Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 02 – Cap. 07.2 – Sacrifique a Ameixeira para Preservar o Pessegueiro

Um pouco antes daquilo, houve um alvoroço no castelo de Georg Carmine por causa do ataque surpresa repentino. Haviam muitos rumores diferentes correndo pelo castelo.

Havia Castor Vargas os traído?

O rei e Castor Vargas estavam conspirando por trás dos panos?

Não, não foi quem planejou tudo isso, aliás, Excel Walter, aquela mulher capaz e veterana de muitas batalhas?

Foi assim que as coisas aconteceram, com várias teorias sendo discutidas, mas ninguém suspeitou da verdade: Souma havia usado um truque que o permitiu derrotar a Força Aérea em um único dia.

Os que mais fizeram barulho a respeito desses eventos foram aqueles que haviam exaurido suas tropas pessoais na batalha contra a fortaleza no dia anterior, os mesmos que estavam agora longe da linha de frente, os nobres corruptos que estavam descansando no Castelo Randel. Assim que descobriram que a enorme explosão fora causada por um bombardeio aéreo da Força Aérea, correram para o escritório de assuntos governamentais, onde Georg Carmine estava fazendo de tudo para governar, mesmo com a situação atual.

— Duque Carmine! O que você está fazendo, tratando as coisas de forma tão leviana durante esta crise?! — exclamou um deles.

— A Força Aérea nos traiu! Devemos criar um plano de ação urgente!

— Diga-nos as suas ordens, por favor! O que temos que fazer?

Enquanto os nobres ficavam frenéticos e gritavam todo tipo de insultos verbais, o tenente com cabeça de lobo de Georg, Beowulf, que estava presente neste momento para relatar o bombardeio, franziu a testa com raiva. Ele estava prestes a desembainhar a espada de seu quadril para responder à afronta, mas…

— Beowulf — Georg dirigiu-se a ele.

— Sim senhor! — Ele ficou em posição de sentido.

Georg perguntou em um tom calmo:

— Qual é a extensão dos danos sofridos pelo bombardeio aéreo de agora?

— Sir — disse ele. — O bombardeio ao castelo destruiu apenas uma parte do telhado e das torres. Felizmente, as vítimas foram poucas. Entretanto, perdemos todos os lançadores de flechas de repetição antiaérea nas muralhas do castelo. Os soldados designados a guardar as muralhas estão em estado de pânico e confusão.

— Entendo…

Georg não mostrou qualquer sinal de mudança em sua expressão após o relatório de Beowulf, mas os nobres que estavam ouvindo ficaram terrivelmente pálidos. A perda dos lançadores de flechas de repetição antiaérea indicava a perda de qualquer habilidade de se opor à cavalaria wyvern. O Exército agora não tinha como impedir o bombardeio da Força Aérea. Em outras palavras, mesmo que tentassem resistir dentro do castelo, seriam bombardeados até a morte, sem ter como se defender.

Georg acariciou a barba que havia se fundido com sua juba.

— Resumindo, todos neste castelo são agora reféns deles.

— Sim senhor. Parece ser esse o caso.

Ao ouvir a resposta de Beowulf, os cantos da boca de Georg se ergueram quando disse:

— Então fomos derrotados nesta batalha.

Ele aceitou a derrota com tanta facilidade que os nobres corruptos não conseguiram entender o que havia dito.

Que tinham perdido.

No momento em que conseguiram processar isso, seus rostos ficaram vermelhos ou azuis e se viraram para Georg.

— O-O que você está dizendo, Duque Carmine?! Ainda não perdemos!

— Certo! O exército ainda está praticamente ileso! Há uma enorme gama de oportunidades para mudar as coisas!

— Se não temos lançadores de flechas de repetição antiaérea, só precisamos recuar para alguma cidade que tenha! Vamos planejar nosso retorno e enfrentar o rei e o Exército Proibido por lá!

— Quer que eu abandone Randel…? — disse Georg com um tom exasperado enquanto olhava para os nobres que diziam que resistiriam até o fim. — O que é um governante se ele põe de lado os seus súditos? Se um lorde foge e abandona o seu povo, o povo de outra cidade com certeza não o receberá.

— O que você está falando?! — exclamou um dos nobres. — Domine aqueles que não têm escolha a não ser obedecer ao vencedor! Mesmo que fiquem descontentes por algum tempo, contanto que você ganhe no final, vão se render a você por conta própria!

