser dividido.
Tornaram-se o principal poder na aliança das nações da humanidade, mas, devido ao fato de que a humanidade não estava trabalhando de forma unificada desde o começo, foram forçados a uma dura batalha contra os monstros. Então, em uma batalha durante a invasão que foi a fundo no Domínio do Lorde Demônio, a humanidade sofreu uma derrota esmagadora.
O quinto imperador era um homem de cultura, não dotado na arte da guerra. Como resultado do campo de batalha desconhecido, oprimindo seu corpo e alma, faleceu há cinco anos.
O quinto imperador não tinha filhos homens, então quem herdou o trono foi uma garota que, na época, ainda tinha quatorze anos.
Aquela garota era Maria Euforia.
Agora, com a idade de dezenove anos, ela era a imperatriz do Império Gran Caos (como “imperador” era um título para homens, a posição havia sido recém-criada).
Na época, surgiram muitas vozes preocupadas com a possibilidade de uma garota tão jovem assumir o trono. No entanto, assim que ela assumiu, logo colocou seu carisma natural em ação.
Primeiro mudou as políticas de favorecimento humano do Império, empregando aqueles que tinham algum talento, mesmo que pertencessem a outras raças. Em tempos de paz, os humanos poderiam tentar resistir a isso, mas este era um momento de crise com a ameaça do Domínio do Lorde Demônio caindo sobre todos. Suas posições e prestígio dependiam da sobrevivência.
Essa política, adequada à época atual, recebeu o apoio de seus súditos.
Incluída nas políticas de Maria estava considerada a maior de todas, a Declaração da Frente Comum da Humanidade Contra a Raça Demoníaca (também conhecida como Declaração da Humanidade).
Em resposta à ameaça invasiva do Domínio do Lorde Demônio, ela pediu uma frente comum entre toda a humanidade.
A Declaração da Humanidade com seus três artigos: “A aquisição de território pela força entre as nações da humanidade é considerada inadmissível”, “o direito de todos os povos à igualdade e autodeterminação será respeitado” e “países distantes do Domínio do Lorde Demônio fornecerão apoio às nações adjacentes a ele, que estão agindo como uma muralha defensiva”, foi revolucionária, pois não só estabeleceu uma frente comum contra as forças do Lorde Demônio, como também fez referência à interrupção de guerras e proibiu a discriminação racial.
Além disso, Maria deu toda a sua atenção à salvação dos mais fracos. Com sua bela aparência e a gentil disposição com que cumprimentava a todos, independente de origem, conquistou o coração das pessoas.
As pessoas, em algum momento, passaram a naturalmente chamá-la assim:
A “Santa do Império”.
Aquela Santa do Império, Maria, estava agora em seu quarto na capital imperial do Império Gran Caos com uma expressão sombria no rosto.
Era uma noite tranquila. Havia algo transitório na forma como ela ficava quando estava ao lado da janela com a luz da lua entrando, sem se preocupar em acender as luzes. Sua silhueta feminina e bem equilibrada estava envolta em um vestido branco puro e seu lindo cabelo louro ondulava.
Quem acreditaria que estava no topo do estado mais poderoso de todo o continente?
Quando Maria olhou pelo vidro em direção à brilhante lua no céu noturno, ela soltou um suspiro. Naquele momento, alguém bateu à porta de seu quarto.
Maria corrigiu a sua postura e disse:
— Entre.
Entrou outra jovem.
— Com licença, irmã.
Essa garota, vestida com um uniforme militar, tinha um rosto que parecia idêntico ao de Maria.
Se havia diferença entre elas, era que essa prendia o cabelo em um rabo de cavalo e seus olhos pareciam um pouco mais corajosos. Era natural que fossem parecidas, já que ela era a irmã de Maria, dois anos mais nova, Jeanne Euforia.
Jeanne parou na frente da sua irmã, dando-lhe uma saudação.
— Eu, Jeanne Euforia, irei para a capital da Amidônia, Van, como comandante do Exército.
Jeanne tinha um talento militar tão grande que era chamada de “a Manas mulher” e, apesar de ser a primeira na linha de sucessão, também atuava como comandante de todo o Exército.
Maria cuidava do lado administrativo, enquanto ela cuidava do militar. Ao dividir os papéis entre essas duas irmãs, conseguiam lidar com as tarefas que fizeram o imperador anterior cair por ficar sobrecarregado.
Aliás, havia outra irmã um ano mais nova que Jeanne, mas, de acordo com os rumores, ela era uma excêntrica sem igual e não tinha permissão para aparecer em público.
Maria olhou para Jeanne, desculpando-se.
— Sim… Você vai se encontrar com aquele rei herói.
— Sim… — disse Jeanne. — Não gosto de ser usada assim pela Amidônia, mas suponho que teremos que negociar a devolução de Van, que está ocupada. — Jeanne parecia ter acabado de sentir um gosto desagradável.
Um mensageiro do príncipe soberano da Amidônia, Julius, chegou à capital imperial, Valois, poucos dias antes.
