Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 02 – Cap. 06.3 – O Esquema da Batalha pela Cidade Dragão Vermelho

Uma hora antes. Como visto por Souma Kazuya.

A oposição de Castor não era algo esperado.

Georg estava fazendo movimentos perturbadores, e Castor deixou sua esposa e filho com Excel após ela tentar persuadi-lo. Entretanto, mesmo que ele tenha mantido uma atitude rebelde até o último momento, pensei que no final acabaria ficando do nosso lado.

Entretanto, essa era uma esperança ingênua. Tínhamos subestimado o senso de cavalheirismo de Castor.

Nunca pensei que ele ficaria do lado do inimigo, pronto para se martirizar por sua amizade com Georg. Foi animador que, por preocupação com os seus subordinados, tivesse mobilizado apenas a si mesmo e cem de suas tropas pessoais. Ainda assim, quando os espiões de Excel apareceram com essa informação, Hakuya e eu levamos nossas mãos às cabeças.

Isso porque significava que teríamos que mudar parte do nosso plano cuidadosamente formulado.

Quando foi confirmado que Castor apresentaria oposição a nós, o maior problema era que eu não tinha forças para enviar para a Cidade Dragão Vermelho.

Dos 15.000 soldados que poderia mobilizar, os 10.000 da Guarda Real e do Exército Proibido tiveram que ir para o Ducado Carmine, enquanto os 5.000 restantes foram despachados para o sul do reino, onde estavam os exércitos do Principado da Amidônia. Embora eu tenha conseguido garantir a cooperação de Excel, tinha outras incumbências para a Marinha.

O problema, então, era que quase não sobraram tropas disponíveis.

Mesmo que Castor estivesse com apenas cem de suas tropas pessoais, eram todos cavaleiros wyvern, supostamente equivalentes a quinhentos soldados do Exército. Se eu mandasse uma força inadequada, não seria capaz de tomar a Cidade Dragão Vermelho.

Com essa falta de mão de obra, Hakuya e eu optamos por confundir o nosso oponente com um esquema atrás do outro, e então tomar a Cidade Dragão Vermelho com um ataque rápido.

Primeiro, remodelamos o navio de guerra do Exército Proibido, o Albert, para poder operar em terra.

Para colocar pressão sobre a Cidade Dragão Vermelho, que ficava em uma montanha, era crucial ter armas de longo alcance. Foi por isso que tive a ideia de usar os canhões do Albert. A ideia saiu de um canhão ferroviário que eu tinha visto em um mangá de guerra.

Colocando rodas no navio e puxando-o com os rinossauros que Tomoe conseguiu reunir, fomos capazes de fazê-lo correr pela terra.

Porém, após uma remodelação aloprada dessas, provavelmente jamais seríamos capazes de fazer o navio voltar ao normal… Isso significava que eu tinha jogado fora o único navio de guerra do Exército Proibido, mas decisões extremas eram necessárias.

Usando o Albert como uma plataforma móvel de artilharia, a primeira coisa que fiz foi bombardear a Cidade Dragão Vermelho. Isso devia ter surpreendido o inimigo. Digo, havia um navio na terra, e ainda por cima atirando neles.

Ao mesmo tempo, usei a joia de Transmissão de Voz da Joia para entrar em contato com Castor. Quando fiz isso, ele pensou que eu estava no Albert.

Planos que se aproveitam da psicologia humana, assim como esse, eram a especialidade de Hakuya.

Castor estava convencido e enviou suas cem tropas pessoais para atacar o Albert. A cavalaria wyvern era um tipo de tropa que gozava de poder e mobilidade. Mesmo que os canhões pudessem destruir as muralhas do castelo, não importava o quão poderosos fossem, caso não pudessem acertar. Já que tudo o que tínhamos feito foi arrastar o Albert para a terra, ele provavelmente seria destruído pela cavalaria wyvern em questão de instantes.

Para evitar isso, carregamos um assassino de wyverns, o lançador de flechas de repetição antiaérea, no Albert. Se houvesse essa arma a bordo, a cavalaria wyvern não poderia se aproximar com tanta facilidade. No mínimo, ganharia tempo.