— De fato! As banalidades só têm serventia se sobrevivermos! Primeiro, devemos pensar em uma maneira de sobreviver! — gemeu outro.

Enquanto ouvia os nobres que, até o momento, estavam preocupados apenas com o próprio bem-estar, Georg soltou um suspiro.

— No final das contas, os únicos que vocês temem são vocês mesmos. Ah, mas agora eu lembro, vocês foram sempre assim. Honestamente… no curto espaço de tempo desde a última vez que lutamos contra um inimigo estrangeiro, eu nunca teria esperado que nossas raízes apodrecessem tanto. Como pensei, para que os novos botões floresçam, as folhas e galhos apodrecidos devem ser removidos.

— Duque Carmine? O que você está dizendo…?

Os nobres ficaram perplexos com a repentina mudança no comportamento de Georg.

Georg não deu atenção a eles, ordenando ao seu tenente:

— Beowulf. Faça como planejamos.

— Sim senhor… — disse Beowulf.

Quando Beowulf ergueu a mão direita, os soldados de repente invadiram a sala, suas espadas empunhadas, cercando os nobres. Com vinte a trinta soldados apontando as espadas para eles, os nobres incapazes de se mover finalmente perceberam que foram enganados por Georg. Foram despojados de suas armas e forçados a usar coleiras de escravos, um após o outro.

— O que significa isto, Duque Carmine?! — exclamou um deles.

— Não faça isso, Duque Carmine! Pretende arrancar as nossas cabeças e implorar ao rei para poupar a sua?! — gritou outro.

— I-Isso não é justo! — gritou um terceiro.

— Maldito seja! Isso é sujo, Georg Carmine!

Quando ouviu os nobres ainda falando essas coisas, Georg suspirou mais uma vez, desapontado.

— Fico ofendido com a sugestão de que sou parecido com vocês. Leve-os…

Os nobres amarrados foram escoltados para fora da sala pelos soldados.

Alguns tentaram resistir, mas já tendo sido forçados a usar a coleira de escravos, seu mestre Beowulf desejou que as coleiras apertassem, deixando-os inconscientes.

Mesmo após a porta ser fechada e ficarem fora de vista, ainda podiam ser ouvidos enquanto maldosamente xingavam Georg pelo corredor. Depois de algum tempo, as vozes sumiram e, por fim, Georg voltou ao seu lugar. Então, exalando fundo, fez uma pergunta a Beowulf:

— O que aconteceu com as tropas pessoais deles e com os mercenários Zemeses?

— Senhor, estão sendo detidos por nossas forças enquanto conversamos.

Ao ouvir a resposta de Beowulf, Georg acenou com a cabeça, satisfeito. Então, como se tirando a máscara severa que usou durante o tempo todo, um sorriso gentil apareceu em seu rosto.

— Fiz o que precisava. Agora, não tenho mais arrependimentos.

Em contraste com Georg, que parecia brilhante e alegre, Beowulf tinha uma expressão de agonia.

Quando ele pensou no que teria que fazer, deve ter sentido muito peso. Georg entendia como Beowulf se sentia, então deu a ordem com o máximo de calma que pôde demonstrar.

— Pois bem, Beowulf. Posso pedir que faça o mesmo comigo?

— Sim senhor… — Ele hesitou por um momento, mas Beowulf também colocou uma coleira de escravo no pescoço de Georg.

Mesmo recebendo um colar mortal que o forçaria à absoluta subserviência ao seu novo mestre, Georg tinha uma expressão calma, como a que faria se precisasse pedir à esposa que ajustasse a gravata-borboleta chique que pretendia usar em uma recepção de casamento. Com a coleira de escravo em seu pescoço, Georg deu a sua ordem final como o General do Exército:

— Despache um mensageiro para entregar a nossa rendição ao Exército Proibido e se coloque sob o comando de Sua Majestade. Todos os homens e oficiais, com exceção dos nobres corruptos e suas tropas, agiram sob minhas ordens. Assumo a responsabilidade por todos os crimes deles. Daqui em diante… deixo as coisas com você e Glaive. Fui bem claro?

— Sim senhor… Farei isso agora mesmo. — Beowulf bateu continência e saiu do cômodo.

Depois de vê-lo indo embora, Georg abriu a última gaveta da mesa do escritório.

Dentro havia uma garrafa de vinho do ano em que a Princesa Liscia nasceu. Ele havia ganho do rei anterior, Albert, com um pedido: “Não importa o que aconteça, quero que proteja a minha filha.” E a guardou ternamente desde então.