— A ocupação de Van pelo Reino de Elfrieden é um desafio para os signatários da Declaração da Humanidade, que proíbe a alteração de fronteiras — disse o mensageiro. — Como a principal potência do tratado, pedimos que Sua Majestade Imperial, a Imperatriz Maria Euforia, use o seu poder para tomar Van daquele país.
Claro, o Império sabia que foi o Principado da Amidônia que começou com as hostilidades. Quando pressionado nesse ponto, o mensageiro disse:
— Isso é algo que o príncipe anterior, Lorde Gaius, fez, apesar das advertências de Lorde Julius para não o fazer. Não tem nada a ver com Lorde Julius. — A desculpa soou quase desafiadora.
Quando ele falou assim, Jeanne quase puxou a espada do quadril, mas como a responsável pelas forças armadas do Império, ela se conteve. Então, apesar de realmente não querer, concordou em assumir as negociações.
Mesmo que o principado fosse o culpado, a Declaração da Humanidade tinha que ser respeitada. A Declaração da Humanidade era a personificação do prestígio do Império. Foi uma decisão difícil para Maria e Jeanne tomarem.
— Sinto muito — disse Maria. — Por fazer você ter todo esse trabalho.
— O que você está dizendo? Tenho certeza de que é você quem mais se preocupa com isso, irmã. Juro que algum dia faremos Julius Amidônia pagar por tudo — cuspiu Jeanne.
Maria podia entender como ela se sentia, mas disse no tom mais calmo possível:
— Vai ficar tudo bem. O novo rei do Reino de Elfrieden, Souma, é, sob todos os aspectos, um homem sábio. Não consigo imaginar que ele seja tolo a ponto de lutar contra o nosso país.
— Tem certeza? — perguntou Jeanne. — Uma vez exigimos que ele fosse entregue…
— Verdade… Ele deve ter uma má impressão nossa.
Quase meio ano antes, o Império solicitou que Elfrieden fornecesse subsídios para a guerra contra os demônios. Se não pudessem fazer isso, o Império incluía uma condição de que poderiam realizar o ritual de invocação de heróis que era herdado em seu país e entregar o herói invocado. Assim sendo, o conturbado Reino de Elfrieden decidiu invocar um herói.
Então, o herói invocado, Souma Kazuya, recebeu o trono do rei e tornou-se o novo rei de Elfrieden.
Muitos pontos não ficaram claros, como o motivo pelo qual o rei anterior, Albert, entregou o trono com tanta facilidade, mas Souma melhorou a saúde econômica do Reino de Elfrieden e começou a fornecer subsídios.
Desde então, o novo rei resolveu uma crise alimentar, reprimiu uma rebelião dos três duques e lidou com a Amidônia, que havia usado a rebelião como uma oportunidade para invadir, lançando uma contra-invasão e ocupando a capital deles, Van.
Um homem com idade similar à de Maria conseguiu tudo isso em pouco tempo. Mesmo se ele não fosse um herói, ela gostaria de ter alguém tão capaz para si.
Para ser honesta, em vez de Julius, que agiu arbitrariamente, ela preferia manter uma relação amigável com o Rei Souma. Porém, como o Império havia exigido que ele fosse entregue, presumia-se que não havia esperança de que formassem um relacionamento amigável. Maria, entretanto, ainda não tinha perdido as esperanças.
— Pelo que ouvi nos relatórios, acho que Sir Souma é o tipo de pessoa que vai entender se conversarmos — disse ela.
Jeanne, por outro lado, discordou dessa avaliação.
— Acha? Eu penso o contrário, irmã. Você e ele são como água e óleo…
De todos os relatos que Jeanne tinha ouvido sobre Souma, passou a sentir que ele era o oposto de Maria. Maria, por exemplo, estava tentando unir a humanidade em face da ameaça do Domínio do Lorde Demônio, enquanto Souma parecia estar pensando que seu país precisava ser capaz de, primeiro, se manter sozinho.
Além disso, por mais desagradáveis que as coisas ficassem, Maria respeitava as leis e regras, tentando agir de forma lógica, conforme uma imperatriz deveria fazer. Enquanto isso, para Souma, quando se tratando de seus poderes como rei, seus súditos e sistemas, sua política parecia ser: “Se forem úteis, os uso, se não forem, não”, com seus critérios sendo decididos de acordo com suas próprias sensibilidades. Se um sistema não estivesse de acordo com o esperado, ele o mudaria, ao passo que, se fosse prático, empregaria as pessoas mesmo sem terem sido previamente avaliadas.
Maria agia de acordo com a lógica, enquanto Souma agia de acordo com os sentimentos. Jeanne achava que os dois nunca se entenderiam.
— Para mim, parece que vocês dois estão andando em direções totalmente diferentes… — disse ela.
Maria ficou em silêncio por um momento, depois soltou uma risadinha.
— Ah, mas se estamos em direções diferentes, não acha que poderíamos acabar com nossos pontos cegos se cooperássemos?
Ao ver o sorriso travesso de Maria, mesmo sendo a irmã mais nova, Jeanne a achou muito fofa.
Tradução: Taipan
Revisão: Milady
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