A propósito, os canhões do Albert e os lançadores de flechas de repetição antiaérea estavam sendo operados por bonecos que eu controlava com meus Poltergeists Vivos. Em outras palavras, o Albert não estava tripulado.

Assim sendo, uma vez que Castor e sua cavalaria wyvern foram atacar o navio, pensei que tomaríamos a Cidade Dragão Vermelho enquanto ela estava com pouca defesa.

Como Excel estava do nosso lado, sabíamos que havia uma série de túneis de fuga sob a Cidade Dragão Vermelho, iguais aos da capital. Usando estes túneis, se enviássemos uma unidade de elite liderada por Aisha, não importa quão firmes fossem as defesas do castelo, seríamos capazes de ocupá-lo com facilidade.

Uma vez que a Cidade Dragão Vermelho fosse tomada, os lançadores de flechas de repetição antiaérea da cidade seriam usados para atacar Castor e suas tropas conforme retornassem. Além disso, uma vez que seu castelo caísse, ele teria que admitir a derrota… ou ao menos foi o que pensei.

Entretanto, aconteceu algo que não havíamos planejado.

Castor ficou na Cidade Dragão Vermelho.

Quando chegamos às muralhas do castelo para capturar os lançadores de flechas de repetição antiaérea da Cidade Dragão Vermelho, corremos em direção a Castor. Atrás dele estava um homem de meia-idade que parecia ser o administrador da família.

Quando nossos olhos se encontraram…

— Castor Vargas…

— Souma Kazuya, hein…

Assim, Castor e eu dissemos o nome um do outro. Foi o nosso primeiro encontro cara a cara.

Encontrando-o pessoalmente, notei que Castor era ainda mais jovem do que parecia quando o vi em uma tela. Embora seu cabelo fosse ruivo, com asas de dragão e cauda, também tinha traços delicados que o faziam parecer mais um jovem homem do que um general.

Não havia tempo para me dar ao luxo, mas optei por dizer o meu nome como uma demonstração de respeito.

— Sou aquele que serve como rei provisório do Reino de Elfrieden, Souma Kazuya.

— Sou o General da Força Aérea, Castor Vargas. — Quando dei meu nome, Castor respondeu na mesma moeda. Ele, então, inclinou a cabeça para o lado e perguntou: — Se estão aqui, significa que o navio de guerra fazendo aquele estardalhaço todo é só uma distração?

— Sim. O plano era tomar a Cidade Dragão Vermelho enquanto estivesse desprotegida, mas, bem…

— Ha ha ha, é uma pena que eu tenha ficado para trás — gargalhou Castor jovialmente.

Quando o vi agindo assim, fiquei desconfiado.

— Claro, você ficou para trás, mas são só vocês dois, certo? Não acho que devia estar rindo.

— Opa lá, serei só eu quem lutará com você — disse ele. — Deixe o Tolman aqui de fora.

— Me chamo Tolman, administrador da Casa de Vargas — disse o homem de meia-idade atrás de Castor, virando-se para mim e fazendo uma reverência. — Também servi como segundo em comando do Duque Vargas na Força Aérea.

— Tolman não tem nada a ver com isso tudo — continuou Castor. — Se eu perder, pode deixar que ele lidere a Força Aérea. Ele poderia ser um excelente General.

Ao dizer isso, Castor deu um tapinha vigoroso nas costas de Tolman.

Ele havia considerado o que aconteceria após a sua derrota e estava fazendo recomendações para o seu sucessor, hein?

— Se vai jogar de forma tão limpa, por que simplesmente não paramos com isso…? — perguntei. — Você já deve ter percebido, certo? Esta batalha é inútil.

— Não é inútil. Você pode se tornar o homem que me derrotou — disse Castor, sorrindo. — Derrotar o “General Castor Vargas da Força Aérea” vai lhe render muito prestígio. A Duquesa Excel já te segue. Agora, tente derrotar o Duque Carmine. Se fizer isso, tenho certeza de que todos os nobres que estão ficando em cima do muro vão começar a aparecer para servi-lo.

— Você…

— Embora, dito isso, não tenho intenção alguma de facilitar as coisas para você.

Quando terminou de falar, Castor puxou a espada de seu quadril.

— Senhor, fique para trás!