Após a formatura de Liscia na academia dos oficiais, durante o tempo em que a manteve ao seu lado, ele costumava dizer para ela: “No dia do seu casamento, pretendo beber deste vinho até o estupor”, sempre rindo.

O casamento dela… hein, pensou ele. Não ser capaz de ver a princesa no dia do casamento é o meu único arrependimento, mas se pensar nisso como o melhor presente de casamento que alguém poderia oferecer, acabo não me sentindo tão mal. Quanto a isso… Terei de pedir a alguém que providencie para que isso chegue até aquele jovem rei. Embora, como se trata do homem que roubou a princesa de mim, não gosto muito da opção.

Com uma risada zombeteira, ele imaginou Souma e Liscia parados um ao lado do outro no dia do casamento.

Imagino, será que o rei entrará neste castelo? Gostaria muito de vê-lo pessoalmente e conversar por ao menos uma vez.

Esse era o desejo de Georg, mas o que chegou, ao invés de Souma, foi um mensageiro.

— Reportando! O Rei Souma não entrou em Randel e já partiu liderando o Exército Proibido para o oeste!

Foi o que disse o relatório…

Então, logo após aquilo, ele também relatou que haviam chegado ordens dizendo:

— Assim que o exército for reorganizado sob o comando de Beowulf e Glaive Magna, devem seguir o Exército Proibido na mesma hora.

Quando recebeu o relatório, Georg arregalou os olhos por um momento.

“Se quer ser uma grande árvore bloqueando o meu caminho, irei passar por cima de você.”

Ele se lembrou do rosto de Souma quando o jovem rei disse essas palavras. E, assim, Georg entendeu na mesma hora.

— Gya ha ha! Entendo, então era isso! O rei estava querendo pegar um peixe grande sozinho!

De repente, entendendo tudo, soltou uma gargalhada.

— Entendo! Fui usado como um trampolim! Era este o plano do rei? Ou era o do Primeiro-Ministro do robe Preto? Apesar de tudo, foi brilhante, jovens! Este é o alvorecer de uma nova geração! Meu tempo acabou. Agora, meu rei, minha princesa! De mãos dadas, pisem nesta árvore velha e sigam o próprio caminho! Glória aos novos botões e glória a Elfrieden!

Ao testemunhar o fim da sua própria era, Georg os abençoou de todo o coração.

— Sacrifique a Ameixeira para Preservar o Pessegueiro.

Foi esse o estratagema que Georg seguiu, conseguindo a maior das vitórias ao se sacrificar.

Vamos explicar os detalhes da batalha até este ponto.

Primeiro, essa série de batalhas começou quando os três duques se opuseram à abdicação do rei anterior, optando por não jurar lealdade a mim. Desde que recebi o trono, os três duques se isolaram em seus ducados junto com os exércitos que controlavam.

Os três duques não cooperaram durante o período em que eu estava reunindo pessoal e desesperadamente tentando colocar o país de volta nos trilhos. Então, vários nobres que eu estava investigando por corrupção, tudo como parte da minha reconstrução econômica, fugiram. Quando se refugiaram no Ducado Carmine, esse acabou por ser um dos eventos que nos empurrou para um estado de oposição mais definido.

Então, quando dei o ultimato no outro dia, as coisas finalmente se desenvolveram a ponto de o rei e os três duques entrarem em um conflito aberto.

Entretanto, um dos três duques, a Almirante da Marinha, Excel Walter, jurou lealdade a mim no momento do ultimato. Isso evitou que o Exército Proibido e a Marinha entrassem em conflito.

Após aquilo, Georg, que deu as costas ao meu ultimato, e Castor, que estava preparado para se martirizar por sua amizade com Georg, ergueram a bandeira da rebelião contra mim. Foi isso que causou a guerra atual… Bem, de qualquer forma, era esse o cenário em que não só o meu povo, como também o do Principado da Amidônia, acreditava.

Entretanto, esse cenário só parecia assim quando visto por cima… O verdadeiro estado das coisas era completamente diferente.

Primeiro, as pessoas pensaram que Excel havia jurado lealdade a mim quando dei o ultimato, mas, na verdade, ela havia feito isso bem antes. Excel tinha enviado a sua neta, Juna, para ficar ao meu lado a fim de julgar se eu tinha o que era necessário para ser rei. Quando recebeu os relatórios de Juna dizendo que eu tinha, a Almirante jurou lealdade a mim e usamos a sua neta como uma intermediária entre nós.