Aisha e os outros da equipe de infiltração avançaram, colocando-se entre Castor e eu. Alguns dos meus bonecos Pequeno Musashibo (Grande) estavam no meio disso tudo, então a cena criada foi surreal.

Castor apontou a sua lâmina para mim.

— Você é um herói, não é? Quer me enfrentar no mano a mano?

— Não seja tolo. Um cara comum que passa o tempo todo fazendo nada além de trabalho administrativo não seria páreo para você.

Se ele queria me desafiar para um duelo, eu só poderia encolher os ombros.

Apareci com a equipe de infiltração, mas não tinha derrotado nenhum dos guardas. Bem, embora eu não fosse tão útil neste local, estava, no mesmo momento, lutando em outro lugar.

Usando minha consciência dividida ao máximo, meus bonecos armadurados estavam manejando as armas principais do Albert e os lançadores de flechas de repetição antiaérea que carregamos a bordo. Eu estava usando-os para lutar contra a cavalaria wyvern que tínhamos atraído.

Entretanto… a cavalaria wyvern era mais bem treinada do que imaginei.

Eu parecia ter pego todos de surpresa, mas, mesmo a arma chamada de assassina de wyverns, o lançador de flechas de repetição antiaérea, podia não ser capaz de pará-los por muito tempo.

Enquanto eu pensava nisso, Aisha balançou sua grande espada.

— Castor! Por quanto tempo você pretende apontar sua lâmina para Sua Majestade?!

— Guh! Para uma criança, ela tem uma força incrivelmente estúpida! — gemeu Castor.

Ele disse isso, mas tendo em vista que havia parado a grande espada de Aisha com a sua própria lâmina, imaginei que também tivesse uma “força estúpida”.

Aisha parecia indignada ao ser chamada de criança.

— Preferia não dizer isso na frente de Sua Majestade, mas saiba que estou viva há décadas!

— Hmph! Bem, luto por este país há mais de um século! — declarou ele.

— Mrrrrgh…

Por favor, por que os dois estavam competindo? Estavam medindo o orgulho, já que eram ambos de raças longevas? Era isso que eu estava me perguntando, até que…

— Se você subestimar um dragão, nascido do sangue de dragão, vai sofrer mais do que alguns machucados! — gritou Castor, abrindo suas asas para intimidá-la.

A rajada de vento criada foi poderosa o suficiente, por si só, para soprar vários soldados próximos para o canto da muralha. Aisha estava conseguindo resistir, já que colocou as mãos no chão.

Então era esse o poder de um dragonato… Ele parecia ter obtido mais do que apenas um estilo legal por pertencer a uma raça que descende de dragões.

Então, no instante seguinte, Castor deu o pontapé inicial, permanecendo no ar enquanto avançava. Ele não deu atenção aos outros, empunhando sua espada enquanto tentava me empalar.

— Senhor!

Aisha ficou entre nós para me proteger, usando sua grande espada para bloquear o ataque de Castor. O barulho de metal batendo contra metal ecoou quando as suas lâminas colidiram.

— Ha ha ha! Você não é nada má, garota elfa negra!

— Meu nome é Aisha! Não vou permitir que você coloque um dedo sequer em Sua Majestade! — Aisha balançou sua grande espada com toda a sua força, jogando Castor para longe.

Ele fez uma aterrissagem graciosa antes de lançar algum abuso verbal em direção dela.

— Maldita seja essa sua força estúpida!

— Sim. Não sou muito inteligente, mas se ele precisar de alguém inteligente, há a princesa, ou Sir Hakuya, ou Madame Juna, ou a Duquesa Walter. Se a minha força puder apoiar o governo de Sua Majestade, se permitir que eu fique ao seu lado, não me importo de só ter essa “força estúpida”!

Aisha ajustou o aperto em sua grande espada. Estava lentamente diminuindo a distância entre ela e Castor.

O homem riu jovialmente.

— Uma bela demonstração de lealdade. Souma é um bom mestre para você?

— Eu não sei! — declarou ela.

— Ah, vamos lá… — murmurei.

Ela não precisava ser tão sincera. Isso machucava os meus sentimentos.