Porém, para monitorar Georg, que vinha fazendo alguns movimentos inquietantes, bem como para tentar persuadir Castor, escondemos esse fato e ela continuou trabalhando ao lado dos outros dois duques por algum tempo.

Depois, o motivo pelo qual o conflito estourou também foi diferente.

O plano em que Hakuya e eu trabalhamos foi algo bem diferente, e não tínhamos pensado em subjugar os três duques.

Quando Liscia me contou que tipo de pessoa era Georg, achei que ele era o tipo de pessoa que daria ouvidos à razão. Tratando-se de Castor, eu sabia que ele tinha o pavio curto, mas se Excel e Georg trabalhassem para persuadi-lo, pensei que iria ceder, mesmo que relutante.

Mas, como Georg começou a proteger os nobres corruptos, meus planos foram destruídos.

Dito isso, nem eu nem Hakuya vimos os nobres corruptos como sendo de grande importância. Eles já tinham sido destituídos de suas posições. Se fechássemos a fronteira e pudéssemos simplesmente confiscar os seus bens, não me importava para onde iriam. Entretanto, Georg manteve aqueles nobres por perto, adicionando suas forças às dele.

No começo, quando vi que ele estava agindo de forma tão diferente daquela que Liscia tinha me contado que faria, fiquei indignado.

Foi então que Glaive Magna, que disse ter deixado o Exército, apareceu diante de mim.

Tecnicamente falando, apareceu para pedir desculpas pela grosseria que Hal demonstrou na cidade, mas, mesmo que não fosse por isso, tenho certeza de que teria em algum momento aparecido diante de nós. Georg encarregou Glaive de uma certa missão secreta.

Assim que terminou de se desculpar pela impertinência de Hal, ele começou dizendo:

— Pois bem, senhor. Sei que isso é incrivelmente rude, mas vim para te pedir uma coisa.

Quando perguntei o que era, ele disse:

— Bem… é algo que seria melhor se não fosse ouvido por muitas pessoas… — E me pediu para esvaziar o cômodo.

Fiz Liscia, Aisha, Hakuya, Hal e Kaede permanecerem e pedi para todos os outros se retirarem. Assim que fiz isso, Glaive finalmente começou a falar sobre o plano de Georg.

— O Duque Carmine pretende reunir todos os nobres corruptos em um só lugar, iniciar uma rebelião com eles e, depois, deixar que Vossa Majestade acabe com isso.

Isso era para capturar todos os nobres corruptos de uma só vez, já que seriam perigosos se deixados à espreita. Georg assumiu uma posição de clara oposição a mim, atraindo esses elementos desestabilizadores para perto de si como mariposas para a chama.

Então fez com que Glaive e seu povo, aqueles em quem mais confiava no Exército, se afastassem devido à “desconfiança que sentia pelos nobres corruptos”. Eles se juntariam ao Exército Proibido para que restassem pessoas que poderiam reorganizar o Exército após a guerra. Depois disso, ignoraria o meu ultimato e, uma vez que os elementos desestabilizadores fossem reunidos, guiaria as coisas para o campo de batalha. Seu plano era fazer com que os nobres corruptos fossem capturados com ele.

O Exército era um inimigo poderoso com 40.000 soldados, mas se o Exército Proibido, a Força Aérea e a Marinha trabalhassem juntos, poderiam facilmente derrubá-lo.

Na verdade, mesmo durante a recente batalha com o Exército, tudo o que precisei fazer foi destruir seus lançadores de flechas de repetição antiaérea com um ataque surpresa da Força Aérea, e isso já preparou o terreno para uma rendição. Então, ao mesmo tempo em que ele se rendia, os apoiadores de Georg deteram os nobres e seus exércitos pessoais, que incluíam os mercenários Zemeses.

Era esse o plano de Georg.

Quando soube do plano através de Glaive, me peguei gritando de raiva, mas foi sem querer.

— Mas que inferno?! Quem pediu para ele fazer isso?!

— Sua raiva é compreensível, mas… foi ideia do Duque Carmine. — Glaive, mesmo baixando a cabeça, não parecia ter qualquer intenção de ceder.

— Por que ele faria isso?! Os nobres corruptos já foram demitidos. E também já confiscamos os bens deles. Deixe aquelas baratas irem embora! — gritei.

— Se perguntar ao Duque Carmine, ele dirá que acha isso ingênuo. — Glaive ergueu a voz, com raiva, mas se controlou. Como apoiador, ele não poderia entrar em uma discussão aos gritos com o seu rei.

Quando vi aquilo, também fiquei com a cabeça mais fria.

— O que há de ingênuo nisso…?

— Senhor, uma laranja podre estraga o saco todo. O problema dos nobres são as suas várias conexões. A fim de preservar a sua influência, eles casam suas filhas com outras casas para criar novos laços de parentesco. É bem provável que, se você apenas os levar a julgamento por algo simples como corrupção, outras casas aparecerão para intervir. Além disso, mesmo que percam a própria casa, é possível que todos busquem proteção em outra casa na qual tenham parentes. Assim sendo, é necessário derrubá-los ao nível de serem traidores do estado.

Fiquei em silêncio.

Entendi o que Glaive queria dizer.

A fim de levar aqueles nobres corruptos, assim como todos os seus laços, a julgamento, eu teria que obrigá-los a cometer um crime que faria com que suas famílias compartilhassem as responsabilidades. Então, temendo que também pudessem ser apanhados no meio das coisas, os outros nobres cortariam os laços com eles por vontade própria.

Isso parecia fazer sentido. Parecia, sim, mas…

— Precisamos mesmo ir tão longe assim…?

— Sim — respondeu ele. — Há mais um motivo.

— O quê, ainda tem mais…?

— Você diz que confiscou os bens deles, senhor, mas só pegou o que estava visível — disse ele. — Esse tipo de gente tem dinheiro e influência em lugares que as pessoas não sabem. Na verdade, os nobres que já foram para o Ducado Carmine têm usado esse dinheiro sujo para contratar mercenários Zemeses. Acredito que esta é a prova de que você ainda não tirou tudo deles.

Quando Glaive apontou isso, pressionei a palma da minha mão contra a testa.

Claro. Eu estava olhando para os livros contábeis e me iludindo, pensando que sabia para onde os fundos desviados tinham ido, mas não fui ainda mais a fundo. Não pensei que seria possível acumular riquezas de maneiras que não apareceriam nos livros.

Quando olhei para Hakuya, percebi que ele tinha uma expressão semelhante no rosto.

Para mim, que nunca tive nada a ver com os nobres, e para Hakuya, que foi até recentemente um completo recluso, não tínhamos percebido como os nobres podiam ser maquinadores.

Em momentos assim, eu era lembrado de que ainda não tinha suficientes pessoas capazes.

— Georg pretende fazer os nobres usarem esse dinheiro sujo? — perguntei. — Mesmo se ele fizer isso, o dinheiro simplesmente irá para Zem, em troca de mercenários…

Foi então que percebi como mover Zem e recuperar os fundos que fluiriam para os seus cofres.

— Dinheiro de resgate!

— Sim — disse Glaive. — Ao mesmo tempo em que capturarmos os nobres corruptos, também capturaremos os mercenários Zemeses contratados.

Como no Japão durante o Período Sengoku, havia um sistema para que os soldados que fossem feitos prisioneiros fossem libertados em troca de um resgate. Os resgates aumentavam dependendo do status da pessoa e, se ninguém pagasse o resgate, o cativo seria vendido como escravo. Na maioria dos casos, aqueles de status inferior seriam libertados em grandes grupos em troca de uma quantia fixa, mas aqueles de status superior teriam seus resgates pagos pelos membros de suas casas. Aconteceram muitos casos em que uma casa de capacidade de pagamento limitada caiu em ruínas como resultado disso.

— Georg espera que os nobres usem o dinheiro sujo para contratar mercenários de Zem, e então irá recuperar o dinheiro, fazendo com que paguem pelo resgate dos mercenários capturados? — perguntei.

— Isso mesmo.

Os mercenários enviados por Zem não seriam de status alto, mas a quantia fixa que teriam que pagar por cada um seria algo a se levar em consideração.

Honestamente… era um plano bem pensado. Isso tornava tudo ainda mais irritante.

— Por que tenho que desperdiçar um homem que consegue pensar tão bem assim nas coisas? — protestei amargamente. — Já estou com falta de pessoal, então se ele quer ajudar, deveria me ajudar de um jeito normal!

— Por favor, entenda, senhor — disse Glaive, olhando direto nos meus olhos. — O Duque Carmine confiou o futuro a você.

Engoli em seco.

— Como ele pode acreditar tanto em mim…? Nunca nos vimos.

— Quanto a isso, não sei. Quando você se encontrar pessoalmente com o Duque Carmine, sugiro que pergunte a ele.