— Sou uma idiota, então não sei o que é um bom mestre — continuou Aisha. — Entretanto, desejo ficar ao lado de Sua Majestade! Porque ele ouviu o meu apelo. Porque a comida do seu país é deliciosa. Porque ele salvou a minha aldeia. Tenho muitos motivos, mas o maior deles deve ser porque gosto dele! Quero ficar com Sua Majestade e com a princesa para sempre!

Foi uma resposta direta, nada calculada, que era muito a cara da Aisha.

Também foi um pouco constrangedor…

Eu sabia que não era esse tipo de cena, mas como poderia não ficar feliz quando uma linda elfa negra tinha tantas coisas boas a dizer sobre mim? Se contivesse o sorriso, poderia acabar me sentindo mal.

Castor riu jovialmente.

— Ha ha ha! Eu sabia que você era como a minha Carla! Mas…! — A expressão de Castor ficou séria e ele assumiu uma posição de combate com a sua espada. — Se você não tiver o poder para apoiar essa lealdade, não será capaz de proteger o seu mestre ou a si mesma.

Com essas palavras, Castor estava prestes a atacar Aisha de novo, até que…

— Não vou deixar você fazer isso.

— ?!

Um dos bonecos Pequeno Musashibo (Grande) que estava atrás de Castor correu até ele balançando a sua naginata. O homem se virou para bloqueá-lo, mas, no momento em que foi contra-atacar, o Pequeno Musashibo deu um giro. Quando isso aconteceu, suas costas se abriram como um casulo e alguém saltou.

Quem saltou do Pequeno Musashibo foi ninguém menos do que Liscia, seu florete preparado.

— Quê?! Princesa Liscia?! — gemeu Castor.

Confrontado com o ataque surpresa de Liscia, ele puxou a espada para trás. Liscia era membro da família à qual jurou lealdade. Ela, normalmente, não seria alguém para quem pudesse apontar a sua espada.

Se ele soubesse que era Liscia que estava enfrentando desde o início, com suas proezas marciais, poderia, sem dúvidas, tê-la incapacitado sem deixá-la exposta ao perigo.

Para evitar que isso acontecesse, e antecipando todas as possibilidades, Liscia se escondeu dentro de um Pequeno Musashibo, à espera de uma oportunidade.

Essa hesitação seria a ruína de Castor.

— Parado! Montanha da Espada de Gelo! — gritou ela.

— Urkh!

Não deixando a abertura passar batida, Liscia desencadeou um ataque mágico de gelo a curta distância. Castor o evitou por pouco, mas a magia atingiu a muralha e o chão, criando espinhos de gelo. Graças às suas grandes asas, Castor ficou preso nos espinhos, incapaz de se mover.

— Porra!

— Aisha! — gritou ela.

— Aqui, princesa!

Enquanto Castor ficava imóvel, Aisha lançou o lado achatado de sua grande espada contra ele, usando toda a sua força. Ele foi acertado e voou junto com o gelo. Houve o som de gelo quebrando contra a muralha e, um instante depois, o som de Castor também batendo contra ela.

Bem diante dos meus olhos estava a cena de uma pessoa sendo jogada contra uma muralha e deixando um monte de rachaduras, algo que eu só tinha visto, até então, em animes de batalhas. Depois de vê-lo tomar um golpe que eu tinha certeza de que representaria morte certa para mim, Castor estava machucado, mas continuava consciente. Acho que é isso que torna os dragonatos impressionantes, hein.

De costas para a muralha, ele caiu, gemendo.

— Urgh… Então é isso, hein… Admito a derrota, princesa.

— Duque Castor…

Vendo a expressão triste no rosto de Liscia, Castor sorriu um pouco.

— Não fique assim. Permaneci fiel ao meu orgulho, lutei e fui derrotado. Não tenho arrependimentos. Mas, deixando isso de lado… Gostaria de perguntar a mesma coisa que perguntei à garota elfa negra.

— E o que seria…? — perguntou Liscia.

— Souma… é um bom rei?

— Sim. Para mim, ele é um bom rei. — Liscia deu uma resposta clara à pergunta de Castor. — Se ele será bom para o país e as pessoas, é algo a ser decidido depois que morrer. Não há fim para o número de reis que governaram bem no início, apenas para se tornarem tiranos nos anos posteriores. Portanto, só posso dar a minha própria opinião.

— …

— Muitas das medidas políticas de Souma podem ser indiretas ou totalmente estranhas, mas me sinto à vontade observando-o. Isso porque posso sentir que este país está melhorando lenta, mas continuamente. Então… me chame de egoísta se quiser, mas quero que ele seja o rei. Se meu pai exigir a coroa de volta, lutarei contra ele ao lado de Souma.

Eu já tinha ouvido essas palavras. Se bem me lembrava, ouvi antes de irmos para o canteiro de obras da nova cidade planejada. Enquanto estava exausto pelas repetidas noites em claro, Liscia me disse isso quando eu estava tentando tirar uma soneca.

“Nunca esqueça. Você é aquele que quero como o rei, Souma. Não aceitarei substitutos. Se meu pai exigisse a coroa de volta, eu lutaria ao seu lado contra ele.”

Já que suas palavras não haviam mudado, isso era prova de que seus sentimentos também não?

Fiquei feliz… Pelo fato de haver alguém que diria que queria que eu fosse rei. Que ela pudesse se sentir à vontade comigo naquela posição. Era por Liscia estar ao meu lado que eu podia ser rei.

Enquanto pensava nisso, vi o Albert explodindo lá longe.

— Liscia, a Força Aérea está voltando — falei. — Apresse-se e pegue aquela coisa.

— Eu sei… — A meu pedido, Liscia tirou algo preto do bolso e prendeu em volta do pescoço de Castor. — Tenho certeza de que você está ciente, mas esse é um item chamado coleira de escravos. Isso pode apertar à vontade do mestre, e se o usuário quiser prejudicar o seu mestre, a coleira possui um feitiço para decapitá-lo de forma automática. Isso decapitará o usuário caso tente remover a coleira, contrariando até mesmo a vontade do mestre. O suicídio também não é permitido. Além disso, o mestre desta coleira será Souma Kazuya.

— Não tenho intenções de resistir… — disse Castor.

Tendo sido preso com a coleira, ele soltou a espada que estava segurando. O protetor de punho quicou no chão de pedra fazendo barulho. Foi neste momento que a batalha foi decidida.

Então…

— Pai!

Uma garota com cabelos ruivos como chamas, olhos dourados brilhantes, asas de dragão e cauda voou do céu em nossa direção, correndo para Castor, que estava com os ombros caídos.

Pensando bem, Excel disse algo como “Tenho uma neta que ficou com Castor” com uma expressão profundamente dolorida no rosto, não disse? Nesse caso, essa garota só podia ser a filha de Castor, Carla.

O Albert tinha explodido momentos atrás, mas quando vi sua armadura vermelha, me ocorreu que ela podia ter estado lutando contra o navio.

No momento em que viu meu rosto, Carla desembainhou a espada em seu quadril.

— Maldito seja! Como você ousa fazer isso com o meu pai?!

— Pare, Carla!

Castor parou Carla quando ela estava prestes a avançar contra mim.

— Pai?! Mas…

— Já chega. Perdemos.

Liscia ficou entre mim e Carla, abrindo bem os braços.

— Pare com isso, Carla! O Duque Vargas já está usando uma coleira de escravo! Se você matar o Souma, o Duque Vargas também morrerá!

— Liscia…?! — ofegou ela. — Entendo… Perdemos, hein.

A força parecia estar sendo drenada do corpo de Carla. A espada caiu de suas mãos e bateu sem força no chão. Ela estava com uma expressão atordoada, com lágrimas escorrendo de seus olhos.

Isso doeu um pouco de se ver, mas ela tinha participado da rebelião. Não poderia dar tratamento preferencial. Pedi para que Aisha colocasse uma coleira de escrava nela também.

Por volta desse momento, a cavalaria wyvern que estava lutando contra o navio de guerra Albert começou a se reunir. Estavam todos fervendo de raiva, mas assim que viram as coleiras de Castor e Carla, perceberam que não poderiam nos atacar e apenas cerraram os dentes, frustrados.

Os olhares da cavalaria wyvern doíam, mas eu não tinha tempo para me preocupar com isso.

— Tolman, administrador da Casa de Vargas!

— Estou aqui…

Levantei a minha voz, e Tolman, que não havia interferido e apenas observou o andar da carruagem em silêncio, assim como Castor dissera que aconteceria, deu um passo à frente.