Fiquei em silêncio.

Naquela época fiquei sem resposta, mas, depois, ao dar o ultimato, tentei sutilmente perguntar a Georg quais eram as motivações dele.

— O que foi que te levou a isso?

À minha pergunta, Georg respondeu:

— Meu orgulho como guerreiro. — E continuou: — Tendo mais de cinquenta anos de idade, meu corpo, a partir daqui, só ficará mais fraco, mas agora recebi a maior de todas as oportunidades. Vou decidir o destino de Elfrieden com minhas próprias mãos. Ao menos uma vez na vida, o desejo de todo guerreiro é realizar algo que será relembrado pelas gerações futuras.

Dependendo de como interpretasse isso, essas palavras soariam como algo que um usurpador decidido a apostar sua vida poderia dizer. Porém, o fato é que ele havia declarado que estava pronto para dar a vida pelo país.

Para decidir o destino de Elfrieden com suas próprias mãos e realizar algo que seria lembrado pelas gerações seguintes… Era por isso que ele tinha que destruir os nobres corruptos, mesmo que tivesse que se sacrificar para isso.

Eu não sabia se as suas palavras eram verdadeiras, mas poderia dizer que a sua resolução era inabalável. A firmeza de Liscia podia provir desse homem, seu professor.

Vamos voltar ao tópico principal.

A informação que Glaive nos passou ficou guardada no coração de todos os presentes. Haviam seis pessoas naquele momento: eu, Liscia, Hakuya, Aisha, Kaede e Hal. Se a notícia por acaso vazasse, todo o plano iria por água abaixo.

Por isso não conseguimos revelar o plano a Excel, que já estava cooperando conosco, ou mesmo a Ludwin, o comandante-chefe do Exército Proibido. Graças a isso, Excel continuou desconfiando de Georg, e houve ainda um outro erro de cálculo.

A rebelião de Castor.

Como o plano havia sido traçado em absoluto sigilo, Castor, que nutria dúvidas a meu respeito, acabou apoiando Georg, junto com a Força Aérea. Para nós, e também para Georg, era algo completamente fora de qualquer previsão. Não importa o quão simples Castor pudesse ser, não pensei que ficaria ao lado de Georg, mesmo quando o homem estava agindo de forma tão descaradamente suspeita.

Nunca pensei que ele pegaria apenas cem de suas tropas pessoais e jogaria sua sorte a Georg, pronto para se martirizar em nome da amizade.

Graças a isso, a batalha na Cidade Dragão Vermelho foi algo completamente improvisado, um ponto não identificado no roteiro de Georg. Embora tenha sido bom, já que vencemos, foi uma situação que poderia ter transformado todo o roteiro em um teatro improvisado.

Excel, talvez, podia ter previsto que Castor agiria assim. Mas, como estávamos mantendo o plano de Georg em segredo de todos, não havia como consultá-la. Olhando para os resultados, meu fracasso em usar as pessoas que tinha à minha disposição fez com que a situação acabasse se tornando confusa, então eu provavelmente tinha muita coisa para refletir.

Bem, foi uma batalha cheia de reviravoltas, mas, de alguma forma, acho que conseguimos seguir o roteiro de Georg até o fim. Por fim, a cortina pôde fechar no palco de atuação da peça.

Era então que tudo começaria. Finalmente poderíamos partir para o evento principal.

Hakuya e eu seríamos os roteiristas dessa nova etapa que estava para começar. Pegamos um longo caminho para chegar até isso, tudo por causa de Georg, mas, por fim, pudemos abrir as cortinas.

— Agora, vamos começar a guerra de subjugação.

Foi isso que eu declarei.

Subjugação é uma palavra usada para descrever o sufocamento de uma revolta no próprio país, mas, de forma mais ampla, também pode se referir à supressão de uma potência estrangeira hostil.

Aqui, gostaria que lembrassem de uma coisa. A Amidônia estava invadindo o sudoeste por causa de suas correspondências com Georg, e isso acabou correspondendo com o momento do levante dele.

Entretanto, o próprio Georg estava focado apenas nas questões internas.

Claro, isso significava que ele nunca contatou a Amidônia, desde o começo. Pois bem, quem, pergunto, foi que assumiu o nome de Georg e enviou aquelas cartas para Gaius VIII?

Agora, que comece a verdadeira subjugação…

 


 

Tradução: Taipan

 

Revisão: Milady

 


 

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