— Você se lembra do acordo que fizemos quando entreguei o ultimato, creio eu — falei. — Se um de nós for abatido ou capturado, os subordinados dessa pessoa ficarão imediatamente sob o comando do outro lado.

— Sim…

— Como pode ver, capturei o General Castor Vargas da Força Aérea — falei. — A partir deste momento, temporariamente lhe dou os poderes de General da Força Aérea. Você deve liderar a Força Aérea sob o comando do Exército Proibido!

— Sim, senhor. Entendo… Entretanto, posso fazer uma pergunta? — perguntou Tolman com uma expressão tomada pela tristeza.

— Pois não…?

— O que acontecerá com o Duque Vargas e com a Senhora Carla?

— Vamos pensar sobre o que será feito com eles após a guerra. Não precisamos decidir isso aqui e agora. — Então, olhando para a cavalaria wyvern ao meu redor, eu disse: — Se você ficar sob o comando do Exército Proibido, será tratado como tendo apenas agido sob as ordens de Castor. Aqueles que não obedecerem serão julgados ao lado dele como traidores, assim que a guerra acabar.

— Quer que vendamos os nossos mestres?!

— Sim! Não vamos abandonar o Lorde Castor!

Surgiram algumas vozes animadas em meio à cavalaria wyvern. Olhei na direção daquelas vozes.

— Considerem isso com cuidado. Este país tem um sistema de responsabilidade conjunta pelos crimes. Se forem considerados culpados de traição, seus parentes também serão punidos. Espero que estejam preparados para isso antes de começarem a falar!

— …

Todos ficaram em silêncio. Claro, mesmo os destemidos soldados da Força Aérea não estavam dispostos a arriscar outras vidas que não fossem as suas. Quando informados de que suas famílias também seriam acusadas, não tiveram coragem para continuar com isso.

Naquela atmosfera pesada, Tolman baixou a cabeça para mim.

— Vou seguir as suas ordens, Vossa Majestade…

— S-Sir Tolman!

— Ainda podemos lutar!

— Silêncio! Não podem ver que quanto mais resistem, pior tornam a posição do Duque Vargas?!

— Urkh…

Tendo silenciado toda a oposição, Tolman curvou-se mais uma vez para mim.

— Suas ordens, por favor, senhor. Como gostaria que a Força Aérea se movesse?

Enquanto Tolman se curvava admiravelmente diante de mim, dei-lhe a minha ordem.

— Primeiro, anuncie o fim da batalha usando a Transmissão de Voz da Joia. Anuncie ao povo do seu domínio que o Duque Vargas foi capturado e que a Força Aérea ficará sob a estrutura de comando do Exército Proibido. Depois convoque os membros da Força Aérea que não estão presentes. Assim que as forças estiverem reunidas, farei com que vá até o Ducado Carmine. Além disso, quero que anuncie que qualquer um que continuar a resistir, especialmente depois de tudo o que aconteceu, será julgado como traidor ao final da guerra. Fui bem claro?

— Sim senhor! Assim será feito. — Tolman bateu continência e, em seguida, começou a cumprir com as suas ordens no mesmo momento.

Com isso, a terrível batalha no Ducado Vargas, que havia sido uma “batalha desnecessária” tanto para os perdedores quanto para os vencedores, chegou ao fim. Foi um obstáculo superado.

Agora, finalmente… Posso ir para o Ducado Carmine.

Da muralha, olhei para o distante oeste. Lá, eu sabia que aquele homem devia estar esperando por mim.

— Te deixei esperando, Georg Carmine. Agora estou indo.

Liscia estava me olhando em silêncio, preocupada, mas mal percebi.

Lições das Expressões Históricas de Elfrieden: Número 3

“Ataque um Castelo com um Navio de Guerra”

Tipo: Figura de Linguagem

Significado: Fazer uma coisa que ninguém jamais havia pensado.

Origem: Durante a Guerra de Uma Semana, quando o Rei Souma atacou o castelo do rebelde Castor, empregou a estratégia incomum de usar um navio de guerra em terra para vencer.

Sinônimos: “Revolução Copernicana”, “Ovo de Colombo”.